terça-feira - 31/05/2022 - 21:48h
Confissão

Não sou ateu

Por François Silvestre

Não. Ninguém é. Até quem não crê em nada, crê no nada. E o nada é um deus. Cada povo, cada gente, cada tribo, cada aldeia, cada ser pensante tem um deus. Mesmo negando os deuses dos outros. Por que deus é angústia. E a humanidade, angustiada, é uma fornalha de parir deuses. Uma maternidade de deuses. Enfermaria de crenças, com berços de amparo aos desvalidos que tentam explicação do que não entendem. Deus, céu, mar, luz do sol, fé

Nasci e me criei sob o tacão do deus hebraico. Nunca viajei com Abraão saindo de Ur, da Suméria, em busca do Golfo Pérsico. Não. Nasci no sertão mais peba dos sertões. Que nem é o de Guimarães Rosa. Mas, fui obrigado a dobrar os joelhos pro deus de Abraão.

Contar pecados no confessionário para emissários do deus hebraico. Punhetas e troca troca. Rezar orações sem saber o que significavam.

Aí, cresci. Aprendi e descobri o meu deus. Que não possui templos, não tem padres castos de mentira nem pastores picaretas. Bandidos que em nome do deus hebraico, coitado deus, enganam, roubam e assassinam o próprio deus.

Aprendi ainda jovem, com Spinoza, quem era Deus. A Natureza. Deus onipresente, que está em todos os lugares. Não há lugar onde ele não esteja. Não há. Ele é a rosa que desabrocha e é também a erva daninha que mata a roseira.

E como todos os lugares têm seu deus; os deuses da China, da Índia, do Tibete, das tribos africanas, dos hebreus, dos judeus, o Brasil também tem seu deus original. É Tupã. Sem templos, sem orações, sem cobranças.

Sua túnica é a sombra do jacarandá, no sol. Seu amparo é o caramanchão de bambus, na chuva. Taí meu deus. Tupã. Que não ampara nem justifica hipócritas santificados de exploração dos tolos.

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quinta-feira - 26/05/2022 - 20:36h
Crueldade fardada

Câmara de Gás em carro da PRF

Por François Silvestre

O que falta acontecer neste país brutalizado, estuprado e descido à condição de submundo do crime oficial. Crimes de Estado. Após chacina em favela do Rio, com aplausos de Bolsonaro, esse genocida cotidiano, acontece algo que nem a ficção pensaria.

Policiais prendem homem no camburão e gás faz o resto do "serviço" cruel (Foto: reprodução)

Policiais prendem homem no camburão e gás faz o resto do “serviço” cruel (Foto: reprodução)

Uma radiopatrulha da Polícia Rodoviária Federal, nova menina dos olhos do genocida, numa cidade interiorana de Sergipe, aborda um jovem negro que nenhuma reação esboçou. O rapaz, sob tratamento psiquiátrico, entregou documentos e receitas das suas medicações.

Os presentes informavam que o rapaz era doente. Nada adiantou. Amarraram pernas e braços do rapaz. Parou aí? Não. Jogaram o rapaz no camburão do veículo, baixaram a tampa, deixando de fora as pernas do pobre coitado. Dos lados da tampa fechada, empurrada pelos policiais bandidos, pressionando as pernas do preso, saía uma fumaça branca, que cobria todo o veículo. Uma câmara de gás instalada no camburão (veja AQUI).

Qualquer semelhança com as câmaras dos campos de concentração nazistas não é mera coincidência. Varia de tamanho e operacionalidade, mas o espírito da brutalidade, da desumanidade é o mesmo.

A população da cidade está passada de revolta (veja AQUI). É essa polícia que Bolsonaro está equipando, de material e espírito, para transformar o Brasil num gueto de repressão, tortura e morte. Tudo para preservar a liberdade deles. Eles, família e quadrilha, falsos militares fardados e milicianos a paisana.

A revolta dos habitantes de Sergipe há de ser uma revolta nacional. Não para responder com violência, mas com denúncia e protesto. E depois desalojar, pelo voto, esses bandidos que assumiram o poder democraticamente com o fim de matar a Democracia. O mesmo que os arquétipos da Alemanha e Itália fizeram nos anos Trinta do Século passado.

Nota do Canal BCS – Blog Carlos Santos – Vi essa cena de terror e logo minha memória foi remetida a documentário sobre a “solução final” do nazismo, com carros/furgões fechados e o gás da combustão sendo jogado para o seu interior, matando homens, mulheres, crianças, idosos. Não consegui ver o vídeo por inteiro e me pergunto o que pode levar “homens da lei” à tanta crueldade.

