Participante ativo de movimentos sociais, sempre muito sensato e respeitado, o sindicalista Neto Vale tem relato sobre o incidente de hoje no Desfile de 7 de Setembro em Mossoró.
Merece sua leitura. Leia-o abaixo:
Caro jornalista Carlos Santos,
Os incidentes com o "Grito dos Excluídos" não é de hoje. No entanto é muito simples superá-los: deixa o "Grito dos Excluídos" cumprir o seu papel cívico de alertar e esclarecer o povo do seu município, estado e país das adversidades que tornam a vida do homens e das mulheres mais difíceis.
Da zona rural algumas comunidades presentes alertavam para a qualidade ou falta d’água; da zona urbana: a comunidade do Tranquilin alertava para as condições sub-humana de moradia, os servidores municipais alertavam para a má gerência dos recursos públicos e da falta de prioridade com a saúde e a educação.
Esse é o "Grito dos Excluídos".
No ano passado foi feito um acordo (entre o município e a organização dos Grito dos Excluídos). O acordo foi cumprido, não houve nenhum incidente.
Meu caro Vicente Venancio (advogado que postou comentário mais abaixo), este ano foi feito um acordo, o acordo foi quebrado pelo município, criando o primeiro mal-estar.
O segundo mal-estar foi gerado quando um jovem de Fardamento Branco, postou-se isolado à frente do cordão de isolamento da PM, próximo ao colégio municipal e atingiu alguns manifestantes, na sua maioria mulheres com spray de pimenta. Depois esse mesmo jovem manteve-se postado de forma provocativa entre o cordão e os manifestantes.
Alertamos para os manifestantes quem era o responsável pelo uso do spray e mandamos tirar fotos do mesmo. A idéia é entregá-las as autoridades (ouvidoria).
Rapidamente foi contornada a situação. Quando chegamos próximo ao colégio das irmãs, outro cordão, desta feita formava uma espécie de curral, dentro dezenas de manifestantes.
Entretanto, fora deste cordão existia outras dezenas de manifestantes. A certa altura o cordão que se postava próximo ao fundos do colégio das irmãos avançou em direção aos manifestantes, ao avançar forçava o recuo dos manifestantes que respondia com palavras de ordens.
Alguns militares dizia-nos que estavam cumprindo ordem e a gente dialogava que não era necessário nenhum exagero, fora alguns empurrões, sem nenhuma gravidade, normal numa situação dessas.
De repente chegou a ordem que o desfile tinha sido suspenso. Continuamos a caminhada, inclusive dialogando sobre o sentido do "Grito dos Excluídos", com alguns militares, ex-colegas de ensino médio, ex-alunos, claro uns compreendiam outros questionavam-nos, civilizadamente.
Portanto, o único motivo que se pode alegar para a suspensão do desfile eram as críticas do "Grito dos Excluídos" à gestora municipal.
O "Grito dos Excluídos", nos seus últimos quinze anos, não levou mais de um a três minutos (quando muito) para percorrer o palanque oficial. Quer dizer, a grande responsável pela suspensão do desfile foi a prefeita e a sua assessoria. Pelo menos foi o que observei.
A PM, fora o caso do spray, cumpria o seu papel.
Neto Vale.
Nota do Blog – Este testemunho é de uma enorme valia para compreendermos esse caso. A narrativa é de uma pessoa de dentro da mobilização, conhecido por seu perfil harmonioso e equilibrado.
Sem sombra de dúvidas, acaba por derrubar a tese jogada pelo poder público municipal, para implicar a Polícia Militar.























Se morre alguém, a culpa é da polícia.
Se o bandido foi solto pela justiça, a culpa é da polícia.
Se o mandado de prisão demora a sair, a culpa é da polícia.
Se o bandido desaparece, a culpa é da polícia.
Se o bandido é morto durante um tiroteio, a polícia é culpada: “coitadinho do criminoso!”.
Se ele sobrevive, a polícia é inoperante, pois “deveria ter acabado com ele”.
Se a polícia age com rigor para manter a ordem, é truculenta.
Se não agir com rigor, é muito mole.
Se a polícia estava presente na hora do fato, é cúmplice.
Se não estava, é omissa.
Se revista um suspeito, desrespeita o direito do cidadão.
Se não revista, “faz vista grossa”.
Se prende pobre, é injusta.
Se prende rico, “é porque quer aparecer”.
Se prende um ladrão, tem que apresentar provas.
Mas, se o ladrão diz que foi o policial quem o torturou, o extorquiu e o roubou, o policial é preso e expulso da Polícia. Mesmo sem provas.
(Autor desconhecido)
PS: Todos os posts publicados só vem reforçar este comentário.
Foi exatamente isso que aconteceu, conforme comenta Neto Vale. Todos que estavam naquelas proximidades presenciaram exatamente essa situação.
