domingo - 01/11/2009 - 22:30h

A menina que queria ir à guerra

26 de outubro é dia de comemorar a vida de uma mossoroense que aprendi a admirar e por quem tenho grande estima. Lúcia Rocha, jornalista das boas, é daquele tipo de pessoa que a gente não esquece tão fácil, mesmo que a distância teime em esfriar as recordações.

Ainda lembro o dia em que a conheci, em uma das minhas inúmeras idas à TV Cabo Mossoró, para tentar algo no canal local. Foi quando me colocaram para apresentar a cobertura do "Consertão Rock", dirigido por Lúcia. E lá fomos nós. Para entrar no clima do evento, ela me emprestou uma de suas jaquetas de couro, daquelas que trouxe de seu guarda-roupa paulista, e logo passou a contar um pouco de sua história, entre uma passagem e outra no palco.

Sei que a cobertura virou um especial de fim de ano, fui convidado para apresentar o especial de Natal da TCM, com a Lúcia na produção, e nos tornamos grandes amigos.

Foram várias as vezes em que fui a sua casa, que ficava próxima a minha, para devorar os livros de sua biblioteca e ouvir suas histórias como assessora da apresentadora Mara Maravilha, do grupo Raça Negra, como editora do Boris Casoy, e de como conseguiu sair de Mossoró, passar por Natal, onde trabalhou no Jornal Dois Pontos e na TV Cabugi, e seguir para São Paulo.

Capítulos de uma “epopéia” que ela costuma denominar como “A Menina que queria ir à Guerra”.

Essas histórias serviam como incentivo para o então jovem estudante de Ensino Médio, que sonhava torna-se jornalista e quem sabe seguir os passos da professora. Conversávamos sobre tudo e treinávamos muito.

Sua mãe, Inalda Cabral, era a expectadora de atividades como técnica de leitura e redação. Eu tinha que narrar capítulos inteiros em uma noite, acompanhado sempre do ouvido atento da professora que não cobrava nada pelas aulas. Ficava satisfeita apenas em poder passar seu conhecimento.

Foi assim que surgiu a idéia da "Oficina de Jornalismo Raibrito", que ela abriu para ampliar as oportunidades de outros jovens interessados em se qualificar na área. Lá conheci colegas com quem mantenho contato até hoje, e que assim como eu também conquistaram o seu espaço no mercado.

Graças a essas aulas, antes mesmo de concluir o Ensino Médio, comecei a trabalhar na Rádio Abolição 95 FM de Mossoró, onde passei a ser colega de redação do jornalista Carlos Adams, que também era aluno da Oficina. Adams passou a ser o aluno número um na visão de Lúcia a partir do momento em que soltou a voz no primeiro dia de aula, para ler um texto.

Confesso que ficava um pouco enciumado com a aquilo, mas depois passei a rir da situação. Com Lúcia era assim mesmo, dizia na minha frente que eu era o seu aluno número dois. Até hoje não entendo por que ela fazia tanta questão de ficar repetindo. Acho que era pra que eu buscasse sempre o melhor de mim.

Da oficina de jornalismo, fui incentivado a escrever a biografia da então prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini, a quem procurei e entrevistei, em plena campanha política de 2004, quando ela tentava eleger sua sucessora Fafá Rosado. Lúcia me acompanhava nas entrevistas, atenta.

Depois não me deixava demorar na produção dos capítulos, que totalizaram 27 ao final. Mais de 198 páginas escritas. Nem eu acreditava que conseguiria. Ela sim.

Da 95FM de Mossoró, já cursando jornalismo na UERN, passei para a UFRN e continuei os estudos na capital. Os contatos com a professora se tornaram menos constantes, mas sempre procuramos nos manter informados do que ocorre na vida do outro, para comemorarmos juntos as conquistas e dividirmos os dissabores da carreira.

Os incentivos são os mesmos. Poderia eu escrever um artigo repleto de adjetivos e fatos que marcaram a carreira de Lúcia Rocha. Contudo, preferi fazer uma homenagem narrando fatos que ocorreram comigo, porque acredito que somos o resultado das relações que temos com as pessoas.

Neste caso, a relação de extrema amizade que tenho por essa mossoroense, conterrânea minha. Por quem sou eternamente grato. A quem admiro pela coragem de largar sua terra e seguir em busca de seu sonho mesmo contra a vontade da família, que preferia uma assistente social a uma jornalista.