E o que fariam se não estivessem sendo filmados?

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quarta-feira - 25/05/2022 - 20:18h
Opinião

Ciro, Marx e Lassale

Ciro, um caos de ideias claras (Foto: arquivo)

Ciro, um caos de ideias claras (Foto: arquivo)

Por François Silvestre

Qual a relação? Me veio à memória os tempos idos da Casa do Estudante. Lá cheguei vindo do Colégio Diocesano Seridoense, de Caicó. Caicó me abriu uma janela pro mundo, pelo CDS; a Casa do Estudante me ofereceu o portal de ingresso ao mundo.

Por um trem? Não. Por viagens? Também não. O educandário da pátria Caicó, mulato velho, me ofereceu dúvidas. A Casa do Estudante me presenteou a maravilhosa descoberta de caminhar, mesmo na miséria, um caminho de fartura. De luxo? Nunca. De vantagens? Menos ainda.

A riqueza de desvendar nos livros a miséria humana. A desgraçada e bela aventura de viver aprendendo. E quem aprende caba ensinando.

Dito isso, volto ao título do texto. O que tem a ver Ciro Gomes, Karl Marx e Ferdinand Lassale? Ciro Gomes é um homem de ideias. Verdade. Explica o Brasil como poucos, conhece o Brasil como raros, claríssimo. Mas fica aí.

Volto a Marx e Lassale. Foram contemporâneos e aliados, na luta de 1848, rompidos anos depois, em 1864. Marx, ferino, não negava méritos a Lassale. Muito menos às suas ideias. No confronto após o rompimento, Marx triturou Lassale com a máxima: “Lassale é um caos de ideias claras”.

Pronto. Taí a relação. Ciro Gomes é o Lassale do Brasil de hoje. Um caos de ideias claras. No meio de comportamento confuso e argumentos escuros. Um caos de clareza no meio da escuridão. Que opta por deixar a escuridão prevalecer, mesmo dizendo que precisa acender a luz.

Ciro Gomes confirma o oximoro metafórico de Marx sobre Lassale. E o país, no meio do abismo, perde a sua colaboração na defesa da liberdade e da Democracia. É uma tristeza de egoísmo, cujas ideias são claramente jogadas no esgoto escuro. Caos de claridade, harmonia de escuridão. Ponto e vírgula.

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domingo - 22/05/2022 - 08:02h

Só uma pessoa tem certeza…

Por François Silvestre

da derrota de Bolsonaro.

É Lula? Não. Lula sabe que nada está definido. Eleição e mineração só depois da apuração. Lição do velho pessedismo dos tempos saudosos do Brasil ingênuo e democrático. Inclusive com fraudes eleitorais, do voto em papel, contado, apurado e fraudado. “O feio em eleição é perder”. Dizia Theodorico Bezerra, do alto da sua sabedoria nas mumunhas das “brejeiras”. certeza, positivo, sim, polegar erguido

Algum órgão de imprensa? Não. Ninguém da imprensa diz que a eleição está decidida.

Ninguém. Nenhum veículo da imprensa, seja tradicional ou das redes na Net, declara essa bobagem. Não tem eleição definida.

Algum instituto de pesquisa? Não. Todos eles, com números semelhantes ou distintos, declaram que é tudo uma amostragem do momento. Claro. Um truísmo.

Mas há uma pessoa que acha estar decidida a eleição. Quem? Jair Bolsonaro. E tem certeza de que perdeu. Todo dia ele declara isso. Como? Pondo em dúvida o resultado de uma eleição que não aconteceu. É o técnico de um time ruim dizendo que seu time será roubado, antes do início do jogo. Bolsonaro diz que as eleições serão fraudadas. As únicas eleições sem fraudes no Brasil foram e são as eleições das urnas eletrônicas.

Em que o povo, ingênuo e inculto, elegeu ele e todos os seus filhos. Uma dinastia de farsantes, de violentos covardes, de bufões. Que nunca deram um prego num isopor na atividade privada. De privada eles só conhecem a merda que produzem diariamente nos atos e nas falas. Ponto e vírgula.

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sexta-feira - 13/05/2022 - 17:08h
Opinião

Forças armadas, povo armado e…

maos-ao-alto-4Por François Silvestre

…um frouxo armado!

Bolsonaro grita histericamente num palanque: “Povo armado não será escravizado”. Mas não diz, “homem armado não será assaltado”. Por que será que não diz? Vou contar.

Vinha o ex-capitão do exército, Jair Bolsonaro, numa motocicleta bombada, de capacete, com sua pistola do exército, dos tempos de militar da ativa, na cintura. Brummmmm. Passava numa rua do Leblon, no Rio de Janeiro, quando um pivete, com um revólver calibre trinta e dois, mandou ele parar.

