domingo - 04/09/2022 - 20:22h
Série C

ABC empata com Vitória no Barradão e é líder

ABC e Vitória (BA) empataram em 0 a 0 neste domingo (4), na Série C do Brasileirão 2022, Grupo C. O jogo foi no Estádio Barradão em Salvador, para mais de 25 mil torcedores.

O jogo foi muito truncado, com grande quantidade de passes errados e poucas chances reais de gol de lado a lado. O time natalense até esteve mais perto de vencer o jogo, pelas chances que criou.

Com o resultado, o Vitória chegou aos 4 pontos e segue na 3ª colocação do Grupo 2, três pontos abaixo do ABC, que reassumiu a liderança com 7 pontos, sendo o único invicto na chave. Já o Figueirense, que venceu o Paysandu no sábado por 2 a 1, ocupa a vice-liderança, com 6 pontos. O Paysandu é o lanterna, ainda sem pontuar após três jogos.

O ABC volta a enfrentar o Vitória no próximo sábado (10), às 17h, no Estádio Frasqueirão, em Natal. Será a 4ª rodada do quadrangular final da Série C do Brasileiro.

Veja AQUI a tabela de classificação da Série C.

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domingo - 04/09/2022 - 19:20h
Futebol

América vence por 2 x 0 e está próximo de final da Série D

O América de Natal venceu o São Bernardo (SP) por 2 x 0 neste domingo (4) na Arena das Dunas, pela Série D. Pelo que jogou, principalmente no segundo tempo, poderia ter feito placar ainda maior.

Com o resultado, o time alvirrubro fará jogo de volta com boa vantagem.  O São Bernardo vai precisar ganhar por três gols no tempo regulamentar para se classificar de forma direta, ou por dois gols para levar a decisão da vaga para os pênaltis.

Com mais de 26 mil torcedores na Arena das Dunas, o América fez os dois gols na etapa complementar, numa partida bastante difícil contra a melhor defesa da competição.

Jean Pierre e Iago fizeram os gols do alvirrubro, sendo o último já na prorrogação.

O confronto de volta será no próximo sábado (10), no Estádio 1º de Maio em São Bernardo, às 16h.

Importante lembrar, que América e São Bernardo já estão classificados para a Série C do próximo ano, da mesma forma que os outros dois semifinalistas da Série D 2022 – Pouso Alegre (MG) e Amazonas (AM).

Pouse Alegre venceu o Amazonas em casa por 1 a 0 no dia passado. No próximo domingo (11), os times se enfrentam às 16 horas, no Estádio Carlos Zamith, em Manaus.

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domingo - 04/09/2022 - 12:34h

Maranhão – Capítulo IV

Por Inácio Augusto de Almeida

Juan Lopez tinha o costume de passar as suas horas livres no tombadilho do Regina. O barulho das ondas a baterem no casco do navio de Alonso de Ojeda. E aquele marulhar era, para Lopez, como uma canção de ninar. Fitando as estrelas da noite clara daquele luar de agosto, recordava-se da sua Espanha querida.

Foto ilustrativa (Web)

Foto ilustrativa (Web)

“Carmem, Carmem. Com quem estará Carmem dormindo esta noite?”

No céu mais do que estrelado daquele verão no Atlântico Sul surgiu como por encanto uma pequena luz. A princípio, Juan Lopez não fez muito caso daquele brilho. Acostumado a navegar por todos os oceanos do planeta, já vira de tudo. Numa ressaca braba, saindo de um porto que o porre fez com que esquecesse o nome, viu uma sereia que subiu a amurada deste mesmo Regina para lhe convidar a um mergulho. Só não afundou com aquela coisa linda porque já tinha ouvido falar de Ulisses. Estava bêbado, sim, mas não era doido. Nem doido, nem besta.

Juan Lopez riu ao se lembrar da sereia. E lembrou-se também da Greta. Greta, a mais envolvente de todas as mulheres de cais do porto.

Mas a luz se tornava cada vez mais forte. O que antes parecia uma moeda de dobrão, agora já se mostrava do tamanho da lua. E com mais brilho, mesmo sendo uma noite de fase cheia.

Quando observou que aquela luz começava a se movimentar com uma velocidade estonteante, fazendo movimentos curvilíneos, deu um salto e, de pé, tentando se equilibrar ao balanço do navio, passou a gritar feito um desesperado. Alguns marujos que acorreram ainda conseguiram ver alguma coisa diferente no céu. Mas a grande maioria nada viu. E para o comandante Alonso de Ojeda, aquela gritaria toda não tinha passado de mais uma presepada do Lopez.

–  Quatro dias a ferro, para não assustar a marujada. E outra desta eu te deixo no primeiro chão de terra que avistar.

Mesmo já estando quase que acostumado à solitária, Lopez sentia muita revolta. Ele tinha visto a luz, não inventara nada. Outros também tinham visto, mas por covardia, calavam-se. No fundo do seu coração crescia um sentimento enorme de revolta, de vontade de tudo e de nada.

A luz do sol doía-lhe os olhos. Levou algum tempo até voltar a se acostumar com a claridade. Só então se deu conta de que o Regina já não navegava em mar aberto. Com as velas arriadas, lentamente se aproximava de uma praia de ondas tranquilas e de águas límpidas, transparentes. Nas brancas areias, dunas cobertas de uma vegetação rasteira, nenhuma presença de animais ou de selvagens.

– Arriar bote, gritou Alonso.

– Quantos homens mando no bote?

– Mande cinco, Júlio.

E cinco homens foram mandados à terra. E só quatro homens voltaram.

ACOMPANHE

Leia tambémMaranhão – Capítulo I;

Leia tambémMaranhão – Capítulo II;

Leia também: Maranhão – Capítulo III.

Inácio Augusto de Almeida é Boêmio/Sonhador

(Continua no próximo domingo)

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Categoria(s): Conto/Romance
domingo - 04/09/2022 - 11:42h

Pesquisa & eleições

Por Ney Lopes

Em toda a minha militância política, a divulgação de pesquisa na eleição foi sempre momento de tormento. Tema complexo é a regulamentação legal das pesquisas nas democracias.

Qualquer ponderação corre o risco de ser rotulada como lesão ao princípio da livre expressão do pensamentoRessalvo, que há institutos e empresas idôneas. Porém, os inocentes pagam pelos pecadores. Pesquisa, votar, voto, eleições, votação, pesquisador

No Brasil, a lei eleitoral exige das empresas que realizam pesquisas de opinião pública, o registro junto à justiça eleitoral,  com informações relativas à metodologia, período de realização da consulta, plano das amostras, sistema usado para controle, verificação e questionário aplicado.

A controvérsia gira em torno da indagação: as pesquisas influem ou não no voto popular?

Não hesito em dizer que influem e muito.

Aplica-se pesquisa em várias áreas, com a finalidade de conhecer tendências específicas da sociedade.

Até aí, nenhuma objeção.

Quando se trata de pesquisa eleitoral, a visão é outra.

O “momento eleitoral” tem características especiais e atípicas.

Por exemplo: a rigor caracteriza restrição à liberdade de imprensa proibir que os meios de comunicação, durante a eleição, divulguem e promovam determinado candidato.

Todavia, a lei proíbe tal divulgação, com base no princípio de que nenhum direito ou garantia constitucional pode ser exercido, em detrimento da ordem pública, ou em desrespeito aos direitos e garantias de terceiros.

A pesquisa eleitoral deve ser analisada sob esta mesma perspectiva legal.

Se existem institutos idôneos – e ninguém nega tal constatação –, de outro lado prospera a “indústria da pesquisa”, como instrumento de disseminação de dúvidas e alavancagem de candidaturas, sob encomenda.

Na cultura nacional, prevalece à regra do eleitor não apoiar candidato fraco para “não perder” o voto.

Na hipótese de prevalecerem manipulações e o candidato estatisticamente ser colocado em posição inferiorizada, dificilmente haverá crescimento eleitoral.

Prejuízo irreparável!

Na atual eleição do RN existem pesquisas para todos os gostos.

Por experiência conheço os institutos locais e reservadamente dou o peso de credibilidade apenas aqueles que merecem. Muitos políticos já foram iludidos por alguns deles e outros podem estar sendo.

Em 2004, como candidato a prefeito de Natal, senti na pele as “chantagens” de certas pesquisas. Cheguei a ser abordado para “contratar” uma empresa, que dizia ter constatado índices maiores favoráveis ao meu nome. Mas, como havia no “mercado” acordo de não mudar o quadro, seria necessária “negociação especial ($$) ”. Não aceitei.

Em consequência, até deputado “correligionário no meu partido” apoiou publicamente o adversário, alegando não haver crescimento da minha candidatura. E não poderia haver…

Atualmente, as pesquisas são verdadeiros festivais de “danças”, alternando voltas e contravoltas, com quedas e “subidas inexplicáveis”. A posição de liderança da governadora Fátima Bezerra é a mais estável. Mas, já começam a preparar o terreno para súbita ascensão do senador Styvenson Valentim.

Para o senado, o ex-prefeito Carlos Eduardo mantem-se na liderança. Porém, sofre o impacto da candidatura de Rafael Motta, até agora inexplicável, considerando dizer-se lulista, embora tenha “decapitado” Dilma Rousseff, votando a favor do impeachment da petista.

Rafael está sendo bolsonarista, na medida em que abertamente ajuda o candidato Rogério Marinho, cujo único espaço para crescer será a divisão de votos entre ele e Carlos.

A identidade absoluta de Rogério com Bolsonaro limita o seu crescimento, pois teria que atrair petistas, ou indecisos. Petistas, praticamente impossível. Quanto aos indecisos, por que não há sinais dessa tendência? Numa campanha radicalizada, o bloco do presidente já se definiu. A esperança de Rogério é Rafael.

Há outro elemento “oculto” que é a indignação popular, só percebida na urna. Por isto, tinha razão Ananias, zagueiro do Santa Cruz de Recife, quando dizia: “prognóstico, eu só dou depois do jogo”. É o caso de afirmar: “pesquisa verdadeira, só depois da eleição”.

