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domingo - 13/01/2013 - 08:53h

A bela adormecida

Por Adélia Prado

Estou alegre e o motivo
beira secretamente à humilhação,
porque aos 50 anos
não posso mais fazer curso de dança,
escolher profissão, aprender a nadar como se deve.

No entanto, não sei se é por causa das águas,
deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
ou se é por causa dele que volta
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
se você vai ao pasto,
se você olha o céu,
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.

O pai está vivo e tosse,
a mãe pragueja sem raiva na cozinha.
Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?

Minha alma nasceu desposada com um marido invisível.
Quando ele fala roreja quando ele vem eu sei, porque as hastes se inclinam.

Eu fico tão atenta que adormeço a cada ano mais.
Sob juramento lhes digo: tenho 18 anos. Incompletos.

Adélia Prado é escritora mineira, nascida em Divinópolis

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Categoria(s): Grandes Autores e Pensadores

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