“Pára, cara. Perdeu”. Mandou Bolsonaro tirar o capacete. Mandou Bolsonaro levantar os braços, meteu a mão na cintura do “valente” armado e lhe arrancou a pistola. Depois, mandou que ele descesse da moto, empurrou-o pra longe, montou na moto e foi embora.

Pra que serviu Bolsonaro armado? Pra armar um pivete delinquente. Imagine quantos outros bandidos não se armaram, até agora, com tanta gente, sem experiência, andando armada pelas ruas e estradas. Tudo pra ajustar o discurso fascista de um frouxo, que exige o sacrifício dos outros para se manter no poder.

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domingo - 08/05/2022 - 08:32h

O ramerrão de um golpe impossível

Por François Silvestre

Acompanhei por muitos dias vários portais da Direita, bolsonaristas ou moristas, e descobri o óbvio. O discurso monocórdio, chato, paulificante. Portais, blogs e rádios televisadas. Vendedores de opinião. Não abro mais.

Acompanhei por muitos dias vários portais da Esquerda, lulistas, comunistas, e descobri o óbvio. Argumentação monocórdia, chata, paulificante. Blogs e portais. Massificadores de opiniões. Não abro mais.confronto, polarização, política, confronto, cores,

Aí, descobri que os dois lados sonham com um golpe de Estado. Um lado, pra continuar no poder. O outro, pela paranoia da perseguição. Alguém quer dar um golpe? Sim. Bolsonaro quer. E daí? Entre o querer de Bolsonaro e o resultado da realidade há um fosso cósmico.

Vou usar uma lição militar: “Não tema do inimigo o que ele quer. Tema o que ele pode”.

Bolsonaro sabe que não pode, mas precisa alimentar o ramerrão pra não discutir inflação, desemprego, fome, insegurança, saúde pública enferma, educação aos frangalhos. É o que ele quer. E parcela da esquerda, esclerosada, pós-stalinista, cega, vai na onda.

Na Segunda-Feira, Bolsonaro escolhe o assunto para pautar a esquerda desses portais. E eles cumprem à risca. É a semana toda, masturbando o ego do energúmeno. O marxismo é uma ideologia do passado, da História, não faz mais sentido. O comunismo foi uma experiência desastrosa e desastrada. Deu ao capitalismo, de presente, a bandeira das liberdades fundamentais.

Um golpe isolaria o Brasil, no mundo. Os quarteis resolveriam os problemas nacionais? Porra nenhuma. Na Bolívia, a direita tentou. Ficou isolada e os golpistas foram pra cadeia. Aconteceria a mesma coisa aqui.

Em 64, a ditadura instalada conhecia todos os veículos de imprensa. E pôs um censor em cada redação. Como seria agora? Quem cesuraria a internet?

A grande imprensa apoiou o golpe, os partidos políticos também. Os golpistas receberam apoio militar para a ação e apoio financeiro para sua consolidação. E agora, quem de fora vai apoiar o golpe? A Rússia? Não consegue nem derrotar a Ucrânia.

Os primeiros atingidos por uma tentativa de golpe, diferentemente de 64, seriam os donos do mercado. Os negócios internos e externos. Não duraria uma semana.

Sem saco pra burrice e sem paciência pra caduquice ideológica. O fascismo precisa dessa estupidez. É da sua natureza. Bolsonaro é o Brancaleone dessa corja.

Quem ganhou meu voto pra Lula não foi Lula. Foi Bolsonaro. Voto em Lula, conscientemente, sabendo que a maioria dos petistas daqui não gostam de mim.

Tenho alguns poucos amigos do PT. Bons amigos, mas poucos. E eles sabem que não sou petista. Aliás, não sou mais ista de nada.

François Silvestre é escritor

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domingo - 01/05/2022 - 04:02h

Texto de quase bêbado

Por François Silvestre

E nessa condição vou esnobar cultura. Amanhã estarei ou não arrependido. Não pela demonstração da burrice oficial militar do país, mas pela exibição das coisas simples que conheço as quais me permitem expor o analfabetismo dessa gente.bebida, cerveja, chope

Vi hoje um vídeo do general presidente do Superior Tribunal Militar (STM). Não sei seu nome. Falou durante cinco minutos. Cometeu quatro erros de português. Crassos. Quase um erro por minuto.

Aí, me veio à memória uma fala de Bolsonaro contra a cultura vasta. Disse ele, do alto da sua sublime ignorância, que a escola tinha por base fundamental ensinar português e matemática. Portanto, os militares cumpriam essa tarefa educacional.

