Por Carlos Santos
Você nem percebeu antes: meus olhos fitavam-na há tempos. Ô! Nem lhe conto.
Viam cada detalhe daquele rosto delicado, branquinho, quase encoberto pelo grosso lençol.
Cabelos desdenhados faziam véu sobre sua fronte; uma respiração quase inaudível dava sinal de vida interior. De repente…cílios e pálpebras fazem movimento contínuo e sincronizado, num abrir e fechar lento. Hesitante.
Como “cortinas” que se elevam, eles deixam à mostra o brilho do seu olhar, que espelham o meu. Sob o traçado de lábios sinuosos e semifechados, você sorrir sem jeito. Parece incomodada.
Descubro a luz num quarto que teima em não amanhecer, antes que tudo lá fora seja sol.
Fecham-se as ‘cortinas’ outra vez. Ao que tudo indica, sem direito a “bis”. Mesmo que eu pedisse em silêncio, não seria igual.
Segundos depois, um leve olhar se forma de novo. Agora, mais cauteloso e de viés, como a perscrutar se ainda estou ali à espreita e de modo tão impertinente.
Assumo a felicidade contemplativa, aquela que vê tudo com a alma. Posso até virar estátua de sal, mas não largo a tentação de espiar o que me cativa.
Seu corpo rola para o outro lado num esforço sobre-humano, sem que quase nada saia desse casulo de algodão.
“Huumm!” A preguiça se enrosca na própria manha de menina que quer colo. Só isso.
Em posição fetal, se defende do mundo, do meu olhar e dos meus instintos. Mas não se queixa dos meus braços.
Faz do meu pulso extensão do seu, apertando-o firmemente com a mão presa ao próprio peito.
Está na hora de irmos embora.
– Vamos!
Há tanto o que falar, mas cheguei muito atrasada. Quem sabe faço da segunda-feira o meu domingo.
Que bonito, Carlos Santos.
Que pena irem embora. Logo ela que se defende do mundo, mas se abriga naquele braços… Que voltem!
Como prometido… Encantador e verdadeiro.
Muito bonito!