E lá se vão 100 dias de espera por uma consulta oftalmológica pelo SUS em Mossoró.
Isto me lembrou 100 ANOS DE SOLIDÃO do maior escritor colombiano de todos tempos.
Gegê, como era carinhosamente chamado Gabriel Garcia Marques, o criador de personagens como o Coronel Aureliano Buendia, um revolucionário por vocação, um fracassado por total despreparo para as lides castrenses.
Buendia fez 17 revoluções e perdeu todas as 17. E mais revoluções perderia se mais revoluções tivesse feito. Aureliano Buendia era um desastre na arte das armas.
Macondo não é Mossoró.
Se fosse eu até me atreveria a seguir a trilha do Aureliano Buendia e daria início a uma revolução pelo direito a um atendimento respeitoso pelo SUS aos mossoroenses.
Confesso que cheguei até a imaginar o meu Estado Menor.
Estado Menor, sim, porque Estado Maior só pode ter quem dispõe de verbas para despesas necessárias a aquisição de boa alimentação; picanha, salmão etc. E também de medicamentos e próteses que sempre são necessárias ao bom desenvolvimento dos combates.
Entenderam porque imaginei a criação de um Estado Menor?
E lá estaria Marcos Ferreira no comando da divisão de blindados com sua pena afiada a levar o pânico aos que negam o direito sagrado a assistência médica aos mossoroenses.
Ao Marcos Pinto, Barão de Apodi, o comando da artilharia, já que, diariamente, nos seus artigos, despeja tiros e mais tiros de canhão sobre os gulosos que misturam o público com o privado.
Nas comunicações o João Cláudio a gritar para o mundo PEGA FOGO CABARÉ, aterrorizando as hostes inimigas que não suportam nenhum alarde.
Jonh Clodô, nosso correspondente de guerra, a registrar para a posteridade, numa linguagem alegre, típica do colunismo social, toda a violência dos combates, não deixando sem anotação nenhuma CEI da desassombrada CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ.
Da estratégia, tal qual o Aureliano, eu mesmo me encarregaria. Por estar com dificuldade de locomoção somente nesta área poderia atuar.
Não iríamos poder contar com apoio aéreo ou naval. Pensei numa jangada, seria a nau capitânia da nossa esquadra constituída de troncos de bananeira e de pedalinhos com nome dos meus netos.
Uma pipa de grande tamanho o nosso poder aéreo.
Achei tudo pouco e resolvi suspender o envio do ultimato aos que negam uma consulta oftalmológica em Mossoró a um idoso, mas que rasgam 600 mil reais com Safadão.
Se Mossoró fosse Macondo eu até me atreveria aos primeiros disparos por conta da confiança que tenho no Estado Menor das forças revolucionárias.
Infelizmente Mossoró não é Macondo. É bem mais desenvolvida do ponto de vista econômico. Se bem que, eticamente, Mossoró está milhões de anos luz distante de Macondo.
100 dias esperando por uma consulta oftalmológica me dá a certeza de que a realidade supera a ficção.
Nem Gabriel Garcia Marques conseguiria imaginar surrealismo tamanho na sua Macondo.
Inácio Augusto de Almeida é escritor e Jornalista