Aí, eu pergunto ao general: O que enuncia o Teorema de Pitágoras? O senhor sabe? Eu sou nulo em matemática, mas sei. A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Fácil decorar isso, né não? Quer dizer o quê? Pegue uma folha de papel, desenhe um triângulo retângulo, a linha vertical é um cateto e a linha horizontal é outro cateto. A linha que une as duas pontas dos catetos é a hipotenusa, que se opõe ao vértice do triângulo.

Basta você fazer um quadrado na linha da hipotenusa pra descobrir que esse quadrado é a soma dos quadrados que você fará dos catetos. Entendeu, general? Serve pra quê? Pra quase tudo na medição e rigidez das construções. O triângulo retângulo é figura mais rígida da geometria. Pitágoras foi o gênio da simplicidade.

General, o senhor sabe o enunciado da lei da gravidade? Eu sei. Matéria atrai matéria na razão direta do produto das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. Isso quer dizer o quê, general?

Quer dizer que quanto maior a massa de um corpo, mais ele atrai o corpo de menor massa. E quanto mais distante estiver o corpo de maior massa, menos será a sua força de atração. Sacou, general? Vá estudar.

Estou quase bêbado. Mas, inversamente proporcional à burrice.

P.S: Isaac Newton, da gravidade, disse “ter visto mais distante por estar sobre os ombros de gigantes, e Pitágoras era um deles”. Sobre os ombros de Newton, Albert Einstein e Stephen William Hawking viram mais longe ainda.

François Silvestre é escritor

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quarta-feira - 27/04/2022 - 14:38h
Reflexão

Ucrânia, Rússia e Brasil

potencia-nuclear-foto2Por François Silvestre

O que há em comum? Muito, mais do que a vã observação desatenta não percebe. Ou faz de conta que não vê.

A Rússia é uma vasta potência nuclear, o Brasil é uma vasta impotência nucleada, isto é, fora do núcleo. A Ucrânia mandou pra cá Clarice Lispector, perto do coração selvagem, o Brasil mandou pra lá Artur do Val, longe do feto abdominal.

O Presidente da Rússia é um megalomaníaco, com armas para impor medo ao mundo e invadir o país vizinho, que já foi sede da sua pátria. Kiev é anterior a Moscou, capital de todas as Rússias.

O presidente da Ucrânia é um deslumbrado fascista que se treinou no palco dos teatros fazendo graça para divertir a plateia. Ao deslumbrar-se descobriu-se líder, e aproveitou a oportunidade para sair do tablado para o poder.

Em nenhuma das suas apresentações públicas, pelos vídeos divulgados, aparece na face um semblante sequer, por mínimo que seja, de sofrimento pela tragédia em que se meteu o seu país e o seu povo. Nada. Só faz pedir ajuda ao ocidente para continuar a tragédia. E que seu povo se desgrace, desde que ele continue a representar o palhaço da desgraça. Aquele que perdeu a graça.

O presidente do Brasil é um boneco de mamulengo, na empanada de uma farsa, que tenta superar João Redondo e Sargento Istufô, numa sala de medíocres de togas e ridículos de fardas. Ministros e Generais de fancaria. O povo não merece vocês. Tomem vergonha na cara e respeitem a Democracia.

General fulano, do Exército, não me interessa seu nome, vá cuidar do seu quartel e deixe a pátria ao destino do seu povo. Ministro do Supremo, qualquer que seja, não enxovalhe sua toga, ganha sem concurso, e deixe a política para os políticos. O Brasil é hoje, pelo presidente destrambelhado que tem, por generais analfabetos também, e juristas de miçanga, uma Ucrânia em processo de involução.

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segunda-feira - 18/04/2022 - 15:50h
Julgamento e tortura

Ditadura, Superior Tribunal Militar…

Por François Silvestre

..e um Almirante que tem a ver comigo.

Como assim? Não conheci esse almirante nem ele me conheceu. Mas temos algo que nos aproxima no meio das trevas daquele tempo. Ao ver e ouvir, na televisão, áudios de Ministros do Superior Tribunal Militar (STM), na Década de Setenta, tomo um susto.

Almirante Júlio de Sá Bierrenbach morreu em junho de 2015 (Foto: web)

Almirante Júlio de Sá Bierrenbach morreu em junho de 2015 (Foto: web)

Um dos áudios, criticando e atestando as torturas é do Almirante Júlio de Sá Bierrenbach. O que tem a ver comigo? Foi ele o relator do meu processo, no STM, no julgamento de recurso na minha condenação na Auditoria Militar do Exército, em Recife.