Caro carlos santos, vai aí um texo sobre o incidente de 07 de setembro. Caso queira publicar algo. As loucuras Municipais É 07 de setembro de 2009. Dia da independência. Dia da pátria. Dia vergonhoso para a cidade de Mossoró. Estava tudo pronto para o desfile cívico. Exército, polícia, escolas, escoteiros e o grito dos excluídos, todos preparados para seguir em cortejo. Até que chega a informação de que o grito não entraria mais após os escoteiros, como devidamente combinado em reunião com o poder municipal e demais representantes das entidades que participariam do desfile. Em uma reunião misteriosa composta apenas pelo gabinete da prefeita e a polícia, ficou decidido que o grito seria o último, ou seja, depois do exército, das polícias, dos bombeiros, dos escoteiros e de 70 escolas. A mensagem foi curta e grossa, ou o grito era o último, ou não entrava. Por que essa decisão em cima da hora? A resposta é simples: esvaziar o protesto. O grito sendo o último não haveria ninguém para vê-lo e ouvi-lo, todos já teriam ido embora, inclusive a prefeita. Essa foi a primeira “loucura municipal” do dia. A notícia causou revolta. Ora, tinha sido tudo discutido e combinado em reunião, o grito entraria depois dos escoteiros. Se quem manda é o poder autoritário do executivo, então para que reunião? As “loucuras municipais” seguiram, foi ordenado à polícia que, caso descumprissem essa ordem autoritária oriunda do gabinete do poder municipal, deveria haver repressão policial, como foi feito. Não faltaram empurrões, chingamentos (baderneiros foi o mais leve), coturnadas, enforcamentos, ameças de prisão (por qual crime ainda não consegui achar no código penal), gás de pimenta que machucou inclusive crianças que participavam do grito. O povo das ruas vaiava a atitude ditatorial. Era perceptível que alguns policiais não queriam fazer o que estavam fazendo, calar a voz do povo sofrido, viam que o protesto era legítimo, pois eram eles, os policiais, também do povo. Mas não faltaram aqueles que, saudosisticamente, sentiram aquela saudadezinha da ditadura militar, onde poderiam “descer a porrada na gentalha”, como foi muito foi ouvido durante o acontecimento, através de pronunciamentos oficiais e não oficiais da polícia. É triste ouvir das pessoas pagas para proteger o povo que “essas mundiça deveria ir toda presa”. Chegaram a dizer que os participantes do grito estavam armados. Essa foi mais uma “loucura municipal”. Engraçado como a falta de bom senso e argumentos levam à atitudes ridículas. O grito é um movimento que acontece há quinze anos em Mossoró e toda a América Latina, evento oficial da CNBB, espaço de denúncia das exclusões sociais, de cunho Cristão e pacifista. Incompatível qualquer atitude violenta por parte de qualquer participante do grito. Talvez quando falavam das armas se referissem à Bíblia, com a qual todos juntos rezamos e meditamos o sermão da montanha antes de entrarmos no desfile, essa sim é uma arma muito forte, pois atinge direto no coração e na consciência. Pois bem. Seria muito mais fácil, racional e democrático ter deixado o grito desfilar e denunciar como acontece há quinze anos, mas o poder executivo optou por suas “loucuras municipais” e deu no que deu. Aqui, neste país de Mossoró, só pode ser dito o que o poder executivo quer que seja dito, senão pimenta nos “zói”. Ter encerrado o desfile e se retirado foi algo triste para o currículo da prefeita. Por que será que ela não pode ouvir reivindicações do povo que a elegeu? Não sei responder. Muitos, embebedados pelo egoísmo ou amarrados politicamente, reprovaram o protesto. Talvez por não terem ninguém passando fome ou qualquer outra necessidade em casa. Mas é a vida. Nem todos estão dispostos a lutar por um outro mundo possível. Mas, apesar de tudo, o grito foi dado. O povo do tranquilim deu seu grito por dignidade humana, pois morar em casa de taipa, sem banheiro, sem agua encanada, sem energia elétrica, sem assistência médica (até a SAMU se nega a ir até lá) não da pra ficar calado. O povo do Jucurí também deu seu grito de sede, uma vez que sofre constantemente com a falta de agua. Foi ouvido também do grito dos trabalhadores rurais em terra que lutam pelo fim do latifúndio que expulsa o camponês de sua terra e degrada o meio ambiente. O grito das mulheres pelo fim da violência de gênero e desigualdade entre homens e mulheres também ecoou. O grito dos servidores municipais massacrados pelas “loucuras municipais” também foi ouvido. Foram tantos gritos…Uns de forma coletiva, outros individuais, outros, apesar de não serem excluídos deram um exemplo de amor ao próximo e emprestaram sua voz para aqueles que não podem gritar. O importante é que, todos juntos, demos um grito por justiça que ecoou por toda a cidade. Parabéns a todos e a todas que apoiaram o grito de forma direta ou indireta e deram esse exemplo de amor ao próximo, movimentos populares, igrejas, ONGs, sindicatos, comunidades carentes e tantos outros. Assim, do mesmo modo como no início do grito, onde fizemos uma oração, deixo aqui o trecho do sermão da montanha que nos impele a gritar cada vez mais alto: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” João Paulo Medeiros Pastoral Operária.
Eu presenciei exatamente o que foi dito acima, sobre o que ocorreu próximo ao Colégio das Irmão. Eu não estava na manifestação e fui empurrado pelo cordão de policiais que viam “limpando” a rua e as calçadas (onde eu estava). Fui mandado saiu da rua por um policial e fui embora com minhas filhas (de 7 e 4 anos) que queriam ver o desfile. Não entendi por que a polícia fez isso, já que não havia confusão nenhuma no local. Atitude gratuita, desespeitosa e por isso mesmo irresponsável.