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quinta-feira - 24/02/2022 - 22:14h
Em Mossoró

Morre o empresário Francisco Ferreira Souto Filho – “Soutinho”

"Soutinho": uma história de vida marcante (Foto: Ricardo Lopes)

“Soutinho”: uma história de vida marcante (Foto: Ricardo Lopes)

“É com profundo pesar que comunico o falecimento de Francisco Ferreira Souto Filho, “Soutinho”. O velório será na sua residência, na Praça Vigário Antônio Joaquim, Centro de Mossoró”. O comunicado foi passado à noite dessa quinta-feira (24) por Edith Fernandes Souto, mulher do empresário.

Não foi acrescentado que horas será o sepultamento nessa sexta-feira (25).

Soutinho estava com 95 anos. Nasceu no dia 7 de agosto de 1926, em Areia Branca.

Filho do industrial Francisco Ferreira Souto e Ester Burlamaqui Souto, Soutinho tem uma história de vida fascinante, marcada sobretudo pelo trabalho e humildade.

Herdou dois negócios prósperos deixados por seu pai, a indústria de sal F. Souto e o Banco de Mossoró, além de outros patrimônios. Ao longo de sua vida sempre produtiva investiu em outros empreendimentos, sofreu derrocadas, soergueu-se, sempre com o mesmo perfil de sobriedade.

Foi por 62 anos contínuos, talvez um recorde no país, presidente do Sindicato das Industrias de Extração do Sal do Estado do Rio Grande do Norte (SIESAL/RN).

No dia 7 de agosto de 2009, quando ele completou 83 anos, publiquei uma crônica em sua homenagem, sob o título “Soutinho, um bosque espesso por inteiro“. Leia abaixo:

Ele quebra o conceito aristotélico, lá da antiguidade, que colocava o indivíduo diferenciado numa medida que tolerava o lado “b”, ou seja, talvez até o mal: “A virtude está no meio”. A moderação com Francisco Ferreira Souto Filho, o “Soutinho”, é diferente.

Não há nele essa composição para fazê-lo alguém “normal”. Soutinho é exageradamente do bem.

Discreto, trabalhador infatigável, polido, leal e acima de tudo decente. É assim o perfil inquestionável de Soutinho, que hoje aniversaria. Chega aos 83 anos.

Como antes, num passado de maior envergadura econômica de banqueiro e industrial, ele não se abre ao deslumbramento. Fecha-se no seu eu. Repete-se numa obviedade que mesmo assim não o faz comum. É acima de tudo um homem de bem, como fora à época em que muitos só o viam pela lente do ter. Pelos bens.

A frivolidade e a pompa nunca desmancharam sua espinha dorsal. Impassível sem se permitir passivo.

O poder, paixões e o radicalismo da política, que viveu ao lado da amada Edith, também não conseguiram desfigurá-lo na manada de contendores, Verdes contra Encarnados. Continuou assim: “souto”. Aqui o sobrenome é tratado intencionalmente como substantivo, extraído de sua origem latina, que significa “bosque espesso”.

Soutinho também não é diminutivo. Parece mesmo um aglomerado florestal. Uníssono, fonte de vida, multiplicador e base de um ecossistema que pode se renovar a partir de sua existência profícua, no sentido mais sublime desse termo, ou seja, a seiva moral.

Revela-se imperecível, inquebrantável, atemporal e umectado de honradez.

Imagino que alguém simultaneamente à leitura desta crônica se pergunte o porquê da homenagem que faço. É simples. É-me uma questão de crença.

Continuo devotado ao humano, não obstante deslealdades, ingratidões e leviandades comuns à natureza do bicho homem. Soutinho é um indivíduo real, em meio a postiços e tartufos, diante da ralé ou do aristocrata.

Recorro a Fernando Pessoa para enxergá-lo no todo, sendo apenas o que é: “Para ser grande, sê inteiro”.  Só isso.

Leia também: “Soutinho”, Francisco Ferreira Souto Filho (18-11-2007).