Ney Lopes é jornalista, advogado e ex-deputado federal

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domingo - 04/09/2022 - 10:50h
Band RN

Debate entre candidatos ao Senado explora contradições

A Band RN promoveu nessa sexta-feira (2), ao meio-dia, debate com candidatos ao Senado da República no estado.

Participaram do programa, mediado pela jornalista Anna Ruth Dantas, os candidatos Carlos Eduardo Alves (PDT), Rogério Marinho (PL), Rafael Motta (PSB), Geraldo Pinho (Podemos) e Freitas Júnior (Psol).

Veja a íntegra do debate no vídeo desta postagem.

Uma excelente oportunidade para conhecer melhor o conteúdo, capacidade de argumentação e posicionamentos dos políticos hoje e, no passado.

Desempenho dos principais candidatos revelou que a principal aposta, de cada um, foi apontar contradições em discursos e história de contendores.

Acompanhe. Vale a pena.

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domingo - 04/09/2022 - 10:10h
Bastidores

Autran Dourado resgata em livro histórias de Juscelino Kubitschek

Escritor mineiro conta nuances impagáveis do presidente que virou a chave do país à nova era

Por Euler de França Belém

Juscelino tem aspectos de sua vida, na presidência, narrados por quem viveu o dia a dia Foto: Reprodução)

Juscelino tem aspectos de sua vida, na presidência, narrados por quem viveu o dia a dia (Foto: Reprodução)

Juscelino Kubitschek (1902-1976), eleito presidente da República com 36% dos votos (a maioria, 64%, votou contra sua candidatura), deixou o governo consagrado. Na sua gestão, o país cresceu, em média, 7%. Seus adversários — os que avaliam que a função do governo é cortar gastos, não investir — criticavam, com acidez, a inflação de 30% ao ano e o endividamento externo (a dívida saltou de 1,9 bilhão para 3,1 bilhões de dólares). “Não houve crescimento [da dívida] tão grande como se alardeou”, assinala o coronel Affonso Heliodoro dos Santos, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Brasília.

O JK dos dados está devidamente documentado, o que falta, mesmo, é ressaltar os traços do indivíduo que, articulada e rapidamente, se tornou estadista — embora não fosse, e embora quisesse ser, um Winston Churchill (na verdade, era tão malicioso quanto Franklin D. Roosevelt). Os livros de história, necessariamente sisudos, não dão conta do homem-personagem. Daí que as memórias, que podem destacar o indivíduo do meio da massa, possibilitam conhecer Juscelino, ou, pelo menos, facetas desse personagem que, se nos lembra o homem comum, era, na verdade, mais complexo do que nos garante a vã historiografia.

Daí a relevância de trabalhos como os de Josué Montello e, mais recentemente, o do escritor mineiro Autran Dourado. “Gaiola Aberta — Tempos de JK e Schmidt” (Rocco, 228 páginas), de Autran Dourado, é magnífico e, naturalmente, polêmico (o jornalista Mauro Santayana o atacou duramente). O resgate do poeta Augusto Frederico Schmidt vale o livro. Lendo Autran Dourado estamos bem próximos do homem Juscelino. O filé do livro é isto: a redescoberta do ser humano de carne e ossos (e sex appeal?).

Autran Dourado foi secretário de Imprensa de Juscelino durante oito anos, em Minas Gerais (JK governador) e Rio de Janeiro (JK presidente). É óbvio que o escritor-auxiliar sabe mais do que contou. Por discrição, ou não se sabe o quê, optou por calar-se. No entanto, há insinuações mais maliciosas do que maldosas.

O livro de Autran: JK no centro (Foto: reprodução)

O livro de Autran: JK no centro (Foto: Reprodução)

Certa vez, Schmidt, sempre espirituoso, disse a Autran Dourado: “Administrar e governar um país é uma coisa muito secundária”. O escritor mineiro riu e disse: “Muitíssimo”. Irritado, JK perguntou de que estavam rindo. Schmidt mentiu: “De uma história do poeta e anjo Jaime Ovale”. O presidente, não muito culto, sugeriu que Ovale fosse convidado para visitar o Palácio das Laranjeiras. Schmidt explicou que era impossível: “Ele morreu antes de você tomar posse”.

Íntimo de JK, Autran despachava com o presidente até em locais poucos ortodoxos. “A minha intimidade com JK ia a tal ponto que chegava mesmo ao ridículo de eu despachar com ele no banheiro, o que não me agradava muito. Me incomodava sobretudo ele ficar se ensaboando na banheira.” Mas, esclarece rápido Autran, “não havia nele o mais longínquo traço de homossexualismo. Uma vez, como ele mergulhasse o corpo na banheira, me deu uma aflição enorme, cuidando que ele ia estragar o relógio de ouro que tinha no pulso. Não resisti e disse ‘o relógio’! ‘Você é mesmo um capiau do sul de Minas, este relógio é à prova d’água’, disse ele. É a última novidade. JK sempre foi muito progressista e novidadeiro”.

Há um debate interminável sobre a retidão de JK: roubou ou não roubou? Não morreu rico, pelo menos (o presidente-general Ernesto Geisel disse que a investigação procedida pelos militares não provou nada contra o político de Diamantina). Como não poderia deixar de ser, JK fez seu tráfico de influência, mas, como Getúlio Vargas, se não roubava, deixava roubar (ou roubavam sem que ele soubesse ou pudesse impedir).

Autran Dourado é econômico nessa questão, mas conta uma história curiosa: “Eu estava no Palácio do Catete quando me chegou às mãos um papel da maior importância, um desses assuntos perigosos e inadiáveis, relativo a uma negociata em andamento, de um aparentado do Juscelino, que as más-línguas diziam ser sócio dele, não sei se verdade ou não. A fim de que a bomba não estourasse na minha mão, resolvi ir ao Palácio das Laranjeiras, residência presidencial”.

Enfurecido, JK jogou os papéis no chão. Esperou que Autran Dourado se abaixasse para pegá-los, mas o escritor continuou em pé. Então, JK abaixou-se, colheu os documentos e perguntou ao auxiliar o que deveria ser feito. “Eu disse como seria a melhor maneira de ser detida a negociata, e sobretudo que não aparecesse o nome do seu aparentado. Ele releu, e ficou algum tempo de cara amarrada, sem dizer nada; acabou concordando comigo. Ao nos despedirmos, disse ‘não fale disso a ninguém. Muito obrigado’.”

Oscar Niemeyer, arquiteto , e Juscelino Kubitschek: dois dos “construtores” de Brasília (Foto: reprodução)

Oscar Niemeyer, arquiteto , e Juscelino Kubitschek: dois dos “construtores” de Brasília (Foto: Reprodução)

Como qualquer pessoa normal, JK não gostava de portadores de mensagens ruins, mas, diferentemente dos imbecis, sabia examiná-las com isenção. “A serviço del-Rei, prudência; el-Rei de perto queima, de longe esfria”, a frase do padre Antônio Vieira era uma espécie de mantra para Autran.

Josué de Castro era um condestável para o meio intelectual, devido, sobretudo, ao seu livro “Geografia da Fome”. O livro de Autran Dourado deixa a imagem de Josué de Castro um tanto arranhada, até porque o trecho é pouco esclarecedor. Josué de Castro, deputado pelo PTB, “disse ao presidente que Jango estava de acordo com sua nomeação para ministro da Agricultura”. JK mandou o secretário de Imprensa encaminhar o ato para publicação. “Não sei que inspiração maldita me assaltou o espírito, que resolvi guardar o ato na minha gaveta e esperar para ver”, conta.

“No dia seguinte os jornais publicaram a notícia e a foto. Juscelino mandou me chamar. Quando me viu, perguntou ‘o que você fez com o ato de nomeação do Josué’. O coração em pânico, disse guardei-o, ou mandei-o para o Sette (Câmara), não me lembro. Juscelino ergueu os braços e disse ‘bendita inspiração! O Jango esteve aqui e me disse não concordar com a nomeação’”. Autran Dourado não diz se Josué mentiu ou se João Goulart recuou.

A história julga com muito rigor os governantes que só se preocupam em conter despesas e em acatar as ordens dos organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse sentido, melhor do que Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek negociavam com mais perspicácia. Cumpriam pouco do que estava prescrito nos acordos. Autran Dourado acredita que JK, por ser “ingênuo”, achava que poderia iludir o FMI. No Ministério da Fazenda, JK colocou um ministro rigoroso, Lucas Lopes (pai de Chico Lopes, o que esteve no Banco Central), mas não atendia seus rogos de cortar os gastos públicos. “JK era um homem imaturo. Mas, sem os homens imaturos que têm um grande sonho, o que seria do mundo?”

Jânio enganou JK

Não há político bobo — há, isto sim e às vezes, político inculto. Mesmo os incultos aplicam rasteiras nos intelectuais e jornalistas. Um auxiliar de Juscelino, Geraldo Carneiro, julgando-se muito esperto, caiu na lábia de Jânio Quadros.

João Goulart, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek: histórias que vem à tona (Foto: Reprodução)

João Goulart, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek: histórias que vem à tona (Foto: Reprodução)

Se dizendo depressivo por causa da morte do pai, a barba por fazer, Jânio Quadros dizia a Geraldo Carneiro: “Vou renunciar ao governo de São Paulo. Diga ao presidente que não tenho recursos e vou precisar de um emprego”. Geraldo contou a história a JK, que apresentou uma solução: “Vai haver em Paris uma reunião da Unesco. O Jânio se licencia do governo de São Paulo e eu o nomeio delegado do Brasil. Ele vai ganhar uns 10 mil dólares e descansar e beber em Paris. Quando voltar, estará outro. Calmo, reassumirá, e se chegará mais a mim”.

Habilidoso, Jânio Quadros exigiu uma carta de JK nomeando-o para a “missão”. No fim, por recomendação de Autran Dourado, JK mandou apenas um telegrama. “Três dias depois Jânio reuniu a imprensa e leu o telegrama. ‘Infelizmente não posso no momento abandonar o povo de São Paulo’, disse ele. ‘Não aceitarei o convite do presidente’. Quando eu entrei no gabinete de JK, ao contrário do que esperava, ele estava sorridente. Perguntei se ele havia lido o jornal de São Paulo que eu lhe enviara. Ele disse que sim, mais uma vez aprendera que em política qualquer moleque pode lhe passar a perna”. JK, como diz Autran Dourado, foi ludibriado como um patinho, por confiar no auxiliar.

