Estranho por quê?
A pergunta é óbvia, haja vista que não me fiz claro.
Tempo em que apenas proclamar "bom-dia", "boa tarde" ou "boa noite" oscila entre a afetação e a provocação. Tempo em que fazemos o mal, por manifestarmos o bem.
É um tempo em que gentileza, cordialidade, educação e alegria de viver podem insultar. "Bicho besta," ouvi alguém resmungar em certa ocasião, porque fora cumprimentada com beijo à mão, ou seja, fidalguia a uma dama.
À criança, um bom-dia é capaz de ser entendido como forma de assédio sexual: vira insinuação de pedofilia.
Se o faço na direção de uma mulher, é provável que ganhe interpretação de assédio sexual.
Entre homens, gera também a desconfiança: o interlocutor pode pensar que aspiro lhe pedir algo ou subtraí-lo de um bem precioso, como seu tempo.
Que estranho tempo, heim?
Precisamos ir à universidade aprender o que nossos avós ensinavam na prática: sorrir abre não apenas portas, mas principalmente corações.
No Japão, sempre tão rígido nos costumes, o cumprimento a outrem impõe a coluna cervical curvada e o aperto de mão. Cá entre nós, em alguns países ocidentais, o beijo no rosto entre pessoas muito próximas, sendo homem-mulher ou não, é aceito.
Do cinema e da cultura norte-americana, importamos um leve levantar da aba do chapéu, para saudarmos outra pessoa. Chapéu é coisa rara hoje em dia, mas o gesto ainda não desapareceu, nem seu significado.
Entre surfistas, as últimas décadas popularizaram o gesto de mostrar os dedos polegar e mínimo, curvando os demais, com a mão apresentada à altura do peito e de costas para a pessoa cumprimentada. Sinal de familiaridade, identificação de costumes e valores. Fala-se que nasceu entre surfistas havaianos. Ganhou o mundo.
O cinema e a música também ajudaram a popularizar, a partir dos guetos nova-iorquinos, uma sequência de gestuais com braços e mãos, que se tocam em punhos cerrados, entrelaçam-se, enaltecendo irmandade étnica e ideológica.
Há saudações milenares que não desaparecem, puxadas pela força religiosa. "Salamu Alaikum" ("que a paz esteja sobre você") é uma expressão islâmica; "paz do Senhor", popularizada entre evangélicos.
Que lindo dia para lhe desejar "bom-dia".
Crônica de bom dia feliz.
Linda, aliás.
carlos, sao essas leituras atraves de suas palavras com tom de zelo, prudencia, respeito e cortesia q nem mais se utiliza usual e cotidianamente, q enriquece, alimenta e torna-nos assiduos(as) ao seu blog e às suas verdades. minha admiração renovada.