Fui processado, em Recife, nas três Auditorias. Ali no Cais de Santa Rita. Na Auditoria da Marinha, fui absolvido. Na da Aeronáutica, nunca fui julgado e o processo morreu na anistia. Fui condenado na Auditoria do Exército. Três processos de casos distintos.

Não era fácil conseguir que um recurso chegasse ao STM. Porém, tive a sorte de ser defendido por Boris Trindade e Mércia Albuquerque. Boris era famoso criminalista e teatrólogo, com grande prestígio no Recife. O time se completava com Roberto Furtado, em Natal. Eles conseguiram que o recurso prosperasse.

A segunda luta foi para pautar o julgamento. Meu irmão, Dimas, que já morava em São Paulo há muito tempo, pôs um advogado em Brasília para acompanhar o caso. Eu estava preso na Colônia Penal João Chaves. Onde já cumprira três meses de prisão em 1972, e agora, em 1974, durante quase o ano todo, esperava esse julgamento.

RESUMO. Sorteado o relator, o processo foi para o Almirante Júlio de Sá. Voto de uma lauda e meia, se muito. Que ele terminava com uma observação irrespondível: “Que segurança nacional é essa que nós temos, que pode ser abalada por um discurso de um jovem numa Casa de Estudante lá no Rio Grande do Norte”?

Se havia algum Ministro que julgava haver crime ali, teve vergonha de contrariar o relator. Com votos rápidos, como se dá com julgamentos de réus sem importância, fui absolvido por unanimidade. Boris Trindade me disse, “foi o voto de relator mais conciso, curto e eficiente que vi até hoje”.

O crime era o seguinte. Eu dissera no discurso que o Brasil não tinha presidente, havia no exercício na presidência, ilegitimamente, um fascista torturador. Era Garrastazu Médici. A história confirmou minha fala.

Esse caso está registrado no segundo volume da Obra “Brasil Nunca Mais, o perfil dos atingidos”. Obra organizado sob a proteção da Arquidiocese de São Paulo e de Pastores evangélicos Metodistas, tudo com a supervisão de D. Paulo Evaristo Arns.

Leia tambémAlmirante Júlio de Sá Bierrenbach morre aos 96 anos;

Leia também: Em áudios, integrantes do Superior Tribunal Militar relatam tortura na ditadura militar.

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quinta-feira - 14/04/2022 - 08:50h
Opinião

Bolsonaro conseguiu

Por François Silvestre

Nisso ele foi craque. Tentou na época em que era da ativa, fez terrorismo contra seus comandantes, pôs bombas num quartel, foi expulso, e dele disse o General Geisel: “Esse capitão sempre foi um mau militar”. Isso consta do depoimento biográfico de Ernesto Geisel.

Um escândalo atrás do outro na farda hein, Bolsonaro? (Foto: Web)

Um escândalo atrás do outro na farda hein, Bolsonaro? (Foto: Web)

As Forças Armadas saíram da Ditadura negociando com a oposição vitoriosa no Colégio Eleitoral. Golbery do Couto e Silva, teórico da conspiração antidemocrática, avisou:

–  “Precisamos sair, antes que nos pendurem nos postes ou nos ponham nos bancos dos réus”.

E deu certo. Na argentina, no Chile, no Uruguai, na Bolívia e no Paraguai os ex-ditadores prestaram contas à Democracia. Aqui, não. Ninguém da caserna foi pra cadeia. E ficou o dito pelo não dito, anistia pra todos, inclusive para torturadores. Mas tudo bem…

Aí as Forças Armadas se recolheram às suas funções e atribuições constitucionais. E, diga-se, desde a redemocratização, eram elas uma instituição respeitável, com credibilidade popular, onde não se falava de militares nem militares falavam de política. Até aparecer Bolsonaro.

O seu complexo de rejeição com Exército, por sua expulsão, voltou à tona no posto de “comandante supremo das Forças Armadas”. E vingou-se. Desmoralizou o Exército.

Taí a realidade. Comprou a caserna com cargos comissionados, empanzinou o governo com militares da ativa, do Exército, e muitos deles se envolveram em falcatruas, tráfico de influência e outras trampolinagens. Até um general pançudo, que não sabe a diferença entre uma maca e uma cama, logístico da burrice, alçado ao Ministério da Saúde, de onde saiu lastimavelmente avacalhado.

Agora, taí. É picanha, salmão, caviar, camarão, cerveja, Viagra, prótese peniana, cura de calvície. Sem falar em cloroquina e outras milacrias. Dizer o quê?

