Por Carlos Santos
Duas imagens fixaram-se em mim às primeiras horas de hoje. As duas em vermelho e branco. São imagens inesquecíveis, simbológicas. São desenhos rabiscados a partir de fatos reais do passado.
Com a morte do meu amigo Manoel Barreto, ontem, ex-presidente do Potiguar – tratado pela imprensa e pelos amantes do alvirrubro como “eterno presidente”, é difícil não ficar um pouco lerdo, grogue. Mas, me refaço na luta cotidiana, confessando – por exemplo – que sou todo sentimento.
Não escrevo uma crônica para ele – Manoel. É, também, para Manoel. Escrevo para ficar mais leve. É para mim. Escrever é uma forma de libertação, uma terapia existencial, válvula de escape. O que me faz vivo. Inteiro.
Resgato imagens, que aleatoriamente emergiram nesta manhã, quando me fixei diante do computador para começar a trabalhar.
Lembro-me de abril de 2004, ano em que o Potiguar ganhou seu primeiro título estadual sob a presidência de Manoel. A alegria esperada por décadas, que empanzinou o Estádio Nogueirão de gente, catalizou multidões diante da TV para ver o segundo jogo decisivo em Natal (contra o América) e invadiu a Avenida Presidente Dutra para receber os campeões.
Lembro-me do trajeto pela BR-304 – Mossoró a Natal – e a visão em Lajes, com dezenas de ônibus, vans, carros particulares e gente aos montes, avisando que aquele sábado seria do Potiguar, em Natal.
Ah, as imagens!
Nas minhas digressões, com as palavras sendo disparadas a esmo, quase esqueci das imagens. A narrativa até aqui serve para ambientar, contextualizar e exumar a atmosfera daquelas horas e dias.
A primeira imagem: numa cabine de rádio no Estádio Machadão, quando a segunda partida estava finalizada e o Potiguar erguia a taça. Acorri àquele espaço de pequenas proporções para abraçar Lupércio Luiz, comentarista esportivo, mossoroense, torcedor do Potiguar. Ele estava agarrado a uma bandeira do alvirrubro. Chorava como menino.
A mim, Lupércio fez a confissão de uma ausência, diante de uma multidão que ‘invadiu’ Natal e o Machadão, tomando praticamente a metade dos lugares no estádio. Eram quase 15 mil pessoas no ‘caldeirão’ alvirrubro.
– Meu pai não viu o Potiguar ser campeão estadual, Carlos!
– Ele está vendo agora, por seus olhos, Lupércio – confortei-o.
A segunda imagem: em Mossoró (domingo, 18 de abril de 2004), com um sorriso contagiante entre os jogadores campeões e diante de uma multidão em êxtase, Manoel é o resumo de uma ópera popular em vermelho e branco. Seu sorriso é incessante. Apesar do burburinho, ele localiza-me em meio às milhares de pessoas e brada uma palavra que resume a sua própria essência generosa. Uma conquista que era muito sua, Manoel deixava que também fosse minha e nossa:
– Conseguimos!
Nota do Blog – Naquele campeonato inesquecível para os torcedores do Potiguar, a decisão foi em dois jogos. No primeiro, em Mossoró, o Potiguar fez 4 x 0 contra o América (dia 13 de abril) e no jogo seguinte (17 de abril), o time mossoroense – que poderia perder até por três gols de diferença que ainda assim seria campeão, foi derrotado por 0 x 1 em Natal.