domingo - 02/06/2013 - 09:20h

Felicidade pega

Por Danuza Leão

Fácil não é, mas existem maneiras de procurar a felicidade. A primeira coisa – e a mais importante – é tentar só ter como amigos gente com a vocação da felicidade. É claro que às vezes eles passam por problemas, e devemos ser solidários nesses momentos.

Mas existem pessoas que nascem de baixo-astral, sempre se queixando de tudo, só falando de problemas e tristezas. Se você conviver muito com pessoas assim, pode saber que vai ficar mal.

Aliás, gente assim só gosta de se dar com pessoas como elas; quem, nascido com o DNA lá em baixo, vai suportar ser amiga de quem é feliz, otimista, que vive rindo e achando a vida boa? E não falo só de amigos: se o seu tintureiro se queixa o tempo todo da vida, o professor de ginástica só conta desgraças, a faxineira, as doenças dela e da família inteira, troque, mesmo com dó e piedade.

Você tem que se defender, e uma das maneiras é se afastar, fugir, não chegar nem perto.

Eu tive uma empregada que era excelente, e apesar de só se queixar e me contar histórias trágicas (e antigas) -como morreu a avó há 50 anos, a sobrinha que tinha um filho que estava preso, a irmã que pesava 110 quilos e era diabética (tudo com riqueza de detalhes)-, fiquei com ela durante anos, já que era uma ótima profissional.

Mas um dia não deu mais. Fiz das tripas coração e a demiti, com todas as vantagens da lei e muitas outras, para me livrar da culpa. Mas fiquei pensando: será que ela vai encontrar outro emprego? E se não encontrasse, a culpa seria toda minha, que deveria ter sido mais paciente e tolerante, sabendo que a vida dela não era fácil etc. etc.

Mas sabe aquele dia em que não dá mais? Pois não deu; assumir minha culpa não foi fácil, mas o que era para ser feito foi feito.

Aí veio uma outra, que não deu muito pé, e antes que laços de amizade se fizessem, dispensei. E aí veio a terceira, e minha vida mudou.

Em primeiro lugar, ela é uma pessoa de altíssimo astral. Bem casada, feliz com o marido, e com um sorriso -quando não uma gargalhada- o tempo todo. Quando ela veio pela primeira vez conversar comigo, me chamou logo de Danuza, não de dona Danuza.

Como desde que me entendo por gente as empregadas chamam as patroas de dona, achei um pouco estranho, mas não tive nenhuma condição de pedir que ela me chamasse de dona. Afinal, isso não tem nada a ver comigo. E assim fomos indo: Danuza pra cá, Vanúzia (é o nome dela) pra lá, e a vida correndo não só bem, como cada vez melhor.

Ela me elogia, diz que o cabelo novo ficou ótimo, e me confessou que adora Clodovil, Agnaldo Timóteo e não perde um show de Fagner, sua grande paixão. Tudo isso me faz rir, e de repente percebi que estava rindo o dia inteiro. Ontem ela estava na área passando roupa, e de repente ouvi um som estranho.

Fui ver e era ela, com o ferro na mão, cantando; cantando alto uma música que nunca ouvi, provavelmente do repertório de Alcione, e quando cheguei à área ela me abriu um grande sorriso e perguntou “quer um chazinho gelado? Você quase não toma água, e água faz bem, vou pegar um copinho para você”.

Largou o ferro e me trouxe um chá bem gelado, e eu vi o quanto eu era feliz de ter uma pessoa assim perto de mim. Uma empregada que canta e que na hora de ir embora me manda um beijo; tem coisa melhor?

Vanúzia vai levar um susto quando ler esta coluna; é capaz até de mandar emoldurar, mas ela merece, pela felicidade que me dá. E descobri que felicidade e tristeza são tão contagiantes quanto o sarampo.

Danuza Leão é escritora e cronista

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Antonia Líria Alvino diz:

    Tô pagando caro por uma dessas aqui em casa… Muito difícil empregada boa assim.

