Por Honório de Medeiros
Começamos a pagar – eu, você, todos nós – R$ 10,2 milhões por mês pela “Arena das Dunas”. R$ 10,2 milhões. À construtora OAS. Pagaremos esse valor até dezembro de 2022.
Depois haverá uma redução no repasse. Mas no final dos pagamentos teremos repassado mais de 1 bilhão de reais à construtora. Para ser mais preciso, R$ 1.288.400.000, o equivalente a três “Arena das Dunas”.
Somente este ano serão R$ 91,8 milhões.
Enquanto isso, Mossoró vive uma guerra civil. Mata-se sem limites, rouba-se, furta-se, na cidade. Convido o leitor a abrir o Blog do BG e tomar conhecimento da postagem “Jornalista narra ‘guerra’ em Mossoró”, que diz respeito a informações veiculadas pelo jornalista Cézar Alves de Lima por intermédio do Twitter. É desesperante ler o que acontece lá.
Enquanto isso, o médico Hausemann Morais, ortopedista, plantonista do Hospital Walfredo Gurgel, usa sua página no Facebook para fazer um desabafo. Teclem seu (dele) nome no Google e leiam. É estarrecedor. “Hoje, morando em Natal, venho testemunhando há anos situações no mínimo absurdas: falta de fixador externo, falta de gases, falta de luvas, falta de fios de aço, falta de vagas de UTI, tanta coisa e ainda ter que ver mentiras na TV para disfarçar ou maquiar o caos”, diz ele.
E, mais à frente: “Talvez os senhores não tenham dado conta da gravidade sobre a que ponto chegou a saúde do RN. Eu temo! Por mim, por meus familiares, por meus amigos e pelos meus futuros pacientes. Temo muito!”
Mas o detalhe, crucial, cômico, se não fosse trágico, é a informação que nos chega pela rede social hoje, 31 de março, aniversário da Redentora: a “Arena das Dunas”, essa apoteose à incúria, à falta de respeito com a Sociedade, ao desprezo com os mais humildes, ficou alagada durante as chuvas que caíram no jogo América versus Alecrim.
Torcedores brincaram nas piscinas formadas pelas águas da chuva.
Jornalistas quase não puderam trabalhar com tanta goteira.
É isso mesmo. O complexo batizado pomposamente de “Arena das Dunas” não resistiu às primeiras chuvas. É uma peneira. Uma peneira de mais de um bilhão de reais. Uma peneira que eu, você, todos nós, inclusive nossos filhos, vamos pagar.
Uma peneira inútil e desnecessária.
Releio esse comentário e percebo o uso de palavras muito fortes: “desesperante”, “estarrecedor”… Um pouco mais de tempo e as palavras serão impotentes, se já não o são, pelo desgaste, quando se trata de retratar uma situação como essa que estamos vivendo. O uso intermitente gera a banalização.
É mais um fator a contribuir para a perpetuação da ignomínia.
De tanto conviver com o mal terminamos nos tornando indiferentes a ele. O pior é lermos as desculpas dos gestores. Quase sempre se escudam no desempenho de seus iguais em estados vizinhos.
Deveriam ser exceção, ficam satisfeitos por serem a regra. Da incompetência.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do RN
É por causa disso a minha revolta, será que não tínhamos algo mais necessário a fazer com esses recursos, o fim do mundo, pelo menos no Brasil já chegou, o egoísmo, a ganancia, a indiferença, o simples desejo pelo poder e pelo dinheiro marca a tônica dos governos que se dizem de esquerda ou direita, na verdade são todos feitos para beneficiar eles mesmos, e nós cidadãos é que pagamos a conta salgada dos desgovernos!
Deus tenha piedade de nós!
Prezado Honório
Tecnicamente dizemos que o investimento na Copa tem seu custo de oportunidade, representado pelo retorno social caso toda essa dinheirama tivesse sido aplicada em saúde, segurança e educação. Portanto referido investimento terá de proporcionar uma taxa de retorno social igual ou maior do que aquela.
Ocorre que essa taxa de retorno será bem inferior demonstrando que o governo desperdiçou recursos públicos irresponsavelmente, vejamos;
A principal atividade capaz de dar algum retorno seria o turismo. Infelizmente como não se cuidou a tempo de implantar no Estado uma Indústria Turística, perdeu-se o “timing” de tirar o melhor proveito do fluxo de visitantes que aqui virão. A onda turística, no máximo vai dar um solavanco no setor hoteleiro e comercio local e passará. Se tivéssemos sido preventivos aproveitaríamos essa onda para pegar um belo jacaré surfando nela indefinidamente;
As chamadas obras de mobilidade urbana, forma de compensar a população pela falta de investimento nos setores básicos como já foi dito, também não acontecerão na quantidade e qualidade apregoada pelos políticos defensores dessa maluquice.
E mais, caso o Brasil seja campeão vai funcionar como um entorpecente dessa gente desinformada e deseducada achando que tudo está ás mil maravilha votando sem se preocupar com as consequências de seus atos, uma vez que o Brasil é hexa. Grande merda, já que o povo não sai dela!
Prof.Honório.
Ontem, passei em frente ao Maracanã. Bonita obra. No entanto, ao invés de júbilo, senti uma espécie de tristeza, quase um acanhamento, vergonha, pois sei de tudo que nos falta.
Talvez o sentido a mais, peculiar às mulheres, estivesse me avisando sobre o que leria hoje.
Excelente texto.
Naide Maria.
QUE A ARENA DAS DUNAS FOI UM GASTO EXORBITANTE, NÃO TEMOS DÚVIDAS ! NO ENTANTO QUESTIONO… A SAÚDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA ETC ANTERIOR A ARENA DAS DUNAS, FUNCIONAVAM ? TINHAM QUALIDADE ?? A CONTRUÇÃO DO ESTÁDIO JUSTIFICA O CAOS ??? OU SERÁ A IMCOMPETÊNCIA, FALTA DE VONTADE POLÍTICA, INTERESSES PRÓPRIOS ETC OU SERÁ QUE SÃO OS DOIS E MUITO MAIS ??? NA HORA DE GRITAR E PROTESTAR NAS RUAS NINGUÉM FOI. AGORA É TARDE ! INFELIZMENTE…