Por Marcos Ferreira
Imagino que alguém (talvez muita gente) afirmará que virei a casaca, que me vendi, bandeei-me para o lado do governismo municipal, ao topar com esta crônica com traços de cordialidade e brandura. Não tem problema. Não devo satisfações a seu fulano, a beltrano nem a cicrano. Sou dono do meu pensamento e da minha escrita. Hoje, à falta de outra coisa, o tema é este, a política partidária. O protagonista, obviamente, é o prefeito do País de Mossoró, o senhor Allyson Bezerra.
Que chovam canivetes, então, sobre a cabeça deste escriba obscuro. Às vezes é bom darmos um tempo na poeticidade e na prosopopeia do imaginário e pisarmos no campo minado dos homens públicos. Entenda-se Executivo e Legislativo destes confins do mundo. Câmara e Palácio da Resistência, historicamente falando, são um tipo sofisticado de casas de tolerância. Adentro, pois, num assunto cheio de experts nesse métier, de analistas de alto coturno que se debruçam em cima da política e da politicagem; expressam seus consideráveis e abalizados pareceres.
Advirto, por oportuno, que meu nome não está em nenhum polo cultural entre esses que são divulgados à larga. Não possuo prestígio ou afinidade com o “menino pobrezinho”, contra quem, enquanto pessoa, não tenho nada. Até poderíamos tomar um café qualquer dia neste meu refúgio da Euclides Deocleciano. Digo ainda que não tenho filha, filho ou esposa na folha de pagamento da Prefeitura ocupando cargo comissionado. Ou seja, não estou com o rabo preso. Isso significa (está bem claro!) que não manifesto queixas à toa, nenhum malquerer contra o palaciano.
Falemos, sem bajulice, acerca do senhor Bezerra, verdadeiro prodígio do Olimpo da popularidade e das urnas mossoroenses. Trata-se de um prefeito, digamos, inoxidável do ponto de vista semântico, uma espécie de Odorico Paraguaçu redivivo e remoçado que caiu nas graças do povo desta província desde que se lançou a deputado estadual (com êxito) e de lá para cá o homem só faz sucesso.
Existem as mancadas e os tropeços de caráter administrativo. Parte da imprensa vive a pisar nos calos de Bezerra; fala-se em malversação do erário, mas isso é fichinha e sai na urina, como se diz. O que conta é o curral de votos em que se converteu a Estação das Artes Elizeu Ventania. Contratações de artistas com cachês astronômicos no recente Mossoró Cidade Junina foi uma tacada de mestre. O povo ainda está em êxtase, gozou, usufruiu da rara oportunidade de ver de perto “ídolos” de projeção nacional e até internacional. Allyson Bezerra arrebentou no São João.
Também é correto que se diga que Bezerra não se limita às festanças e ao foguetório. Não. O imberbe gestor não vive apenas com a bunda na cadeira, trancado em seu gabinete. É preciso que sejamos justos com esse sobrevivente; um jovem de origem humilde que veio de um sítio ou comunidade de nome Chafariz e assumiu o topo da política da terra de Santa Luzia. Desbancou uma concorrente tarimbada, reverteu provocações e o desdém da histórica oligarquia dos Rosados.
Ouso estipular que Bezerra é o político com maior quilometragem neste chão. Está em toda parte, faz corpo a corpo com os seus eleitores, com o povo de um modo geral. Transformou Mossoró num canteiro de obras, conforme se alardeia e se divulga nas propagandas exibidas na televisão. A capital da cultura do faz de conta segue exportando matéria-prima para os estúdios de Hollywood.
O senhor Bezerra vai longe. Não possui predador, nenhum oponente do seu tope na corrida das próximas eleições municipais. A oposição está em polvorosa; bate cabeça. As pesquisas vão confirmando, ratificando o vínculo de amor e paixão do povo com o senhor Bezerra. Todos os adversários (há exceções) se uniram e se formou uma aliança de última hora para disputar a Prefeitura, no entanto os prognósticos dos possíveis votos que se obterá dessa aliança apontam números quase invisíveis a olho nu. Os caciques e estrategistas oligárquicos já jogaram a toalha.
Com o seu chapeuzinho de couro e um sorriso de populista nato, Bezerra põe seus opositores no bolso. Quando o povo quer, e o “menino” é queridíssimo pela grande massa, não tem remédio. Eis, repito, um prefeito inoxidável. Será reeleito com esmagadora vantagem. Só não enxerga isso quem se recusa a enxergar. E nem precisará, ao contrário do candidato Donald Trump, de um tiro na orelha.
Marcos Ferreira é escritor