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domingo - 17/04/2022 - 11:26h

A beleza da vida

Por Inácio Augusto de Almeida

Por ser dinâmica é bela. Nada fica parado. Nem mesmo as pedras. Tudo é movimento, mudança.

De Ptolomeu a Coopérnico mais de treze séculos se passaram. Vida, gaiola, liberdade

Mas a mudança aconteceu e a terra deixou de ser o centro do universo. Depois Galileu e a história seguiu em frente.

Nos costumes as mudanças também aconteciam, só que lentamente.

Sócrates tinha escravo, isto mais de três séculos antes de Cristo.

Tiradentes tinha escravos e falava em liberdade, igualdade etc.

Não fosse a bravura dos negros e até hoje a escravidão, na sua forma mais nojenta, ainda existiria. Foi pela luta e com muito sangue derramado que aconteceu a libertação dos escravos.

Mas as injustiças ainda existem. Desigualdades absurdas acontecem e passam despercebidas.

Nos quartéis existem refeitórios separados para oficiais, sargentos e soldados. E com qualidade de comida diferenciada, como se os estômagos não fossem iguais.

Na justiça os que têm dinheiro contratam bons advogados e zombam dos pobres que estão encarcerados

Do tempo que se acreditava na infalibilidade da palavra papal aos dias de hoje, onde poucos levam em conta o que fala o Papa, muito tempo se passou.

Será que tudo realmente mudou?

O homem, na sua essência, mudou?

Lembra-se do dia em que, na seção onde trabalhava, recebeu a visita de um francês, pai de um jovem que tinha falecido junto com a noiva em um desastre automobilístico na Anápolis/Goiânia.

Veio junto com o maior amigo do seu filho, mesma turma da Academia da Força Aérea.

O pai do jovem que perdeu a vida no acidente trazia na mão o texto que tanto emocionou o amigo do seu filho. E ao ler a mensagem fez questão de ir agradecer as palavras que tocaram o fundo do coração de um pai arrasado pela morte prematura do filho tão querido.

E naquela tarde viu aqueles dois homens abraçados chorando. Um a perda do amigo-irmão, o outro a perda do filho.

O tempo passou e tudo caiu no esquecimento a provar que o homem continua tal qual o da época pré-socrática.

A prática do alpinismo social que o torna inferior aos animais ditos irracionais continua presente e ainda mais forte nesta época de tanto avanço tecnológico e de anulação de sentimentos.

Esquece o homem que caminhar sempre para frente termina por levá-lo ao ponto de partida.

Não percebe que assim procedendo não se dá conta do afastamento dos valores que realmente contam e tornam a vida bela. Isto acontece por estar sempre com os olhos fitos na escada que sobe e com orgulho e soberba se proclama um pragmático.

Envolvido por ilusões, não percebe que o tempo passa e mais dia menos dia chega a hora das lembranças e das saudades.

E se arrependerá das saudades que  permitiu por razões diversas, fossem transformadas apenas em vagas lembranças, se é que alguma lembrança ficou.

E nestes dias de saudosismo lembrar-se-á daqueles a quem era tão grato e preferiu o simplismo do esquecimento ao fardo da gratidão.

É fácil condenar por ouvir dizer. É cômodo condenar e se livrar de quem no jogo duro da vida preferiu não ferir os princípios da dignidade e tudo suportou estoicamente, apenas lamentando os contorcionismos feitos por pretensos epicuristas.

Nada dura para sempre. Para sempre é muito tempo. Nem mesmo as mentiras, costuradas, ardilosamente, se mantém indefinidamente.

É no ocaso, onde só a verdade importa, que entre um balanço e outra da velha cadeira, lágrimas e sorrisos se mostrarão e só a desculpa do quanto se deixou enganar servirá de consolo.

Aí será tarde demais para esquecer ou tentar corrigir as injustiças cometidas em nome da justiça.

Existe alguma coisa mais bela do que a vida?

Inácio Augusto de Almeida é escritor e Jornalista

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Categoria(s): Crônica

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