Por François Silvestre
Não. Ninguém é. Até quem não crê em nada, crê no nada. E o nada é um deus. Cada povo, cada gente, cada tribo, cada aldeia, cada ser pensante tem um deus. Mesmo negando os deuses dos outros. Por que deus é angústia. E a humanidade, angustiada, é uma fornalha de parir deuses. Uma maternidade de deuses. Enfermaria de crenças, com berços de amparo aos desvalidos que tentam explicação do que não entendem.
Nasci e me criei sob o tacão do deus hebraico. Nunca viajei com Abraão saindo de Ur, da Suméria, em busca do Golfo Pérsico. Não. Nasci no sertão mais peba dos sertões. Que nem é o de Guimarães Rosa. Mas, fui obrigado a dobrar os joelhos pro deus de Abraão.
Contar pecados no confessionário para emissários do deus hebraico. Punhetas e troca troca. Rezar orações sem saber o que significavam.
Aí, cresci. Aprendi e descobri o meu deus. Que não possui templos, não tem padres castos de mentira nem pastores picaretas. Bandidos que em nome do deus hebraico, coitado deus, enganam, roubam e assassinam o próprio deus.
Aprendi ainda jovem, com Spinoza, quem era Deus. A Natureza. Deus onipresente, que está em todos os lugares. Não há lugar onde ele não esteja. Não há. Ele é a rosa que desabrocha e é também a erva daninha que mata a roseira.
E como todos os lugares têm seu deus; os deuses da China, da Índia, do Tibete, das tribos africanas, dos hebreus, dos judeus, o Brasil também tem seu deus original. É Tupã. Sem templos, sem orações, sem cobranças.
Sua túnica é a sombra do jacarandá, no sol. Seu amparo é o caramanchão de bambus, na chuva. Taí meu deus. Tupã. Que não ampara nem justifica hipócritas santificados de exploração dos tolos.
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