Por Marcos Ferreira
Imagino que alguma vez você passou por algo parecido. E diante de situação dessa natureza cada indivíduo reage à sua maneira.
Depois do jantar, em torno das oito horas, eu já havia tomado banho e a pouca louça estava lavada. Jantei ovos mexidos (cinco) com uma banana em rodelas. É esse, dentro das minhas limitações culinárias, o meu prato favorito. Então coloquei a velha e confortável roupa de dormir: uma bermuda fininha e uma camisa de algodão bem macia de mangas longas. Ressalto que disponho de outras peças semelhantes. Não gosto de dormir sem camisa. A casa não tem forro e por isso não faz calor. Deixo aberta por um tempo a janela da cozinha, situada na lateral esquerda.
Uso o ventilador até certo horário da madrugada. Depois desligo porque fica bastante frio. Sobretudo quando chega a cruviana.
Armo a rede na sala, coloco o ventilador sobre uma banqueta de plástico, além de uma cadeira em cima da qual coloco o telefone, o controle remoto da tevê e meus óculos. Assim aguardo o Jornal Nacional, seguido da novela das nove, que agora venho acompanhando porque a desalmada da Netflix me bloqueou só porque não sou assinante. Uma malvadeza! Antes eu dispunha da plataforma graças ao Elias Epaminondas, que compartilhava comigo. Mas a Netflix meteu a tesoura nessa opção e cortou meu barato. No mais das vezes era esse aí o ponto alto do meu dia.
Deixem quieto! Estou preparando a volta por cima. Logo poderei contar com o cineminha à noite. De vez em quando me viro com o YouTube. Contudo não duvido de que também esse qualquer dia invente de liberar acesso tão só para assinantes. Assistir a filmes e séries nos streamings tornou-se um pequeno luxo, uma carestia que vai frustrando um sem-número de gente mundo afora.
Bem, agora esqueçamos tal assunto. Desejo contar uma história curiosa. Foi na terça-feira passada. Trata-se de uma visita que me apareceu quando eu menos esperava. Portanto, sem ser convidada. Justo quando me encontrava deitado e com a sala iluminada somente pela televisão. William Bonner havia acabado de me dar um solene boa-noite, a exemplo da competentíssima Renata Vasconcellos. Não teve jeito. Eu precisei me levantar às pressas, tamanha foi a inconveniência.
Num voo rasante, a referida visita quase se chocou contra a minha cara. Fiquei em polvorosa, logicamente. Considerei, entretanto, que poderia ser uma coisa ainda pior: um monstro chamado barata, por exemplo. Sim, uma barata voadora. Aquela peste, com as suas asas envernizadas, representaria uma completa desgraça para o meu repouso. Fico arrepiado apenas imaginando. É muito rápida, dificílima de matar. O pânico é imediato. Se uma infeliz dessas aparece aqui em casa à noite, não vou dormir (não ao menos em paz) se antes eu não puder extinguir a intrusa.
Mesmo inconveniente, o ser alado que invadiu o espaço aéreo de minha residência foi outro muito menos asqueroso: um morcego dos grandes, mais ou menos do tamanho de um albatroz. Como se sabe, é uma criatura desprovida de beleza e um tanto quanto desagradável, porém é de caráter inofensivo.
Levantei-me com receio de que o mascote do Batman caísse dentro da rede. É admirável a capacidade, a desenvoltura com que esses orelhudos mamíferos conseguem voar de forma tão arrojada, tão precisa. Exatamente. São os únicos mamíferos capazes de voar, para a nossa inveja e despeito. Morcegos do tipo hematófagos são raros. A grande maioria se alimenta de frutos e insetos. Sei que essas informações não são bem uma novidade para os leitores, mas talvez alguém desconheça. Ao contrário de baratas, não se deve matar um morcego que invada sua casa.
Nessa noite, pois, o “albatroz” voava de um lado para o outro. Abri portas e janelas, apaguei a luz da sala (que eu havia acendido) e liguei a da garagem. Passados dez ou quinze minutos, a visita inconveniente foi-se embora. Tranquei tudo e, apesar do pequeno transtorno, voltei a ver televisão tranquilo. O Jornal Nacional estava bem adiantado; consultei as horas e daí a pouco assisti à novela.