Se ele queria vingar-se do Exército, conseguiu. E sabendo que uma Arma desmoralizada pode pouco contra a Democracia, aposta nas milícias, oficiais ou clandestinas. Ele sabe do desgaste do seu nome e não crê em recuperação, se acreditasse não faria apologia de golpes ou desrespeito ao resultado do pleito.

Leia também: Cabaré Brasil.

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terça-feira - 05/04/2022 - 21:02h
Na pescaria

Diálogo da doidice

Por François Silvestre

Dois pescadores, semana passada, na sangria do Açude de São Gonçalo, município de Souza, Paraíba. Com águas entre barrentas e espumantes se atropelando entre pedras e barro no direção do Rio Grande do Norte. Pau dos Ferros esperando.150700-pescaria-noturna-quais-sao-os-peixeis-que-eu-posso-encontrar

Tito de Neném e Dedé de Margarida. Anzóis, mochilas a tiracolo, chinelos jogados fora, bonés com bandeiras do Brasil, iscas de minhocas. Roupa guardada numa moita de mofumbo, só de cuecas na beira da correnteza.

Na proximidade, uma jaramataia deitada pela força da água, resistente, posto que o caule fino da sua fraqueza difere da resistência da sua raiz. E nenhuma enchente consegue arrancá-la.

Conversavam os dois matutos. “Muita água, né Tito”? E jogou o anzol. “Muita, Dedé. Muita água que Deus manda”. “Foi Deus não, Tito”. “Não”? Perguntou Tito. “E quem foi”?

Aí Dedé respondeu: “Foi o nosso presidente, o boçonaro”. “E foi”? “Foi, num sabe qui foi ele quem butou Deus acima de todo mundo”? “Vige maria, uvi dizer, a bom basta”!

“A linha esticou, vem coisa”. A traíra esperneou até vir à tona. “Graças a Deus…posso dizer”?…perguntou Tito.

Aí Dedé olhou pra ver se o fiscal que estava assistindo a tudo tinha se afastado, falou baixinho:

–  “Pode, o rapaz tá mais uvindo não”.

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domingo - 03/04/2022 - 17:48h

Golpe, que golpe?

Por François Silvestre

Wellington Aires do Couto, de origem mossoroense, lembra um texto antigo meu, de 2017, ele que mora hoje em Remanso, na cidade nova substituta da que foi engolida pela barragem. E ajudou a edificá-la.

Braga Netto, general da reserva, com nova ameaça de golpe (Foto: arquivo)

Braga Netto, general da reserva e ex-ministro da Defesa, com nova ameaça de golpe (Foto: arquivo)

Vou responder. Naquele texto eu levantava a impossibilidade do golpe contra a Democracia por falta de condições objetivas. Tais sejam; apoio popular, apoio internacional, interesse americano numa ditadura aqui no Brasil, e principalmente na incapacidade militar das nossas forças armadas de bancar e manter um governo golpista. Completamente incapaz.

Vamos aos fatos. Lição da guerra: Não tema do inimigo o que ele quer contra você, tema o que ele pode. Essa lição de guerra não é brasileira. É de quem já fez guerra. Os militares brasileiro nunca fizeram guerra, montaram golpes. Até a guerra do Paraguai não foi vitória do Brasil, foi uma chacina de três países contra o mais fraco dos quatro. Chacina. Aquilo não foi guerra.

As “guerras” das nossas forças armadas sempre foram contra brasileiros. Operários, estudantes, intelectuais, cientistas. Só.

Agora, o Braga Netto publica uma nota criminosa anistiando tortura e morte, censura e exilio, sinalizando ameaça de golpe. Resultado? Uns medrosos de esquerda dão trela à ameaça. Idiotas, quem late muito morde pouco.

O medo é anterior e pior do que o fato. Medroso é o melhor inimigo pra quem ameaça. O medroso é cúmplice do ameaçador.

Estou torcendo pela tentativa de golpe. Torcendo. Tentem! Uma informação pros idiotas medrosos. Há quatro castas no Brasil que abiscoitam mais de trinta por cento do nosso PIB, no custo com pessoal. São elas: Judiciário, Ministério Público, Tribunais de Contas e Oficialato das Forças Armadas. Essa gente é a dona do barracão de fornecimento da Fazenda Brasil. Essa tchurma quer mudança?

Aqui, ó! Há quartéis do Exército, e não são poucos, que fazem inveja a condomínios de luxo. Inveja por quê? Porque todo o custo é com dinheiro público. Caviar, picanha importada, vinhos clássicos e outra mumunhas. Essa gente vai se arriscar-se a perder essa bocona com golpe para manter no poder esse pilantra, corrupto, ladrão, cuja família nunca deu um prego na vida privada, vivendo sempre à custa do Erário? Vai?

