domingo - 22/07/2012 - 11:54h
A lei dentro da lei

A sugestiva rebelião de juízes

Do jornal O Globo

O fato de magistrados se rebelarem contra uma lei e decidirem contrariar determinação do órgão de controle da Justiça lembra atitudes de corporações sindicais.

Tão ou mais grave que o fato em si é a motivação dele: os rebelados se opõem à aplicação nos tribunais da Lei de Acesso à Informação, passo importante no processo de democratização do país.

São contra a transparência no destino dado ao dinheiro do contribuinte — pelo menos nas Cortes —, um requisito de qualquer sociedade moderna.

Em reunião realizada na quarta-feira pelo Colégio Permanente de Tribunais de Justiça, os 24 presidentes dos TJs se colocaram contrários à resolução do Conselho Nacional de Justiça — cujo presidente é o mesmo do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto — que estabeleceu ontem o dia do esgotamento do prazo para a divulgação da lista nominal de juízes e servidores do Judiciário, com respectivos salários e adicionais. Como determina a lei.

Mas, felizmente, não há uma posição monolítica do Judiciário. O Supremo, no final de junho, divulgou seus dados — não poderia ser de outra forma, por ser a Corte a última linha de defesa do estado de direito. Ontem, como determinado pelo CNJ, foi a vez do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

As resistências ocorrem nos tribunais regionais, por sinal, como em outras ocasiões, quando o CNJ atuou na linha da moralização. Por exemplo, contra o nepotismo. Também partiu dos TJs o movimento, derrotado no STF, para manietar a corregedoria do conselho. Agora, como das vezes anteriores, alinha-se aos tribunais a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).

A argumentação contrária à divulgação dos rendimentos de juízes e servidores se baseia na Constituição. Seja na garantia à privacidade ou em interpretações de que a própria Carta não determinaria uma transparência tão grande quanto a fixada pela Lei de Acesso.

Em carta aberta divulgada ontem, o presidente do TJ do Rio de Janeiro, desembargador Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, pede, inclusive, que o plenário do STF decida sobre a divergência.

Pode ser que este seja o destino final da polêmica. Mas é necessário entender o pano de fundo dela. Na verdade, o Judiciário passa por um choque cultural desde a aprovação, em dezembro de 2004, do projeto de emenda constitucional n 45, base do atual processo de reforma do Poder.

A PEC instituiu, entre outras novidades, o CNJ. E a partir dele os tribunais regionais e todas as Cortes deixarem de ser “torres de marfim” isoladas, possessões sem qualquer supervisão. A Lei de Acesso, posta em execução, como tem de ser, pelo STF e CNJ, é mais um abalo nas fundações destas “torres”.

Não é por coincidência que corporações sindicais de servidores públicos em geral têm a mesma reação de juízes.

O funcionalismo público como um todo nunca teve qualquer visão ampla de prestadores de serviços. Também formaram castas, as quais não consideram estar obrigadas a prestar contas sequer a quem lhes paga o salário, a sociedade.

Tanto que várias categorias se encontram em greve, mesmo em atividades essenciais. A rebelião de juízes é parte de um todo.

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Categoria(s): Justiça/Direito/Ministério Público

Comentários

  1. vladenilsond aurte diz:

    TRANSPARÊNCIA é algo difícil pra os que estão na CARNE SECA DA justiça de merda deste PAÍS. Como diria ZÉ roberto, ”HOMI VÃO CAGAR.”

  2. CALIBRE 50 diz:

    Essa senhora é emblemática!Tem gente quando escuta o nome dela corre pra tomar CALMONTE!

  3. Olivá José de Oliveira diz:

    Só sei de uma coisa, esta turminha que “nada na grana” com seus exorbitantes salários, representam uma pequeníssima minoria da nossa população que é tão massacrada e desprestigiada. E com isso continua de vento em polpa a má distribuição de renda do nosso país chamado Brasil, que vai merecendo a nota dada pelo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH.

  4. Marcos Pinto. diz:

    Ah tá! Os magistrados sentem-se como se fossem vestais gregas. Pois não, sim senhor!.

  5. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    Infelizmente, nada de novo front ou COMO DIRIAM…tudo como dantes no quartel de abrantes…!!!

    Porém, água mole em pedra dura…

    Caro Carlos Santos e Web-leitores, não é de hoje, muito pelo contrário, mesmo por que históricamente, a relação da sociedade braisileira com o que se chama Estado, sempre foi pautado pelo clientelismo, paternalismo, patrimonialismo e, sobretudo pleo viés inconfundivel viés de deliberadamente confundir público e privado.

    Ora, se temos exemplos patéticos exemplos vindo daqueles que possuem a obrigação de julgar e de obedecer ao regramento legal em qualquer hipótese (NO CASO DA MAGISTRATURA). Imaginem o que não passa pela cabeça de um simples e dito cidadão comum imerso no cotidiano da cultura do vale tudo, da lei de gérson e do onipresente herói sem caráter conhecido como macunaima.

    Em todas as esferas da adminstração pública, as mazelas e os vícios dessa cultura ainda hoje entorpecem corações e mentem dos que sonham, estudam e planejam, através de concursos públicos, tornar-se mais um barnabé, ou seja um indíviduo que em sua função menos trabalha menos produz e mais possui um emprego.

    Estamos em pleno século XXI, e, por incrível que pareça uma Associação de Magistrados e vários e vários sindicatos e sindicalsitas, todos eles, conhecedores e sabedores da Lei e do que emana da nossa Constituição.

    Esse fato, infelizmente se dá de maneira injustificada e e inexplicavel quando apelam prá todo tipo de desculpa e de sofisma ao resistirem em tornar público aquilo que a Lei determia, ou seja transparência quanto aos seus salários, salários esses que no mais das vezes sabidamente são verdadeiramente um acinte e um desrespeito à grande amiroria dos brasileiros que trabalham e não vivem à sombra das tetas do Estado privatizado Estado Brasileiro.

    A despeito de algumas medidas e avanço pontuais ocorridos nos últimos dez anos, o judiciario brasileiro como poder ainda se faz e se presta, infelizmente, como a instituição brasileira mais avessa e resisitente à transparência, à fiscalização e ao necessário processo de adequação as regras do processo democrático, as quais, bem ou mal de há muito se submetem o Legislativo e o executivo em todas as esferas da República.

    Isso se faz e se dá no modo de trabalhar e de prestar serviços à sociedade quando judicando e, sobretudo em seu ainda autoritário, autocrático e obtuso modo de se relacionar com todas as esferas de poder e estamentos da sociedade brasileira.

    É por essas e outras que sempre afirmo… verdadeiramente ainda somos adolescentes políticos pretendendo votar e administrar um mastodôntico Estado, que, ainda em pleno século XXI está à serviço de meia dúzia.

    Um baraço senhores Web- leitores

    FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

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