Por Bruno Ernesto
Que os gatos são místicos, os egípcios já sabiam disso há mais de cinco mil anos. E se você reparar bem, talvez o segredo deles seja levar uma vida sem muitos protocolos.
Essa aura, e o estilo de vida deles, bem que poderiam ter sido aplicadas indistintamente aos humanos. Talvez nos poupasse de muita coisa a longo da vida. Do dia já seria excelente, convenhamos.
A outra fama de que eles são boçais e que desprezam as pessoas, é muito injusta. Quer dizer: nem tanto. Às vezes é bom nos comportarmos como os gatos e, em certas situações, não seria má ideia ver, fingir que não é com você e ignorar solenemente. É plenamente compreensível.
Quem convive com gato, sabe que nada fica no mesmo lugar se ele achar interessante derrubar, e nem um estofado se livrará das suas unhas se ele achar que ali é um bom lugar para relaxar.
Todavia, se ele quiser passar despercebido, ele singrará por entre plantas, copos, garrafas, livros, móveis e cristais e você jamais saberá que ele esteve ali.
Na hipnagogia, enquanto você tenta dormir às dezesseis horas do domingo, após ler três ou quatro folhas de um livro que você teima em não terminar, talvez ele mie escandalosamente ao pé da porta até você levantar e ir lá abri-la para, depois, solenemente, ele desistir de sair e, ao invés, caminhar vagarosamente para a cozinha, para ali cochilar numa cadeira; não sem antes lhe encarar de soslaio e bocejar, como quem diz:
– Apague a luz e saia daqui.
– De meia em meia hora venha me ver.
– Talvez me esconda e você pensará que fugi. Ficarei lhe observando lá de cima do armário enquanto você corre pela casa e me procura por todos os cantos. Menos neste.
– Talvez eu mude de ideia, se não cochilar.
Quem é meticuloso demais, irredutível demais, insistente demais, certo de tudo demais, compreensível demais, clemente demais, sorridente demais, triste demais, aberto demais, fechado demais e tudo demasiadamente demais – até mais que o próprio pleonasmo -, precisa de um gato para se aprumar.
Não faça um bicho de sete cabeças por tudo, pois a vida requer outro ritmo e nada há de errado em mudar de ideia sem dar explicação.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor













