Afora isso (o Jornal Nacional e a novela das nove) não há mais nada suportável que se possa ver de segunda a sábado. No domingo ao menos contamos com o Fantástico. Estou fechado na dita TV aberta, sem muitas opções para quando a noite cai e o sono demora a chegar. Os outros canais são piores.
Marcos Ferreira é escritor
Uma barata voadora é um teste ao qual até Heracles (Hércules) sucumbiria. Não o julgo. Quanto ao filhote de Batman, tenho uma curiosa: meti-me a fazer uma especialização em psicopedagogia e tão logo tive a primeira aula, meus pâncreas avisou-me que eu não aguentaria. Para isto, bastou meus ouvidos escutarem da distinta professora que “deveríamos evoluir, assim como o rato vira o morcego, deveríamos virar outra coisa mais bem preparada”. Não deu, prefiro uma semana de Jornal Nacional e novela das nove.
Meu prezado Ayala Gurgel,
Você é escritor até debaixo d’água. Num simples comentário de poucas linhas você já mostra as suas credenciais de literato dos bons. Grato pela opinião e incentivo.
Abraços.
Bom dia, Marcos!
Tenho aversão a baratas e pavor a morcegos! Ambas são criaturas indesejadas, ainda mais quando já nos encontramos devidamente preparados para o nosso descanso noturno e a paz é quebrada por tais viaturas. Sem contar que a criatura alada remete a lenda dos vampiros e tem um quê de efeito sexta-feira 13!(Kkkkkkkkkkkkkkkl)
Que essa criatura indesejada voe para bem distante e não perturbe mais o seu descanso noturno!
Beijos da sua fã número 1
Querida Simone,
Imagino muito bem o seu asco a essas duas criaturas. Sobretudo em relação às baratas. No meu caso, quando aos morcegos, ainda me conforta o fato de que esses mamíferos de asas são predadores de baratas. Existe, porém, a simbologia quanto ao vampirão Conde Drácula. Obrigado pelo comentário e uma semana com saúde paz para você e Chagas.
Abraços.
Querido Marcos, tenho pavor a baratas e morcegos! Não lido bem com esses insetos! Sobre Netflix, a minha é compartilhada com meus netos. Será que não houve alteração de senha? Fale com Epaminondas. Acho que todo morcego chupa sangue. Quando estava grávida, fui ver uma casa pra alugar e estava cheia de morcegos. Só de imaginar o que eles fariam com o meu bebê, desisti na hora. Visitas inconvenientes tiram o sono de qualquer um; eu ficaria o resto da noite, acordada! Boa sorte! Que possa voltar a dormir tranquilamente! Abraço!
Querida Bernade Lino,
Considero as baratas ainda muito piores do que os morcegos. Tenho horror a esses monstros de asas envernizadas. Os morcegos ao menos são predadores de baratas, aranhas e outros insetos de tamanho considerável. Grato pela leitura e opinião. Desejo uma ótima semana para você, com muita saúde e paz.
Beijos.
Realmente estes seres octóperos que nascem em ootecas vulgo baratas e principalmente as blindadas voadoras me causam pavor.
Os mamíferos alados me remetem a película de celuloide!!!!
Um abraçaço
Querido Marconi Amorim,
Prefiro mil vezes me deparar com um morcego voando à noite dentro de casa do que ter que enfrentar uma barata daquelas vermelhas e voadoras. Fico todo arrepiado e já começo a suar. Aqui, felizmente, surge uma barata de ano em ano. Os morcegos também são raros. Obrigado pela leitura e comentário. Ótima semana para você, saúde e paz.
Abraços.
Marcos Ferreira, nosso poeta-mor, faz algo impossível parecer brincadeira de menino: se superar a cada texto.
Ora, até uma barata serve de temática para encadear uma sequência de palavras em uma auto-organização literária perfeita…
Esse homem escreve bem demais!
Meu fraterno xará Marcos Araújo,
Contar com um leitor-escritor com a sua brilhante inteligência é um luxo para este cronista de final de semana. Sua generosa opinião faz muito valer a pena quando a gente senta à escrivainha à cata de um assunto para o nosso Blog Carlos Santos. Nosso Editor vive às voltas com uma agenda presidencial, mas precisamos sequestrá-lo para um cafezinho e um bate-papo daqueles. Ótima semana para vocês, saúde e paz.
