Por Cyrus Benavides
Muitas coisas da vida, aprendi vivendo. Observando gestos disfarçados de lições.
Conheci um comediante chamado “Silva”, que ganhava a vida fazendo shows imitando Chico Anysio.
Ele dizia em tom de soberba e glória que ganhava a vida com sua feiura.
Percorria o país todo, carregando na mala somente sua solidão.
Ficava em hospedarias simples ou quartinhos cedidos por pessoas de bem. Tinha problemas com sua diabete e alcoolismo.
Ficamos amigos.
Nos 15 dias que permaneceu em Natal, observei que ele estava sempre com a mesma camisa.
Sempre limpo, mas com a mesma camisa.
Fui ao shopping e achando que o faria feliz, comprei uma camisa e embalei para presente.
No caminho para rodoviária. Como um nômade, ele partiria para outra cidade.
Entreguei o presente.
Muito agradecido, agindo de supetão, trocou a camisa imediatamente ainda dentro do carro.
Pensei comigo : Nossa! Como ele adorou o presente.
Ao pararmos no semáforo, sem dizer uma palavra, ele baixou o vidro do meu carro, chamou um flanelinha e deu de presente a camisa velha.
Olhou para mim e disse: – Não preciso de duas.
Isso me fez enxergar o quanto sou tolo.
Que os olhos enxergam imagens diferentes, quando os corações são diferentes.
Que a beleza do meu presente, não estava em proporcionar ter mais uma camisa…
A beleza do presente estava na oportunidade que lhe proporcionei em poder dividir, o que já não lhe servia mais.
Cheguei em casa e ao olhar para o meu closet … Vi o quanto sou pobre e pequeno no espírito.
Crônica escrita por Cyrus Benavides em 2012.
Cyrus Benavides é professor, advogado e escritor