Se Jânio Quadros era maneiroso, João “Jango” Goulart, pelo contrário, era “pouco” inteligente. “Jango era sabidamente muito ignorante. Eu guardava comigo uns bilhetes que ele escrevia ao presidente, sempre pedindo alguma coisa para os seus pelegos. A fim de não cair em erro de regência, ele os escrevia à maneira de mensagem telegráfica. Que esperto, o mocorongo, disse San Thiago [Dantas]. O que não impede de ser de uma ignorância comovedora. E se dobrou de rir. Quando viu o que tinha dito, recolheu o riso.”

Com uma viagem de JK para Portugal, Jango assumiu, e, conversando com Augusto Frederico Schmidt e Autran Dourado, disse que a Europa era muito velha, não tinha nada de interesse maior. “Que o Brasil, sim, era o país do futuro. O Schmidt, embora eu lhe segurasse o braço, se levantou e disse ‘um homem da sua posição, pelo seu cargo, não tem o direito de dizer uma bobagem dessas’. E se levantou, dizendo baixinho para mim: ‘Diga ao Juscelino que foi um gesto impensado, volto mais tarde para explicar’”.

O John Kennedy dos Trópicos

Juscelino, conclui Autran Dourado, amava mesmo as pessoas humildes, que também o adoravam. Tanto que era favorito para as eleições de 1965. JK só pensava nelas (eleições e, vale acrescentar, mulheres).

Juscelino era uma espécie de Kennedy patropi. Como Kennedy, adorava as mulheres, o poder, divulgar o que fazia. Ao contrário de Kennedy, não era bonito, mas sua simpatia abundante virava beleza depois de alguns minutos de conversa, pelo menos para as mulheres, que o achavam irresistível. Mas talvez JK fosse mais parecido, do ponto de vista político, com outro norte-americano, Franklin D. Roosevelt. JK, como Roosevelt, avaliava que o Estado devia, sim, financiar o desenvolvimento.

No final do livro, Autran Dourado diz: “Não conseguira entender bem o homem Juscelino, tão contraditório, que havia atrás do mito que eu ajudara a criar”.

Resgate de Augusto Frederico Schmidt

Nos governos há “personagens” que, mesmo decisivos, não são captados pelos historiadores, sempre em busca dos grandes homens, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. A história esquece quem não está na proa. Ao recuperar a figura de Augusto Frederico Schmidt — visto em outras memórias tão-somente como lobista ou autor de frases grandiloquentes postas na boca de Juscelino Kubitschek —, Autran Dourado praticamente justifica o livro.

As relações de Autran Dourado e Schmidt eram boas, mas às vezes tensas. “Se eu fosse você, não teria junto de mim um escritor com uma capacidade de observação como a dele, como demonstra nesse livro. E sabendo o que ele deve saber de você”, disse Schmidt a Juscelino.

Autran Dourado demorou a escrever as memórias, e só o fez instado pelo escritor e crítico literário Silviano Santiago. A rigor, com o livro, não prejudica, em nada, a imagem do mineiro JK. Deixa o mais nuançado, digamos.

Schmidt é visto amorosa e criticamente por Autran Dourado. “O Schmidt seria um belo exemplo de homem político que nunca exerceu cargo público, exceto sua missão à ONU, mas influenciou bastante o governo de JK. Ele só se prejudicava por ser um homem extremamente vaidoso e de apetite às vezes desmedido. Era o ghost-writer (escritor fantasma, numa tradução literal) de JK, que a ele confiava os discursos realmente importantes, nos quais desejava dizer alguma coisa.

O presidente não carecia de dizer o que queria, o poeta era de um faro e de uma visão impressionante sobre o Brasil. Depois de escrito o discurso, JK dizia ‘é incrível, Schmidt, era isso mesmo que eu queria dizer!’ Eu ria escondido”, escreve Autran Dourado. (Hoje, em vez de ir adiante do que pensa o governante, os auxiliares costumam ficar aquém. Preferem preservar os empregos a dizer uma verdade inadiável ao chefe.)

Se há exageros nos elogios a Schmidt, pelo menos Autran Dourado dimensiona uma voz que estava silente. “O poeta foi muito injustiçado, e boa parte dessa injustiça se deve ao fato de ter sido ele rico, intelectual, muito inteligente e de grande visão [era amigo de Valéry Larbaud]. É preciso que se diga, e disso dou testemunho: metade da grandeza do governo de JK se deve a ele, e eu lhe faço agora justiça. Em geral os políticos brasileiros gostam de aves de voos rasteiros, das rolinhas por exemplo, tão à maneira de seus espíritos acanhados. Para mim, uma das virtudes de JK foi ter sabido escolher o Schmidt e saber usá-lo. Mas JK no fundo tinha inveja da grandeza, brilho e capacidade dele.”

Juscelino Kubitschek, Autran Dourado (ao centro, escondido) e Augusto Frederico Schmidt com bastidores do poder (Foto: Reprodução)

Juscelino Kubitschek, Autran Dourado (ao centro, escondido) e Augusto Frederico Schmidt (Foto: Reprodução)

Um fato irritava JK: Schmidt escrevia seus discursos e não guardava segredo da autoria. “Outro defeito de Schmidt era introduzir nos discursos interesses seus de natureza não muito canônica.” Num discurso, Schmidt introduziu ideias para favorecer a Orquima, empresa que presidia (na verdade, a empresa era dirigida por Kurt Weill. Delicado, Autran Dourado diz que Schmidt era “uma espécie de relações públicas”, sinônimo de lobista). Para evitar contratempos, o secretário de Imprensa podava trechos e insistia para JK ler os discursos antecipadamente. JK não lia e ainda dizia para Autran: “Vá pentear macaco”. JK não tinha paciência para ler textos extensos e, mesmo, curtos. Registre-se que Schmidt ficava irritado com os cortes.

O presidente Café Filho — aliado de militares e de Carlos Lacerda (que dizia: “Juscelino não será candidato, se for candidato não será eleito, se for eleito não tomará posse, se tomar posse não governará”) — mostrou a JK um manifesto dos militares que vetavam a sua candidatura.

Ao sair do gabinete de Café Filho, JK ligou para Schmidt, que desconfiava da coragem do pessedista. Autran Dourado confirmou que JK era corajoso. E sugeriu uma frase para o discurso que marcaria a posição de Juscelino a respeito do veto dos militares: “Deus poupou-me o sentimento do medo”. “É bonita e de muito efeito, disse Schmidt. Mas será que o nosso homem a dirá? Vamos ver, acho que sim, experimentemos, disse eu.” JK e o general Nelson de Melo encresparam-se com a frase. A mulher do general Nelson, Odete, foi chamada para “decidir”. Convencida por Schmidt de que Nelson seria o chefe da Casa Militar, Odete deu o “parecer”: “Pode dizer, numa hora como esta é preciso se mostrar homem. É o que se espera”.

Pronunciado o discurso, a frase ficou famosa. “JK parecia realmente convencido de que era muito corajoso”, ironiza Autran Dourado. Adiante, contemporiza: “O convívio veio me revelar, junto a um certo lado mesquinho, um Juscelino para mim desconhecido: corajoso, firme, decidido, generoso ao extremo, tendo mesmo a coragem de enfrentar o general Lott, que, já no governo e intramuros, com muito sentimento é verdade, ele chamava de o Condestável, cuja presença o incomodava, talvez por ver nele seu protetor e vigilante. Quando Lott teve de deixar o Ministério para se candidatar à Presidência, JK me disse todo alegre e eufórico: ‘até que enfim fiquei livre do Condestável’”.

Num de seus livros de memórias, Juscelino se diz o único criador da Operação Pan-Americana. Autran Dourado resgata a história do verdadeiro formulador — o poeta Schmidt, que tinha o hábito de receber os amigos pelado (“gordo, grande e peludo, o sexo à mostra”, anota o escritor).

Autran Dourado contou ao poeta que o vice-presidente dos Estados, Richard Nixon, foi recebido pelo povo em Caracas a pedradas, “depois de ser cuspido em Lima”. Schmidt perguntou: “O que o Juscelino pretende fazer? Ele me telefonou para que fosse providenciado um telegrama formal de solidariedade ao Eisenhower, disse eu”.

Inteligente, Schmidt percebeu a oportunidade de um gesto mais grandioso. “Nada disso, um telegrama é muito miúdo e provinciano. Juscelino não é mais simples mineiro, mas o chefe da nação, a quem compete dirigir a nossa política externa. Onde está o homem?”

Localizado JK, Schmidt disparou a metralhadora: “Chegou o momento de você crescer internacionalmente, afirmar-se como um grande estadista. Na carta que me proponho a escrever, você deve manifestar-se a sua convicção de que alguma coisa necessita ser feita para recompor a face da unidade continental, que foi duramente atingida. Dizer-lhe que você ainda não tem um plano minucioso, detalhado e objetivo, apenas umas ideias sobre o pan-americanismo, cujo destino o preocupa. Que poderá expor-lhe oportunamente o que pensa, se a ocasião se apresentar. Vou escrever uma carta memorável!”

Schmidt desligou o telefone e disse: “Tenho até o nome, Operação Pan-Americana”.

José Maria Alkmim perguntou quem havia escrito a carta, e JK, sem sequer corar, disse: “São umas ideias antigas que eu tinha sobre pan-americanismo, o Schmidt foi apenas a mão que escreveu”. Alkmim, língua de trapo, replicou: “Só a mão?” JK enfureceu-se: “Você está querendo insinuar, na presença deles (Sette Câmara e Autran), que eu sou um mentiroso!?”

Chanceler Foster Dulles foi recebido por Juscelino (Foto: Reprodução)

Chanceler Foster Dulles foi recebido por Juscelino (Foto: Reprodução)

O Departamento de Estado Norte-Americano espantou-se com a proposta de JK-Schmidt. O chanceler Foster Dulles veio ao Brasil e sugeriu que os investimentos maciços fossem apenas no país, não para os vizinhos. Schmidt disse “não” e Juscelino repetiu o “não” — queria apoio para toda a América Latina.

