Menino ainda, entre a peraltices e um jeito ensimesmado de ser, conheci a dor. Vi a morte assim, de pertinho. Toquei-a. Senti-a.
Tudo ficou vazio. Fez um vácuo.
Dona Mariinha, quase pele e osso, estava ali em minha frente.
"Morreu!" A palavra e a imagem, juntas, com a força de uma comunhão perfeita entre fato e verbo, tiravam o fôlego, inundavam meus olhos.
O menino mirrado, de olhar vivo – às vezes melancólico -, cabelo escuro e escorrido, passaria a entender parte do grande mistério da vida: o morrer.
O corpo inerte na sala de casa, socado num caixão, seria a despedida. Ambiente soturno e sufocante. Gente que entra e sai. Rostos encrespados.
O choro aumentava a agonia nas entranhas de cada cômodo.
A morte batera à nossa porta. Eu me sentia sepultado vivo.O pulmão asmático, que durante anos não conseguia sanfonar o oxigênio, a contento, finalmente se rendera. O coração perdia sua última batalha.
Mas nem por isso a morte fazia sentido para mim.
– Por que ela tinha que ir?
Sentado num canto de parede, comprimindo as pernas dobradas e entrelaçando-as com os braços, parecia disposto a reter a dor com minha parca força muscular. Joelhos banhados em lágrimas, cabeça inclinada sobre eles, eu queria entender:
– Por que ela tinha que ir?
Meu porto seguro e suprema proteção em todos os excessos, como garoto, partia pro "descanso", afirmavam uns circunstantes. E eu? Como seriam meus dias e anos dali pra frente?
Ficou não apenas a perda da "vó", chamada de "mãe". Ficou a frase nunca dita, nem repetida. Faltou minha redenção: "Eu te amo!"
Uma foto amarelada e desfocada, contida num antigo documento de identidade, foi a herança que me coube de seu espólio. O bem que virou amuleto, companhia diária escondida em minha carteira de cédulas.
Mais do que isso ficou a lição: jurei nunca mais deixar que ninguém que eu amasse, de verdade, partisse sem ouvir a frase nunca dita nem repetida: "Eu te amo!"
Meu medo sempre foi não dizer "te amo", a meus velhos, olhando em seus olhos. A maturidade e o tempo me deram oportunidade para repetir e acrescentar: "Obrigado!"
Minhas perdas são presenças diárias. Não saem de mim. Meu sacrário é a memória; os sentidos os têm por perto e as lembranças não os tiram de mim…
Assim tem sido. Que assim seja.
Simplesmente… lindo.
Coisa mais linda de se ler…
…BENÇA MAÊ….DEUS T ABENÇOE MEU FILHO,MÁS ESSA JÁ E A TERCEIRA VEZ QUE VC ME PEDE A BENÇAO MEU FILHO,E EU SORRINDO DIZIA EU GOSTO MAE ,QUANDO A SENHORA ME ABENÇOA,ISSO REPETIA~SE TODAS AS VEZES QUANDO EU IA NA SUA CASA ,OU ELA VINHA NA MINHA.
QUANDO ADOECI,FK 6 ANOS DE CAMA POR CONTA DE UM ERRO MEDICO,ELA ERA QUEM ME VISITAVA,88 ANOS,LÚCIDA,COSTURAVA A PROPIA ROUPA,ENFIAVA A LINHA NA AGULHA SEM PRECISAR DE OCULOS,QUANDO CHEGAVA LÁ EM CASA NO VINGT ROSADO ,PERGUNTAVA LOGO POR GIVANILDO SILVA,MEU VIZINHO,COMENTAVA AS COISAS QUE OUVIA NO RADIO.
HOJE EU SINTO A SUA FALTA,SEU CHEIRINHO DE TALCO,SEU CARINHO,COMO ERA BOM QUANDO EU A ENCONTRAVA; ABENÇA MAÊ……….
Maravilhoso ! ! !
bravo!! bravo!!! sua sensibilidade torna seus dias feitos de flores… como cheiro de mãe!
Simplesmente lindo… mas infelismente existe muitas pessoas que só veem e sentem quando essas palavras ja naõ mais podem ser ouvidas. Hoje há uma falta de reconhecimento, de carinho, de atenção, de respeito,de sensibilidade de muitos filhos e netos. Trocam os seus por pessoas as vezes que nem merecem e os pais,e os avós, passam a ser tratados como algo descartavél.
Espetacular!!! Bença Mãe… Que vontade que deu de poder ouvir pelo menos mais uma vez a sua resposta.
– Por que ela tinha que ir? Nas horas de medo, dúvida, angústia e solidão, sempre essa pergunta.
Parabéns aos autores pela sensibilidade, excelente mesmo!
São vinte e uma horas e catorze minutos. 02 de novembro de 2010. Acabo de ler sua crônica. Sinto um nó na garganta. Choro por ter mãe e ter medo de perdê-la. Choro, por aqueles como você, que não pôde ter o colo maternal ainda criança. . Antes de dormir vou rezar ao Deus que confio para que eu possa pedir a bênção da minha mãe ainda por muitos anos.
Um grande abraço
Me emocionei…muito belo.
Bonito isso amigo,
Como é bom lê coisas que ajudam a melhorar o nosso coração.