Por François Silvestre
Seco não se sustenta em pé. Tão impermeável quanto saco de filó. Tá mais furado do que saco de estopa. E ainda é a primeira pessoa do indicativo do verbo sacar. Aliás, esse verbo foi tão usado e abusado que entrou em recesso.
E por falar em recesso, nosso Parlamento é um saco. Nosso? Será que esse troço é nosso mesmo? Numa coisa se assemelha ao nosso. Quanto mais velho, mais cresce pra baixo. E mais diminui o desempenho da atividade fim. E não adianta terceirizar, pois em matéria de saco o terceiro está no saco alheio.
O Senado, por exemplo, é um clube luxuosíssimo, que escapou do baile da Ilha Fiscal e grudou-se feito tatuagem no escoamento da grana que só é pública na costura do saco deles.
Dinheiro público, que volta para os contribuintes em forma de serviços, é a parte que sobra guardada no saco de estopa. A parte do rato, ou melhor, do leão roedor, é a que escorre pelos buracos do saco.
O saco de açúcar, mais denso e consistente, transforma-se em peças de uso variado. Toalhas de pobre, panos de prato, cobertas de mesa, lençóis de moleque. Tem mais utilidade do que senadores. E olhe que nenhuma dessas peças consegue durar oito anos.
Um saco de fumo, lá de Arapiraca das Alagoas, tem mais furo do que fumo. Mais somos nós que levamos o fumo do sacalheiros. Que saca tudo de malabarismo sacal. E preside o clube notório, com carimbo de notário, debaixo dos pelos do nosso saco de otários.
O outro Presidente, posto que o Brasil é um empório de presidentes, tem de todo tipo em todo canto, ou em todo saco de gatos e ratos, também acunha com gosto de gás.
O sobrenome do distinto é Cunha. Vai dar nome a um estádio de futebol, cujo aumentativo sairá das entranhas do saco.
Há tantos presidentes que a mandanta resolveu por um “a” no final de um substantivo comum de dois gêneros. E os aliados fanáticos grafarão estudanta, gerenta, chefa, contribuinta.
Até o elefante, que tem medo de rato, faz o feminino com Aliá, para livrar-se do neologismo elefanta.
Num texto antigo eu disse o que repito agora: O Brasil não é uma democracia institucional. Não. É um saco cheio de instituições, feito siris na lata. Caranguejos-uçá na corda. Instituição é o que não falta. Falta estabilidade institucional.
Na outra ponta, os adversários sectários equiparam-se no mesmo saco de intolerância. Cada um com seu time, cujas bandeiras dariam pra fazer muitos sacos. Ou talvez sejam essas bandeiras feitas com sacos desfeitos de esperança.
E foi a esperança a única virtude a ficar presa na Caixa de Pandora, quando Zeus quis vingar-se de Prometeu, que roubou, do Olimpo, o fogo da vida.
Isso me traz à memória a frase de Renato Corte Real sobre o governo Figueiredo, aplicável agora, tirada do Blog de Linneu: “É um governo Caracu, o governo entra com a cara e o povo com o resto”.
Té mais.
François Silvestre é escritor
* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.
François Silvestre, excelente texto!
Sempre impliquei com essa história de a Presidente Dilma insistir em querer ser presidenta. Ora bolas, bastaria haver opiniões diversas e profundas sobre a correção do termo, para que eu, por exemplo, sendo a mandante, escolhesse ser Presidente. Risosssssss… Há muito a ser feito em nosso país e qual o valor de lançar-se dúvidas em nosso espancado Português?
Reflito, aqui com meus botões, o motivo da insistência da Presidente em querer ser Presidenta. Seria um excesso de feminismo ? Mostrar-se mulher e presidenta? Não. Continuaria muito feminina com a faixa presidencial e PRESIDENTE.
No nosso Português existem os Particípios Ativos com derivativos verbais. Então, quem ataca é atacante, quem existe é existente, quem pede é pedinte, quem canta, é cantante, o ser é ente. Portanto, quem preside é PRESIDENTE. Assim, quando designamos alguém para exercer ação que expressa o verbo há de se acrescentar à raiz verbal ante, ente, ou inte. E ponto final.
Não, não é ponto final…a minha avó materna, criatura mais doce e educada que passou por esse mundo, ensinou-me, dentre outras lições, que “Mulher com cabelos na venta, nem anão aguenta.” Fiquei, novamente, na dúvida se escreveria isso. Liberei-me por conta de onde veio o aprendizado. Não quero ofender os anões, mas a nossa “presidenta”, com essa insistência, só pode ter cabelos no NARIZ…suavizei.
Um abraço.
ACHEI SEU TEXTO LONGO E CANSATIVO , PARECEU QUE DISSE ,MAS NÃO FALOU NADA . ENCHEU O “SACO” ! . MAS GOSTEI MUITO DO FINAL , ” GOVERNO CARACU ” , RSRSRS
Naide, você acalanta minha vaidade. E Rosana, você envaidece meu acalanto. Naide ler por gostar, nem lhe devo muito por isso. Rosana ler por não conseguir ignorar. Devo-lhe por isso. Deve ser sofrido e cansativo enfrentar um texto chato e longo. Não há melhor vingança!
NOTA DO BLOG – Eu leio por admiração à inteligência e à cultura que transpiras. Tens o que não possuo e, pelo visto, nenhum dos meus defeitos. Abração
FRANÇOIS SILVESTRE , CONCORDAMOS NUM PONTO , VOCÊ SENTE QUE ME DEVE , E EU SINTO QUE DEVERIA RECEBER PARA LER SEUS TEXTOS . MAS PARA SUA FELICIDADE ,NÃO POSSO NEM LHE COBRAR MAIS , POIS ESTOU SENDO CONVIDADA A SE RETIRAR DO BLOG , EXPULSA , SÓ POR COMENTAR COM LETRAS MAIÚSCULAS , ISSO É O QUE CHAMO DE TEMPO DE “DEMOCRACIA” .
NOTA DO BLOG – Arriba!
NOTA DO BLOG – Arriba! As regras aqui são para todos, inclusive para os de pouca ou nenhuma educação e respeito ao elementar, a um simples pedido educado que já foi feito para outros webleitores, que compreenderam as ponderações e passaram a seguir o que foi solicitado.
Tô com vc Carlos, François nos dá de presente quase que diariamente suas belas crônicas.
Discordo, Carlos. Seu talento é de reconhecimento até dos seus desafetos. Mesmo assim, brigadão pelo comentário. Suba a Serra!
NOTA DO BLOG – Amigo, ando capiongo. Uma virose anda me maltratando há mais de 15 dias. Mas depois de exorcizar a danada, arribo pra Serra no meu transporte. Aviso. Vá logo botando uma branquinha no pé do pote para aguçar meu apetite. Inté.
Pois é, minha gente. É preciso ter paciência com os discípulos de Bolsonaro e Malafaia. Na falta de argumentos, gritam. E quem grita não tem razão.