O texto certamente inexistiria caso eu resolvesse lhe pedir autorização para sua publicação. Modesto, consciente e feliz com suas realizações, me desaconselharia a publicá-lo.
Embora avesso a polêmicas estéreis, não me contive em permanecer silente ao que considero inadmissível quando o assunto é a Cultura Potiguar. Refiro-me ao fato do escritor e poeta areia-branquense Deifílo Gurgel ainda não pertencer à Academia Norte-Riograndense de Letras.
Desnecessário reafirmar que sua produção literária é enésimas vezes maior que alguns dos imortais que lá estão, sabemos.
No dia 22 de agosto de 2008, tive a honra de presenciar, atendendo a generoso convite dele, a entrega do título de Cidadão Natalense, na Câmara Municipal de Natal, por proposição do vereador Hermano Morais (PMDB).
A cidadania natalense ao escritor é oportuna e plenamente justa. Afinal, depois de Areia Branca e Mossoró, ele optou por Natal como porto seguro para, ao lado de sua amada Zoraide, criar sua bela família, e produzir o que mais aprendeu a fazer: cultura.
Na mesma noite, Deífilo autografou “O Reinaldo de Baltazar – Teatro de João Redondo”, em prestigiado lançamento, no espaço cultural da Câmara de Vereadores de Natal, onde além de amigos e admiradores, marcaram presença grupos folclóricos potiguares que identificando a sua importância para o folclore potiguar, prestaram significativa e emocionante homenagem ao escritor com danças típicas e uma apresentação imperdível do teatro de bonecos do Nordeste Brasileiro – o João Redondo.
Pois bem. Compondo a mesa, o atual presidente da Academia Norte-Riograndense de Letras, advogado e escritor Diógenes da Cunha Lima. Quando fazia a justificativa de sua proposição, o vereador Hermano Morais convencido do inequívoco mérito e conhecedor da vasta produção literária do novo cidadão natalense, da tribuna, provocou Diógenes, sobre a indicação de Deífilo Gurgel à imortalidade pela ANL.
Embora tivesse livre acesso à palavra, silenciou. O silêncio, inevitavelmente eloqüente, não mereceu sequer um aparte do também poeta e escritor, fez pairar no ar uma enorme frustração e expôs uma constatação: na Academia Norte-Riograndense de Letras, ironicamente, o talento e a produção literária não são requisitos para se tornar membro da instituição que melhor deveria representar a Cultura do RN.
Desde “Cais da Ausência”, de 1961 a “O Reinaldo de Baltazar”, de 2008, foram incontáveis dias dedicados a profundas e exaustivas pesquisas e inúmeras viagens desbravando o Rio Grande do Norte, contaminado pela determinação e conscientemente dominado pelo sacerdócio de registrar para a posteridade, fragmentos dos hábitos e costumes populares.
Deífilo “revelou-se um laborioso artesão do discurso poético, daí resultando soluções de grande simplicidade, sem perda da densidade lírica em sua clara dicção, como se pode perceber na produção sonetística e nas bandeirianas evocações”, nas palavras de seu fraterno, mas isento irmão, Tarcísio Gurgel, que conclui: “Deífilo ama a humanidade e nela, o povo humilde”.
Considerado por muitos como o Câmara Cascudo dos dias atuais, o poeta e escritor areia-branquense ainda não teve o justo reconhecimento do imensurável talento que o credencia, sem nenhum favor, a compor a honrosa plêiade de imortais da referida Academia Norte-Riograndense de Letras.
Enquanto isso, Deífilo segue em frente, com sua característica simplicidade e com o vigor de seus oitenta e dois anos, indiferente à falta de reconhecimento de alguns, varando suas madrugadas na gestação de seu novo livro e assim, produzindo o que há de melhor da cultura potiguar.
Alcindo de Souza, areiabranquense – josealcindodesouza@yahoo.com.br
Faça um Comentário