“Quanto menos os homens pensam, mais eles falam.”
Montesquieu
Jornalismo com Opinião
“Quanto menos os homens pensam, mais eles falam.”
Montesquieu
O aniversário do prefeito de São José do Campestre, Neném Borges (MDB) – Joseilson Borges da Costa, permitiu o encontro público do pré-candidato a governador Fábio Dantas (Solidariedade) e do presidente da Assembleia Legislativa do RN, Ezequiel Ferreira (PSDB).
A festa à noite desta segunda-feira (2) aglutinou políticos de vários matizes. Dantas e Ferreira não cumpriram agenda conjunta, mas comum: presença na festa de um amigo de ambos.
No anúncio oficial da pré-candidatura do ex-vice-governador Fábio Dantas, dia 19 de abril (veja AQUI), Ezequiel Ferreira era esperado, mas tomou distância. Foi uma ausência anotada.
Logo em seguida, o pré-candidato chegou a afirmar à imprensa da capital que sua postulação não dependia de Ezequiel.
Sem apoio
Até o momento, Ezequiel não fez qualquer declaração pública de apoio a Fábio Dantas. Da mesma forma, em relação à reeleição da governadora Fátima Bezerra (PT), de quem é aliado desde início da administração.
Por muitos meses, ele teve o nome especulado e “anunciado” através de várias vozes da imprensa e da política, como pré-candidato a governador, mas acabou se esquivando.
Esse vácuo permitiu o aparecimento do ex-vice-governador como opção oposicionista ao governo.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
Integrante do bloco dissidente do governo municipal que resolveu fazer oposição ao prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade), o vice-prefeito Fernandinho das Padarias (Republicanos) postou em seu Instagram foto ao lado de políticos em torno da governadora Fátima Bezerra (PT). Foi à noite dessa segunda-feira (2).
Na primeira postagem, Fernandinho deixa Tony (último da esquerda para direita) sair ao seu lado. Na segunda, não mais (Reprodução Canal BCS)
Contudo, não mais que de repente, apagou a postagem e colocou outra praticamente igual, diferente por um detalhe em relação a anterior.
Na segunda foto, ele resolveu ‘dar sumiço’ ao companheiro dissidente e líder do chamado bloco “Diálogo e Respeito”, vereador Tony Fernandes (Solidariedade).
O mais surpreendente vem em seguida: há poucos minutos, por volta de 23h04, o vice-prefeito também apagou a segunda foto em que tinha se livrado do vereador parceiro no chamado “Feed” (espécie de galeria) dessa rede social.
A opção de imediato foi usar o “Story” (conteúdo fica no ar por apenas 24 horas) do próprio Instagram, para fixar a foto na companhia da governadora e outros políticos, mas sem Tony Fernandes.
No “Story” do Instagram, finalmente Fernandinho (de camisa escura) define postagem com corte final do ‘companheiro’ de oposição (Reprodução do Canal BCS)
O material publicado faz referência à presença do vice-prefeito em evento com a presença da governadora Fátima Bezerra na Câmara de Dirigentes Lojistas de Mossoró (CDL), em que ela anunciou benefícios à segurança pública e infraestrutura de Mossoró.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE-RN) vai ampliar o horário de atendimento dos Cartórios Eleitorais, boxes de atendimento ao eleitor e Postos de Atendimento de todo estado nesta reta final do fechamento do cadastro eleitoral.
Nessa terça-feira (03), o atendimento presencial em todo o Estado será das 8h às 17h. E no dia 4 de maio (quarta-feira), o horário de atendimento ao eleitor será das 8h às 18h, com distribuição de fichas, a partir do início do expediente.
A ampliação do horário de atendimento acontece em razão da instabilidade no sistema ELO, verificada nesta segunda, 02 de maio de 2022, e da elevada demanda de atendimento presencial nos Cartórios Eleitorais.
Prazo final
O prazo final para emitir, regularizar ou transferir o título de eleitor será a quarta-feira. Somente aqueles que estiverem cadastrados e regulares com a Justiça Eleitoral poderão votar nas Eleições 2022.
Os procedimentos podem ser feitos pela internet, de forma simples e rápida, através do Autoatendimento do Eleitor no site do TRE-RN. No atendimento on-line também é possível acompanhar o andamento da solicitação, imprimir o título de eleitor, consultar a existência de multa eleitoral, emitir certidões, entre outros serviços.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
Natal recebe nesta semana, de terça-feira (03) a sexta-feira (07), o 40º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP), com a presença de médicos pediatras de todo o país, no Centro de Convenções de Natal. O evento, que é considerado o maior da especialidade no Brasil terá abertura às 8h30.
É realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em parceria com a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Norte (SOPERN), sob o tema central “Consolidando as conquistas em todo o Brasil”.
Paralelamente, logo no primeiro dia do evento, vão acontecer o 3º Simpósio de Aleitamento Materno e o 2º Simpósio de Animação Pediátrica.
A expectativa é receber mais de 4 mil médicos durante os cinco dias de Congresso. Na programação, palestrantes renomados abordando temas atuais que contemplam a especialidade, dentre eles: coberturas vacinais e recusa vacinal; estratégias para apoiar a amamentação em situações especiais; distúrbio respiratório do sono; doenças sistêmicas; telemedicina; saúde mental da criança e do adolescente; neurologia pediátrica em tempos de endemias e pandemias modernas; da subnutrição à obesidade em crianças e adolescentes; doenças alérgicas; doenças respiratórias; transtorno do espectro autista; suplementação alimentar; câncer infanto-juvenil; efeitos do mundo virtual para a nova geração, dentre outros.