Pela coragem de desbravar um terreno desconhecido, no sudeste do país, e pela mesma coragem que teve em largar tudo para cuidar da mãe na terra natal. Por fim, pela vontade que tem de transferir seu conhecimento e aprendizado, para que jovens como eu também corram atrás de seus sonhos.

Parabéns Lúcia Rocha, pelo dia, pela vida.

Eduardo Colin é estudante de Comunicação da UFRN e repórter da 96 FM (Natal).

Nota da Redação – Esta crônica era para ser publicada originalmente no dia 26 último (segunda), mas a transferi para hoje em face de ser dia reservado a postagens com esse perfil.

Mas há outros motivos à veiculação.

Um deles é que se trata de um texto que espelha reconhecimento, algo tão escasso no meio da imprensa, onde vaidade ofusca o respeito e ganância ignora a gratidão.

Compartilhe:
Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. Sebastião Almeida de Medeiros diz:

    Prezado Carlos Santos:
    Por conhercer e ter participado um pouco dessa história contada pelo jovem Eduardo Colin em relação à minha amiga Lúcia Rocha é que resolví fazer os comentários que se seguem:
    Primeiro eu conhecí Dona Inalda Cabral, que numa época difícil da minha vida, chegou a me arranjar um trabalho, onde eu pude ganhar um dinheirinho, depois foi a vez de conhecer as meninas de Dona Inalda, Lúcia Rocha, uma delas.
    O tempo passou e Lúcia desapareceu do nosso convìvio. Mas tarde, fui informado que ela estava morando em São Paulo, trabalhando como assessora de artistas famosos. Fiquei feliz pelas notícias recebidas.
    Tempos depois, Lúcia Rocha me apareceu dizendo que havia retornado de São Paulo. Voltei para cuidar da minha mãe, disse ela, e quero aproveitar o tempo que me sobrar para montar uma Oficina de Jornalismo em Mossoró, para isso, preciso que você me indique onde existe uma sala no centro da cidade.
    Na época eu era Gerente da CDL e disse para Lúcia, conheço uma sala que fica no centro da cidade, que tem mesa grande com cadeiras confortáveis, bem refrigerada, TV, DVD, café, água mineral e que por tudo isso você não vai pagar nenhum tostão. Lúcia, ficou meio espantada e perguintor: Tudo isso por um preço tão barato, onde fica? Aqui mesmo na CDL, disse-lhe, quando quiser começar, avise-me.
    A Oficina de Jornalismo Raibrito, funcionou na Sala de Reuniões daquela entidade por um bom tempo e dela cheguei a participar como palestrante. Foi nesta oficina que pude conhecer Carlos Adans, Eduardo Colin e tantos outros bons profissionais que estão hoje trabalhando e prestanto relevantes serviços ao jornalismo de Mossoró e do nosso estado.
    Na Oficina de Jornalismo, Lúcia Rocha comandava um grupo de umas vinte e cinco pessoas, Adans e Colin, se destacavam realmente.
    Para finalizar, preciso parabenizar Lúcia Rocha pela brilhante iniciativa que teve, a CDL que abrigou a oficina, Carlos Adans e Eduardo Colin por se tornarem dois grandes profissionais e você, Carlos Santos, que tem nos facilitado a participação na sua Coluna do Herzog.
    Um abraço grande,
    Sebastião Almeida.

  2. Sandra Raissa F de L Escóssia de Oliveira diz:

    Crônica muito bem escrita, homenagem justa. Não fui aluna de Lúcia, nos conhecemos há pouco tempo, mas nas palavras de Eduardo, senti-me como amiga de anos e anos. Ela é assim mesmo: aberta, sincera e muito decidida. Parabéns para Eduardo, pelas palavras e para Lúcia, pelo aniversário!

  3. Ivana Linhares diz:

    Carlos,
    Endosso as palavras de Eduardo… Lúcia é uma prima brilhante. Tem uma cabeça que vive a borbulhar… Sou sua fã!! Merece ser mais prestigiada!
    Abraço.

  4. Lúcia Rocha diz:

    Gente, o que é isso??? O Dudu postou um depoimento no meu orkut e o Carlos não explicou isso. Obrigada a Du, a Carlos Santos, a Sandra, a Sebastião, que foi realmente a pessoa que deu uma enorme contribuição para OJR. Esse gesto será motivo de um capítulo na história da Menina que Queria Ir à Guerra postada no //www.blogdaluciarocha.zip.net que estou contando em doses homeopáticas e que se tornará um livro um dia. Brigaduuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!

Deixe uma resposta para Lúcia Rocha Cancelar resposta

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2025. Todos os Direitos Reservados.