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domingo - 26/04/2020 - 07:48h

E a natureza, enfim, respirou

Por Marcos Araújo

“A terra é azul. Como é maravilhosa. Ela é incrível”, declarou entusiasmado o cosmonauta russo Iuri Gagarin, um nanico de 1,57m (para os padrões russos), a bordo da aeronave Vostok 1, uma hora após ter decolado da plataforma de Baikonur, no Cazaquistão, numa manhã cinzenta de 12 de abril de 1961.

Passados 60 anos da frase de Gagarin, o planeta não está mais azul. As últimas imagens do Hamawari-8, um satélite japonês lançado em outubro passado, mostram que a verdadeira cor da Terra é outra: cinza. Certamente, fruto da devastação biológica e da poluição causada pelo ser humano.A geomorfologia histórica ensina que o mundo já passou por duas grandes devastações biológicas. A primeira no Período Paleozoico, a fratura da Pangeia. A segunda, no período Mezozóico, o choque com o meteoro de 9 Km de extensão, acabando com o domínio dos Dinossauros, há mais de 130 milhões de anos. A terceira devastação está em pleno andamento.

Denunciada por biólogos e cosmólogos, ela está sendo provocada por um “meteoro” arrasador: o ser humano, o homo habilis e sapiens. Com sua tecnologia energívora, o homem está acelerando o processo de exterminação do planeta a níveis incontroláveis.

Basta ver que no dia que Gagarin pronunciou a frase acima, cada ser humano produzia menos de 100g de lixo por dia. Hoje, produzimos, em média, 800g. Quando Gagarin estava na janela da Vostok olhando o planeta maravilhado, o The Daily Telegraph (Grã-Bretanha) anunciava que a indústria automobilística contava com 90,5 milhões de veículos no mundo. Presentemente, existem mais de 1,8 bilhões de veículos.

Em pleno Século 20,  26 países sofrem escassez crônica de água e a previsão é de que em 2025 serão 3,5 bilhões de pessoas em 52 países nessa situação. Apenas para ficar com esses três exemplos.

Era consenso entre os biólogos que não seria possível evitar o colapso ecológico. Aquilo que a ciência não previa, nem concebia como possível, que era a redução da poluição, aconteceu. Graças ao coronavírus! Segundo dados de satélites dos Estados Unidos e da Europa, desde janeiro que há uma queda substancial na concentração de poluição por dióxido de nitrogênio (NO2).

Na Itália, colhem-se às dezenas exemplos de recuperação da natureza, em curtíssimo espaço de tempo. As águas dos canais de Veneza estão limpas, cristalinas, trazendo peixes e cisnes de volta. O mesmo acontece nos lagos de Roma e no porto de Cagliari, na Sardenha, onde agora se pode ver patos e golfinhos, respectivamente.

O planeta está voltando a ficar azul. Em tempos de trevas para os humanos, o meio-ambiente está se regenerando, paulatinamente. Dá mostras de que é possível conviver – para sobreviver. Eis o desafio ético e político-social que se nos antolha. Estamos cercados pela natureza, e dizia Goethe, ser humano e natureza são parceiros intercorrespondentes e interrelacionados.

Se no passado falharam as alternativas racionais para a manutenção de um mundo ecologicamente equilibrado, o presente clama por uma relação harmoniosa. A história não antevia um final feliz.

Com a pandemia, a natureza propõe que reescrevamos um novo roteiro. Quem sabe, deixando a natureza respirar, possamos garantir nossa própria existência. Somos obrigados a propalar essa nova ordem: o respeito ao valor ambiental. Temos que ser homo sapiens, nunca homo demens.

Marcos Araújo é professor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. GILSON GUILHERME BEZERRA DE FREITAS diz:

    PARABENS POR ESSE CONTEÚDO TÃO RICO, COMPLETO EM CONHECIMENTOS DESSE TEOR. COMO EU GOSTARIA, QUE CADA CIDADÃO, TIVESSE ACESSO, OPORTUNIDADE, DE ESMIUÇAR ESSE TEXTO. O SER HUMANO, PRECISA MUITO, ESSENCIALMENTE NESTE MOMENTO EM QUE VIVEMOS E ATRAVESSAMOS UMA PANDEMIA ÍMPAR. OBRIGADO DIGO EU AO DIGNO E AMIGO JORNALISTA CARLOS SANTOS, POR NOS PROPORCIONAR ESTA OPORTUNIDADE. DEUS SEJA LOUVADO. OBRIGADO.

  2. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Marcos Araújo me rendo aos seus pés. Ando muito triste com o nosso momento. A natureza dá o seu grito e o homem, grotescamente politizado quer o Poder.

  3. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Belas palavras, boa argumentação, todavia, a realidade nua e crua é bem distinta…!!!

    A questão relacionada ao aparente respirar da natureza,na verdade na verdade só se verifica na área urbana, sobretudo nas grandes metrópoles, tendo em vista a diminuição do lançamento de monóxido de carbono, bem como outros outros elementos químicos grande poluidores do ar, além, claro, do lixo urbano e outras demais formas de poluição originarias do processo industrial.

    No caso do Brasil é deveras um engano, haja vista que no centro-oeste e na amazônia, principalmente, o liberou geral do Sinistro do Meio Ambiente da Cavalgadura mor, infelizmente continua, com grilheiros, desmatadores/devastadores e garimpeiros que chegam de todas as regiões do nosso país, livremente, sob o incenTivo da CavaLgadura Mor : JAIR MESSIAS ASCO NARO, RURALISTAS, LATIFUNDIÁRIOS E BANQUEIROS NACIONAIS E INTERNACIONAIS COMPRADORES DE VASTAS ÁREAS NA AMAZÔNIA, incluSive invadindo aldeias e matando lideres indígenas e sindicais….!!!

    Em síntese, os números indicam aumento, de no minimo 50% (Cinquenta) por cento de áreas devastadas, degradas e desmatamento continuo, desde a ascensão da Cavalgadura Mor: JAIR MESSIAS AS CO NARO e seu grupo de lunáticos, Neo-nazifascistas, déspotas e reacionários apoiadores ao poder central e institucional em nosso país.

    Um baraço
    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. Honório de Medeiros diz:

    Meus aplausos, amigo! E um abraço.

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