Também terá apresentação de casos clínicos para estudo.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
Levantamento da Coordenadoria de Imunizações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), utilizando dados do RN Mais Vacina, apontou que no Dia D de Mobilização Nacional das campanhas contra a Influenza e Sarampo foram aplicadas quase 4 mil doses, incluindo imunização contra a Covid-19.
O Dia D foi realizado no último sábado (30) em 14 pontos de vacinação, sendo 13 deles em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e no Partage Shopping Mossoró. Foram aplicadas 2.055 doses na campanha contra a Influenza, 574 contra o Sarampo, além de 1.177 doses do imunizante contra o novo coronavírus, totalizando 3.806.
Grupos prioritários
Essa etapa de imunização atende prioritariamente a pessoas acima de 60 anos; trabalhadores da saúde; gestantes; puérperas; povos indígenas; professores; pessoas com comorbidades; com deficiência permanente; caminhoneiros; trabalhadores de transporte coletivo; rodoviário; passageiros urbano e de longo curso; trabalhadores portuários; forças de segurança e salvamento; Forças Armadas; funcionários do sistema de privação de liberdade; população privada de liberdade; adolescentes e jovens em medidas socioeducativas.
Etevaldo Lima, coordenador de Imunizações da Secretaria de Saúde de Mossoró, frisa que a campanha nacional seguirá até o próximo dia 3 de junho e quem não compareceu no Dia D de vacinação dos grupos prioritários poderá de deslocar a alguma unidade de saúde para se imunizar ou vacinar crianças contra as doenças.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), e equipe de governo, realizam evento a partir das 17h desta segunda-feira (2), na Câmara de Dirigentes Lojistas de Mossoró (CDL).
Será para a entrega de 10 veículos à Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (ROCAM) da Polícia Militar de Mossoró e o anúncio de apoio ao Mossoró Cidade Junina (MCJ) 2022, que será realizado de 4 a 25 de junho.
Também será assinada a ordem de serviço para a construção da sede do 12º Batalhão da Polícia Militar (12º BPM), em Mossoró.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
Mossoró caminha para fazer pelo menos três deputados estaduais este ano, podendo até alcançar marca maior: quatro. Difícil, mas não impossível.
São nomes que têm o município como sua principal base eleitoral, que se diga.
Em 2018, vieram as novidades Allyson Bezerra (Solidariedade) e Isolda Dantas (PT). Ele, dois anos depois ganhou eleições “improváveis” à prefeitura.
Ao longo de décadas, Mossoró costumou emplacar eleitos à Assembleia Legislativa, o que não ocorreu em 2014. À ocasião, não vingou ninguém.
Os dois deputados que tentaram a reeleição à época, Larissa Rosado (PSB, hoje no União Brasil) e Leonardo Nogueira (DEM), não obtiveram êxito. Uma engenharia política posterior é que permitiu que Larissa, como suplente, fosse empossada e efetivada em 2017. Já em 2018 ela não se reelegeu.
Eleitos de 1974 a 2018 tendo Mossoró como base
1974 – João Newton da Escóssia, Alcimar Torquato, Assis Amorim e Luís Sobrinho;
1978 – Carlos Augusto Rosado
1982 – Jota Belmont e Carlos Augusto Rosado
1986 – Laíre Rosado e Carlos Augusto Rosado
1990 – Carlos Augusto, Antônio Capistrano e Frederico Rosado
1994 – Frederico Rosado e Francisco José (pai)
1998 – Frederico Rosado, Sandra Rosado e Ruth Ciarlini
2002 – Larissa Rosado, Francisco José (pai) e Ruth Ciarlini
2006 – Larissa Rosado e Leonardo Nogueira
2010 – Larissa Rosado e Leonardo Nogueira
2014 – Nenhum
2018 – Allyson Bezerra e Isolda Dantas
Quatro mais um
Em 1974, pelo menos quatro deputados ganharam eleição à AL a partir de Mossoró. Foram eleitos João Newton da Escóssia (Arena) e Alcimar Torquato (Arena), com apoio do deputado federal Vingt Rosado (Arena). O primeiro, cunhado do parlamentar; o segundo, médico, natural de Luís Gomes, mas que há mais de uma década tinha vida profissional ativa entre os mossoroenses.
Luís Sobrinho (MDB) e Assis Amorim (MDB), apoiados pelo ex-governador cassado Aluízio Alves (MDB), também foram eleitos no mesmo ano a partir de Mossoró.
Ainda aconteceu a reeleição do médico Dalton Cunha (Arena). Era mossoroense da gema, mas tinha como base principal de votos o município de Apodi e adjacências.
Acompanhe o Blog Carlos Santos pelo Twitter clicando AQUI e o Instagram clicando AQUI.
Nos últimos dias, a “Usina de Boatos” passou a produzir em escala contínua a informação de que o pré-candidato ao Senado pelo sistema governista, ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT), será substituído.
Outro nome seria aboletado na posto, pela governadora Fátima Bezerra (PT).
O zunzunzum é produzido nas entranhas do próprio universo governista, da mesma forma que já se gerou há alguns meses que o atual vice-governador Antenor Roberto (PCdoB) seria descartado para acomodar o deputado federal Rafael Motta (PSB) ou o então secretário do Desenvolvimento Econômico, Jaime Calado (hoje no Republicanos).
Nem uma coisa nem outra. O vice, já confirmadíssimo e irremovível, é e será o deputado federal Walter Alves (MDB).
Quanto ao Senado, tudo fechado também. É e continuará sendo Carlos Eduardo Alves.