  2. naide rosado diz:

    Carlos.
    Tenho uma amiga fora de série. É o maior alto-astral que conheço. Por isto, para que ela jamais sumisse de minha vida, dei-lhe um posto vitalício na família: é madrinha do meu filho, Sérgio Eduardo.
    A risada dela é contagiante, a disposição para ajudar a todos é incrível. Os “causos” que conta são show de bola. Amiga querida, teve a vida totalmente modificada em termos financeiros e, jamais uma queixa. Organizadamente, enquadrou-se em seu novo “status’ e, organizadamente, nada lhe falta dentro dos parcos recursos que administra. Tem muitos problemas de coluna que ela, às vezes, transforma em piada.
    Ficou viúva, sofreu, chorou , mas enfatiza os momentos maravilhosos de seu casamento com o meu compadre.
    Não teve filhos, mas costumo dizer que sou sua “barriga de aluguel” , pq ela fazia tratamento para infertilidade quando nos conhecemos (era nossa vizinha) e começou a curtir a minha primogênita, Paulinha. Depois, tive Fernanda, Dan, e aí, amigo, o amor dela explodiu como se o bebê fosse dela…Veio Sérgio Eduardo, o amor continuou e ela já não fazia tratamento para infertilidade. O extinto maternal foi suprido. De igual forma, meus filhos são apaixonados por ela. Há uma ligação tão forte entre eles que eu poderia ter até ciúmes, mas não tenho. Ela merece esta afeição.
    Mora, de uns anos para cá, em Cabo Frio. Está sempre por aqui. Nas formaturas sempre foi considerada figura indispensável! Emocionou-se tanto quanto eu. Usufruíu de todos os meus orgulhos e isto me encanta! Vem a todos os aniversários, festas, Natal, Ano-Novo… Não viajo se ela não vier para cá, dar cobertura aos “nossos” filhos e netos. Fico tranquila.
    Como esta amizade começou? Sempre descia com as cianças para o pátio por volta de 8 h. Certo dia , desci às 7.30h. Paulinha ganhara um velocípede grande…um “Tonka”…eu sentia uma vontade enorme de descer uma rampa do prédio , nele. Então, olhei para cima, vi que não havia ninguém às janelas …e DESCI…foi o máximo! Só que Cristina, minha comadre, assistiu tudo e gritou para o marido vir olhar correndo a vizinha alta andando de velocípede…KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKk. Mais tarde, ela desceu e contou ter visto a minha proeza…Risosssssssssssssssssssssssssssss…Eis o começo.
    Voltando ao assunto , ela vale, mais do que mil Prozacs. Tira a pessoa de qualquer abismo. “A felicidade dela pega.”
    Acho que falei muito, Carlos. Desculpe.
    Um abraço, Naide

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Naide, boa noite. Seu depoimento é enriquecedor. Essa sua amiga instigou-me a conhecê-la quando o tempo e minha condição de “liso estável” me permitirem pousar no Rio. Abração.

  3. Francy Granjeiro diz:

    Ela está muito mais perto do que se imagina.

  4. naide rosado diz:

    Carlos.
    Liguei para Cristina, minha comadre. Indiquei seu blog. Pedi para que ela, após a leitura, me ligasse. Menino, foi muita emoção! A voz dela, embargada por um choro forte que, via de regra representa tristeza, era, notadamente, alegre. Um choro emocionado! Fiquei, também, comovida…Assim, começamos os nossos dias, felizes por esta amizade abençoada. Ela, diante de seu comentário, sentiu-se prestigiada e importante.
    Uma vez, Carlos, eu lhe disse que aqui era o meu cantinho de desabafo, ou de falar sobre minha vida. Sorte sua: sou um bocado feliz, caso contrário acabaria com os espaços.
    Um abraço bem grande!
    Naide

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Naide, boa tarde. Que Bom! Fico feliz demais. Esta página há muito deixou de ser minha, para ser nossa. E aqui não precisamos ser íntimos, afinados, partidários, siamês. Para que saibamos respeitar o contraditório, que consigamos ouvir, para nos habilitarmos a falar. Abraços em você e também na Cristina.

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