Depois da Operação Pan Americana (OPA), os Estados Unidos aumentaram os investimentos na América Latina, até em empresas estatais, como a Petrobrás. Schmidt acreditou que, até por gratidão, seria nomeado ministro das Relações Exteriores.

Mas JK vetou. E explicou o “motivo” para Autran Dourado: “‘O Schmidt está certo de que será o ministro do Exterior. Eu mesmo um dia tive a leviandade de chamá-lo de ministro. Procure o homem e lhe diga que eu, por poderosas razões políticas, não tenho outro jeito senão nomear o San Thiago Dantas’, disse o presidente. Mas o senhor vai mesmo nomear o San Thiago? disse eu. Ele sorriu e disse ‘não’, é porque o Schmidt é inimigo do San Thiago e, à ideia da nomeação do San Thiago, ele abrirá mão de suas pretensões. Mas por que o Schmidt, com tantos títulos e serviços prestados, não pode ser ministro? disse eu”.

Autran Dourado diz que “JK demorou a responder, vi que ele se sentia envergonhado diante de mim”. Mas teve coragem de dizer: “Por vários motivos, principalmente porque ele é um homem muito inteligente e brilhante. Diga a ele que pode indicar quem quiser para ministro e que quem vai mandar na política externa do Brasil é ele. O outro será pro forma. Sugira alguém medíocre como o Negrão de Lima, que é quem na verdade me convém”.

Ao ser informado do veto, Schmidt chorou e disse: “O Juscelino é um canalha!” Depois, mais contido, arranjou uma explicação: “É, Autran, a política não é feita por homens de alma delicada como a nossa”. Autran Dourado diz que JK tinha inveja de Schmidt. “Se Schmidt tivesse ido para o Itamaraty, por seu jeito de ser, pelo seu grande talento, a grande figura da política externa brasileira seria ele e não o presidente. A OPA é realmente de quem a concebeu: de Augusto Frederico Schmidt”. Justiça, tardia, mas feita.

Um JK mulherengo

Juscelino Kubitschek era mulherengo, dos piores (ou melhores, dependendo da ótica). Cantava até as mulheres dos amigos, as que davam sopa, lógico. Amigos contam que algumas mulheres achavam JK charmosíssimo — não era raro ser cantado por mulheres do primeiro escalão da beleza.

A atriz Kim Novak ficou impressionada com a conversa e o charme daquele homem “feio”, mas jeitosíssimo com as mulheres. Segundo o biógrafo Claudio Bojunga, nada aconteceu entre eles. Não por falta de vontade de Kim Novak e, sobretudo, de JK. Mas não deu tempo.

A bela Kim Novak gostou do "feio" Juscelino Kubitschek (Foto: Reprodução)

A bela Kim Novak gostou do “feio” Juscelino Kubitschek (Foto: Reprodução)

Os casos de Juscelino eram muitos. O amor por Maria Lúcia Pedroso parece ter sido o mais intenso. “Maria Lúcia era linda, apesar da baixa estatura. Loiríssima, era parecida com a atriz Kim Novak”, conta João Pinheiro Neto, autor do sensacionalista “Juscelino — Uma História de Amor”.

Maria Lúcia, casada com o deputado José Pedroso, era ciumenta: “Ou você dissolve seu comitê feminino, ou nunca mais vai me ver”. JK não dissolveu, nem Maria Lúcia (Lucinha, segundo Autran Dourado) sumiu. Pinheiro Neto, fofoqueiro exemplar, garante que JK quis se casar com Maria Lúcia.

No seu “Gaiola Aberta”, Autran relata uma desavença com o marido de Maria Lúcia: “O deputado José Pedroso mandou me dizer que ia me dar um tiro na cara”. O coronel Nélio Cerqueira Gonçalves ofereceu um revólver para o escritor: “Eu agradeci a gentileza e disse ‘do José Pedroso eu só tenho medo de chifrada’. O Nélio riu, sabia o que eu queria dizer, no Palácio do Catete não era segredo”.

Sarah, a oficial, metia medo em JK, que a chamava, para os amigos, de “tigre” e “onça”. Certa vez, apaixonado, disse para seus auxiliares mais próximos: “Não volto mais para o Rio. Para a Sarah, jamais! Para a Presidência, não sei”. Dias depois, JK estava bem, sorrindo, “lampeiro”, como diz Autran Dourado.

Juscelino, segundo o bem informado Geraldo Carneiro, teve várias paixões, mas, “descabeladas”, só três.

Homem descuidado, Juscelino perdeu uma parte de seus diários, que foi encontrada por um chantagista. O escroque exigiu que JK o indicasse para diretor financeiro de uma empresa privada. JK conseguiu a nomeação.

Sarah Kubitschek, Maria Lúcia Pedro e Juscelino Kubitschek: poder e alcova (Foto: Reprodução)

Sarah Kubitschek, Maria Lúcia Pedro e Juscelino Kubitschek: poder e alcova (Foto: Reprodução)

O infarto do presidente 

Medo de político Autran Dourado não tinha, mas pelava de medo de Sarah Kubitschek. “Como Juscelino, como toda gente, eu tinha medo dela.” Chamado por Sarah, às 7h30, o secretário de Imprensa ficou arrepiado.

“Chamamos você aqui porque o Juscelino teve um infarto, disse ela. Queríamos saber a sua opinião, você que é o secretário de Imprensa. Todos aqui são favoráveis a que não se divulgue nada. A minha opinião, dona Sarah, é que se deve revelar o fato. De jeito nenhum, disse ela. Primeiro tem o Jango, vice-presidente, que é figura suspeita para os militares. Juscelino não pode demonstrar fraqueza.”

Os jornalistas desconfiaram e começaram a cobrar informações sobre a doença do presidente. Para enganá-los, Autran colocou o chapéu de JK e entrou num helicóptero. “A uma certa distância acenei para os jornalistas, como fazia JK.”

Em Belo Horizonte, Autran ligou para um jornalista, que falou do infarto. Resposta do secretário de Imprensa: “Infarto coisa nenhuma, você quer uma declaração dele? Redigi uma declaração de JK sobre um fato qualquer importante, li para o meu amigo, que informou ao Rio que o presidente estava bem e que tudo não passava de boato”.

Fina flor da intelectualidade

Talvez por ser “inculto” (ma non troppo), mas não bobo, Juscelino Kubitschek cercou-se da mais fina flor da intelectualidade de seu tempo. Cristiano Martins, tradutor da “Divina Comédia”, a obra-prima de Dante, de Goethe e Rilke, escrevia para JK. Suas muito bem escritas cartas nada diziam, conta Autran Dourado. O governante precisa de cartas desse estilo que, aparentando dizer muito, nada dizem.

Os poetas Alphonsus Guimaraens e Nilo Aparecida Pinto, além de Cristiano, cuidavam da correspondência. O diplomata Sette Câmara — competente, segundo Autran Dourado — era subchefe de gabinete. A tese de direito de Sette Câmara, “The Retification of International Treatise”, ganhou prefácio de Hans Kelsen.

Cyro dos Anjos, escritor, era da equipe de Juscelino Kubitschek (Foto: Reprodução)

Cyro dos Anjos, escritor, era da equipe de Juscelino Kubitschek (Foto: Reprodução)

O grande crítico literário Álvaro Lins (que começou bem e terminou mal) era o chefe da Casa Civil. O secretário de Lins era Francisco de Assis Barbosa (biógrafo de Lima Barreto). O subchefe do gabinete civil era o autor de “O Amanuense Belmiro”, Cyro dos Anjos, que contava com o apoio de Darcy Ribeiro (que, jovem, já era bem falastrão). O contista Murilo Rubião foi chefe de gabinete do JK governador de Minas.

“JK, que tinha mania de escritor, nunca teve nenhum problema de corrupção com qualquer dos seus escritores de estimação”, sustenta Autran Dourado.

Se adorava seus escritores, ou pelo menos fingia, JK não tolerava intelectuais, sobretudo os pedantes. Os do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), JK achava meio ridículos, mas tolerava. O Iseb tinha como membros notórios “o filósofo Roland Corbisier, de pensamento muito confuso, Hélio Jaguaribe e o diplomata Oscar Lourenzo Fernandes, que vinham tentando atuar no governo da República desde o segundo período de Getúlio Vargas, sem muito êxito, e que eram motivo de chacota”.

Embora inteligente e, politicamente, muito esperto, JK, na opinião de Autran Dourado, “tinha às vezes ideias que à primeira vista me pareciam brilhantes, mas ele não se detinha nelas, não as aprofundava. Assim como apareciam, iam embora como o vento. E surpreendentemente uma ideia insignificante o prendia de maneira estranha. Eu atribuo o fato ao seu entourage, de que ele gostava tanto, de algo grau de ignorância e mesmo cafajestismo”.

De novo, o autor de uma ideia “original” não foi JK, mas Augusto Frederico Schmidt. “Logo no início do governo JK, o Schmidt aconselhou-o a conviver com gente mais culta e inteligente. Cafajeste é para campanha, para carregar nos ombros, disse ele. Já tenho os meus escritores, que não me dão problemas, disse JK. Mas você não convive com eles, não os convida para almoçar e jantar, não lhe dá importância, disse o poeta. Eles são máquinas de trabalhar, mas de qualquer maneira dão nome ao seu governo. Quando chega a hora de jantar estão mortos de cansaço.”

JK disse para Schmidt sugerir um intelectual. Schmidt indicou Afonso Pena Júnior. “Aquela múmia ainda está viva? disse JK dando uma enorme gargalhada, no que foi seguido pelo entourage. Um grupo de intelectuais da altitude de Afonso Pena Júnior jamais faria coro de gargalhada a um dito que o presidente considerava brilhante ou inteligente.” É por isso que todo governante “precisa” ter, ao seu lado, gente que não pensa, mas que sabe seguir e adornar o poderoso. JK “não se sentia muito à vontade diante dos homens cultos ou eruditos”.

Certa vez, sentindo-se só, JK mandou chamar Autran Dourado. Depois de conversas miúdas, pediu sugestão sobre um bom estudo a respeito de políticos. O escritor indicou “Mirabeau ou o Político”, do filósofo espanhol José Ortega y Gasset. “Filósofo? disse ele franzindo o nariz.”

