quarta-feira - 05/09/2007 - 02:32h

Grandes vigaristas, pequenos cadáveres

Enquanto Mossoró acompanha uma briga cretina para saber quem é o responsável pelo não-funcionamento de uma UTI Neonatal na cidade, bebês continuam morrendo. Nessa terça, 4, chegamos ao terceiro óbito em menos de 15 dias, informa-me um jornalista amigo.

São três minúsculos cadáveres, sonhos desfeitos, vidas amputadas na raiz. Ninguém assume responsabilidade e o que se evidencia é o complexo da transferência de culpa, deformidade comum aos covardes e patifes. Algo que abunda na política mossoroense.

Nesse enredo é difícil se encontrar algum mocinho. Prospera a indústria da "pilantropia" e tremulam estandartes enganosos do espírito público. Sobram vigaristas. Num país sério, muitos estariam presos. Caíssem nas mãos de justiceiros, seriam imolados até a morte. Não fariam falta. 

Tudo uma farsa imunda, na terra que vive a fraude da trilogia libertária, mas que não tem a dignidade de salvar suas crianças da morte infame e cruel. Inexistem médicos especialistas, alardeiam alguns. Não há estrutura, dizem outros.   

Faltam-nos vergonha na cara e uma gota, mínima que seja, de respeito à vida e ao próximo. Um traço de humanidade bastaria. Somos tomados por um egoísmo doentio, que nos distancia da dor alheia e nos faz pensar que tudo é "normal", até porque não é comigo. O choro na casa ao lado não me diz respeito.

Em termos de sociedade, Mossoró quer se impor como desenvolvida, isso porque ver dezenas de arranha-céus brotando da terra. Entretanto ainda convive com epidemias de bicho-de-pé, mendiga esmola para sustentar seus idosos e assassina crianças em série.

Como se vê, sobra mesmo é cinismo.

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. Honório de Medeiros diz:

    “Grandes patifes, pequenos cadáveres”: uma aula de jornalismo crítico sensível e independente.
    Um grande abraço de solidariedade.

    Honório de Medeiros

  2. Anônimo diz:

    Prezado jornalista,
    Parabéns pela matéria “Grandes patifes, pequenos cadáveres”. De fato, a enganosa idéia de que Mossoró é uma terra libertária contrasta com a sua dura realidade social.

  3. Wellington Diógenes diz:

    Que ironia! Acordar buscando encontrar algo nos jornais da nossa Mossoró que não seja bajulação política e se deparar com uma matéria, uma verdadeira obra literária, no que tange a clareza das idéias, ao informar uma realidade tão crua quanto a denúncia veiculada na matéria “grandes patifes, pequenos cadavéres”. Isso nos dá na boca um gosto amargo de derrota e no coração, a esperanja de um mundo melhor tendo como meio de transformação uma informação jornalística compromotida apenas com a verdade. Parabéns CARLOS SANTOS

  4. Alcimar Antônio de Souza diz:

    Prezado jornalista, a matéria “Grandes patifes, pequenos cadáveres” retrata muitíssimo bem o enorme paradoxo que existe entre a pseudo-realidade de terra libertária que se quer dar a Mossoró e a dura realidade da sua gente mais pobre, aquela que não tem condições de usufruir dos serviços privados de saúde. Parabéns pelo texto. Infelizmente, é belíssimo. Digo infelizmente porque tenho certeza que você não gostaria de tê-lo escrito, pois não lhe interessa noticiar esse lastimável episódio que é a seqüência de mortes de crianças ainda em tenra idade por falta de uma UTI neonatal e por falta de profissionais médicos especializados. Mas, de qualquer forma, parabéns pela beleza do texto. Forte abraço.

  5. Antonio Pedro da Costa - advogado diz:

    Depois de ler os comentários acima, todos elogiosos ao seu texto, não me resta muito a acrescer, somente dizer que nesta cidade quem se expõe a dizer as verdades que você diz, merece todo nosso elogio, pois o pensamento hegomônico dos nossos pretensos formadores de opinião, se reduz a bajulação descarada ao grupo político a que, na oportunidade se encontra vinculado. Parabéns. Precisamos da sua verve jornalista no nosso cotidiano.

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