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domingo - 27/02/2022 - 04:28h

Sportwashing disfarça violações a direitos humanos

Por Marcello Benevolo

Na quadra de gelo, à baixíssima temperatura, os atletas deram um verdadeiro show de superação nas Olimpíadas de Inverno 2022, em Beijing, na China, encerradas no domingo (20/02).

Fora das quadras, a China deu mais um show de marketing político, marcando mais um gol de placa, elevando seu prestígio internacional, esbanjando simpatia e passando uma imagem de país acolhedor.

Foto: reprodução multiverso

Foto: reprodução multiverso

Talvez você esteja se perguntando: e o que o esporte e a política tem a ver um com o outro? Tudo! Cada vez mais países com histórico de violações a direito humanos, como perseguição a minorias étnicas e ataques a liberdade de comunicação e expressão têm investido em eventos esportivos.

Esse movimento político de usar o esporte para limpar a imagem desses países acusados de violações a direitos humanos tem um nome: “sportwashing” (esporte e lavagem). Além de render milhares de dólares em patrocínios e movimentar positivamente toda a cadeia do turismo, as competições esportivas internacionais ajudam a desviar a atenção, ainda que temporariamente, de eventuais notícias negativas envolvendo violações perpetradas por esses países.

Copa do mundo, jogos olímpicos, corridas de fórmula 1, torneios de tênis e compras bilionárias de times europeus, com contratações de astros do futebol por cifras astronômicas, envolvem a prática do “sportwashing” por alguns países de origem asiática e do mundo árabe.

Reportagem da Exame, de 07/10/2021, informou que um fundo de investimentos de 430 bilhões de dólares ligado ao governo da Arábia Saudita (e bilionários indianos) comprou, por exemplo, o clube inglês Newcastle United. O príncipe saudita a frente dos negócios é acusado pelos americanos da morte (ainda não comprovada) do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, um ex-correspondente do jornal “Washington Post” e ferrenho crítico do governo saudita. Seu corpo jamais foi encontrado.

Embora o termo “sportwashing” venha sendo utilizado mais recentemente, a prática de desviar (apagar e/ou também esconder) as atenções negativas por violações a direitos humanos e fazer propaganda governamental positiva disfarçada por meio do esporte não é nova.

Como bem assinalou o portal brasileiro de notícias Poder360, em 16/10/2021, a Itália sediou a Copa do Mundo de 1934, no auge da ditadura facista de Benito Mussolini. E Hitler, após o autogolpe, recebeu em Berlim a 10ª edição dos Jogos Olímpicos, os últimos antes da 2a. Guerra Mundial.

E não muito distante do Brasil, a Argentina do general Jorge Rafael Videla, em plena ditadura portenha, sediou a Copa do Mundo de 1978 como uma jogada de marketing político para melhorar a aprovação do combalido regime militar.

O jogos de Beijing 2022 foram acusados por organizações de defesa dos direitos humanos ​​e pela imprensa internacional de propaganda descarada por usar um atleta ‘uigure’ para acender a chama olímpica na cerimônia de abertura.

O governo chinês enfrentou acusações de cometer crimes contra a humanidade no tratamento dado aos ‘uigures’ e outros muçulmanos turcos em Xinjiang. Entidades de direitos humanos alegaram que até um milhão de uigures sofreram abusos em campos de “reeducação”.

E mesmo em meio ao momento festivo das olimpíadas, a China seguiu revelando sua essência autoritária. Reportagem publicada pelo jornal britânico Daily Mail, em 06/02/2022, noticiou que, de acordo com o Clube de Correspondentes Estrangeiros da China, os jornalistas estrangeiros estão “enfrentando obstáculos sem precedentes” devido aos “esforços do governo para bloquear e desacreditar a reportagem independente”.

Em dezembro próximo, teremos a Copa do Mundo de futebol no Qatar. A imprensa internacional e grupos de direitos humanos apontaram para um triste histórico de violações a direitos humanos no Catar que deixa muito a desejar. Alguns dos trabalhadores migrantes estrangeiros (90% da população é de fora) que contribuem para tornar a Copa do Mundo do Catar de 2022 uma realidade, vivem e trabalham em péssimas condições.

A Copa do Mundo no apagar das luzes de 2022 no Qatar parece se configurar em mais uma lavagem esportiva, arquitetada pelo bilionário e atual marketing político governamental para marcar na nossa memória uma Copa do Mundo em campos de futebol chamativos e jogadores “heróicos”.

Ah, em tempo, o Brasil participou das Olimpíadas de Inverno de 2022 na China. Mandamos 11 atletas que disputaram provas de esqui na neve, estilos livre e cross-coutry; bobsled (corrida de trenó em dupla ou mais); e skeleton (uma espécie de prancha em que o atleta desce sozinho e de cabeça).

O melhor resultado ficou com a atleta Nicole Silveira, 13ª colocada no skeleton, segundo melhor resultado da história do Brasil em Jogos Olímpicos de Inverno.

A China, anfitriã do megaevento, terminou em terceiro lugar, com 15 medalhas, atrás da apenas da Alemanha (com 27) e Noruega (campeã com 37).

Marcello Benevolo é pernambucano, jornalista e advogado radicado em Natal (RN). E-mail: marcellobenevolojus@gmail.com

*Artigo adaptado com coleta de informações de variadas fontes nacionais e internacionais.

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Categoria(s): Artigo

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