As relações de Juscelino com os donos de jornais e os jornalistas eram muito boas. Pompeu de Sousa, diretor do “Diário Carioca” (DC), procurou Autran Dourado e disse: “Depois de amanhã o jornal não sai mais. É que o Horácio [de Carvalho, dono do jornal] raspou o caixa, foi para Paris, não temos dinheiro para pagar o pessoal da redação e da oficina, e já estamos no dia 12”.

Autran Dourado contou a história a Juscelino, que disse: “O jornal não pode parar. Telefone para o Sebastião”. Sebastião Paes de Almeida, o empresário-presidente do Banco do Brasil. Paes de Almeida pediu que Autran Dourado levasse uma mala ao Copacabana Palace. “No outro dia, lá estava eu com a mala. Cumprimentei o Sebastião, que chamou alguém. Veio um jovem com outra mala, apanhou a minha, trocou-a pela dele, cheia de dinheiro. Meu coração batia descompassadamente.”

Machado de Assis 

No governo de Juscelino, a obra de Machado de Assis ainda não estava sob domínio público e, por isso, as edições “oficiais”, da Jackson Inc., eram muito descuidadas. Autran Dourado decidiu, então, pregar uma mentira. Disse ao amigo Marco Aurélio Matos que “o presidente estava interessadíssimo em desapropriar a obra do grande escritor ou declará-la de domínio público, só carecia de apoio popular e cultural, sobretudo jurídico, pois lhe teriam dito que a obra era legalmente da Jackson Inc. E ele lê Machado? disse Marco Aurélio. Pelo tipo psicológico [católico e sentimental] não parece. Algum amor mal contrariado, ultimamente só tem lido o mestre, disse eu”.

Empolgado, Marco Aurélio reuniu grandes jornalistas, como Carlos Castelo Branco, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Armando Nogueira, todos machadianos, que começaram a defender a “desapropriação” da obra de Machado de Assis. Autran Dourado também agiu: “Procurei o dr. Gonçalves de Oliveira, consultor-geral da República, a quem disse que o presidente estava interessadíssimo em considerar a obra de Machado de Assis de domínio público. O caso é sério, diga a ele que eu preciso de uma semana para estudar bem o assunto e dar o meu parecer”.

Machado de Assis: autor de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (Foto: Reprodução)

Machado de Assis: autor de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (Foto: Reprodução)

Com o parecer nas mãos, Autran convocou a imprensa para o dia seguinte, “quando o presidente assinaria o ato. Levei comigo para o palácio o meu exemplar de ‘Dom Casmurro’, disse ao presidente que fingisse que estava lendo. O que você está me aprontando, me perguntou. Basta assinar aqui, amanhã o senhor vai ver que maravilha. No alto do parecer estava escrito apenas APROVO. JK assinou sem me perguntar o que era”.

“No dia seguinte foi fotografia de JK na primeira página de todos os jornais. Quando entrei no seu gabinete, ele disse isso, sim, é que é serviço. Eu não entendo a imprensa: fiz uma coisinha de nada e veja que repercussão.” Os machadianos deveriam agradecer, de joelhos, a mentira, uma mentira verdadeira, de Autran Dourado.

Um intelectual, Álvaro Lins, sai malíssimo do livro de Autran Dourado. Era honesto, concede Autran Dourado. O refinado crítico literário — que escreveu por exemplo sobre Proust — queria ser governador de Pernambucano.

Chefe do Gabinete Civil de JK, Álvaro Lins “tinha um hábito muito engraçado. Quando um parlamentar ou político importante ia procurá-lo, ouvia atenciosamente, tomava nota num papelucho, deixava-o sobre a mesa, e nele parecia não mexer mais. Como os assuntos não se resolvessem, alguns políticos procuravam principalmente o oficial de gabinete Geraldo Carneiro, que ficava mais perto do presidente”.

Eleito para a Academia Brasileira de Letras, Álvaro Lins compareceu no dia da posse bêbado e com um discurso enorme e confuso. A “Tribuna da Imprensa” destacou a bebedeira de Lins. JK nomeou-o embaixador em Portugal. Não satisfeito com os problemas que deixara no Brasil, o embaixador começou a conspirar contra Salazar.

“Sobre a sanidade mental do Álvaro nada posso dizer com bastante certeza, somente dar dois indícios. O primeiro se refere à visita da rainha Elizabeth a Portugal, quando numa carta ao presidente ele disse que fez questão de se sentar ao lado dela para melhor lhe dizer como era Juscelino, traçar um retrato perfeito do grande estadista que ele era. Seguia-se uma narrativa um tanto ou quanto estapafúrdia, que não fazia muito sentido”, registra, com certo mau-humor, Autran Dourado.

Noutra carta, Álvaro Lins foi ainda mais ridículo: “Álvaro dizia que havia levado consigo alguns discos com discursos do presidente. Para matar a saudade, ele se deitava no chão e se punha a ouvir a voz de JK. O presidente não leu a carta, passou-a para mim”, diz, maldoso, Autran Dourado.

Quase sessões de análise

O trabalho pesado na Presidência da República comia o tempo de Autran Dourado, que acabava praticamente nada escrevendo. Estafado, tentou se matar: “Acabei o resto do uísque, fui para o banheiro. Fechei o basculante e liguei o aquecedor. E comecei a sentir muito forte o cheiro de gás. E acreditei ouvir nitidamente uma voz feminina me dizer, estranhamente soando nítida dentro de mim, não faça isto, não se deixe vencer. Não se deixa vencer pelo demônio. Na sua mesa, no escritório, há uma coisa para você”. De fato, havia.

Seguindo conselho do psicanalista Hélio Pellegrino, Autran se curou escrevendo. JK, ao saber das sessões de análise, disse que, ao acabar o governo, faria análise.

Fidel Castro e Juscelino Kubitschek : conversa chata e discurso para botar qualquer um para dormir (Foto: Reprodução)

Fidel Castro: conversa chata e discurso para botar qualquer um para dormir (Foto: Reprodução)

Mijar para se livrar de Fidel

O construtor de Brasília, Israel Pinheiro, detestava gastar dinheiro com publicidade. Talvez por isso a imprensa bombardeava a construção da capital — a Ferrovia Norte-Sul da época. Autran Dourado, ampliando ideia do coronel Afonso Heliodoro, sugeriu que Juscelino Kubitschek convidasse o escritor inglês Aldous Huxley e o ministro da Cultura da França, André Malraux, para visitar Brasília.

Malraux apaixonou-se por Brasília, a capital da esperança. Huxley, sempre extravagante, depois de ter viajado de Ouro Preto para Brasília, disse: “Uma viagem do ontem para o amanhã, do que terminou ao que vai começar, das velhas realizações para as novas promessas”. Sucesso absoluto, Malraux e Huxley.

Dos visitantes de Brasília, Fidel Castro foi o mais entediante. Escreve Autran Dourado: “Mal nos assentamos e o carro se pôs em movimento, dois policiais cubanos treparam nos para-lamas dianteiros e começaram a dar pancada em quem tentasse se aproximar de JK e Fidel. JK, que não gostava de seguranças e guarda-costas, me disse depois ter ficado horrorizado. Eles não careciam daquilo, os candangos são gente calma e pacífica, desejavam apenas nos ver de perto e saudar o visitante”.

Enjoado do papo-quase-cabeça de Fidel Castro, JK chamou Autran, que não pôde atendê-lo. “Quando me dirigia para o interior da biblioteca, fui barrado pelo barbudo que ali estava como guardião. Estranhei e disse alto que a casa era minha, que eu era secretário de Imprensa do presidente. Mesmo assim o barbudo não me deixava entrar. Vendo o meu estado, JK me perguntou o que estava acontecendo. É este barbudo que não quer me deixar entrar, disse eu. Não tenho o interesse pelo que estão conversando, o senhor é que me chamou, mas eu só fico de fora se aquele outro barbudo sair. Era nada mais, nada menos do que o famoso revolucionário Che Guevara, viria a saber depois.”

A confusão foi proveitosa para JK. “Estou louco para mijar, não aguento mais este cucaracha!” Na hora do banquete, Fidel Castro fez um discurso de uma hora. Até os pratos, certamente, “dormiram”.

Darcy Ribeiro e a Universidade de Brasília

Darcy Ribeiro tentou convencer o escritor Cyro dos Anjos a levá-lo a Juscelino Kubitschek. Darcy queria sugerir a construção de uma universidade em Brasília. Autran Dourado disse: “Posso tentar, mas não leve nada escrito para ler (sabia de sua fama)”.

Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, nomes importantes em Brasília (Foto: Reprodução)

Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, nomes importantes em Brasília (Foto: Reprodução)

Quando Autran Dourado relatou a ideia de Darcy, o presidente fechou a cara. “Não, de jeito nenhum! Não quero nem estudante nem soldado em Brasília, no máximo corpo de guarda.” O secretário de Imprensa retrucou: “…(a universidade) será a base cultural da cidade. O senhor está pensando que constrói uma cidade monumental, uma capital modelo e, no final das contas, está fazendo a maior cidade do interior, acanhada e provinciana. JK arregalou os olhos e disse é capaz de você ter razão, vou pensar no assunto”.

Convencido de que a ideia era boa, e daria repercussão, JK recebeu Darcy, que, falando demais, agradou o presidente, que não queria, porém, ouvir nada sobre currículos. “O que interessava mesmo a ele era dizer que estava erguendo a mais importante e moderna universidade do Brasil. Era o que ele mais perguntava ao Darcy. O Darcy percebeu logo esse lado de JK e era sobre o que ele mais falava.”

Euler de França Belém  é editor do Jornal Opção(Goiânia-GO) e essa resenha especial foi publicada originalmente em 2000 e reeditada em março de 2020.

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domingo - 04/09/2022 - 09:32h

Rir para não chorar

Por Odemirton Filho 

Angenor de Oliveira ou, simplesmente, Cartola, era natural do Rio de Janeiro, o mais velho dos oito filhos do casal Sebastião Joaquim de Oliveira e Aída Gomes de Oliveira. O seu nome, por um erro no momento do registro, ficou como Angenor, ao invés de Agenor.

Cartola e Dona Zica (Foto: Web)

Cartola e Dona Zica (Foto: Web)

Nascido no bairro do Catete, tempos depois, em razão de dificuldades financeiras, foi com a família morar no morro da Mangueira. Ali, conheceu Carlos Cachaça, parceiro do compositor em dezenas de sambas.

Inicialmente trabalhou como tipógrafo e, posteriormente, veio a ser pedreiro. Com a profissão de pedreiro surgiu o apelido. Para que o cimento da obra não caísse sobre sua cabeça, começou a usar um chapéu-coco, parecido com uma cartola, como diziam os colegas de profissão.

Após sair de casa depois da morte de sua mãe, por desentendimentos com o seu pai, começou a viver com Deolinda, sete anos mais velha, mas que se apaixonou pelo jovem e futuro sambista.

Foi um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, compondo o primeiro samba-enredo. Entre as suas inúmeras composições, destacam-se: O sol Nascerá, Preciso Me Encontrar, O Mundo é Um Moinho, As Rosas Não Falam.

Tempos depois, já vivendo com d. Zica, criaram o “Zicartola”, um bar no qual reuniam-se sambistas, compositores e músicos. Foi um marco na música popular brasileira. Em 1970, organizou uma série de shows, onde se apresentavam vários nomes do samba.

Por que resolvi escrever sobre Cartola? Porque, dia desses, fiquei curioso, após ouvi uma linda canção. Já tinha ouvido a música em outras ocasiões é certo, mas resolvi pesquisar sobre o autor. Sim, eu sabia quem era, entretanto, não fazia ideia da sua inestimável contribuição para a música brasileira.

É fato que existem outras passagens da vida do compositor. Aqui, tem-se um resumo. De toda forma, seria um pecado deixar o grande sambista cair no esquecimento.

Pois é.  

“Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar, quero assistir ao sol nascer, ver as águas dos rios correr, ouvir os pássaros cantar, eu quero nascer, quero viver” …

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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domingo - 04/09/2022 - 07:02h

Transplantando, mas comparativamente

Por  Marcelo Alves

Embora eu saiba que sua origem está na química e não no direito, sou fã da Lei de Lavoisier (1743-1794), também chamada de Lei da Conservação das Massas, que, em uma de suas versões mais conhecidas, dispõe: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Minha corruptela jurídica da dita cuja é: “vamos ganhar tempo e imitar/adaptar o que é bom”.

Foto ilustrativa (Web)

Foto ilustrativa (Web)

Isso inclui fazer uso, para fins de criação e reforma legislativa, de bons exemplos/soluções de leis estrangeiras, incorporando-os ao direito pátrio. Por exemplo, na minha área de expertise, o processo civil, já dizia Dinamarco (em “Fundamentos do processo civil moderno”, Malheiros, 2002), uma das tendências mais visíveis, na América Latina, tem sido: “a absorção de maiores conhecimentos e mais institutos inerentes ao sistema da common law. Plasmados na cultura europeia-continental segundo os institutos e dogmas hauridos primeiramente pelas lições dos processualistas ibéricos mais antigos e, depois, dos italianos e alemães, os processualistas latino-americanos vão se conscientizando da necessidade de buscar novas luzes e novas soluções em sistemas processuais que desconhecem ou minimizam esses dogmas e se pautam pelo pragmatismo de outros conceitos e outras estruturas. (…). Ainda há o que aprender da experiência norte-americana das class actions, das aplicações da cláusula due process of law, do contempt of court e de muitas das soluções do common law ainda praticamente desconhecidas aos nossos estudiosos – mas é previsível que os estudos agora endereçados às obras jurídicas da América do Norte conduzam à absorção de outros institutos”.

Na verdade, como já detectava Jerome Hall (em “Comparative Law and Social Theory”, Louisiana State University Press, 1963), esse intercâmbio jurídico é um fenômeno geral desde meados do século XX, quando, “a nível mundial, as mudanças sociais e políticas e a concomitante ‘mistura de culturas’ que marcam esse século aceleraram o interesse no estudo comparativo [do direito]”. E, nas últimas décadas, com a exponencial “globalização”, a facilidade de comunicação e o crescente intercâmbio cultural, a absorção de institutos estrangeiros pelo direito brasileiro tem se intensificado cada vez mais.

Lembremos, no presente contexto, a lição de William Twining (em “Globalisation and Legal Theory”, Butterworths, 2000): “o termo ‘globalização’ se refere àqueles processos que tendem a criar e consolidar uma economia mundial unificada, um único sistema ecológico, e uma complexa rede de comunicações que cobre todo o mundo, mesmo que não penetre cada parte dela. Anthony Giddiness caracteriza o processo como ‘a intensificação das relações mundiais que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa’”.

Entretanto, seria um brutal equívoco defender a automática incorporação, por um direito nacional em sua legislação, de soluções legais estrangeiras, sejam de que país for, como às vezes o fazem entusiastas de certos sistemas jurídicos. Em direito comparado – e aqui já imitando a medicina – chamamos essa automática incorporação de “transplante”. Transplantamos a lei X do país A para o país B. O transplante de normas estrangeiras, sem discussões e sobretudo adaptações, invariavelmente leva a soluções inadequadas para as tradições e a realidade do país destinatário. Um transplante, sabemos da medicina, demanda compatibilidade.

Aqui reside uma das principais funções do direito comparado, como ferramenta para, estudando modelos estrangeiros, trabalhando de lege ferenda, empreender uma possível reforma da legislação/direito nacional. Os sistemas jurídicos ocidentais enfrentam essencialmente os mesmos problemas de base, que tentam resolver por meios jurídicos semelhantes ou diversos. E estudos de direito comparado podem apresentar as soluções que sistemas jurídicos estrangeiros oferecem para um determinado problema, e onde e como se podem usar essas soluções em dado sistema nacional. Mas esses estudos devem ser realizados de forma crítica, para que o “transplante”, como se dá também na medicina, não resulte em “rejeição”.

Como mecanismos de controle, como um remédio na medicina, esses estudos comparativos (teóricos ou empíricos) devem ser precisos. Na “dose certa”, ouso dizer, de entusiasmo e cautela. Até porque, quanto a essa mistura de “direitos”, já dizia Lorenzo Zucca (em “Constitutional Dilemmas: Conflicts of Fundamental Legal Rights in Europe and the USA”, Oxford University, 2007), um dos meus orientadores no PhD no King’s College London: “até que ponto isso é possível depende da precisão das análises comparativas que o acompanham. Apesar de eu não acreditar que podemos desenhar um império global em que o direito disciplina independentemente do seu contexto, acredito na possibilidade de enriquecer a própria compreensão das diferentes experiências nacionais comparando-as e apresentando suas semelhanças e diferenças. Por esta razão, a comparação aguça a compreensão: ela aponta para o papel das contingências e das práticas locais na formação de conceitos jurídicos”.

Marcelo Alves Dias de Souza é procurador regional da República e doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

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domingo - 04/09/2022 - 06:32h

A cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 12

Sem verbos nem vírgulas

Por Marcos Ferreira

Um homem sem palavras neste começo de manhã em Mondrongo. Mudo por inteiro. Sequer um solilóquio. Fechado consigo mesmo. Entregue ao silêncio à sua volta. A vizinhança quieta. Quase inexistente neste domingo sem a fuzarca dos humanos. À exceção do canto dos pássaros nas árvores próximas. Jaime de bem com essa quietude dominical. Reservado. Discreto com os seus pensamentos sombrios. Quiçá povoados de vingança. Nenhuma conjugação verbal. Assim como este parágrafo e capítulo inteiramente sem verbos e também sem vírgulas. Não. Nada de verbos nem de vírgulas. Não ao menos por hoje. Em homenagem ao escritor Jaime Peçanha.Uso da vírgula

Bem cedo o preparo do café na nova cafeteira com jarra de inox. Semiamargo e forte. Caneca quase cheia. Degustação da rubiácea em goles demorados. Ele com ar pensativo sentado à mesa da cozinha. Os cotovelos sobre a coberta de plástico. As duas mãos em torno da grande caneca fumegante. Sem pressa ou comida àquela hora. Apenas um copo d’água pouco antes. Após o café a volta à cama.

Laura (como em outras oportunidades) de plantão no Hospital Tancredo Neves. Ali no quarto o silêncio e a meia-luz aconchegantes. A privacidade. O peculiar prazer da solidão momentânea. Além de um friozinho agradável. Cinco e cinquenta da matina. Ele encurvado sobre os tépidos lençóis. Sim. Tépidos. Não mornos. Para o desagrado de certos leitores rabugentos. Jaime em sua quietude matinal. Quase inerte. Os olhos fixos num ponto perdido do quarto. Nenhuma demonstração de interesse pelo tresoitão embalado na flanela verde na caixa de sapatos em cima do guarda-roupa. Sem qualquer curiosidade ou atração pela arma neste seu momento sorumbático.

Pois bem. O semblante impassível. A barba rala e fina à espera de lâmina. O cabelo já crescido. Revolto. A pele clara. Os olhos castanho-claros. A estatura nem baixa nem mediana. Cerca de um metro e oitenta e cinco. Físico longilíneo. Trinta e dois anos de idade. Bem-dotado. Confortável em sua bermuda jeans surrada. Com pequenos rasgos na parte fronteira das coxas. Nu da cintura para cima.

— Ahhhh! — um bocejo após longos minutos.

Porém nenhuma quebra registrada na ausência de verbos e vírgulas nesta parte da narrativa. Isto não por interesse do jornalista e escritor Jaime Peçanha. Mas tão somente por masoquismo do narrador deste capítulo desverbalizado e desvirgulado. Tarefa esta nada fácil ou de todo impossível a um elemento tacanho e espécie de equídeo da língua portuguesa como o marginal e humorista chinfrim João Claudione — nome “artístico” de João Cláudio. Traficante de armas e drogas. Vendedor do pau de fogo a Jaime por três mil e quinhentos reais. Além dos duzentos reais cobrados por cinquenta cartuchos. Tudo uma pechincha. Segundo o meliante João Claudione.

Cadê Wallace Batista nesta bela manhã ensolarada? O prefeitinho de Mondrongo. Decerto em sua imponente mansão no residencial de luxo Alphaville. E o também abastado vereador Leonardo Jardim? Presidente da Câmara Municipal. Qual o paradeiro de Alberto Cardoso? Diretor-administrativo da Tribuna Mondronguense. E o traiçoeiro e vingativo Mauro Mosca? Vulgo Rato Branco. Onde?

Jaime Peçanha agora imerso em pensamentos insondáveis até para este narrador pretensamente onisciente. Olhar distante. Remoto como aquele tempo de vigilante da empresa seguradora de numerários. Ou mais longe ainda que isso. No tempo de criança miserável no bairro Santo Antônio. Faminto em companhia do pai analfabeto e alcoólatra. Época de agressões. De vários maus-tratos. A mãe morta durante o parto de Jaime. Uma década após a morte do pai. Esfaqueado em uma briga com um colega de copo num prostíbulo de Mondrongo. Jaime sozinho no mundo. Dez anos de idade. Apenas sob os cuidados da avó paterna. Ela também viciada em álcool.

Curto período colegial. No primário o seu encontro e amizade com o futuro barra-pesada João Claudione. Ambos com breve permanência na vida escolar. Jaime (apesar dos pesares) dominado pelo hábito da leitura. Apaixonado por livros desde sempre. Mas um completo zero à esquerda em aritmética. Entregue à leitura como se esta uma fome ancestral. Um típico caso de autodidatismo nas letras.

Jaime estagnado. Engessado no mundo formal. Nenhum diploma universitário entre seus papéis. A sua maior façanha curricular resumida ao ensino médio. Esta a nomenclatura de hoje em dia. Mas nunca o divórcio das letras. Absolutamente fiel à sua vocação de literato. A devoção à escrita levada a sério. Jamais uma brincadeira. Um robby. Um passatempo. Resultado: um escritor polígrafo. Cônscio de sua arte com pouco mais de vinte anos de idade. A vida toda influenciado pelos clássicos. Literatura nacional quanto estrangeira. Ficcionista. Cronista. Poeta. Sonetista burilador — apesar de alguns leitores e críticos rançosos aversos à gaiola dos catorze versos.

Longe da cozinha. Em jejum. Sequer uma fruta. Só o café escoteiro. Curvado sobre a cama. Ora com um lado do corpo. Ora com o outro. Olhos abertos. Às vezes cerrados. Indisposto. Talvez já tocado pela bipolaridade. Daí a pouco o som das chaves na porta da frente. Laura de volta do plantão. Adeus o silêncio. A boa calmaria. A solidão provisória. E este capítulo sem verbos nem vírgulas.

ACOMPANHE

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Prólogo;

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Capítulo 2;

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo  3;

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 4;

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 5

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 6;

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 7;

Leia também: A cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 8;

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 9;

Leia tambémA cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 10;

Leia também: A cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 11.

Marcos Ferreira é escritor

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Categoria(s): Conto/Romance
sábado - 03/09/2022 - 23:54h

Pensando bem…

“Existe uma relação muito real entre o que você contribui e aquilo que você recebe neste mundo.”

Oscar Hammerstein II

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Categoria(s): Política
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sábado - 03/09/2022 - 14:46h
Senado

Justiça dá outra decisão favorável a Rafael e contra Carlos

Rafael tem direito se estar em eventos de Fátima (Foto: reprodução Canal BCS)

Rafael tem direito se estar em eventos de Fátima (Foto: reprodução Canal BCS)

O juiz auxiliar eleitoral Daniel Cabral Mariz Maia negou o pedido formulado por Carlos Eduardo Alves (PDT), candidato ao Senado, que pretendia impedir a participação do deputado federal e candidato a senador Rafael Motta (PSB), em eventos e mobilizações da governadora Fátima Bezerra (PT). O magistrado já havia negado liminarmente a “medida protetiva”.

Daniel Cabral destacou que Rafael é filiado ao PSB, partido que não tem candidatura própria para o cargo de governador. “Assim, não há impedimento ao apoio por parte do Representado à candidatura da atual governadora, como também não haveria se ele tivesse escolhido qualquer outro candidato ao governo do estado”, disse o juiz..

O juiz eleitoral argumentou a inexistência, nos autos, de qualquer documento comprovando que o candidato a senador Rafael tenha marcado ato de campanha no mesmo local e horário da propaganda de Carlos.

“Por essa razão, entendo que um provimento judicial que o impedisse de ir a eventos de Fátima Bezerra, candidata à reeleição, afrontaria o direito constitucional de ir e vir”, completou.

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sábado - 03/09/2022 - 12:04h
Mossoró

Carreata “Pra Fazer Mais” é comandada por Allyson Bezerra

A carreata “Pra Fazer Mais,” comandada pelo prefeito mossoroense Allyson Bezerra (Solidariedade), é a movimentação política do seu grupo para esse sábado (3) em Mossoró. É preparada para ser um acontecimento expressivo, em torno de seus candidatos no pleito 2022.

Lawrence, Allyson e Jadson fazem movimentação a partir das 17 horas (Foto: divulgação)

Lawrence, Allyson e Jadson fazem movimentação a partir das 17 horas (Foto: divulgação)

A mobilização partirá da Avenida Felipe Camarão ao lado do Aeroporto Dix-sept Rosado, às 17 horas.

Mas, antes, começou adesivaço nas proximidades do Teatro Municipal Dix-huit Rosado nessa manhã. A sequência será às 14 horas, na própria concentração para a carreata.

Allyson Bezerra apresenta Lawrence Amorim e Jadson como seus candidatos a deputado federal e estadual. Devem participar da carreata os candidatos ao Senado e ao Governo do RN, respectivamente Rogério Marinho (PL) e Fábio Dantas (Solidariedade).

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sábado - 03/09/2022 - 11:22h
Campanha 2022

Candidata à reeleição, Fátima faz primeira movimentação em Mossoró

Fátima esteve em Mossoró fechando primeiro dia de movimentação na região Oeste (Foto: divulgação)

Fátima esteve em Mossoró fechando primeiro dia de movimentação na região Oeste (Foto: divulgação)

Essa sexta-feira (2), a um mês das eleições de outubro, marcou a primeira movimentação política da governadora Fátima Bezerra (PT) em Mossoró, na atual campanha.

Candidata à reeleição, ela percorreu várias ruas e avenidas da cidade em carreata, ao lado de seu candidato a vice, deputado federal Walter Alves (MDB), bem como do nome ao Senado, Carlos Eduardo Alves (PDT).

Também estiveram com ela diversos candidatos a deputado estadual e federal, como Sandra Rosado (União Brasil), Larissa Rosado (União Brasil), Fernando Mineiro (PT), Isaac da Casca (MDB), Heliane Duarte (MDB), Isolda Dantas (PT), Júlia Arruda (PCdoB), Marleide Cunha (PT), Samanda Alves (PT), senador Jean-Paul Prates (PT) – que é primeiro suplente de Carlos Eduardo Alves.

Neste sábado (3), a programação da Coligação O Melhor Vai Começar é em Baraúna, Tibau, Grossos e Areia Branca. A mobilização na região Oeste começou dia passado e vai até quarta-feira (7) – veja AQUI.

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sexta-feira - 02/09/2022 - 23:56h

Pensando bem…

“O homem sábio fala porque tem algo a dizer; o tolo fala porque precisa dizer algo.”

Platão

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sexta-feira - 02/09/2022 - 23:36h
Carlos senador

Posição de Fátima procura evitar dúvidas e evasão de apoios

É preciso acurada análise sobre a postura da governadora Fátima Bezerra (PT), em defesa do seu candidato ao Senado, Carlos Eduardo Alves (PDT), para se perceber que nem tudo é visível aos olhos comuns, na política. Porém, tudo tem uma razão de ser. Ou mais de uma. Eis o caso.bifurcação, escolha, divisão, saídas, direita e esquerda - 2

Fátima não defende Carlos apenas por uma questão de coerência politica, haja vista ser ele o candidato de fato e direito a senador, com apoio do PT e seu.

Voltemos um pouco no tempo para compreendermos o porquê de ele ter sido o escolhido, quando outros pleiteavam a vaga, brigavam até (como o atual senador Jean-Paul Prates, do PT), pela indicação.

O ex-prefeito natalense era o nome que causava temor como adversário ao governo, caso fosse candidato pela oposição. Os demais que surgiram e feneceram num mar de especulações ou flutuando em balões de ensaio, não assustavam.

Segundo ponto: Carlos Eduardo foi atraído também por seu bom acervo de intenções de voto na capital e região metropolitana, uma área geopolítica nevrálgica para a governadora, em 2018, e mesmo antes do pleito daquele ano.

Deixar Carlos digladiando-se com o deputado federal Rafael Motta (PSB), por exemplo, um concorrente ao Senado, mesmo que do igual campo político, não era prudente à governadora. Por isso que Fátima Bezerra no último fim de semana foi direta e interveio na arenga entre os dois:

Para quem ainda não entendeu, nossa chapa é formada pelos seguintes nomes: Lula, presidente; Fátima Bezerra, governadora; Walter, vice-governador, e Carlos Eduardo, senador” (veja AQUI).

Está claro, mas não por completo. Falta o inconfessável: não escudar e içar Carlos Eduardo seria um risco para Fátima Bezerra, que provocaria desconfiança na cabeça do eleitor ‘carlista’, pela posição dúbia. Prevaleceram bom senso e inteligência política. Rafael fica no “modo espera,” mas não exatamente fora ou distante.

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sexta-feira - 02/09/2022 - 23:02h
BR-304

Uma duplicação para séculos e séculos e séculos

Do Blog Tio Colorau

Segundo o senador Jean-Paul Prates (PT), em entrevista ao Cenário Político da TCM, a próxima etapa da duplicação da BR-304 será o trecho Mossoró-Assu.

Ele disse que trabalhará para derrubar o veto presidencial que impede a construção da obra.

Nota do Canal BCS (Blog Carlos Santos) – Meu caro “Txio”, não é caso de desconfiar da palavra do senador, longe disso, lhe garanto, mas é uma questão de lógica. Um trecho bem menor, mixuruca mesmo, que contempla a Grande Natal, se arrasta há cerca de nove anos.

