Por François Silvestre
A política se faz em ciclos, lições e consequências. O grave é que os ciclos não se completam coerentemente, as lições não são apreendidas e as consequências fogem do controle.
Quando o governo Jango chegou às vésperas das eleições presidenciais, marcadas para 1965, o próprio Jango pensava num saída legal para ser candidato. O PSD já lançara, em convenção, a candidatura de Juscelino Kubistchek, e a UDN fizera o mesmo lançando Carlos Lacerda.
Nas paredes dos muros do Brasil havia a chamada do marketing da época: JK-65. Lacerda flutuava favorito, nas pesquisas. E Jango incendiava o país com a proposta das reformas de base.
Jango fazia o jogo da oposição. Oposição quer instabilidade. O comício da Central do Brasil, no início de Março de 64, foi o pretexto que a Direita precisava para estimular o apoio material, e militar se necessário, dos Estados Unidos, ao golpe de Estado que vinha sendo costurado desde a eleição de JK, em 1955.
A disputa entre americanos e soviéticos, pelo domínio e controle do planeta, punha o Brasil na condição estratégica do interesse do Tio San. Não suportariam uma “grande Cuba”. E era essa a impressão que a Direita demonstrava aos EEUU com as fotos e filmes daquele comício.
Nos quartéis, havia um partido político sem filiação eleitoral. Aqueles generais nunca foram militares, no sentido castrense do termo. Políticos desde que tenentes, nos Anos Vinte; coronéis, nos Anos Quarenta; e generais, nos Anos Sessenta. Políticos e politiqueiros. Só o PSD e a UDN não percebiam isso.
O golpe fascista retirou Jango da disputa e da vida pública. Lacerda participara do núcleo da conspiração. Queria caminho livre. Juscelino apoiou o golpe, depois de consumado, e votou em Castelo Branco, que lhe prometera manter a calendário eleitoral.
Se Castelo fosse militar teria cumprido a promessa. Mas era político, e mentiu. Cassou Juscelino. Lacerda, dessa forma, pensava livrar-se dos únicos candidatos capazes de vencê-lo.
Só que os políticos da caserna tinham outros planos. No segundo governo da Ditadura, Lacerda foi preso e cassado. Para tirar Jango do jogo, Lacerda e Juscelino caíram do cavalo e foram pastar no ostracismo. Sem o apoio deles, a milicada não teria chegado ao poder.
Sem fazer comparação de mérito com o quadro atual, por serem absolutamente distintos, numa coisa há semelhança: A sucessão.
Aécio Neves quase derrota Dilma. Tinha tudo para chegar ao pleito de 2018 na condição de líder inconteste da oposição. Tinha. Passado imperfeito.
A queda de Dilma retira a hegemonia de Aécio. Se Temer der errado, Aécio pagará pelo desgaste. Se der certo, o PMDB vai cobrar a fatura. Num caso ou noutro, Aécio sai perdendo.
“Quem se apressa come cru”. E em política, o apressado pode ser o comido.
Té mais.
François Silvestre é escritor
* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.
Carlos Santos, genial é você. Essas fotos de Aécio e Lacerda dizem mais do que o texto. Perfeitas!
NOTA DO BLOG – Menos, mestre.
Mas lhe faço uma confissão que não esconde de ninguém: admirável orador o Lacerda. Admirável escritor.
“A Casa do meu avô” é um livro belíssimo.
Abração
Será? que Aécio nunca ouviu o avô proferir:”Esperteza, quando é muita, come o dono.”
Tancredo Neves
Meu prezado parente François – que o tenho como primo. Sempre observei a necessidade de se postar os artigos de minha lavra com fotos a sinalizar mais ênfase ao escrito. O nosso amigo Csrlos Santos tem pautado suas postagens com imagens enriquecedoras. Daí que sugiro-lhe sempre acostar aos seus primorosos artigos fotos várias, que se coadunem e contextualizem-se com o texto. Abraçaço.
PARABÉNS pela enriquecedora aula de história política brasileira, traçada com precisão cirúrgica sobre essas personalidades que um dia emblematizaram os anais da democracia, como também dos golpes de estado.
O Corvo era uma ave do mal.