Braga Netto, você é um cagão. Augusto Heleno, você é um cagado. Pelo amor de Deus, vocês fariseus que erigem Deus acima de todos, tentem o golpe. Façam esse favor ao Brasil. Tentem. E vocês, esquerdistas de portais esclerosados, parem de cagar nas calças antes da caganeira. Tenho dito.

François Silvestre é escritor

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sexta-feira - 01/04/2022 - 17:40h
1º de Abril

Hoje é o dia de Bolsonaro

Mentira, pinóquio, mentiroso, mentirPor François Silvestre

Primeiro de Abril, dia que faz a homenagem ridícula à mentira. É o dia de Braga Neto, e do pijamado Heleno. A mitomania é um transtorno psicológico de quem mente por compulsão. Não é à toa o apelido de Mito.

golpe de 1964 ocorreu na madrugada do dia primeiro de Abri, dia da mentira. E não na noite de ontem. Durante todo o dia primeiro, o golpe não estava ainda consolidado. Foi preciso a mobilização civil, com a coordenação de Magalhães Pinto, govenador de Minas, e de Carlos Lacerda, govenador da Guanabara. A milicada, que ambicionava o poder desde a década de Vinte, enganou os civis golpistas. Magalhães terminou no ostracismo e Lacerda terminou cassado e preso.

Quem é Braga Neto? É o general que comandou a intervenção federal no Rio de Janeiro. Resultado? ao fim da intervenção, o Rio ficou pior. E continua piorando. Quem é Augusto Heleno? general que foi chefe de gabinete de Silvio Frota, aquele que tentou emparedar Geisel, para evitar a distensão ditatorial. Incompetentes e inimigos da Democracia.

O golpe militar do dia de primeiro de Abril de 1964 produziu, juntamente com colegas ditadores vizinhos do continente, censura, morte, exílio, prisões clandestinas, cassações e repressão sem qualquer controle legal ou respeito aos direitos humanos.

Mas uma coisa precisa ser dita. Os militares dos outros países que também sofreram ditaduras, exemplo de Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia, não comemoram suas ditaduras. Só aqui. No país governado pela mentira.

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quarta-feira - 30/03/2022 - 23:20h
Opinião

Requião, cada vez melhor

Roberto Requião: PT (Foto: Web)

Roberto Requião: PT (Foto: Web)

Por François Silvestre

Vi, ouvi e me emocionei com a entrevista de Roberto Requião ao Portal da revista Fórum. Entrevistado por Rovai, Cynara e Dri. Miolo de aroeira, raiz da jaramataia, água de alisar pedras em córrego dos Dormentes. É o retrato que consigo fazer de Requião.

Aí você pergunta: um paranaense tem esses atributos do Nordeste? Sim, senhor! Requião tem ancestrais nordestinos. Um da Bahia, outro de Sergipe. Um bisavô dele foi lugar tenente de Frei Caneca, na revolução libertária de 1817 e na Confederação do Equador.

Esse seu ancestral tem algo em comum com uma ancestral minha. Bárbara de Alencar, nascida no Exu, na mesma fazenda onde nasceu meu bisavô, que veio, depois de Maranguape, onde nasceu minha avó, ser juiz na Serra do Martins.

Bárbara mudou-se para o Crato ainda criança, após a adolescência casou com um rico comerciante português. Poderia ter tido uma vida fácil, de rica. Mas optou pela luta revolucionária. Foi a primeira mulher brasileira presa e torturada por motivos políticos. Militou na mesma revolução em que lutou o ancestral de Requião.

Bárbara de Alencar, revolucionária, teve dois descendentes que desmereceram sua história. Meu bisavô, João Antunes de Alencar e o seu primo escritor José de Alencar, ambos reacionários e monarquistas.

O meu bisavô, juiz em Martins quando da proclamação da República, renunciou à magistratura e voltou para Fortaleza, deixando minha avó, de doze anos, com casamento ajustado com um filho de Bisinha Suassuna. Casamento que ocorreu oito anos depois, na Fazenda Cajuais, hoje município de Riacho da Cruz.

Viva Roberto Requião. Viva a luta de libertação popular e a consolidação da Democracia.

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terça-feira - 29/03/2022 - 04:20h
Opinião

Os “intocáveis” de Bolsonaro

Por François Silvestre

O capitão de fragasta, Jair Bolsonaro, é um mentiroso compulsivo. Esse é um truísmo. Isto é, uma coisa que não precisa ser dita posto que todos sabem disso. Até os seus.