Quantos séculos serão precisos para 67 quilômetros de Mossoró a Assu, homem?

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sexta-feira - 02/09/2022 - 20:22h
Notas oficiais

Entidades empresariais defendem liberdade de expressão e democracia

As Câmaras de Dirigentes Lojistas do RN (CDL-RN), conjuntamente com a Federação das Câmara de Dirigentes Lojistas do RN (FCDL/RN), lançaram agora à noite uma Nota Oficial, em defesa da liberdade de expressão e em nome do Estado Democrático de Direito.

Da esquerda para a direita, em cima Marco Aurélio Raymundo, Meyer Nigri, Afranio Barreira, André Tissot. Da esquerda para a direita em baixo: José Koury, Jose Isaac Peres, Luciano Hang e Ivan Wrobel (Folhapress/Agència ALESC/Reprodução)

Da esquerda para a direita, em cima Marco Aurélio Raymundo, Meyer Nigri, Afranio Barreira, André Tissot. Da esquerda para a direita em baixo: José Koury, Jose Isaac Peres, Luciano Hang e Ivan Wrobel (Folhapress/Agència ALESC/Reprodução)

São primados da democracia que as entidades usam, para questionarem recente operação desencadeada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), contra um grupo de grandes empresários brasileiros, sob a tese de que estariam defendendo um golpe de estado.

Horas antes, o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Mossoró (SINDUSCON) já tinha se antecipado com uma nota com foco no mesmo tema.

Veja ambas abaixo:

Nota Oficial

A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veiculo não sofrerão qualquer restrição. O dispositivo contido na Constituição Federal não pode ser desrespeitado por quem, teoricamente, tem o dever de respeitá-lo, de resguardá-lo. Lamentavelmente, o que temos presenciado nos últimos tempos em nosso País são implacáveis perseguições a quem ousa manifestar a sua opinião.

Tais perseguições atingem, entre outros importantes atores sociais e indutores da economia brasileira, a classe empresarial do nosso País. A recente operação policial autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), concretizada por meio de busca e apreensão em cinco estados, além de quebra de sigilos e bloqueio de acesso a redes sociais, sob o pretexto de “investigar ilicitudes”, é apenas o mais novo episódio de violência estatal a que estão acometidos os empreendedores brasileiros, alijados do direito de participar do debate politico de externar suas opiniões, quaisquer que sejam.

Entendemos que tais medidas são arbitrárias, vão de encontro aos princípios básicos garantidos pela Constituição Federal e ferem gravemente o Estado Democrático de Direito. Respeitamos as decisões do STF, mas reforçamos nossa indignação em relação a qualquer medida que ataque a liberdade de expressão, Diante desse contexto, manifestamos nosso repúdio aos últimos acontecimentos relativos às medidas judiciais aplicadas, por decisão monocrática do STF, contra um grupo de empresários conhecidos nacionalmente.

É importante sempre registrar que os empresários são, além de geradores de renda e oportunidades para todos, cidadãos como quaisquer outros, portadores dos mesmos direitos consagrados a todos os brasileiros, independentemente de sua origem e trajetória social. Querer amordaçá-los, impedi-los de influir no debate político ou até mesmo de externar opiniões é um perigosíssimo aceno a regimes antidemocráticos.

As entidades que subscrevem este manifesto reforçam, de forma categórica, que opinião não é crime. A liberdade de expressão é um direito inegociável. Reiteramos nossa indignação em relação a qualquer medida que ataque a nossa liberdade constitucionalmente estabelecida.

CDL Mossoró e FCDL/RN

Nota em defesa da liberdade de expressão

O Sindicato da Industria da Construção Civil de Mossoró (Sinduscon Mossoró) vem a público manifestar seu apoio a um grupo de empresários conhecidos nacionalmente, e que foram submetidos a medidas judiciais aplicadas por decisão monocrática do STF.

Entendemos que tais medidas são arbitrárias, uma vez que foram motivadas por conversas em ambiente privado. Assim sendo, entendemos que vão de encontro aos princípios básicos garantidos pela constituição federal e ferem gravemente o estado democrático de direito.

Respeitamos as decisões do STF, mas reforçamos nossa indignação em relação a qualquer medida que ataque a liberdade de expressão.

Pedro Escóssia – Presidente do Sinduscon Mossoró

Leia também: Ministro retira sigilo da decisão que autorizou busca e apreensão contra empresários.

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sexta-feira - 02/09/2022 - 18:30h
Livro

“Páginas da vida” tem pré-venda anunciada por autora

“Páginas da vida”. Esse o título do livro que vai ser lançado no dia 13 de outubro em Mossoró, por Rafaella Costa, repórter social, graduada em Pedagogia e mestra em Educação pela Universidade do Estado do RN (UERN). Ela iniciou a pré-venda da publicação que irá até o próximo dia 25.Páginas da Vida - divulgação

Segundo Rafaella, o livro “aborda temática relevante sobre as questões LGBTQIAP+ e é oriundo da pesquisa que resultou na minha dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em 2018, e teve como tema ‘A construção social do humano a partir da fala de LGBTs em formação’”.

Detalhes sobre local e horário do lançamento, além de outras questões inerentes à própria produção gráfico-industrial do livro ainda estão sendo tratados pela autora.

A pré-venda pode ser formalizada através do telefone/WhatsApp (84) 99411-3203.

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sexta-feira - 02/09/2022 - 17:22h
PR/RN

Procuradora-chefe é premiada por boas práticas em equidade de gênero

A procuradora-chefe da Procuradoria da República no RN (PR/RN), Cibele Benevides, foi uma dos vencedores do Prêmio Margarida de Boas Práticas em Equidade de Gênero, concedido pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5). Ela foi escolhida na categoria “Boas práticas de equidade de gênero no Sistema de Justiça” e irá receber sua premiação no próximo dia 13, em Recife.

Cibele Benevides: premiação dia 13 em Recife (Foto: PR/RN)

Cibele Benevides: premiação dia 13 em Recife (Foto: PR/RN)

O prêmio veio em função do projeto “Plena igualdade de gênero nos contratos administrativos do Ministério Público Federal do RN”, que buscou incentivar o equilíbrio entre homens e mulheres nas contratações de terceirizados, preservando o mínimo de 50% de pessoas do gênero feminino. Atualmente, a instituição conta com 13 colaboradoras do gênero feminino e 11 colaboradores do gênero masculino, distribuídos entre os contratos de vigilância, auxiliar administrativo, limpeza, copeiragem, carrego e descarrego, prestando serviços para a sede, em Natal.

Reconhecimento

“É na verdade um reconhecimento a todos que fazem a Procuradoria da República no Rio Grande do Norte. Essa iniciativa não teria sido levada à frente sem o esforço de vários servidores, sobretudo aqueles que tratam diretamente dos contratos, como os da Seção de Contratações e Gestão Contratual e da Secretaria Estadual. Espero que essa honraria, além de coroar esse projeto específico, contribua para que mais e mais projetos do tipo sejam adotados, dentro ou fora do MPF”, destacou Cibele Benevides.

A inscrição para o prêmio, inclusive, foi feita pela procuradora-chefe, incluindo ainda a participação do procurador-chefe substituto, Victor Mariz, e dos servidores Talita Bulhões, Henrique Cortês, Valdirécia Taveira, Claudiomar Maia, Luís Cláudio Ferreira, Ana Isabella Silva e Eduardo Ferreira Júnior, equipe que, unida, priorizou a efetivação da igualdade de gênero nas contratações.

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sexta-feira - 02/09/2022 - 15:26h
Disputa

A opção de Rogério Marinho é crescer ou crescer

família, censo, crescimento vegetativo, economia , pesquisaEstamos exatamente a um mês das eleições de 2022, que em seu primeiro turno acontecerá em 2 de outubro.

Em relação à titânica luta ao Senado, uma constatação nesse emaranhado de pesquisas (algumas ‘espíritas’, que se diga), é a falta de crescimento por combustão própria de Rogério Marinho (PL). Sua posição é quase vegetativa.

Até aqui, Marinho tira proveito de um racha no governismo entre Carlos Eduardo Alves (PDT) e Rafael Motta (PSB), que até judicialmente andam batendo de frente.

Esse diapasão não continuará até o fim.

Na reta final o fenômeno do “voto útil” no governismo é um fantasma que tem tudo para assombrá-lo, se ele não chegar nesse ponto da disputa com ímpeto de vencedor. Em alta.

A menos que o páreo praticamente estabeleça um empate técnico com possibilidade de vitória, de qualquer um dos três, nos últimos dias de campanha. Aí é salve-se quem puder.

Rogério Marinho não pode correr tanto risco. É crescer ou crescer.

Anote, por favor.

Leia também: Procuradoria é contra impedir presença de Rafael em eventos de Fátima;

Leia também: O que há de sintonia entre duas pesquisas conflitantes.

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sexta-feira - 02/09/2022 - 10:20h
Cultura

Encontro de Repentistas está marcado para o próximo dia 29

No próximo dia 29 de setembro, às 20h, haverá Encontro de Repentistas em Mossoró. Está definido para o Carlos Bar, bairro Boa Vista.Encontro de Repentistas no Carlos Bar - 29 de setembro de 2022 - Aldaci de França

O evento promovido por Aldaci de França tem vários convidados, como o poeta Antônio Francisco, bem como os repentistas Damião da Silva, Felipe Pereira, Josival Viana, Severiano Feitosa e Antônio Lisboa.

A iniciativa conta com apoio cultural da lei municipal Professor Maurício de Oliveira.

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Categoria(s): Cultura
sexta-feira - 02/09/2022 - 08:50h
Campanha

Caravana de Fátima Bezerra ocupa região Oeste de hoje até quarta-feira

A Coligação O Melhor Vai Começar, puxada pela governadora e candidata à reeleição Fátima Bezerra (PT), faz sua primeira programação de peso na região de Mossoró e Oeste. Fátima Bezerra em Mossoró e outras cidades da região oeste a partir de 2 de Setembro,

Começa nessa sexta-feira (2) vai até quarta-feira (7), com perspectiva de receber um rol de adesões.

Hoje, tem início às 9 horas por Patu e será concluída em Mossoró, já à noite.

Semana passada foi em municípios do Trairi  e Potengi.

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