Importante ser assinalado: Walter e Carlos são escolhas e decisões tomadas em nível de cúpula nacional, pelas mãos e vontade do ex-presidente Lula (PT).
A instância estadual do petismo e as vozes discordantes não têm força alguma à mudança do que está posto.
Entendeu?
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
O prefeito mossoroense Allyson Bezerra (Solidariedade) encaminhou ao Governo do RN cinco ofícios que tratam de questões relacionadas à colaboração estadual para o bom andamento do Mossoró Cidade Junina (MCJ) 2022. O evento está definido para começar dia 4 de junho, com o “Pingo da Mei Dia”.
Num dos ofícios, o prefeito solicita urgentes melhorias no Aeroporto Dix-sept Rosado, que recebe voos diários, a serem ampliados no período. Aponta necessidade de reparos em banheiros, limpeza e troca de iluminação.
Problemas parecidos precisam ser enfrentados no Centro Administrativo Diran Ramos do Amaral, onde fica o Terminal Rodoviário de Mossoró. O mato encobre o grande imóvel, há necessidade de cuidados em cobertura, banheiros e outras providências.
Também há pleito para cuidados com a Avenida Dix-Neus Rosado. Iluminação a Led, sinalizações horizontal e vertical, recapeamento e limpeza do matagal que avança à pista de rolamento são necessidades imediatas, pois deve se acentuar o tráfego nessa pista que liga o Centro à área de universidades federal e do RN, fóruns e onde existe também grande densidade populacional.
Noutro ofício, pede apoio financeiro do Estado à própria festa, que tem programação diversificada por quase todo o mês.
Ainda é solicitado reforço no efetivo policial civil, militar e do Corpo de Bombeiros Militar, além de equipamentos e estrutura à segurança em todo o evento.
Em eventos passados, o governo estadual sempre foi parceiro – principalmente na parte de segurança pública.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
Amanhã (terça-feira, 3), às 19h30, será a abertura da 16ª Feira do Livro de Mossoró, no Campus Central da Universidade do Estado do RN (UERN). Serão cinquenta horas de programação cultural, até a sexta-feira (6).
No Palco das Letras na quinta-feira (5), às 17h, por exemplo, duas pratas da casa vão falar sobre a arte de escrever biografias. Serão os jornalistas e escritores Caio César Muniz e Lúcia Rocha.
Autógrafo
O público poderá acompanhar e dialogar com eles, sabendo mais sobre esse gênero literário que é o de maior sucesso em vendagem de livros no mundo inteiro.
Lúcia e Caio são graduados em jornalismo e escrevem livros há mais de vinte anos.
Logo após, Lúcia Rocha estará autografando Memórias de Milton Marques de Medeiros – O Menino do Poré, lançado ano passado.
A partir da quarta-feira (4), a Feira do Livro de Mossoró estará aberta das 9h às 21 horas. O evento conta com o apoio cultural do Governo do Rio Grande do Norte, através da Lei Câmara Cascudo, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Progresso Atacado e RN Leitura.
Dentre os eventos programados para esta edição – considerada a maior feira de livros do interior do estado – haverá bate papos com autores, diversos lançamentos de títulos, contação de história, exposições, manifestações artísticas de dança, música, teatro e outras atividades.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
Contratada pela Band Natal, a primeira pesquisa deste mês de maio tem previsão de divulgação na sexta-feira, dia 6 de maio.
Feita pelo Instituto Seta de Pesquisa, serão 1.500 entrevistados em várias cidades do RN entre 30 de abril a 2 de maio. O intervalo de confiança (nível de significância) é de 95% com margem de erro de 2,7 % para mais ou para menos.
O levantamento tem custo de R$12.000,00 pagos com recursos próprios pela emissora Televisão Novos tempos S/A – Band Natal.
Esta vai ser a primeira pesquisa com Fábio Dantas (SD) entre os pré-candidatos ao Governo do RN e depois da aliança entre Fátima Bezerra e o MDB de Walter Alves.
Nota do Canal BCS (Blog Carlos Santos) – Entre o fim de março e início de abril passado foram publicadas quatro pesquisas
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e Youtube AQUI.
“O silêncio é um lugar de grande poder e cura.”
Rachel Naomi Remen
Por Inácio Augusto de Almeida
Sempre às 3h ele começava a tocar o pandeiro. Pandeiro que era seu único amigo. Nunca ninguém o viu a conversar com alguém. Se segredos tinha, os guardava só para si.
Aos sábados fazia as compras que trazia numa sacola de lona.
Não era magro nem gordo. Seu nome ninguém sabia. A única coisa que todos sabiam era que tocava pandeiro todas as tardes e que morava sozinho.
Eu era um menino de 6/7 anos que pela manhã frequentava o grupo escolar e que fazia os deveres, logo após o almoço, para ir me distrair ficando na torre da igreja. Igreja que ficava ao lado da casa onde morava.
Subia numa escada tipo caracol e ficava perto do sino de onde avistava toda a cidade, a estrada para Caicó e os morrotes que na minha visão infantil enxergava como montanhas gigantescas, mas que meu pai chamava de serra.
Ali pegava a brisa que amenizava o calor das tardes quentes de Jardim do Seridó. E ali ficava até começar a ouvir o barulho do pandeiro, quando descia e ia pegar a merenda que todas as tardes minha mãe preparava e colocava na grande mesa.
Um dia não ouvi o som do pandeiro e só desci da torre porque minha mãe chamava dizendo ser hora da merenda.
Comendo macaxeira com carne de sol, senti que alguma coisa estava faltando.
Faltava o som do pandeiro.
Falei para minha mãe e pedi para ir até a casa do homem do pandeiro. Ela disse que quando papai chegasse ele iria lá comigo.
A tarde se ia lentamente, preguiçosa até. Torcia para ouvir o som do pandeiro, mas apenas os galos de campina enchiam com seu canto aquele final de tarde.
E antes da noite encher o céu de estrelas, papai chegou.
Depois de muito bater na porta ouvimos o caminhar de alguém arrastando os chinelos.
O olhar do homem mostrava que estava doente. Papai me deixou em casa e foi em busca do único médico da cidade.
Ficamos sabendo, pelo médico, que a “doença” era solidão.
Solidão que se somou a um quadro de desnutrição.
Desnutrição provocada pela falta de apetite.
Eu não entendia bem o que o médico dizia. Achava aquilo tudo complicado.
Coisa de gente grande.
Foi a partir desta tarde que o homem do pandeiro passou a sorrir para mim e a balançar a cabeça, num discreto cumprimento ao meu pai. Mas falar, não falava.
No sábado eu pedi a mamãe para ir à feira tomar caldo de cana e comer pastel. Na verdade, eu queria ver e conversar com o homem do pandeiro.
Ele estava comprando bananas quando me aproximei. Sem falar nada me ofertou uma banana.
Quando lhe perguntei porque morava sozinho, riu. Um riso triste, mas riu.
Repeti a pergunta e dele ouvi ser a vida uma ilusão.
Naquele dia não entendi a resposta que ele deu à minha pergunta.
Falou e foi se afastando, levando consigo a sacola de lona onde carregava as compras e as desilusões.
Esta foi a única vez que eu falei com o homem do pandeiro.
Quando disse a papai o que ouvi, papai riu. Riu e me disse que o tempo me explicaria melhor o que eu agora queria saber.
E os dias se seguiram e todas as tardes eu sendo avisado da hora da merenda pelo som do pandeiro.
Papai se mudou de Jardim do Seridó para São Luís do Maranhão.
O homem do pandeiro já deve estar entre nuvens brancas tocando seu pandeiro. Afinal, 70 anos se passaram do dia em que ele me disse ser a vida uma ilusão.
Lembro do meu pai a me falar que o tempo me mostraria, com clareza, a resposta que ouvi do homem do pandeiro.
Olho para as nuvens brancas e imagino papai e o homem do pandeiro rindo de um menino que teima em continuar uma criança sonhadora.
Tão sonhadora que ainda escuta o som do pandeiro das tardes quentes de Jardim do Seridó.
Inácio Augusto de Almeida é escritor e jornalista
Por Josivan Barbosa
A produção de manga no Submédio do Vale do São Francisco já ultrapassa 50 mil hectares. A região do Submédio do São Francisco possui uma área irrigada de 120 mil hectares de um total irrigável de 360 mil hectares. A região tem muitas vantagens para a produção de frutos tropicais entre elas: 3000 h sol/ano e precipitação média de 450 mm/ano, o que permite mais de 2 safras de manga/ano, dependendo da cultivar utilizada pelo produtor.
Produto tem grande aceitação externa e é exportado principalmente por via marítima (Foto ilustrativa)
Em média, as áreas produtoras de manga do Submédio do Vale do São Francisco estão distantes 930 km do Porto do Pecém, 500 km do Porto de Salvador (principal porto usado na logística de exportação), 700 km dos Portos de Recife e 900 km do Porto de Natal (usados esporadicamente). O Porto de Recife não é adaptado para a exportação de frutos e o de Natal, apesar de ser muito bom, é distante.
O principal modal de exportação da manga é o marítimo (92%), sendo o aéreo e o rodoviário em torno de 4% cada um.
Atualmente, o transporte de carga no Aeroporto de Petrolina está suspenso desde que iniciou-se a pandemia Covid 19.
Área cultivada
A Valexport trabalha com a estimativa de 51 mil hectares sendo 21 mil hectares cultivados nos perímetros irrigados e 30 mil hectares fora dos perímetros irrigados. Bem acima da área cultivada com uva que é em torno de 14 mil hectares.
Os perímetros irrigados instalados naquela região do Semiárido a partir de 1970 são: Bebedouro, Tourão (Juazeiro), Nilo Coelho, Maniçoba, Curaçá, Maria Tereza (ampliação do Nilo Coelho), Salitre (Rio Salitre, afluente do São Francisco), Pontal (em início de operação) e os perímetros de áreas de assentamentos (Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Belém do São Francisco), além das áreas irrigadas de Sobradinho (lotes de 6 ha).
Certificação
Os principais sistemas de certificação adotados são: PIF, Global GAP, USA GAP, Fair Trade, Tesko/Marckspenser e Rainforest Aliance. Este último é o mais importante e o primeiro que é o brasileiro, praticamente nenhum país aceita.
A CEE (Comunidade Econômica Europeia) permite apenas o uso de até 3 agroquímicos e com apenas 1/3 do LMR da legislação Europeia.
A mosca-das-frutas (ceratis capitata) é a principal praga da fruticultura na região.
Exportação e empregos
O principal destino de exportação da manga do Submédio do Vale do São Francisco é a Europa (120 toneladas/ano) e o segundo destino é os EUA. A exportação de manga rendeu no ano passado para o país U$ 224 milhões. Se somado o valor da uva chega a U$ 376 milhões.
Em 2021 a região do Submédio do Vale do São Francisco que, também, é denominada de RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento Econômico) exportou 245 mil toneladas de manga.
A Agrodan é a principal empresa exportadora.
O setor gera 250 mil empregos diretos e quase 1 milhão de empregos diretos e indiretos.
A organização da exportação, a política do setor e a responsabilidade da certificação sanitária fica a cargo da Valexport que assume o ônus de todo o setor frutícola do Submédio do Vale do São Francisco.
Variedades
A Tommy Atkins e a Palmer são as principais variedades de manga cultivadas no Submédio do Vale do São Francisco. A Tommy Atkins é muito conhecida no mercado nacional e tem uma vida útil pós-colheita boa, mas é fibrosa. A Palmer é mais saborosa, menos fibrosa, mas o ciclo produtivo é de 180 dias e a Tommy Atkins é de apenas 120 dias. A Palmer é de fácil indução floral, produz 12 meses por ano, mas apresenta uma vida útil pós-colheita menor do que a Tommy Atkins. A Palmer apresenta boa produtividade (50 toneladas/ha).
A produção é mais concentrada no segundo semestre (70%) e 30% no primeiro semestre. A temperatura baixa a partir de maio favorece a floração.
As variedades Kent e Keitt são saborosas, pouco fibrosas e são muito aceitas na Europa.
A manga Ataulfo (doce e sem fibra), bastante conhecida no México, não tem apresentado boa produtividade. Média de 8 toneladas/ha.
Transporte e mercado
O transporte aéreo é usado apenas para a Ásia (Japão e Coréia do Sul). O transporte marítimo é usado para a Europa, EUA e África do Sul. A manga é transportada em contêiner refrigerado (10 graus).
A Valexport contratou a consultoria da Mango Board para ampliar a divulgação da manga do Submédio do Vale do São Francisco nos EUA.
Os principais mercados são: Mercado Comum Europeu (ME), Norte Americano (EUA e Canadá). O Canadá não tem exigências fitossanitárias a exemplo da Europa. O produto ainda é exportado para a Ásia (Japão e Coréia do Sul), África (África do Sul), Mercosul (Argentina e Uruguai) e Chile.
O mercado americano representa uma janela de exportação (setembro a outubro) em função da competição com a manga peruana. O Peru tem 72 plantas (packinghouses adaptados para tratamento hidrotérmico da manga) de exportação de manga enquanto que o Brasil tem apenas 12 (11 no Submédio do Vale do São Francisco e uma no Rio Grande do Norte – Finoagro em Ipanguassu).
A exportação de manga é apoiada pela instrução normativa 12 de 2010 do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Ufersa
Por Ney Lopes
A reforma da previdência, que entrou em vigor em 13 de novembro de 2019 (EC 103), causou grande prejuízo mensal aos aposentados por invalidez.
Antes, esses aposentados recebiam 100% da média salarial, independentemente do tempo de contribuição, ou seja, era pago um benefício integral.
Após a reforma, ocorreu redução que chega a 40%. Por exemplo: quem recebia 6 mil reais teve perda mensal de R$ 2.400 reais. Exceção para aposentados por acidente de trabalho ou de doenças profissionais ou de trabalho.
Critérios novos – O cálculo passou a ser feito a partir de um percentual de 60% da média, somado a 2% para cada ano de contribuição, no caso de mais de 15 anos de contribuição acumulados para as mulheres, e 20 anos para os homens. Assim, na maioria dos casos, o valor do benefício passou a ser menor do que um auxílio-doença — que é temporário e calculado a partir de 91% da média do salário de benefício
Justiça – Os Juizados Especiais Federais do Sul do país têm firmado entendimento em decisões recentes, de que o cálculo da aposentadoria por invalidez após a reforma é inconstitucional, por ofensa aos princípios da igualdade, da proporcionalidade e da razoabilidade,
STF I – De acordo com o acórdão do STF (Recurso Extraordinário n. 1.360.286), “além da flagrante ofensa aos princípios da razoabilidade, da seletividade na prestação dos benefícios, da irredutibilidade do valor dos benefícios e da isonomia, cabe ressaltar o cabimento do devido processo legal substancial como meio de controle de constitucionalidade”.
STF II – E complementa: “ Desta forma, entendo que as alterações trazidas pelo art. 26, §§ 2º e 5º, da EC nº 103/2019 ofendem o princípio do devido processo legal substancial, já, além de não atender aos anseios da sociedade, colabora para a perpetuação das injustiças sociais. Assim, diante da flagrante ofensa aos princípios da razoabilidade, da seletividade na prestação dos benefícios, da irredutibilidade do valor dos benefícios e da isonomia, bem como ao princípio do devido processo legal substancial, entendo pela inconstitucionalidade do art. 26, §§ 2º e 5º, da EC nº 103/2019”.
Direito – Conclui-se que segurados, em qualquer situação, com incapacidade permanente, não podem ganhar valor inferior a 100% da média salarial em suas aposentadorias por invalidez.
Cálculo – Portanto, o cálculo da média salarial para benefício concedido após a reforma, deve levar em conta os salários de contribuição desde julho de 1994, ou desde o início da contribuição.
Advogado – A recomendação é que, quanto antes, o segurado prejudicado acione o Judiciário contra o cálculo que reduz seu benefício.
Desvalorização – O direito à aposentadoria por invalidez foi desvalorizado a partir da mudança da reforma previdenciária. As decisões do Judiciário brasileiro têm sido fundamentais para corrigir essa distorção imposta pela reforma.
Não é cabível que um benefício temporário seja maior que uma aposentadoria que reconhece a invalidez permanente do segurado do INSS.
Acréscimo – Aposentado por invalidez que comprove depender de outra (s) pessoa (s) para realizar atividades da vida diária, como banho e alimentação pode requerer o acréscimo de 25% do benefício.
