Sou das antigas. Daquele tempo em que sentávamos à calçada, brincávamos de ‘tique’, ‘garrafão’, ‘queimado’ e trocávamos figurinhas.
Das figurinhas vinha o jogo de ‘bafo’, em que batÃamos com a mão côncava sobre elas, tentando virá-las com o deslocamento de ar e certa malÃcia. Muita malÃcia.
Tinha jogo de botão e meu Fluminense, imbatÃvel. Sob meu comando, claro.
A porta de minha casa ficava aberta. A dos nossos vizinhos, também. Crime hediondo, no máximo, era furto de galinha e aqui e acolá aparecia alguém morto: normalmente por violência passional, decorrente de bebedeira ou em em nome da honra.
Serpenteávamos de uma casa a outra e a TV não era tão atraente assim. Internet? Não existia nem nas aventuras futuristas de Júlio Verne, que eu já lia.
Éramos felizes. Inocentes. Talvez felizes por isso.
Até médico da famÃlia nós tÃnhamos. Era comum. A nossa casa tinha o seu, sempre vestido num branco impecável.
Médico que tomava café à cozinha e sabia o nome de todos, sem embaraços. A valize parecia trazer o milagre da cura. O estetoscópio rastreava e ascultava supostas mazelas cardÃacas e respiratórias. Sua caneta deslizava sobre o receituário uma letra ininteligÃvel, puro hieroglifo a meus olhos.
A medicina tinha o poder de curar pela atenção e afeto.
Mas faz muito tempo. Nem sei por que ainda lembro disso…
Nesse tempo nós éramos felizes e sabÃamos
Parabéns Carlos, um textinho simples extraido da alma. Que pena que esse tempo só serve como lembrança de lindos momentos que jamais voltarão.
Nóbrega
Ai que saudade me dá….liso, porem feliz.
Muito boa! Dessa eu gostei “mermo”!
Texto simples que retrata o momento vivido por alguém. Também passei momentos assim, menos o médico da famÃlia. Terminava de almoçar e minha cesta era embaixo de um ficos que existia na esquina da extinta Fábrica de Gesso, na Juvenal Lamartine. Dormia na areia fria, lateado por fezes das vacas de Dona Aldinha. Tudo era muito normal. O contrapornto da violência existente hoje. Nossos brinquedos e brincadeiras eram diferentes de hoje, claro. O tempo muda. Feliz não posso afirmar que eu era. Liso. Criado comendo diariamente feijão de corda, cuscuz e ovo, e estudando no Colégio Dix-sept Rosado, só com um caderno, uma tabuada e uma apostila Sarita, acrescido de um lápis grafite com uma burracha na ponta que eu usava até acabar mesmo. Tempo triste. Tempo bom é o de hoje. Temos tudo. A escolha pertence a cada um…
É verdade caminhamos para uma era de grandes avanços tecnológicos, cirurgias realizadas com equipamentos robóticos e para um tempo onde a comunicação será exclusivamente virtual e raramente pessoal, toda esta modernidade e tecnologia é benéfica ao homem, porém, o projetor desta nova realidade está esquecendo de perpetuar e transmitir aos seus descendentes a coisa mais importante da vida: “a humanidade e o amor ao próximo”. Nossa juventude está se perdendo nas drogas e nossos profissionais estão sendo formados nas universidades sem nenhuma sensibilidade humana e sem comprometimento com a a vida de seus semelhantes. E o poder público assiste de camarote este descaso humano.
Muito boa! Dessa eu gostei mesmo!