Por Inácio Augusto de Almeida
Dentro do ônibus, Izaías não conseguia tirar da cabeça a figura da velha cigana. A bolsa em que trazia as cadernetas de anotações que o Sandoval lhe entregara estava embaixo dos seus pés. Em nenhum momento dela perdia contato. Representavam aquelas cadernetas, para ele, a certeza de uma boa gratificação e a possibilidade de novos serviços.
Num banco ao lado, um homem obeso, bastante obeso, que tempos depois Izaías iria saber ser, aquele gordo, o maior orador político do Maranhão. Um paraibano que falava de uma forma fluente e vibrante e que era capaz de convencer um padre das vantagens do pecado. Mário de Almeida, Mário Cavalcanti de Almeida, de quem José Américo de Almeida era tio.
A estrada de terra fazia com que o ônibus sacudisse um pouco, mas isto não era o mais ruim. O pior era o gosto de terra, a poeira que entrava pela janela quando um outro carro cruzava. Olhou para os outros passageiros. Mário de Almeida dormia o sono dos justos. Os outros pareciam assustados com os solavancos provocados pela buraqueira que Dr. Feriado tinha apelidado de estrada. Contando ele mesmo, Izaías viu que havia apenas oito passageiros dentro do ônibus. E havia lugar para mais de vinte. Para ser exato, havia vinte e cinco lugares dentro daquela carroceria de madeira.
A figura da cigana teimava em voltar. Às vezes tinha a impressão de que ela estava ali, dentro daquele ônibus.
“Eu ser um escritor… Sandoval tem razão. Aquela cigana queria mesmo uma moeda. E conseguiu…”
Mário Cavalcanti de Almeida começou a roncar.
ACOMPANHE
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Leia também: Maranhão – Capítulo IV;
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Inácio Augusto de Almeida – Boêmio/Sonhador
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