Por professora Dra. Elizabeth López Carrillo
“Os pacientes com morte encefálica são seres vivos sem funções cerebrais, ou se trata de mortos que mantém as funções corporais?” (Dr. Hans Thomas)
A definição de morte da pessoa humana é um dos temas mais relevantes e atuais da Bioética. A definição de morte sempre foi associada à parada espontânea e irreversível do funcionamento do coração e à conseqüente parada da respiração, culminando na parada de função de todos os órgãos. (Morenski, 2003; Plum, 1972).
Segundo BARUCH BRODY (1988): O momento da morte de um ser humano pode ser determinado de duas formas: através da verificação da paragem irreversível das funções cardíaca e respiratória, ou através da comprovação da abolição irreversível das funções do tronco cerebral. Embora os métodos sejam diferentes, ambos permitem avaliar o mesmo fenômeno: a morte de um ser humano.
Atualmente e desde o ponto de vista médico é definida a morte encefálica (ME) como o “cesse irreversível“, de todas as funções das estruturas neurológicas intracraniais, tanto dos hemisférios cerebrais como do tronco encefálico.
Após a interrupção irreversível da atividade cerebral e do tronco encefálico, todos os outros órgãos e sistemas cessam inexoravelmente as suas funções. Ao contrário do que acontece com outros órgãos, a atividade cerebral e do tronco encefálico, depois de cessar, é insubstituível (Campbell, Gillett e Jones, 2001).
Diagnosticar a morte com base na cessação da atividade cerebral e do tronco cerebral não é mais do que reconhecer claramente o fator subjacente ao diagnóstico tradicional de morte por paragem cardio-respiratória.
Em 1995 a Academia Americana de Neurologia (AAN) publicou um protocolo com recomendações (“guidelines “) para o diagnóstico de morte encefálica, que representa uma revisão sobre o tema com base nas evidências científicas. No Brasil a normatização da ME, foi delegada ao Conselho Federal de Medicina (CFM). Essa normatização foi estabelecida na publicação da diretriz 1480 do CFM e segue quase completamente as diretrizes firmadas pela Academia Americana de Neurologia.
A morte encefálica é recuperável?
Nunca foi demonstrado ou relatado um único caso de recuperação de qualquer função cerebral e ou do tronco cerebral após o diagnostico de ME utilizando os critérios de AAN de 1995.
Como é realizado o diagnostico de ME?
Para dar inicio ao protocolo são necessários, os seguintes pré-requisitos:
1. O Coma deve ter causa conhecida e ser de caráter irreversível.
Nos adultos, as causas mais comuns que levam ao estado de morte encefálica são o traumatismos crânio-encefálico grave e a hemorragia subaracnóidea (geralmente por ruptura de aneurisma), totalizando, no seu conjunto, 80 por cento dos casos (Pallis e Harley, 1996; Wijdicks, 2001).
Outras causas possíveis são as hemorragias intracerebrais, tumores cerebrais, encefalite fulminante, meningite bacteriana e encefalite anóxica-isquémica após paragem cardio-respiratória (Pereira, Lobo e Dias, 2002). Portanto não é iniciado o protocolo quando a causa do coma e desconhecido.
1. Ausência de hipotermia (baixa temperatura corporal), hipotensão (baixa pressão) ou alterações metabólicas, oxigenação e ventilação adequadas.
2. Ausência de intoxicação exógena ou efeito de medicamentos depressores do Sistema Nervoso Central. (são retirados todos os medicamentos que tenham essa ação 12 horas a 24 horas antes de dar inicio ao protocolo de ME)
Somente se os três pré-requisitos referidos anteriormente, se verificarem, é que se deverá iniciar a execução das provas de morte encefálica.
Estas provas clinico-neurológicas são executadas por 2 Médicos diferentes, com intervalo de 6 horas (adultos), sendo obrigatório que um deles seja neurologista ou neurocirurgião.
O diagnóstico clínico-neurológico consiste na verificação da ausência de todos os reflexos dependentes do tronco cerebral, designadamente fotomotores, óculo-cefálicos, óculo-vestibulares, corneo-palpebrais, faríngeo e traqueal (após estimulação traqueobrônquica), ausência de resposta motora à estimulação dolorosa na área dos nervos cranianos e, finalmente, ausência de respiração espontânea após desconexão do ventilador, denominada prova da apneia.
A finalidade da prova da apneia é confirmar a ausência de qualquer movimento inspiratório, por parte do doente, à medida que a concentração sérica de dióxido de carbono aumenta o que constitui o estímulo normal para ativar o centro respiratório, localizado no tronco cerebral.
São necessários exames complementares para o diagnostico de ME?
No Brasil é obrigatório pelo menos um exame complementar, para demonstrar a inatividade elétrica, metabólica ou perfusional do encéfalo.
Quais são esses exames complementares?
Eletroencefalografia, Doppler transcraniano, Arteriografia das carótidas e vertebrais, Gammagrafía cerebral, Arteriografia por subtração digital, Angiografia com TAC helicoidal o com RNM.
Qual é a hora da morte na ME?
Hora da morte é aquela do término do ultimo exame. Após esse exame e desde o ponto de vista legal, ético e moral, o paciente e considerado cadáver.
Que ocorre com os pacientes em ME?
O que se verifica é que todos os doentes, sem exceção, evoluem para a assistolia cardíaca (parada cardíaca), a maioria ao fim de algumas horas ou poucos dias, apesar da ventilação assistida (Pallis, 1983; Hung e Chen, 1995).
Portanto…. conclui-se que os pacientes em morte encefálica, são mortos que mantém as funções corporais artificialmente.
Quais são os órgãos e tecidos que podem ser captados atualmente após o diagnostico de ME no RN?
Coração, Fígado, Rins e Córneas.
Seis receptores que aguardam na fila de transplantes, podem ser beneficiados com uma única doação de múltiplos órgãos!
Que pensam as religiões com respeito, a doação de órgãos para transplante?
Todas as religiões encorajam a doação de órgãos e tecidos como uma atitude de preservação da vida e um ato caridoso de amor ao próximo.
“Não pode evitar-se o vento, porém pode construir-se moinhos” (Provérbio holandês)
Elizabeth López Carrillo é médica integrante da equipe de transplantes de órgãos do Rio Grande do Norte