Por Bruno Ernesto
Dizem que há um dualismo no mundo dos animais de estimação. Seria, a bem da verdade, quase um maniqueísmo, uma verdadeira luta entre o bem e o mal.
Para ser bem direto, desde já, caro leitor, devemos considerar o fato de que o maniqueísmo é uma forma simplista de ver o mundo, como se pudesse haver apenas duas categorias antagônicas. Ou é do bem ou é do mal.
Em verdade, não passa de uma forma deficiente de pensar o mundo e daí nasce toda sorte de intolerância, pois nada mais é que, senão, a total aversão à compreensão do que é complexo, do pensamento elaborado, em especial o filosófico e científico.
Diante disso, infelizmente, muitas pessoas caem na vala comum da ignorância; uns por preguiça, outros por aversão, e alguns, por pura conveniência.
Sempre gostei de animais de estimação. Entretanto, quem me conhece sabe da minha paixão por felinos. E desde que me entendo por gente, crio gatos.
Atualmente tenho seis persas: Wladek, Szpilman, Halina, Natalya, Lola e Liev. Cada um com suas peculiaridades. A começar pelos nomes.
Wladek e Szpilman, os gêmeos amarelinhos inseparáveis, vieram do livro “O Pianista”, de autoria do polonês Władysław Szpilman.
Halina, era irmã de Władysław Szpilman. Ela foi morta pelos nazistas no campo de concentração de Treblinka, localizado na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial; infeliz destino de toda a sua família, e de milhões de judeus durante o Holocausto.
Lola, é o diminutivo de Lolita, a famosa personagem do romance de Vladimir Nabokov. Ela é a provocadora.
Natalya, ou Natasha Rostova, é a personagem principal do livro “Guerra e Paz”, de Liev Tosltoi.
Liev, ficou fácil deduzir.
Assim como qualquer gato, cada um tem um comportamento diferente. Não, nenhum é esnobe ou indiferente comigo.
Todos os dias quando saio do quarto de manhã cedo, sou recepcionado por todos. Cada um deles tem o seu ritual de bom dia. Apenas me sento para ficar mais próximos deles.
Wladek gosta de sentar no meu colo, amassar pãozinho ronronando e depois tira um cochilo, enquanto Szpilman fica num vai-e-vem nas minhas pernas pedindo carinho.
Halina fica tocando no meu braço pedindo cafuné e adora me lamber com a sua língua áspera. E embora algumas vezes dê agonia, não a reprimo, pois é um sinal de muita confiança e carinho do gato. Além do mais, ultimamente ela fica me olhando com a ponta da língua pra fora de um jeito engraçado.
Lola, a caçula, ainda é um tanto arredia. Sempre desconfiada e fujona. O segredo para ela relaxar, é sempre escová-la.
Ela elegeu o sofá como o campo neutro para os carinhos. Quando quer carinho, sobre no sofá e mia.
Natalya, a minha persa exótica de pelo curto, é a mais carente. Sua meta diária é andar atrás de mim exigindo carinho. De outra sorte, retribui com vigorosos amassados de pãozinho. É minha massagista particular.
Por fim, Liev, é o meu gato preto da sorte. É o macho alfa da gataria.
De personalidade marcante, revelou-se o mais carinhoso de todos. Já beirou os sete quilogramas.
Tem um murmúrio peculiar e engraçado. Quando quer brincar, de longe escuto e, logo em seguida, vejo aquele vulto preto correndo sem controle. Se descuidar, ele atropela quem estiver pela frente e pula no seu beliche.
Adora um ar condicionado e é o único que tem permissão para, vez ou outra, entrar no quarto enquanto me apronto para sair. Os demais sequer cruzam a porta do quarto, ainda que deixe a porta aberta por alguns instantes. Já se acostumaram.
Embora cuidar deles exija uma rotina diária de limpar os olhos, pentear, escovar, alimentar e dar atenção, não considero trabalho. É uma terapia.
Apesar da injusta fama sobre o comportamento dos gatos, acredite, é bem melhor conviver com eles que com certas pessoas.
Quanto à dualidade e o maniqueísmo que mencionei acima, em se tratando dos animais de estimação mais usuais – cães e gatos – tudo deveria se resumir à predileção, uma vez que a injusta má fama de interesseiros e indiferentes dos gatos, não passa de um mito e crença popular, tal qual com a má fama e mau agouro do gato preto que, infelizmente, ainda existe.
Para mim, todo gato dá sorte, especialmente Liev, meu gato preto da sorte.
Se você tem azar, não terceirize a culpa para os gatos pretos, afinal, ninguém tem culpa de suas escolhas.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor