Permeada por um passado que guarda registros indígenas, vestígios da colonização holandesa e messianismo no sertão, a serra de João do Vale situada entre os municípios de Jucurutu, Campo Grande e Triunfo Potiguar no Rio Grande do Norte, além de Belém do Brejo do Cruz na Paraíba, a 286km de Natal e 132km de Mossoró, projeta-se definitivamente para 2022 como novo destino serrano do RN. O fato mais evidente dessa perspectiva está no início das obras de pavimentação por paralelepípedo de 19km da estrada que liga a serra à cidade de Jucurutu.
Um sonho antigo dos moradores que perdura por cerca de 40 anos começa a ganhar vida, deixando de ser apenas uma esperança.
Neste mês de dezembro, a Prefeitura de Jucurutu começou os serviços que num primeiro momento vai atender a pavimentação de trechos considerados mais íngremes e acidentados da via. A largada dos trabalhos deixou a população local eufórica com as novas possibilidades que se vislumbram num futuro próximo. “A falta de infraestrutura de estrada foi o grande gargalo que travou ao longo de décadas o desenvolvimento da atividade turística por aqui”, comenta o Anelsino Silva, morador da serra.
Também foi anunciada para o próximo dia 27 de Dezembro a abertura de licitação de outra obra mais arrojada: a execução de 5 km de pavimentação por asfalto numa primeira etapa, partindo da cidade de Jucurutu em direção à serra. Segundo a Secretaria de Obras Públicas de Jucurutu, o projeto está orçado em R$ 9 milhões.
O montante é oriundo do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e execução da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF).
Com boas notícias, empreendedores acreditam que finalmente o turismo serrano em João do Vale se torne numa possibilidade concreta, a 747 metros de altitude. “É possível que agora possamos tocar nossos projetos com mais confiança de que as coisas realmente vão acontecer. O início desses serviços acende a nossa esperança no turismo”, anseia Janúncio Tavares, empreendedor local.
Hospedagem
Atualmente, a localidade dispõe de apenas 02 empreendimentos de hospedagem em funcionamento, mas com capacidade reduzida de 06 leitos. No entanto, cerca de 15 novos espaços entre mirantes, pousadas e restaurantes têm projetos em andamento para receber o turismo.
Esses empreendedores apostam nas paisagens naturais e nas condições de clima ameno em relação ao sertão, para atrair visitantes.
Ainda que não tenha uma estrutura de acesso e receptivo de organização para o turismo, o local atrai alguns grupos e excursões. Comumente são formados por famílias da região do Seridó, que já se aventuram em visitas à serra de João do Vale de forma esporádica.
Para o jornalista Tárcio Araújo, que pesquisa o potencial da serra de João do Vale há alguns anos, existem um elenco de atrativos no local ao fomento turístico sustentável. Ele cita a “Caverna do Mundo Novo” que teve a trilha aberta este ano e que já recebeu alguns visitantes, “Os tanques coloniais” que teriam sido construídos durante ocupação holandesa no Nordeste a “Chã do Cajueiro” – onde surgiu movimento messiânico do beato Joaquim Ramalho no final do século XIX e que reuniu milhares de seguidores.
“Outro ponto que descobrimos recentemente foi um conjunto arquitetônico de pedras em mármore que batizamos de “Vale da Lua”. É uma imensa extensão rochosa com cavidades naturais esculpidas pela ação do tempo. Além da contemplação natural, as torres de pedra serão aproveitadas para ecoturismo como rapel e escalada”, sugere Tárcio.
A população local vislumbra novas possibilidades de trabalho e renda com a inserção do turismo. Há um grupo de mulheres que confecciona a renda renascença e artesanato em palha. Alguns artesãos fabricam esculturas em cimento e ferro reciclável. Quanto à culinária na serra de João do Vale, há grande potencial para exploração de comidas regionais e fruticultura.
Futuro
“O futuro serrano passa também pelo conceito de Turismo de Base Comunitária para fortalecimento do artesanato, culinária e da cultura do lugar”, avalia Araújo. Ele acrescenta que tem estudado o assunto e que as perspectivas que surgem para a serra de João do Vale ensejam uma nova organização social com vistas ao desenvolvimento do turismo, com apoio público e investimentos privados.
“É possível a criação de um comitê gestor que planeje e gerencie essas ações com participação de todos de agentes públicos, nativos e empreendedores. Nada avançará se for feito com amadorismo, por impulso ou intervenções esporádicas de oportunistas. Em qualquer lugar com experiências exitosas, a história de sucesso tem a o trabalho de profissionais qualificados e entidades de conceito, como Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte – SEBRAE/RN)”, defende.
Leia também série de reportagens especiais sobre a serra de João do Vale clicando AQUI.
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Irei conhecer, se Deus quiser, em janeiro.
Que notícia auspiciosa! Sim, novos horizontes!
Carlos,
Há alguns anos atrás era cultivados na Serra do João do Vale um grão chamado FAVA, produto de excelente qualidade devido à altitude do lugar.
A fava amarela como era apelidada ainda existe?
Se alguém sober, poderá responder.
NOTA DO BLOG – Oi, Hermiro. Existe, sim. Informações que coletamos que a culinária tradicional tem esse produto diferenciado que segue com cultivo no lugar. Eu, sinceramente, não gosto mesmo. Para mim, é como o inhame dos pernambucanos: não me atrai. Abraços.