Por François Silvestre
Envelhecer não faz ou desfaz ilusão/
não pede zelo, no desmazelo
do atropelo. Não./
É entre dores, saudades, confusões da mente/
a alegria de não ter morrido novo./
Só.
Será alegria?/ Ou apenas o consolo de ainda lhe restar/
o tempo escasso da sobremesa/ no banquete
miserável servido entre o fugaz sabor da vida?
Fugaz! Feito armadura num herói da mentira/ cuja espada
cai ante a vitória de um vencedor inexistente./
É isso? Não. Não é. A vida não é./
Qualquer verbo serve à definição da vida/
Menos o verso Ser./ A vida existe, resiste, desiste, consiste, mas não é/
A vida comporta todos os verbos,/ menos o verbo ser. A vida não É.
O velho se vê no espelho quebrado pela raiva do tempo./ Trincas são rugas./
Fugas da memória/ com a melancólica mentira do esquecimento.
Esquecer é doença?/ Não. É fuga./ Quase nojo do que persegue./ Do lembrar no que se ateve, ou deixou de atrever-se./
Mas, a constatação: Velho é a carcaça do herói que esqueceu de morrer novo./
E pra desvalor da própria vida,/ esbanja desmantelo de membros e cérebro.
Para o desfecho, volto ao título./ O ocaso da vida/ descendo nas quebradas do poente./
O sol esmorece desaquecendo até sumir./
Eu, insistente de heroísmo nenhum, perdi a chance de morrer novo/ tô vivo e contente,/ olhando pra morte e descrente,/ sem deuses pra rezar,/ sem preces pra orar,/ sem crenças de confortar,/ guardando as tardes, cada uma como seja./
Meu ocaso, minha tarde e a cerveja!
François Silvestre é escritor