Por Edimilson Lopes
Contorcionismos verbais e argumentos cavilosos fazem parte da disputa política. São recursos tão comuns. E não dá para querer, como pregam os moralistas de plantão, que as regras da vida privada sejam as mesmas dessa conflituosa e excitante dimensão da vida social moderna. Há uma, como direi?, uma moralidade que é específica da disputa política. Maquiavel, para não citarmos Weber, foi o primeiro a apreender, com genialidade, essa lógica do campo.
Por que o intróito acima? Ora, porque, nestas plagas, gente muito sabida está a mobilizar argumentos cavilosos para dificultar as candidaturas próprias do PT, particularmente em Natal e Mossoró. Dizem-nos, os espertos, que é necessário manter “unida”, aqui, a “base aliada” que dá sustentação à Presidente Dilma.
Trata-se de argumento sem sustentação política, além de um atentado à lógica mais elementar. A “base aliada” não é um “bloco”. Nem mesmo uma “aliança”. Trata-se de uma coalizão governamental. Construída, não sem fissuras, em torno de pontos mínimos consensuados a respeito da condução do país.
Foi assim com FHC, com Lula e continuará a sê-lo com Dilma. São os limites do nosso hibridismo institucional, consubstanciado no que se convencionou denominar “presidencialismo de coalizão”. Sem isso, sem essa costura, sejamos honestos, não é possível governar o país. Por isso mesmo, é nada mais do que demonstração de responsabilidade política articular, costurar com paciência até, essa coalizão. Mas isso não significa que se deva encará-la como se fora um “bloco de poder”. Não é, nunca foi…
A “base aliada” é uma coalizão assentada em uma unidade política tensa e marcada por intensas disputas. Nada mais esperado, diga-se de passagem. Cada um dos atores detém o seu próprio projeto político (ou de poder, vá lá!). E buscam garantir, como podem, o alargamento dos seus “espaços”. Até aí, tudo normal. A não ser para as normalistas, se que estas ainda existem…
Pois bem, as eleições municipais não podem (e nem devem) traduzir a lógica da disputa federal. Em primeiro lugar, porque nelas não está em jogo a sustentação parlamentar da Presidente Dilma. Ou seja, o Governo Dilma não sairá mais ou menos fortalecido das eleições municipais de 2012.
Os partidos que compõem a “base”, sim, mas aí é outra história. Em segundo lugar, as eleições municipais são espaços fundamentais para a disputa de projetos políticos em torno das gestões locais. Trata-se, portanto, de um momento privilegiado para a explicitação dos projetos específicos de cada ator político.
Em terceiro lugar, dado que as pessoas, como não cansam de nos lembrar os cansativos seguidores do Conselheiro Acácio, “vivem localmente”, a disputa substancial destes tempos se dá aqui, no chão local. A conseqüência é que a afirmação de posturas diferenciadas nos espaços locais passa a cumprir um papel estratégico na construção sócio-política de qualquer projeto político que tenha pretensão de disputa mais geral (nacional).
O que eu estou afirmando é que, nas disputas gerais (governadores, deputados, senadores e presidente), os elementos locais dos projetos em disputa são continuamente mobilizados. Ora, ora, quem não lembra que o PSDB erige em vitrine sua gestão estadual paulista? E que as gestões municipais petistas são sempre colocadas como vidraças?
Não, não está em jogo a continuidade da base aliada nas próximas eleições municipais. Para o PT, a subordinação a esse argumento caviloso pode se constituir em um inestimável prejuízo político. Um prejuízo de longo prazo, claro! De imediato, quando o acesso a postos em máquinas locais é o que parece estar no centro da disputa, essa perda não aparece muito claramente. Mas, no médio e longo prazo, tratar-se-á de um grande desastre político.
Os companheiros petistas deveriam escolher alguns dos seus dirigentes para analisar as posturas da Social-democracia alemã e do trabalhismo inglês no que diz respeito às disputas dos postos locais e regionais. Nesse chão, ensinaram-nos os políticos europeus, é que se constrói as bases para as disputas nacionais.
No Rio Grande do Norte, após ter participado dos Governos Dilma e Carlos Eduardo (PSB e PDT), por que o PT não deve se aliar eleitoralmente, já no primeiro turno, a candidaturas do PDT e PSB? Ora, porque ao fazer isso se inviabiliza enquanto ator político cuja atuação é balizada por um conjunto de proposições substantivas sobre as questões que afetam concretamente a vida das pessoas (saúde, meio ambiente, transportes, assistência social, segurança pública, cultura, lazer, etc.).
“Ah, mas iremos contribuir com os projetos de governo dos nossos aliados!”, já escuto a objeção vívida de alguns. Eis aí um prejuízo sem tamanho. Mais que isso: um haraquiri político! Já imaginou fortalecer com proposições substantivas que não as tem (por impossibilidade política, não técnica, diga-se de passagem).
Ora, ora, quando falamos em projetos em disputa não estamos a discorrer sobre “soluções técnicas” para problemas locais. Uma máquina azeitada, com grana para comprar boas consultorias, terá material de sobra. Mas, creiam-me!, com essas “propostas de gaveta” não se faz disputa política, mas marketing eleitoral. Projeto articula proposição, prática e coerência. Ou seja, quem fala tem ter coerência com o que fez antes.
O Professor Josivan tem cara de um projeto, no sentido largo do termo, para Mossoró. Foi um bom reitor e elevou a UFERSA ao lugar de destaque que a IES ocupa hoje Nordeste do Brasil. Torpedear (a partir de bases torpes e interesses menores) a sua candidatura é um desserviço ao PT. Do ponto de vista da disputa política é uma postura de abstenção. Sem rodeios, a candidatura de Josivan é uma das maiores oportunidades oferecidas pela história para a visibilidade de um projeto político petista não apenas em Mossoró, mas em todo o Oeste do Rio Grande do Norte.
Em Natal, a candidatura do Deputado Fernando Mineiro é mais importante ainda. Trata-se de reafirmar valores e posições que jamais serão abordados com o apoio e a participação em outros projetos políticos. Mineiro é cara do PT, para o bem e para o mal. Para o bem, porque é fundador da agremiação e a representou, com competência nos legislativos municipal e estadual. Ainda para o bem, porque é um ator que alia tino político com competência técnica. Não deixa de ser curioso que os ataques que vez ou outro são lançados por esse ou aquele setor da imprensa local e do próprio partido ao Deputado sejam alicerçados em sua personalidade, não na sua atuação política.
“Mineiro é intransigente!”, dizem uns. Vejam só! Mas, Mineiro é um dos parlamentares que mais negocia projetos de interesse público, não é?. Senta com secretários, pessoal do judiciário e não poucos sindicalistas. E quando o faz não é para salamaleques, mas para articular resultados que se traduzam em avanços do espaço público. Esse tipo de prática, deixem-me ser professora, é boa política. Então, por aí, não dá para acertar alvo algum. E “pelo mal”? Ora, mesmo nesse item não deixa de ser algo virtuoso o déficit da candidatura Mineiro. Pois, Mineiro é engajado demais com o PT. Mas, por isso mesmo, pelo seu engajamento, é que ele pode potencializar positivamente as boas experiências de gestões municipais petistas do Brasil afora.
As duas candidaturas (Mineiro e Josivan) alavancam politicamente o projeto político do PT no Rio Grande do Norte. Não sou expert em pesquisa eleitoral, não falarei das suas potencialidades nesse campo, mas não dá para subordinar sempre o político ao eleitoral. Até porque, no final, quem faz isso termina por sofrer acachapantes derrotas nos dois campos.
Edimilson Lopes é professor de sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O ilustre conterrâneo Prof.Dr. EDMILSON LOPES transmitiu o pensamento de cerca de 90% dos petistas potiguares. Não há que se capitular diante a pressão dos que defendem interesses próprios, deixando a ideologia programática do partido em segundo plano. Tenho dito.
“É preferível ser dono de uma moeda do que escravo de duas.”
Provérbio Grego
Provérbio Árabe:
São quatro homens:
O primeiro : Aquele que não sabe; e não sabe que não sabe. É um tolo. Evita-o!
O segundo: Aquele que não sabe; e sabe que não sabe. É um simples. Ensina-lhe!
O terceiro : Aquele que sabe; e não sabe que sabe. Esta dormindo. Acorda-o!
O quarto : Aquele que sabe; e sabe que sabe. É um sábio. Segue-o!
Pelas andanças pelo oeste a fora ouvi comentarários e graceijos com relação ao episódio, que vou passar pra vcs.
Os Rosados são fortes comprou o PT de Mossoró.Fatima vendeu o partido aos Rosados,quem não for Rosado tá lascado na politica de MOssoró.Fiquem triste, confesso.
não acredito nessa alavancada do PT no rio grande do norte com essa candidatura do prof. josivan, como quer o prof. edmilson, a passagem do professor josivan no PT é passageira não tem densidade eleitoral no rn.
Até que em fim vejo alguém fazer um comentário com algumentações e propositos dignos de serem avaliados
e entendidos, são comentários como esse que deveriam estar sempre nos blogs e não comentários com interesse
meramente politiqueiro. Paravéns Prof. Edmilson, o qual tenho muito orgulho de ter sido seu aluno.