domingo - 06/12/2009 - 01:01h

Carta a um jovem aluno

Meu caro aluno, Hoje escrevo para você: tão jovem e cheio de sonhos, que muito provavelmente ainda não parou para pensar sobre as suas últimas atitudes. Talvez, o ensinamento da terceira lei de Newton – a cada ação, existe uma reação de mesma intensidade em sentido inverso – esteja mesmo esquecido.

E aí você tudo pode; você tudo faz; você nada teme… Imaturidade? É bem possível, afinal o grande Nelson Rodrigues já nos tinha alertado: “os jovens têm todos os defeitos das outras idades e mais ainda a imaturidade…”.

Portanto, somente ela, a imaturidade, pode explicar como alguém que ainda não terminou o curso médico, se aventure, “corajosamente” (ou seria irresponsavelmente?), a ocupar o lugar de plantonista médico no interior do Estado. Sabia que isto é crime penal? Está lá no artigo 282: “Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal… detenção, de seis meses a dois anos”.

Há cerca de um mês, o Conselho Regional de Medicina (CREMERN), ao fazer uma fiscalização na cidade de Lagoa Nova, motivado por uma denúncia bem fundamentada, constatou a presença de um estudante se passando por médico. A população da cidade quando soube, ficou indignada e revoltada; os policiais militares, onde foi feito o boletim de ocorrência, ficaram mais ainda revoltados e Deus sabe o que teria acontecido, caso o estudante tivesse sido descoberto em pleno exercício ilegal da profissão…

Outro fato que nos causou bastante tristeza, foi constatar que o hospital daquela cidade, com capacidade para quase quarenta leitos, encontrava-se totalmente ocioso, com suas camas vazias.

Fico imaginando: quantos partos, quantas pequenas cirurgias, quantos atendimentos de clínica, etc. etc. poderiam ser realizados, caso tivesse uma equipe médica atuante e completa. Mas é claro que é muito mais cômodo, manter as ambulâncias bem abastecidas, para promover a ‘desova’ dos pacientes nos hospitais da nossa capital: pobre Clóvis Sarinho, pobre maternidade Januário Cicco, pobre Santa Catarina… pobre população do nosso Estado.

Pobre jovem estudante…

Se hoje, é atraente receber uma mísera esmola para se passar por médico, talvez amanhã, seja bem diferente. Diz um pensamento budista: “se você quer saber como foi o seu passado, olhe para o seu presente; se você quer saber o seu futuro, olhe para o seu presente”.

Portanto, amanhã, meu caro jovem aluno, quando estiveres formado, precisando de um emprego, é bem provável que este lugar esteja sendo ocupado por mais um jovem imaturo e irresponsável… é o danado da terceira lei de Newton, que ninguém consegue fugir.

Bem… finalizo, alertando-o: o Cremern continuará a exercer o seu papel. Fiscalizando cada canto desse Estado; encaminhando todos os casos desse crime contra a população ao Ministério Público; enviando a todos os coordenadores do curso médico, cada um dos estudantes pegos para que se instaure processo administrativo; denunciando ao tribunal de contas os gestores, por uso indevido do dinheiro público, ao contratar profissionais não legalizados para exercerem a função de médico.

Então, meu caro jovem aluno, muito mais como professor do que como conselheiro do Cremern, eu lhe imploro: PARE ENQUANTO É TEMPO!

Francisco Edilson Leite Pinto Junior é Professor, médico e escritor

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. gledson emanuel diz:

    sabe o que acho mais engraçado dessa situação, é que muitos médicos se dizem contra esses plantões( que na realidade é contra lei), mas muitos já deram quando era estudante, não estou dizendo que o nobre professor ja fez, mas ele sabe bem que muitos fizeram. gledson emanuel estudante de medicina
    obs: não defendo essa prática.

  2. Edilson Pinto diz:

    Meu caro Carlos Santos,
    Estou começando a acreditar que o CRM agiu errado: que nós é que somos o vilão nesta história. Afinal vivemos num país em que o errado é que é certo… Que a mentira, o roubo, a ganância, a picaretagem é que é o correto.
    Sabe Carlos, diante de tudo isso eu só tenho a lamentar de ter legado ao meu Lucas esse mundo. Meu Deus! Espero que o meu filho me perdoe…
    Edilson Pinto

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