Por Inácio Augusto de Almeida
Na taverna do Caolho, o vinho tinha corrido frouxo a noite toda. J. Hidalgo, a quem carinhosamente chamavam de Caolho, tinha distribuído a bebida de graça. São Luís era uma festa só. Apenas a tentativa de saque do armazém do Estanco, empresa que controlava e explorava todo o comércio de alimentos de São Luís, tinha desgostado um pouco Bequimão. Mas ele entendia perfeitamente o quanto o povo era revoltado com os exploradores.
O Estanco tinha sido a causa principal da revolta que tinha determinado a revolução. Os padres jesuítas estavam reclusos em seu colégio. O Capitão-Mor tinha sido deposto e se achava preso. Uma Junta Governativa tinha sido proclamada. Bequimão, por unanimidade, foi escolhido o chefe e com a ajuda do Frei Elias de Santa Tereza e do seu irmão Tomás Beckman, escolheu os demais membros.
Os sinos de todas as igrejas a tocar eram ouvidos em toda a cidade. Nas ruas os jovens festejavam dançando e cantando. Desciam em bandos no rumo do Largo do Carmo, já repleto de pessoas de todas as idades e níveis sociais.
Naquele dia não havia ricos ou pobres, letrados ou analfabetos, apenas vitoriosos. E todos se sentiam vitoriosos e sonhavam com um porvir livre de toda e qualquer exploração. J. Hidalgo Lopez, o Caolho, pensava em como recuperar o vinho que tinha distribuído de graça na noite anterior. Assim, alegando que o vinho que agora estava servindo era de uma outra qualidade, aumentara o preço da botija.
– Eita espanhol ladrãozinho. Acabamos com o Estanco e você ficou no lugar daquela quadrilha!
– Poeta, é que o vinho é de uma qualidade melhor.
– Coisa nenhuma Lopez, continuou a reclamar Bernardo Almeida.
– Prove do vinho, prove, Poeta!
O poeta Bernardo Almeida, o maior conhecedor de vinhos de toda São Luís, riu. Gostava daquele Lopez, mesmo sabendo ser aquele maranhense metido a espanhol, um perito em aumentar as contas dos embriagados. Gostava do orgulho que ele sentia da sua origem hispânica.
Lopez havia lhe contado que o seu tataravô tinha chegado a São Luís antes dos portugueses, desertor que fora de uma caravela comandada por um tal de Ojeda. Alonso de Ojeda. Daí o poeta, quando queria admoestar o Lopez, dizia:
– Para com esta alonsada.
ACOMPANHE
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Inácio Augusto de Almeida – Boêmio/Sonhador
(Continua no próximo domingo)
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