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domingo - 21/07/2024 - 11:20h

Memória viva de campanhas eleitorais inesquecíveis

Por Odemirton Filho

Arte de Cássio Costa da Agência Senado

Arte de Cássio Costa da Agência Senado

A convite de Carlos Santos, criador e editor do Blog Carlos Santos, topei escrever para este domingo (21) na condição de eleitor e testemunha viva de algumas campanhas eleitorais em Mossoró. “Quero uma visão que não seja do especialista, mas de alguém que vivenciou época de campanha diferente da conhecida atualmente,” justificou ele. Portanto, o que vem aí mais abaixo, não é o olhar do especialista, do profissional do jornalismo político, da pessoa do marketing, do homem da ciência política, do expert em pesquisa eleitoral, mas de alguém que viveu período memorável lá embaixo, nas carreatas, nos comícios, passeatas, showmícios. Desses tempos cativantes, eis um pouco do que ficou em minha memória:

Os artigos dos articulistas que escrevem nesta página na série “Eleições Municipais 2024” fizeram-me relembrar das campanhas eleitorais de tempos idos. Algumas foram singulares, seja porque eu ainda estava no junho de minha vida, e tudo era motivo pra festa, seja pelo acirramento dos embates eleitorais, tão comuns nas cidades do interior. Não é meu objetivo discorrer amiúde sobre tais campanhas, mas, tão-somente, apresentar um recorte do que vivenciei.

Refiro às campanhas eleitorais de 1986, 1988 e 1992, a primeira para o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a segunda e a terceira para a Prefeitura Municipal de Mossoró.

1986

Em 1986, os nomes fortes que concorriam ao Governo do RN eram João Faustino e Geraldo Melo. Em outra oportunidade, escrevi que até hoje não existiu campanha eleitoral mais emocionante. Os jingles do “Tamborete”, apelido de Geraldo Melo, eram de arrepiar; “sopra o vento, deixe esse vento soprar, esse vento traz Geraldo, a nossa sorte vai mudar…”

Os eleitores ficavam fascinados com a oratória de Melo, acostumado a falar para multidões; muitos deles levavam tamboretes nas mãos ou colocava-os nas janelas e calçadas das casas. De fato, foi uma campanha eleitoral belíssima, envolvente e, ao final, o “Tamborete” venceu João do Coração. Resultado das eleições de 1986:

– Geraldo Melo (PMDB) – 50, 11%
– João Faustino (PFL) – 48,60%
– Aldo Tinoco (PDT) – 0,72%
– Sebastião Carneiro (PT) – 0,57%

1988

Rosalba foi eleita três vezes, a começar de 1988 (Foto: reprodução)

Rosalba e Luiz Pinto erguem braços à aclamação em 1988 (Foto: Reprodução/Arquivo BCS)

Em 1988, Laíre Rosado e Rosalba Ciarlini protagonizaram a disputa para prefeito. “Sou rosa vermelha, ai! Meu bem querer, beija-flor sou tua rosa, e hei de amar-te até morrer…” O Jingle de Rosalba embalou a campanha. A música Ilariê tocava nos comícios de Laíre; o candidato do PT também tinha seu jingle, “Chagas Silva, Zé Estrela, tome nota pra votar…”

Como disse em outra crônica sobre o tema, lembro-me de dona Edith Souto – baluarte do aluizismo em Mossoró – acompanhando as passeatas sentada no capô de um veículo Opala; dos ônibus levando os eleitores pra lá e pra cá; da Força Jovem, uma turma de rapazes e moças que apoiava a candidata Rosalba, realizava comícios que reuniam milhares de pessoas.

Foi uma campanha bastante disputada, inicialmente tendo Laíre como favorito, mas pouco a pouco, com o apoio de Dix-huit Rosado e outros fatores, a “Rosa” angariou a simpatia dos eleitores, conseguindo ganhar o pleito, iniciando, a partir de então, uma carreira política vitoriosa. Resultado das eleições de 1988:

– Rosalba Ciarlini (PDT) – 37.307 – (49,7%)
– Laíre Rosado (PMDB) – 30.226 – (40,2%)
– Chagas Silva (PT) – 2.507 – (3,3%)

1992

Já na campanha eleitoral de 1992, disputaram pra valer Luiz Pinto e Dix-huit Rosado. Luiz Pinto era o candidato apoiado por Rosalba, que estava surfando nas ondas da popularidade, e eram favas contadas a vitória do Pinto. Elek  seu vice-prefeito, oriundo de família tradicional da cidade.

Laíre Rosado, Frederico Rosado, Sanda Rosado, Dix-huit e Vingt em 1992 (Foto: arquivo)

Laíre Rosado, Frederico Rosado, Sanda Rosado, Dix-huit e Vingt em 1992 (Foto: arquivo)

Porém, não foi bem assim. Apesar da idade avançada, com as limitações naturais para enfrentar uma campanha, o “Velho” mostrou todo o seu vigor eleitoral.

Certa vez, presenciei um discurso do velho alcaide, um orador de primeira linha. Na ocasião, disse que, se pudesse, cobriria o chão de Mossoró com algodão para ao pisar não machucar a terra que tanto amava.

No final do embate, o “Velho” venceu o “Pinto”.

No comício da vitória, a canção do poeta Zé Lima animava a multidão, eufórica: “Não sei o que será do amanhã, a vida da morte é irmã, eu quero esse cheiro de terra, sabor de hortelã…” Resultado das eleições de 1992:

– Dix-huit Rosado (PDT) 37.188 – (47,79%)
– Luiz Pinto (PFL) 32.795 – (42,15%)
– Luiz Carlos Martins (PT) 6.557 – (8,43%)
– Paulo Linhares (PSB) 1.273 – (1,64%)

Em Mossoró, à época, os grandes comícios eram realizados no largo do Jumbo, da Cobal, no Ferro de Engomar, logo após a descida do Alto de São Manoel. Os showmícios eram permitidos. Cantores e bandas de fama nacional animavam o povão, numa verdadeira festa; nas passeatas, um mar de pessoas; nas carreatas, uma ruma de carros e motocicletas, além de carroças e bicicletas.

Foram essas, para mim, as campanhas eleitorais inesquecíveis. Quem viveu esses momentos sabe muito bem o que acabei de descrever. Esse tempo não voltará jamais.

Série Eleições Municipais 2024

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Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos

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Categoria(s): Política / Série Eleições Municipais 2024

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