domingo - 26/01/2025 - 03:44h

Ponta Negra

Por Bruno Ernesto

Embarcação holandesa em escala. Exposição Rijksmuseum (Foto do autor da crônica)

Embarcação holandesa em escala. Exposição Rijksmuseum (Foto do autor da crônica)

Certamente você já deve ter chegado a algum lugar e pensado o que de interessante ocorreu ali num passado remoto. Pelo menos eu sempre tive essa curiosidade.

Também já deve ter lido e escutado inúmeras vezes que conhecer o passado é abrir as portas para o futuro ou mesmo não repeti-lo, quando ruim.

Embora seja uma colocação um tanto filosófica para muitos, é importante que conheçamos, na medida do possível, nossa história local.

No meu caso, umas das maiores surpresas que tive quando comecei a me interessar pela história do Rio Grande do Norte em seu período colonial, foi saber que muitos dos lugares que me são familiares desde que me entendo por gente, foram palcos de muitos acontecimentos importantes não só para a história local, mas também para história mundial, e que hoje, infelizmente, são desconhecidos por muita gente.

No meu caso, com a recente conclusão da engorda da praia de Ponta Negra, lembrei-me de um dos episódios mais interessantes que aconteceu no Rio Grande do Norte.

Foi lá que muitos navios franceses aportaram para contrabandear o pau Brasil no século XVI. Ali, praticamente ao pé do famoso Morro do Careca.

Entretanto, foram os holandeses que fincaram os pés na história do Rio Grande do Norte, embora pouco se fale.

Hoje, ao que parece, os holandeses são lembrados no Rio Grande do Norte apenas pelo episódio denominado massacre de Cunhaú e Uruaçu, ocorridos em 16 de julho e 3 de outubro de 1645, transformado em feriado estadual, celebrado todo dia 3 de outubro, em homenagem aos mártires, que foram canonizados em 15 de outubro de 2017, pelo papa Francisco.

Em outra oportunidade (veja AQUI), escrevi sobre a presença e o papel dos holandeses na indústria salineira de Mossoró que, até hoje, tem muita relevância na economia do estado do Rio Grande do Norte e, infelizmente, pouco se fala sobre.

Foi lá na praia de Ponta Negra que os holandeses, a partir de 1631, tentaram capitular Natal, recém estabelecida pelos portugueses.

A primeira tentativa por parte dos holandeses ocorreu em 21 de dezembro de 1631, quando catorze navios vindos do Recife aportaram na pequena enseada que se forma bem em frente ao morro do Careca, em Ponta Negra e marcharam em direção ao forte dos Reis Magos, passando por onde hoje é a Via Costeira e que está abarrotada de hotéis luxuosos. Sim, aquele mesmo forte que até hoje podemos visitá-lo e que está localizado na praia do Meio.

Muito embora essa primeira tentativa, dois anos antes, não tenha sido bem-sucedida, em 12 de dezembro de 1633 – da mesma maneira que a tentativa anterior – os holandeses desembarcaram novamente na praia de Ponta Negra, rumaram para a foz do rio Potengi e lá, com a ajuda dos índios, capitularam o Forte dos Reis Magos, rebatizando-o de Castelo de Keulem, e ali Natal passou a ser denominada de Nova Amsterdã, tal qual a cidade de Nova Iorque, rebatizada no ano de 1625.

A par disso, é interessante ter em mente que não só temos belíssimas paisagens naturais ou pontos turísticos históricos, como a praia de Ponta Negra ou o Forte dos Reis Magos, mas também histórias interessantes, as quais devem ser contadas e recontadas. Caso contrário, realmente, ninguém se interessará e, de fato, serão esquecidas.

Nem todo conhecimento individual deve ser voltado exclusivamente para se transformar em dinheiro; monetizado. O prazer de conhecer por conhecer também é muito importante.

Do contrário, ninguém visitaria lugares históricos ou museus para conhecer a história. Qual seria o sentido?

Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Lourdes Clemente diz:

    Parabéns Bruno! Sua crônica hoje arrasou mostrando as belezas do nosso RN e a importancia dos holandeses nesse processo.

  2. Marcos Pinto. diz:

    Parabenizo o Autor de tão relevante texto, como sempre o faz de forma instigante e elucidativa. À propósito, lembro-me que na antiga Quarta Série do Ensino Primário (Hoje, Ensino Fundamental) existia a Disciplina “História do Rio Grande do Norte”, cujo livro Didático tinha esse mesmo título, que tinha como Autor, se não me falha a memória, o consagrado Historiador potigyar Rômulo Wanderley. Pena que esta Dusciplina foi extinta da grade escolar potiguar. Hoje, a estudantada pouco ou nada sabe da nosaa
    rica e vasta história . Uma lástima, pois.

    • Bruno Ernesto Clemente diz:

      Obrigado, Marcos Pinto. Sim, hoje não se fala nada sobre a história do Rio Grande do Norte. Temos excelente autores sobre os holandeses no RN. Olavo de Medeiros Filho é um deles, com as obras “Nos rastros dos flamengos”, “Os holandeses na capitania do RN” e “Terra natalense”. Já Câmara Cascudo, tem a obra “Geografia do Brasil holandês”, que, inclusive, tenho um exemplar autografada pelo próprio Cascudo. Um Forte abraco!

  3. Marcos Pinto. diz:

    Ainda sobre a temática do artigo em tela (ái novo, hein !?) escrevi neste fecundo e nobre espaço, um Artigo intitulado : ” TERIAM OS HOLANDESES ADENT3ADO O SERTÃO DO APODI ? “. Para escrever tal Artigo, recorri ao grande e consagrado historiador Câmara Cascudo, autor de tão instigante tese. Vários e renomados Pesquusadores adentraram e avançaram nesta tese.

    • Bruno Ernesto Clemente diz:

      Sim, há esse relato. Olavo de Medeiros Filho borda bem esse aspecto. Consta, de certeza, que os holandeses estiveram na localidade denominada gangorra, no caminho entre Mossoró e e Tibau. Gaspar Barleu também fala sobre.

  4. Marcos Pinto. diz:

    Interessante que em Manaus há uma aprazível praia na margem do Io Negro que tem o referencial toponímico de PRAIA DE ONTA NEGRA. Um chuá de bom para lugar a famosa praia de igual referência na capital potiguar.

  5. Marcos Pinto. diz:

    Digo, em Manaus temos a praia de Ponta Negra , situada na margem do rio Negro.

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