• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
sábado - 25/04/2009 - 19:36h

Soprando das trevas

"O que me incomoda não é o grito dos maus e sim o silêncio dos bons” (Martin Luther King)

Quando Bob Dylan, em 1963, fez a música “Blowin in the Wind”, com tantas perguntas profundas, acredito que ele esperava obter as respostas antes de morrer. Mas, não foi isso que aconteceu. Pois, até hoje, essas perguntas pairam pelo vento e continuam a nos incomodar.

“Sim e quantos ouvidos precisará um homem ter até que ele possa ouvir o povo chorar? Sim e quantas mortes custará até que ele saiba que gente demais já morreu?”.

Pois é, gente demais já morreu e continua morrendo, vítima do descaso com a saúde da nossa população.  Alguém tem idéia do que acontecerá se uma jovem senhora, de 42 anos, for vítima de um acidente vascular encefálico (AVC) e, por acaso, der entrada no pronto socorro de um hospital público do nosso país?

Não?!

Pois vou dar uma dica: essa jovem senhora será admitida no pronto socorro, onde será solicitada uma TC de crânio, que poderá ou não ser feita, dependendo do funcionamento do aparelho; depois, essa paciente ficará no corredor, esperando que um médico venha lhe atender; após seis longas horas de espera devido o médico encontrar-se sozinho atendendo ao pronto socorro (já que os seus companheiros de plantão, depois de quatro meses sem receberem os seus salários – e não suportando mais as péssimas condições de trabalho -, resolvem pedir demissão, abandonando o serviço público), enfim, a paciente será internada.

O internamento, que deveria ser feito em uma unidade de tratamento intensivo (UTI), continuará a mantê-la no corredor do hospital: sozinha e abandonada à própria sorte, pois o único médico de plantão terá que voltar para atender os novos casos que continuam a chegar ao setor de urgência, tanto do interior e, principalmente, da capital.

A paciente só receberá visita médica, no dia seguinte, pois o médico responsável pelo seu acompanhamento terá que atender 60 pacientes (isto mesmo: sessenta pacientes, com a mesma gravidade da jovem senhora); o médico fará a prescrição da paciente e vendo que ela não vai melhorar, procurará desesperadamente uma nova vaga na UTI, mas não haverá vagas nesse setor: a paciente continuará abandonada, no corredor, à própria sorte; a família, já não tendo a quem mais recorrer, ficará rezando, implorando a Deus, que Ele seja misericordioso com a jovem senhora.

No entanto, nesse hospital, há muito já mataram Deus e se Deus não existe, como dizia Dostoievsky, tudo será permitido; e se permitirá que a paciente fique mais 24 horas no corredor, sem atendimento, pois não há médicos suficientes para atender todos os casos: os dos corredores e os que teimam ainda em chegar ao pronto socorro. Enfim, a paciente morrerá. E será dada, no atestado de óbito, a causa de AVC, sem colocar o real motivo do seu falecimento: “DESCASO DO PODER PÚBLICO COM A VIDA DO SER HUMANO”.

E a música de Bob Dylan continuará a soprar ao vento, nos perguntando: “Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça e fingir que ele simplesmente não ver?”.  Até quando fingiremos que estas coisas não estão acontecendo, no nosso país, e que isto é apenas uma descrição da literatura chamada “realismo fantástico”?

Meu Deus!

Nada dói mais do que as palavras não ditas. Portanto, nada é pior do que o silêncio daqueles que sabem que isto acontece e tentam empurrar para debaixo do tapete essa sujeira hedionda proveniente da mediocridade humana.A verdade é que a indiferença está nos matando!

E era por isso que Mário Quintana dizia: “O que mata um jardim não é mesmo alguma ausência, nem o abandono… O que mata um jardim é esse olhar vazio de quem por eles passa indiferente…”.  

E diferentemente de Cristo – que na cruz, implorava: “Pai! Perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem!” –, eu digo: “Pai! Eles sabem sim o que estão fazendo e o que é pior: não estão nem aí para resolver esta situação!”.

Afinal, a farra das passagens aéreas, pagas com o nosso dinheiro, é muito mais importante… 

Francisco Edilson Leite Pinto Junior, professor, médico (Conselheiro do CRM) e escritor

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. marcia lima diz:

    carlos gostaria de saber ser os fucionario da gorvernadoura do gabineto dela ler a sua coluna. porque eu gostaria de saber ser ela estar saberno que estao colocano os fucionario DO MEIOS PRAFORA elas comenta que a prefeita nao a ceitar ficar com os funcionarios do MEIOS por que vai ser mucirp/ pelar prefeitura de mossoro. tragar estar resposta pra essa pessa solfridas a 20 anos mae de familhas somos porbre ou a sina ou chamas as pesso pra ir pra justicia carlos eu nao sei o que vai ser dermi 3 filho ser pai pelo amor de deus procuri resposta pra mim{isso foi uma amiga minha que escreu pra mim]

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