É permitido que o acompanhante seja um familiar
Provérbio – Para os injustiçados com a reforma é bom lembrar o provérbio português: “a justiça tarda, mas não falha”.
Ney Lopes é jornalista, advogado e ex-deputado federal
*O autor do artigo dará orientação a quem interessar, independente de honorários.
Por Odemirton Filho
Olhava o horizonte sentada numa jangada na beira do mar. Estava sozinha. Pensava no ontem, naquilo que viveu. Ou, melhor, no que não viveu.
Os dias passaram rápidos, nem viu o tempo voar. Sobre os seus ombros carregava o peso da vida. Sim, era uma mulher realizada, tinha um bom marido, lindas filhas e belos netos. Mas, ainda assim, queria mais. Embora estivesse aposentada, queria viver, bem vivido, o tempo que ainda lhe restava de vida.
Tinha dentro de si, às vezes, uma profunda solidão. Sua alma, de vez em quando, era uma ilha. Precisava habitar a sua vida com novas experiências. Quem sabe, enveredar na arte de escrever colocando no papel os sentimentos d´alma; rabiscos de saudades e lembranças.
Lembrou que por muitos anos acordou de madrugada para preparar o café do marido e das filhas, arrumando-as para irem ao colégio. Ficava o dia inteiro ocupada com afazeres domésticos; mal tinha tempo para se olhar no espelho e ajeitar os seus longos cabelos pretos.
O tempo passou. As meninas crescerem, constituíram família, cada uma seguiu o seu rumo. O marido se aposentou. Chegou a sua vez de fazer o que sempre sonhou: escrever. Em alguns cadernos, com as folhas amareladas pelo tempo, tinham alguns escritos que foram feitos ao longo da vida.
Lembrava que a vida passava rápido como o vento. A infância passou, a adolescência correu, e só restaram a maturidade e as lembranças de uma infância acolhida e de uma juventude repleta de sonhos.
O que passou, passou. Agora, sentia a brisa batendo no seu rosto, e observava a natureza, a qual nos mostra o canto dos pássaros; a beleza do mar. Sem pressa, contemplava o que um dia passou despercebido. Estava ali, sentada em uma jangada, olhando além do horizonte.
“Nós imaginamos que assim que somos arrancados do nosso caminho habitual tudo acaba, mas é apenas o começo de algo novo e bom. Enquanto houver vida, haverá felicidade. Há muito, muito diante de nós”, diria um famoso escritor russo.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Por Nilson Gurgel
Falar sobre Luiz Gonzaga é um prazer tão grande quanto é ouvi-lo. Orgulho-me de ter tido um momento com ele, foi no final do ano de 1974.
Na época eu era Diretor Técnico e Executivo da Cimparn e estávamos concluindo a implantação física do projeto das vilas rurais da Serra do Mel, quando o governador Cortez Pereira me chamou e disse:
Luiz Gonzaga na Revista O Cruzeiro, edição de 12 de setembro de 1952 (Reprodução de página de Rostand Medeiros)
– “Cabeludo” (como carinhosamente me chamava), meu mandato foi reduzido em um ano e quero encerrá-lo com uma grande festa de inauguração do Projeto lá na Serra do Mel. Prepare tudo, você tem 15 dias!
Aí lhe respondi: “Sem problema, doutor Cortez.”
Tratei de arrumar tudo e na véspera da dita, fui ao Palácio Potengi para fazer uma checagem das coisas com ele. Ao final, o governador olhou para mim e disse:
– Só está faltando uma coisa, mas um amigo vai mandá-lo para nós. É o Luiz Gonzaga que está fazendo um show no Recife hoje à noite e amanhã o Zé Lins ( José Lins de Albuquerque, superintendente da Sudene na época) traz ele para nós no Asa Branca (nome do avião da Sudene).
E completou: “Já está tudo acertado, volte para Serra e me espere amanhã cedo.”
No dia seguinte chega doutor Cortez e logo em seguida Luiz e Zé Lins.
Caro amigo Carlos Santos, foi um dia inteiro na companhia do rei. Tanto ele cantava, como tocava, como contava piadas e conversava. Era só alegria e terminei indo deixá-lo no Recife no avião do estado, pois o Zé Lins, em razão de compromissos, teve que ir antes.
Luiz atendeu a todos tocando, cantando e autografando. Para se ter uma ideia da dimensão do evento, só famílias já assentadas havia no projeto 518 com cerca de 6,2 pessoas em média para cada uma e todas estavam presentes.
Faltaram guardanapos e pratos de papelão. Todos viraram autógrafos. O autógrafo que pedi, único de minha vida por anos, se juntou anos mais tarde ao de Tânia Alves (cantora e atriz) que quando me deu o dela e soube que ia fazer companhia ao de Luiz Gonzaga, saiu com esta:
– É uma honra fazer companhia ao meu rei. Mas Nilson, bote o meu bem coladinho ao dele, quem sabe eu faça umas carícias nele!
E deu aquela risada gostosa que só ela sabe dar.
Meu neto que ainda não “inteirou” três anos, quando vou visitá-lo, ele olha para mim e diz: “Vovô, vovô Nilson”. E logo vai cantando (só as duas primeiras estrofes) “Estrada de Canindé”, que segue para quem quiser:
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e uma cabocla
Cum a gente andando a pé
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e a lua branca
No sertão de Canindé
Artomove lá nem sabe se é home ou se é muié
Quem é rico anda em burrico
Quem é pobre anda a pé
Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé.
Amigo, desculpe a extensão do comentário, mas estou falando do único rei brasileiro que reverencio.