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Categoria(s): Gerais

Comentários

  1. Rocha Neto diz:

    Convivi com Soutinho quando fiz parte do quadro de administradores da Sosal, hoje Salinor. Foi uma das figuras humanas mais mansa, atenciosa, humilde, fraterna que já conheci. Sempre que ele visitava suas salinas no município de Grossos, passava pela salina Guanabara aonde se localizava o nosso escritório da antiga Sosal, durante o cafezinho os assuntos eram sempre suas empresas e negócios, política nunca fez parte de suas atividades, isto sempre ele deixou nas mãos de sua fiel esposa e companheira dona Edite, a quem envio o abraço fraterno neste momento tão difícil.
    Lembranças ficam guardadas para sempre, recordo o meu último encontro com Soutinho lá no Restaurante Prato de Ouro, estava acompanhando de dona Edite, fui a mesa deles e a conversa amena foi sobre Mossoró e a sua paixão eterna pelo trabalho inerente a atividade salineira.
    Guardarei sempre na lembrança a figura deste grande homem a quem nosso Rio Grande do Norte tanto recebeu dele para alavancar o sua história desenvolvimentista.
    Se fosse escrever sobre o homem Francisco Ferreira Souto Filho, desejaria fazer com a maestria do nosso grande Carlos Santos, que nos presenteou com o magnífico artigo na tela acima.
    Parabéns Carlos Santos, pois sua homenagem foi feita em vida ao grande SOUTINHO, que hoje partiu para viver na bem-aventurança celestial.

  2. Roncalli Cunha diz:

    Bela crônica .

  3. socorro diz:

    um ser humano maravilhoso,que vai deixar saudade.amanhã de 10horas o corpo vai para natal,para ser cremado.

  4. Ronaldo diz:

    Homem íntegro, pessoa boníssima. Tive o prazer de trabalhar para ele entre 1975/1978. Mossoró tá de luto. Descanso eterno dai-lhe Senhor.

  5. Hermiro Filho diz:

    Como é bonito vê jornalista com tanta capacidade no português, mas, eu não procurei a me aprofundar nos estudos.
    Linda crônica.
    Meus sentimentos aos familiares.
    Grande homem que se foi, deixando um legado, investindo no desenvolvimento da nossa região e gerando bastante empregos.

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Hermiro, obrigado pelas palavras. Mas, não se acanhe pelo pouco estudo. Nosso espaço não é para letrado ou iletrado, mas acima de tudo para pessoas que se encontrem aqui com seu jeito, a forma de se manifestar, mas o faz de cara limpa, sem uso de artifícios do anonimato, apenas para ferir ou outros. Por sadismo.

      Aqui é o divã de muitos, uma sala de ‘tratamento’ até. Eu também estou nesse ambiente, lutando para não me intoxicar, me esforçando para não adoecer (mais) e fazendo o máximo para não ser intolerante. Vamos indo. Enquanto der, dará. //blogcarlossantos.com.br/enquanto-der-dara/

      Abraços.

  6. Carlos Almeida dos Santos diz:

    Meu nome é Carlos Almeida, fui funcionário do sr Souto no Rio de Janeiro. Nunca conheci pessoa com tantos adjetivos do bem, uma moral elevadíssima, uma generosidade sem igual, humilde, andávamos de ônibus pelo Rio de Janeiro. Comecei como auxiliar de serviços gerais e ele me deu a maior chance de minha vida me promovendo a gerência da empresa. Certa vez eu pedi um empréstimo na empresa para comprar uma casa o que me foi negado e calhou dele ouvir a conversa e chamou o financeiro e ordenou que meu pedido fosse aceito, quando pedi licença para explicar a forma de pagamento ele simplesmente me disse: A casa é boa? Posso ir lá conhecer? E para meu espanto ele entrou na minha casa, a casa de um simples funcionário. Passei a ama lo e respeita-lo mais ainda. Me ensinou muito e o que ele não dizia eu aprendi observando. Em 1985 ele me prometeu um emprego e perguntou onde eu queria trabalhar: No banco de Mossoró ou na Moagem de sal no Rio de Janeiro. Eu não pensei duas vezes e disse NO BANCO e ele disse, não!!!!Você vai trabalhar no sal que o sal é pra sempre, banco um dia vai acabar, dando mostras da sabedoria de um monge. Nunca vou esquecer este homem, esta lenda, este personagem, este santo!!! Descanse em paz sr Souto e me perdoe se algum dia falhei com o senhor, simplesmente não somos iguais, ninguém se compara ao senhor.

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