Quando o Coronel Eurico Rosado da Rocha Lisboa chamou o seu protegido para um conversatório particuloso, já estava de festa em dança no juÃzo, e se rindo de contente. Aquele, era o vivente mais ajuramentado em débito de favor, desbocado e caceteiro e foi realmente o escolhido.
No vagão central do alpendre, fez uma recepção sem hem-hem-hem e sem noves-fora e foi logo dizendo:
– Nego Foda, o senhor vai ser candidato nesta eleição, Tá me entendendo?
Ao ser chamado de Nego Foda – apelido que detestava – Biu das Quenga ficou roxo, deu-lhe uma ingrossadura de lÃngua, um intestinamento de barriga e só não mandou o coronel tomar no centro, por se tratar de um Rosado Lisboa que não era pouca merda naquelas pastagens.
Sem entender direito e engolindo uma carrada de desaforo indagou:
– Eu, Coroné Rosado?
– Sim senhor, é o senhor mesmo. Não esqueça que o senhor me deve uma soltura de cadeia, de onde nunca sairia! Agora chegou a hora do pagamento.
– Mas coroné! eu não sou letrejado de ensino, tenho andado mais duro do que santo em procissão e não tenho um pingo, um pinguinho sequer de sintoma prefeituroso!
– Não é para prefeito, é candidato a deputado, que também não precisa nada de letrejamento nem desses sintomas todo! E eu disse que vai ser CAN-DI-DA-TO! não vai ganhar eleição coisÃssima nenhuma! Só precisa atacar amundiçadamente o prefeito Mané Jipinho, que vai concorrer comigo, se apoderar dos votos dele, enquanto eu me reelejo pra lhe manter fora da cadeia, ENTENDEU?
– Olhe coroné! Como eu sou um cabra vivido e espromentado nas beira de postulança political, eu vou lhe dizer um retalho de sabença, que é a pronunça mais apronunciada sobre polÃtica, que inxeste nesse mundaréu selvageado pelos animá, vegetariado e barrido pelas palha dos coqueiro e aguado pelas onda do mar: além de sintoma prefeituroso, embocadura deputadal, cancha pra governador e senador e sustança de presidente, o cabra pra ser polÃtico no Brasil, precisa no mini-minimóro dos seguintes adjutórios:
– Começar a juntar dinheiro, pra depois começar a juntar gente; engolir muita rimunheta de cabra falso, felaputista e pidão; desatar nó-cego de convenção; escutar caquiado dificultoso de partidário que só tem um voto e olhe lá; entrar em embuança de campanha; prometer como sem falta e faltar como sem dúvida; ficar refém da lÃngua do povo; pegar roleta de boca com camumbembe; fazer conchavo com reservista da ditadura; desgaviar o caminho mode os quixó da oposição; receitar pra má-de-monte; desmurmurar mulher falsa e coiseira; acompanhar inrrolamento de papé-de-justiça; levar fama de ter esfrabicado moça donzela…
Levar fama de ser corno, baitola e ladrão; agüentar fazimento de pouco de eleitor desbriado; botar tamanca pra opositor bom de peia; bater quinhento de bombo com xangozeiro; gritar aleluia em igreja Pegue & Pague; alegrar sessão espÃrita; assistir meia missa e sair comungado; batizar menino feio com o nome de Dysmeniélisson Jerry; dar dicomer do bom e comer porcaria; almoçar em lata de goiabada; despronunciar discurso má-feito de candidato tabacudo; aplaudir discurso desvirgulado, sem rumo e sem ponto final; cair do palanque e sair todo ralado e se abrindo; aturar converseiro duplicado mesmo depois de banzeiro; aturar gente furona e desconhecida dentro de casa; viver rindo e fumaçando pelo fundo, feito ferro de engomar; acabar sua D-vintezinha na buraqueira…
Aturar babões civis e militares; botar no braço menino novo do fundo cagado; tomar cerveja quente de espuma murcha; tomar uÃsque Drury’s sem gelo, numa xÃcara de louça com tira-gosto de canjica; beber naquelas mesona de imbuia, numa saleta escura e abafada, encostado numa cristaleira, e cercado de cabos eleitorais com cada sovaqueira de torar; entregar taça de campeão a time safado; chorar em velório de desconhecido; escrever bilhete com lápis de ponta quebrada; professorar as iniciais do nome de campanha pra eleitor tapado; escorregar em lama de esgoto; gritar ô-de-casa em casa oca; se abrir pra eleitor desabrido; pagar cana pra pinguço desocupado…
Farejar poeira de bunda em palanque; levar dedada no cá-pra-nós quando está nos braços do povo; escutar destampatório de foguetão no pé do ouvido; magoar o dedo mindim em passeata; dormir chiqueirado da mulher e dos filho; apertar mão de cotó; ganhar abraço fedorento; receitar caixão de defunto e ambulânça; enfiar a mão em saco de dentadura pra distribuir com a mundiça; comprar votos em dia de eleição; estelionatar voto em boca de urna…
Entrar em embuança de apuração; dar cobro de voto roubado; apertar mão de traidor oportunista, e depois de eleito começar essa camumbembage toda de novo… Deus o live d’eu sair candidato!
Chega me faltou suspiração… E eu vou epilogar por aqui, porque conversa de polÃtica é feito coceira, só quer um pezim Coroné!
Jessier Quirino, poeta popular paraibano
Os polÃticos de hoje dão graças à Deus por não necessitarem desses artifÃcios. Caso fossem obrigados a utilizá-los, pelo menos metade destes teriam que retornarem aos bancos escolares, pois são tapados de pai, mãe e parteira. Tenho dito!
guarde e desligue seu computador. a melhor materia , for imprimir e divulgar no senadinho,logo mais á noite