E encerro meu texto com uma frase do discurso de Cortez a quem, sem ser rei, exalto também e tenho saudades do dia da inauguração, final de1974:
– Este projeto nasceu da coragem e imaginação de um governo que soube antecipar o futuro!
Nilson Gurgel é economista
*Crônica originalmente publicada em nossa página no dia 28 de outubro de 2012 (veja AQUI), há quase dez anos, por um amigo falecido no dia 7 de junho de 2016 (veja AQUI).
Reproduzir essa crônica é uma forma, modesta, de homenageá-lo. Que Nilson Gurgel descanse em paz.
Por Marcelo Alves
Hoje vou misturar alguns assuntos da minha predileção: os romances policiais/detetivescos e os seus subtipos e a tendência (quase mania) que temos hoje de elaborar listas sobre as mais diversas coisas (os dez mais ricos, as vinte mais bonitas, os cinquenta melhores e por aí vai).
Os especialistas classificam os romances policiais em dois tipos: policiais de enigma e policiais noir, também chamados, respectivamente, de policiais ingleses e policiais americanos, levando em consideração os países de onde esses dois subgêneros teriam se originado.
Nos policiais de enigma – de gente como Arthur Conan Doyle (1859-1930), C.K. Chesterton (1874-1936) e Agatha Christie (1890-1976), o leitor é “convidado” a desvendar o crime. Ele segue os passos e o raciocínio do detetive através de um jogo de pistas e charadas até o final, em regra, surpreendente.
O mistério é, de fato, o mais importante da estória, muito mais que o ambiente em que ela se passa. Já nos policiais noir – de craques como Raymond Chandler (1888-1959), Dashiell Hammett (1894-1961), James M. Cain (1892-1977) e Ross MacDonald (1915-1983) – temos um mundo estranho e corrompido, e essa atmosfera na qual estão as personagens, “carregada” até visualmente (daí o termo “noir”), é tão ou mais importante do que a trama em si.
A elaboração de listas também é um caso antigo, mas que, até para podermos lidar com a enormidade de informações de hoje, tem virado uma “febre”. Eu mesmo possuo um livrão, “10.000 Things You Need to Know: the Big Book of Lists” (edição de Elspeth Beidas e publicado pela Universe Publishing em 2016), que acho o máximo. Adoro folheá-lo.
O fato é que estes dias topei com uma classificação de romances policiais, com as respectivas listas de títulos indicados, que achei inusitada. Foi no site literário Goodreads, que aponta “100 Mystery and Thriller Recommendations by Setting” – “100 mistérios e suspenses recomendados/classificados pelo ambiente onde se passa a estória”. Tipo: uma biblioteca, um quarto de hotel, no teatro, no escritório, um apartamento decrépito, à mesa, uma casa de campo, um quarto trancado por dentro, em um campus universitário, na igreja, um lugar extremamente frio, aviões e trens, um barco, na praia, uma ilha, através do tempo ou no espaço sideral.
Eu vou escolher três desses locais para tratar. Os de minha preferência para frequentar ou para fins de um bom mistério/suspense/crime (ficcional, deixo isso muito claro). Vou de biblioteca, campus universitário e igreja.
Para a biblioteca, vou com a amiga Agatha Christie em “Um corpo na biblioteca” (“The Body in the Library”, 1942). Em Gossington Hall, na mansão do coronel Arthur e Dolly Bantry, o corpo de uma bela jovem é encontrado na biblioteca. “Quem era a jovem? O que ela estava fazendo na biblioteca? E há uma conexão com outra garota morta, cujos restos carbonizados são achados em uma pedreira abandonada?”, indaga o Goodreads. É um caso para Miss Marple.
Para o campus universitário, vou viajar com Guillermo Martínez (1962-), da Argentina para o Reino Unido. O título é “The Oxford Murders” (“Crímenes imperceptibles”, 2003), pois foi a versão em inglês que li, maravilhado, numa temporada de estudos na cidade universitária. Em um dia de verão, um estudante argentino encontra sua senhoria – uma idosa que ajudou a decifrar o Código Enigma na 2ª Guerra Mundial – friamente assassinada.
Um célebre lógico da universidade recebe uma correspondência anônima com um símbolo estranho. Os símbolos e os assassinatos vão se sucedendo. Cabe aos dois matemáticos deter um serial killer. Já não me lembro mais do final. Vou ler novamente. Embora desta vez em casa, infelizmente.
E, na Igreja, mais precisamente numa abadia da Itália Medieval com uma labiríntica biblioteca, investigo na companhia de Umberto Eco (1932-2016) e seus Guilherme de Baskerville e Adso de Melk, em “O nome da rosa” (“Il nome della rosa”, de 1980). É o cenário de sete dias de “crimes e castigos” imaginados por Eco, misturados nas vidas religiosa e ideológica do século XIV, com suas ortodoxias e heresias, que passaram a compor meu conhecimento (e imaginário).
Por fim, afirmo: não tenho qualquer intenção de me mover para um lugar extremamente frio, para o espaço sideral ou muito menos através do tempo. Nem mesmo tenciono devanear estar por lá resolvendo mistérios. Mas fiquem à vontade. Consultem o Goodreads e o texto “100 Mystery and Thriller Recommendations by Setting”. Cada qual com seu gosto.
Marcelo Alves Dias de Souza é procurador regional da República e Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Por Marcos Araújo
Embora seja uma das mais antigas e consideradas profissões, nenhuma outra mostrou-se tão polêmica ao longo dos tempos quanto a advocacia. A história registra momentos de alternância entre prestígio e perseguição aos advogados. Enaltecida ou execrada, conforme a época e as circunstâncias, a advocacia foi chamada por Marco Túlio Cícero como um “nobre e régio labor”, e por Robespierre “o amparo da inocência”.
