Por Odemirton Filho
Entre as muitas crônicas que leio existe uma, de Clarice Lispector, que toca a minha alma. Trata-se de um belo texto sobre os banhos de mar nos tempos da infância da poetisa.
Por que gosto de ler e reler essa crônica? Porque desperta inúmeras lembranças adormecidas no meu coração; bate uma saudade danada dos banhos no mar de Tibau, no período de veraneio, quando era menino.
Ao lado da minha mãe, das minhas irmãs, de alguns primos e amigos, sentia-me realizado, numa felicidade que só vendo. Fazíamos castelos de areia, jogávamos bolas, “caçávamos” caranguejos, pegávamos “jacaré”, íamos pra pedra do Ceará, chupávamos picolés d`água do rio, esperávamos as jangadas aportarem à beira-mar com uma ruma de peixes. “Essa viagem diária me tornava uma criança completa de alegria. E me serviu como promessa de felicidade para o futuro”.
E, claro, tomávamos banho de mar até o pingo da mei dia. “Eu fazia com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas, e trazia um pouco de mar até a minha boca, eu bebia diariamente o mar, de tal modo que queria me unir a ele”.
Porque estamos no mês de dezembro, quase janeiro, essas lembranças invadem a minha alma, sonhando com aqueles momentos. “De noite eu ia dormir, mas o coração se mantinha acordado, em expectativa”. Ao amanhecer, tudo de novo, de novo… Era o mês inteiro nessa toada. Por mim, poderia ser o ano. À tarde, era esperar o grude, as tapiocas, o bolo de leite. Depois, ir ao morro do labirinto para brincar.
À noite, no alpendre da casa de meus pais, reuniam-se os parentes pra jogar conversa fora e falar da vida alheia. Então, a criançada ficava planejando o que iria fazer no dia seguinte. Na adolescência, costumávamos ir à praia de tardezinha. Era o tempo das paqueras, dos primeiros porres e das festas. “O cheiro do mar me invadia e me embriagava”.
Porém, o tempo passou. Casei. Vieram os filhos. Com eles, as responsabilidades da vida adulta. O banho de mar ficou em segundo plano. Pedi aos meus filhos que, quando eu morrer, se possível joguem as cinzas no pedaço de mar que mergulhei a minha infância.
Enfim, “era contra a minha vontade que eu tomava um chuveiro que me deixava límpido e sem o mar”. O mar de Tibau fazia parte de mim.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos
P.S. Esta crônica é dedicada a tia Miriam Oliveira, que partiu para a casa do Pai no último dia 13.
Obrigado pelos momentos vividos em Tibau, nos janeiros da minha infância. Guardo, com carinho, no meu coração.
Vá em paz, tia.
Primeiramente, meus pêsames pela partida de sua tia Miriam! Lembranças de infância sempre brotam do nosso inconsciente quando acontecem essas partidas. Não que essas lembranças deixem de aflorar em outros momentos. Na verdade, tornamo-nos adultos sem nunca deixar o lado criança. Só conheci o mar na fase de adolescência, contudo não esqueço minha primeira infância, na casa de meus avós maternos: banhos de rio, comer frutas no pé, brincar com minha tia, tomar leite direto das tetas da vaca para um copo meio de açúcar. Muito bom ter infância a resgatar! Imagino como foi feliz sua infância. Depois que conheci o mar, passou a ser o meu lugar preferido. Que sua tia descanse na paz!
Obrigado, cara Bernadete. Realmente as lembranças de nossa infância são especiais, guardadas no coração com especial carinho.
Bela crônica, amigo.
Então, ao mar…
Abraço.
Abração, amigo. Sim, ao mar. Sempre é bom molhar o corpo e lavar a alma dos males do mundo.
Meus sentimentos, caro Odemirton. Essas lembranças são as únicas coisas boas que nos restam desses tempos. Não há lugar melhor que repousar no mar. Um forte abraço.