Por Bruno Ernesto
Aquele velho ditado de que nem sempre o que parece, é, nunca esteve tão em voga.
Dia desses, escutei um conhecido dizer que a felicidade é possível nas coisas simples.
Sim, concordo!
O que, de início, parecia uma conversa alinhada, com exemplos de simplicidade, autoconhecimento e satisfação pessoal, se mostrou uma felicidade tóxica e artificial.
Voz mansa e palavras de ordem para a plena felicidade, aos poucos, contrastava com o que fazia na prática.
Essa foi a terceira vez que pudemos conversar pessoalmente, numa roda de conhecidos em comum; e uma coisa que notei, foi que toda conversa iniciava com uma lição de autoestima daquelas que se encontra em livro de autoajuda ou se escuta em palestras motivacionais, e que seu ciclo de amizade era enorme e de gente abastada.
Como de costume, escutei atentamente e falei pouco.
Sempre é bom escutar o interlocutor que tem muito a dizer, especialmente quando o assunto é ele mesmo.
Dizia ela, a dita pessoa, que não sabia como alguém poderia viver num ciclo de aparência e necessidade de agradar aos outros, mas que, ela própria, precisava fazer a mesma coisa.
Estranhei, mas a justificativa que deu em seguida, foi reveladora: era preciso manter o “networking”.
Fiquei curioso e resolvi perguntar que “networking” seria esse, embora já imaginasse.
Não se fez de rogada e disse que eram pessoas da alta sociedade cujo seu trabalho era manter o fio da navalha sempre cego, de modo que os cortes das agruras deles fossem rasos.
Descobri, depois, que as agruras a que ela se referia eram quais restaurantes, academias, viagens luxuosas e o carro novo que precisariam frequentar, realizar e comprar; pouco importando o sacrifício pessoal, o custo financeiro e o moral.
Confesso que compreendi.
Embora tentasse se desvencilhar dos seus pupilos emocionais, transparecia um prazer existencial em fazer parte daquele micromundo de invariável fragilidade pessoal e, muitas vezes e, ao que parece, indissociável prazer de orbitá-lo, muito embora fosse intangível à sua realidade.
Não seria surpreendente que se sentisse parte, ao menos em sua mente.
Lá pelas tantas, disse que, apesar de ter morado num luxuoso hotel por três meses, a vista deslumbrante do mar, a brisa, o excelente buffet do café da manhã e as excelentes conversas com os hóspedes bem afeiçoados, não lhe interessaram naquele momento, por razões que lhe fugiam à sua racionalidade.
De fato, não tive como contrapor o seu argumento de autoridade, muito embora desconhecesse sua real formação acadêmica.
Após os seus repetidos bordões de felicidade tóxica, lembrei de uma pequena casinha que fotografei outro dia na beirada de uma grande falésia.
Sua simplicidade, digo, da casa, contrastava com a beleza que ao fundo apareceria. Muito embora o penhasco ficasse logo ao lado.
Certamente quem já a conhece, sabe que a beleza ao fundo, esconde um grande perigo.
Bruno Ernesto é professor, advogado e escritor