Pouco tempo depois da Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte passou a perseguir os causídicos, costumando dizer, no melhor estilo de sua formação militar e autoritária, que “os juízes distorcem a lei e os advogados a matam”. Frederico II, da Prússia, pretendeu abolir a profissão em seu país, o que, evidentemente, não conseguiu.
Francisco Petrarca, célebre poeta medieval italiano, disse não pretender advogar para não seguir uma carreira que não deixava alternativa entre “ser desonesto ou parecer ignorante”. De Santo Ivo, ilustre patrono da classe, advogado dos humildes e miseráveis, a quem defendia sem nada cobrar, costumava dizer-se: “Santo Ivo era bretão, Advogado, honesto, não ladrão Coisa de admiração!”.
A literatura saxônica guarda páginas desalentosas sobre os advogados, tendo o bardo Shakespeare escrito uma frase reativa à categoria: “A primeira coisa que devemos fazer é matar os advogados” (Henrique VI, Ato IV, cena 11). Outro blague vem num insólito diálogo entre Hamlet e Horácio, perante o crânio anônimo, perfazendo um insulto ao perguntar: “Não será porventura a caveira de um advogado? Onde estão agora as suas cavilações, os seus sofismas, o seu casuísmo, as suas usurpações e as suas trapaças?” (Ato V. Cena I).
Em que pese as críticas, os valores humanitários mais defendidos, como democracia, liberdade e dignidade, são contribuições de célebres advogados. Em memória mais próxima, cabe lembrar os americanos Thomas Jefferson, George Washington, Abraham Lincoln; e na história brasileira José Bonifácio, Rui Barbosa, Sobral Pinto, Affonso Arinos, Raymundo Faoro, Seabra Fagundes.
No Brasil, a execração de advogados criminalistas é prática comum, associando-os equivocadamente aos seus clientes. O célebre Evaristo de Morais Filho foi muito atacado por ter defendido o presidente Collor; Roberto Podval foi ameaçado, por ter aceito a defesa do casal Nardone; Márcio Thomaz Bastos morreu com a indevida pecha de ter defendido Carlinhos Cachoeira…
Nada mais perigoso para o Estado de Direito do que o vilipêndio aos profissionais que estão nas trincheiras da democracia, garantindo o direito de defesa dos acusados. Embora odiando advogados, Moro e Joaquim Barbosa se inscreveram na Ordem dos Advogados, o que parece ser um paradoxo… Aos que defenestram a advocacia, lembro Carnelutti, “a essência, a dificuldade, a nobreza da advocacia é esta: sentar-se sobre o último degrau da escada, ao lado do acusado, quando todos o apontam”.
Como a “Geni” descrita por Chico Buarque, apesar de enxovalhado por muitos, ao advogado cabe “defender a cidade do Comandante do Zepelim gigante”, atendendo aos contritos pedidos feitos pelo “prefeito de joelhos, bispo de olhos vermelhos, e o banqueiro com um milhão”. Após a sua dedicação, e já afastada a ameaça, volta-se contra ele a turba a desferir-lhe impropérios de desvalia.
Tenha você, advogada e advogado, orgulho da sua profissão. Ave, advocati!
Marcos Araújo é professor e advogado
Por François Silvestre
E nessa condição vou esnobar cultura. Amanhã estarei ou não arrependido. Não pela demonstração da burrice oficial militar do país, mas pela exibição das coisas simples que conheço as quais me permitem expor o analfabetismo dessa gente.
Vi hoje um vídeo do general presidente do Superior Tribunal Militar (STM). Não sei seu nome. Falou durante cinco minutos. Cometeu quatro erros de português. Crassos. Quase um erro por minuto.
Aí, me veio à memória uma fala de Bolsonaro contra a cultura vasta. Disse ele, do alto da sua sublime ignorância, que a escola tinha por base fundamental ensinar português e matemática. Portanto, os militares cumpriam essa tarefa educacional.
Aí, eu pergunto ao general: O que enuncia o Teorema de Pitágoras? O senhor sabe? Eu sou nulo em matemática, mas sei. A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Fácil decorar isso, né não? Quer dizer o quê? Pegue uma folha de papel, desenhe um triângulo retângulo, a linha vertical é um cateto e a linha horizontal é outro cateto. A linha que une as duas pontas dos catetos é a hipotenusa, que se opõe ao vértice do triângulo.
Basta você fazer um quadrado na linha da hipotenusa pra descobrir que esse quadrado é a soma dos quadrados que você fará dos catetos. Entendeu, general? Serve pra quê? Pra quase tudo na medição e rigidez das construções. O triângulo retângulo é figura mais rígida da geometria. Pitágoras foi o gênio da simplicidade.
General, o senhor sabe o enunciado da lei da gravidade? Eu sei. Matéria atrai matéria na razão direta do produto das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. Isso quer dizer o quê, general?
Quer dizer que quanto maior a massa de um corpo, mais ele atrai o corpo de menor massa. E quanto mais distante estiver o corpo de maior massa, menos será a sua força de atração. Sacou, general? Vá estudar.
Estou quase bêbado. Mas, inversamente proporcional à burrice.
P.S: Isaac Newton, da gravidade, disse “ter visto mais distante por estar sobre os ombros de gigantes, e Pitágoras era um deles”. Sobre os ombros de Newton, Albert Einstein e Stephen William Hawking viram mais longe ainda.
François Silvestre é escritor
“O medo de cair não pode ser maior que a paixão de voar.”
Filipe Ret