Abraços.
Boa tarde, caro poeta. Quando vi o título da crônica ” Visita incoveniente” pensei ter sido a visita de algum político, desses cara de pau, ainda bem que foi algo mais civilizatório, um indefeso morcego 🦇. Kkkkkkkk…..
Tenho aversão medonha a ratos, camundongos… Quanto aos políticos, deixemos prá lá… prefiro os cães que mesmo atacando à traição possuem almas mais limpas.
Caro Francisco Nolasco,
Poeta de minha estima.
Vai aqui o meu abraço
Apertado em uma rima.
Que nada perturbe essa mente brilhante! Nem mamíferos viadores ou humanos!Abraço, meu amigo!
Prezado Inácio Rodrigues,
Amigo que nem conheço,
Mas a quem eu já dedico
O mais genuíno apreço.
A noite traz muitas coisas esquisitas e perigosas, Marcos! Tem visita que espantamos varrendo ou empunhando uma vassoura, mas são inofensivas. Outras, basta colocar a vassoura atrás da porta! Excelente crônica!!
Estimado Bruno Ernesto,
Você disse bem sobre essas outras utilidades da vassoura. Especialmente essa de colocá-la atrás da porta quando da presença de uma visita inconveniente. No universo mágico, dizem até que serve de meio de transporte a certas senhoras míticas e místicas, aquelas de roupas e chapéu pretos, nariz protuberante com uma verruga na ponta. Desejo uma semana com saúde e paz para você.
Abração.
Olá, nobre escritor,
É sempre um deleite fazer a leitura das suas crônicas aos domingos. Independente da temática abordada, você nos surpreende sempre com sua rica escrita. Um forte abraço aqui das bandas do Norte, amigo poeta!
Prezada escritora Rizeuda da Silva,
Grato por sua leitura, comentário e incentivo de sempre. Como costumo dizer, considero um luxo contar com uma admidrável manejadora da nossa língua portuguesa como você. Acompanho, mesmo de longe, a sua produção e posso dizer que você só tem crescido em brilho e qualidade. E isso não é um mero elogio, é merecimento. De um modo geral, aliás, é muito bom ver como as mulheres que integram esse nosso às vezes machista universo das letras têm evoluído e escrevem cada vez melhor. Só não reconhece e não enxerga quem não quer. Cito, por exemplo, nossas amigas talentosíssimas Vanda Maria Jacinto e Dulce Cavalcante. Ambas acabaram de lançar mais dois livros. Vanda trouxe a lume “Sutilezas poéticas” e Dulce lançou o seu lindíssimo “Crônicas para despertar meus dias”. Os dois títulos têm o selo da Editora Sarau das Letras. No mais, minha amiga, mando daqui das bandas do Nordeste um grande beijo para você.
Caro poeta e escritor, há poucos dias caiu do teto um morcego no pé da porta do quarto e tive que me levantar do aconchego de minha rede, pois os meus gatos ficaram querendo pegar o bicho na dentada. Peguei uma vassoura e sai arrastando o parente do drácula porta afora. É um bicho gasturento, mas importante para o equilibrio da natureza. Valeu! Abraços
Caro poeta Airton Cilon,
É isso que eu também acho. Os bichinhos são mesmo feios, metem um certo medo na gente, mas, como você disse, são importantes para o equilíbrio da natureza. Sobretudo (aí falo por mim) porque são predadores de baratas. Uma ótima semana para você.
Abração.
Bom dia, Marcos!
Adoro uma boa crônica, mas as suas são excelentes!
Abraços
O pior nisso tudo é o susto. E isso independe da visita, seja as das asas envernizadas, das asas peludas, das sem asas; enfim, o inusitado, o imprevisto é, diante do momento, algo que descentraliza. Agora, retirar, botar para fora, mandar embora, é uma tarefa mais difícil ainda. Tem algumas técnicas, aliás, para o caso de morcegos, apagar luzes interiores, abrir portas e janelas, é uma solução prática e eficiente. Entretanto, para determinadas “visitas” inabituais, inclusive, fora de hora (como bem disse Bruno Ernesto), uma vassoura atrás da porta, acompanhada de uma reza braba, também funciona. Valeu, amigo.