
Drummond, VinÃcius, Manuel Bandeira, Mario Quintana e Paulo Mendes Campos no Rio de Janeiro em 1966
Queria testemunhar este papo.
Da esquerda para a direita, Carlos Drummond, VinÃcius de Moraes, Manuel Bandeira, Mario Quintana e Paulo Mendes Campos na casa do cronista Rubem Braga. Seria o ano de 1966 e a foto foi publicada na revista Manchete – em agosto daquele ano.
Claro que Rubem Braga não está na foto. Os amigos contam que ele sempre era avesso a fotos, meio antissocial. Figuraça. Como os demais dessa “chapa”.
Queria estar aÃ, só para ouvir o bate-papo, repito.
A foto revela também a personalidade de cada um, na forma de se vestir. Carlos, formal sem afetação. VinÃcius, despojado. Manuel, formalÃssimo.
Meu querido Mario Quintana, impecável. E Paulo Mendes com aquele jeito largadão, tomando uma ao lado de VinÃcius. Copo à mão e na luta.
Figuraças, repito.
Uma linha desta nem o Fluminense tem.
Imagine Drumond na ponta direita, VinÃcus na meia direita fazendo o vai-e-vem. Na ponta de lança o Manuel Bandeira, fazendo tabelinha com o Mário Quintana. E fechando o ataque o grande Paulo Mendes Campos.
Nem se você conseguisse fazer uma defesa reunindo Castilho, PÃndaro e Pinheiro. E reforçando com Jandir, Dequinha e Nilton Santos. Não, nem mesmo assim você conseguiria parar este ataque.
Este foto mostra o que de melhor aconteceu em termos de poesia e literatura no Brasil dos anos de chumbo.
Meus parabéns ao blog por publicar uma foto como esta.
E que os jovens tomem conhecimento das poesias e dos textos deste gênios da lirteratura brasileira.
Só para dar uma pequena mostra, aà vai AQUARELA, uma poesia do Vinicius e que Toquinho, com sua genialidade, musicou.
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Aquarela
Vinicius de Moraes
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul
Vou com ela viajando HavaÃ, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
e se a gente quiser ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num cÃrculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida,
depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num cÃrculo eu faço o mundo (e descolorirá)
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É ou não é GENIAL?
Quem me dera ter podido desfrutar de um bate-papo com essa Ãnclita Confraria.