domingo - 09/08/2009 - 10:16h

Um homem, pouco tempo e muitas histórias

No início da década de 40 do século passado, a casa onde hoje moro, era muito freqüentada pelos irmãos Rosado. Era o tempo em que, sabiamente, eles compravam terrenos aqui na região (Sebastianópolis, hoje Governador Dix-sept Rosado). 

Meu avô, Sebastião José Da Silveira, e, minha avó, Tereza Luzia Da Silveira, sempre os recebiam muito bem. Eram os irmãos Dix-Sept Rosado, Dix-huit, Dix-Neuf, Vingt e Vingt-un Rosado. 

Era a época da descoberta do calcáreo na região, e eles, com um dinheiro considerável, inspesionavam  os terrenos e compravam o que lhes interessavam. Convém salientar que na época, nenhum deles era político. 

Sempre vinham com aquela roupa de mescla e, naturalmente, chamavam a atenção de todos, tanto pelo dinheiro como pela educação com que tratavam os moradores. 

O tempo foi passando, e somente Dix-Sept vinha à localidade.  Não se sabe por que e nem por qual motivo, ele se afeiçoou ao meu saudoso pai (Lúcio), então com 16 ou 17 anos.

A estas alturas, o meu avô, pobre de Jó e com uma carroceria de filhos para criar, ofereceu um terreno seu que se adequava às exigências dos compradores. Também não se sabe por que, Vingt Rosado não aceitou e impediu a compra. Meu avô, com sua santa ignorância, estupidez e tudo quanto tinha direito, passou a odiar os Rosado. 

Mas, quando Dix-Sept chegava nesta centenária casa de pau a pique, ele e minha avó o recebiam muito bem.   Ele perguntava pelos rapazes, meu avô indicava para onde tinham ido, (normalmente arrancar macambira ) e Dix-sept os achava. 

Meu saudoso Pai me contou diversas vezes o comportamento de (Dix-Sept) quando os achava.  Normalmente era na hora do almoço. Ele se sentava no chão ou em alguma raiz, pegava uma cuia (nem pensar em prato), metia na panela de barro recheada de feijão de corda com toucinho, depois, pegava a farinha, misturava com o caldo e, com as mãos, fazia o famoso “macaquinho". 

Para quem por ventura não sabe, o macaquinho é a comida prensada na mão que vai direto para a boca da vítima. Comia demais, e, depois do almoço, vinha o mais importante, a sobremesa, uma raspadura daquelas de quebrar os dentes do meu dentista e amigo Hamilton Cardoso.

Ali ele estava saciado, se deitava, e começava a conversar.   Era um homem preparado, mas, nunca, nunca mesmo, se aproveitou da carência de nenhum peão. Virou amigo do meu Pai, e, em 1948, voltou a esta casa para dizer que era candidato a prefeito de Mossoró. 

Meu avô, por conta da raiva de Vingt Rosado, passou a ordem de que ninguém deveria votar nele.  Meu Pai não obedeceu e votou nele para Prefeito e em Vingt para vereador. 

Passaram-se quase dois anos e Dix-Sept, sempre que podia, vinha a Sebastianópolis. Nunca deixou de visitar aquele rapaz, na época, já casado e lutando para criar os filhos que começavam a nascer. 

Em 1950, não foi diferente. A estas alturas, ele já era uma liderança em nível estadual. Veio aqui e disse a meu Pai que seria candidato a governador, ao que meu pai respondeu:

– Doutor Dix-Sept, o senhor deu a viagem perdida, votarei no senhor e a minha mulher também.   Pode ir sossegado, só não vá pedir voto na casa do meu pai, e o senhor sabe por que. 

Como a história conta, Dix-Sept foi eleito esmagando seu opositor (Manoel Varela) e, governou o nosso Rio Grande do Norte por apenas seis meses. Um acidente aéreo tirou-lhe a vida. 

Para quem não se lembra ou não sabe, um pouco antes outro acidente (de carro) tinha ceifado a vida do seu maior amigo e secretário-geral do Estado, o advogado Mário Negócio. Foi em Tacima, Paraíba.

A história que acabo de contar, me foi revelada várias vezes pelo meu Pai, e hoje, agosto de 2009, ainda existem pessoas idosas que a contam da mesma forma.

Valtércio Silveira é engenheiro civil e ex-secretário de Urbanismo e Obras de Mossoró.

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. wildson medeiros diz:

    meu amigo valtercio, como fico feliz em ler a suas cronicas e saber que estais bem…

  2. alcides diz:

    Fico a imaginar Dix-sept Rosado, do lugar onde hoje está a ver como sua familia está tratando nossa querida e sofrida Mossoro.

  3. Jailson Gomes diz:

    Tenho esperança de ver todas as histórias vividas e ouvidas por Valtércio em um livro. Aprendi a admirá-lo quando acompanhei seu périplo pelas ruas de nossa Mossoró em 1996 quando fomos candidatos (ele a prefeito e eu a vereador). Até hoje, apesar de ter trabalhado com muitos outros políticos (inclusive alguns pastores evangélicos), não encontrei ninguém que me passou maior honradez e caráter que Valtércio. Que Deus o ilumine sempre!

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