Vamos aos intocáveis por ele declarado ao longo e tenebroso curso do seu desgoverno. sem preocupação com a ordem cronológica. chute-na-bunda

Lembram do ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores? Pois pois, “ninguém vai tirá-lo do governo”. Disse Bolsonaro, afrontando a China. Resultado? Pé na bunda. Hoje, anda o “intocável” dizendo horrores sobre Bolsonaro e seu “governo”.

E no Ministério do Meio Ambiente? O Ricardo Salles é um símbolo pronto e acabado da política de desmonte ambiental do bolsonarismo. De Bolsonaro: “Ninguém tira o Sales dali, ninguém”. Aí veio à tona comprovadamente do envolvimento do pimpolho Sales com madeireiros clandestinos, contrabando de madeira e outras mumunhas. Pé na bunda, mesmo pra desgosto de Bolsonaro.

No Turismo, o ministro Marcelo Antônio segurou-se o quanto pode nos ovos de Bolsonaro, que lhe garantia permanência. Pé na bunda.

Na Educação, é um festival. Aquele idiota funcional Abraão Weintraub, que nem consegue pronunciar o próprio nome, disse numa reunião ministerial que “os ministros do Supremo são uns filhos da puta, que devem ser presos”, aquela em que Moro, ministro da justiça, ficou caladinho. Pois bem. Bolsonaro declarou que o ministro era da sua cota pessoal e ninguém mexia. Pé na bunda.

Seguiram-se aí vários intocáveis. Um que inventou no currículo cursos não feitos em universidades inexistentes. Outro que nem assumiu, caindo de verde para podre sem amadurecer. Todos com a garantia da intocabilidade endossada por Bolsonaro. Aí chegou no vizinho de Deus. Milton Ribeiro.

Dele disse Bolsonaro: “é o maior e melhor ministro da educação que o Brasil já teve”E acrescentou que era um “homem de Deus” e que Deus estava acima de tudo. Isto é, Deus precisou de Bolsonaro pra ser promovido à ascensão sobre todos. E Milton Ribeiro estava sentado ao lado direito do pai.

Kkkkkkkk. Aí lá vem a enxurrada. Milton, escondido do divino, negociando grana em espécie e em ouro com outros colegas picaretas, para desviar dinheiro da Educação, em projetos pessoais de igrejas de ladroagem e safadezas. Patifaria de corrupção escancarada.

Aí Bolsonaro declara: “Ninguém mexe com o Milton. Ponho minha cara no fogo por ele. Ele fica e tamos conversado”. Pé na bunda. Isso tudo pra demonstrar uma coisa: Nada do que Bolsonaro diz merece crédito. Nada. nem as ameaças.

É um bosta enfeitado de faixa presidencial. Só.

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sexta-feira - 25/03/2022 - 14:24h
Da luta

Poesia sem caráter

Por François Silvestre

Foi o que pensei ao imaginar este verso fotográfico, ajustando a câmara, para registrar a fisionomia deste tempo de trevas. Aí descobri que não é hora de poesia.chuva, vidro embaçado, inverno, parabrisa de carro,

Não é. Mesmo a aroeira parindo brotos de futuras flores, informando que suas raízes começam a sugar a seiva doce do massapê, mesmo a moita do mofumbo soltando as primeiras flores que só cheiram ao nascer, mesmo o riacho descendo em busca de uma foz raquítica, mesmo as águas do baixio no aluvião convidando ao plantio do milho e do feijão, mesmo o canto da mãe-da-lua informando que a madrugada não tem destino, mesmo o correr do calango fugindo da baladeira do moleque ainda existente, mesmo a jitirana enfeitando a subida das grotas, mesmo a espingarda de pederneira pendurada inútil num armador do alpendre, mesmo o sonho de uma mãe que esperou do filho retirante uma carta ou um mimo, mesmo a desmama de um bezerro preso à pata traseira da vaca para oferecer leite à mama do filho do tirador do seu leite, mesmo o som do trovão informando o desgosto de Tupã.

Não dá pra fazer poesia. Não dá.

É hora de arregaçar mangas, não de colhê-las. O momento é de luta e luta feroz. Dizer abertamente que vamos vencer e quem não aceitar a derrota que se prepare pra luta.

Se perdermos, aceitaremos. Se vencermos, venceremos sem medo de arreganhos ou ameaças.

O Brasil impõe o desafio: É vencer ou vencer!

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segunda-feira - 21/03/2022 - 09:10h
Opinião

A chave de roda…

Chave de rodaPor François Silvestre

…no parafuso da mentira.

Foi o que fez o Supremo, pelo Ministro Alexandre de Moraes, ao enquadrar a plataforma do Telegram.

Nada a ver com censura. Nada. Tudo parte da premissa democrática e constitucional de que ninguém está acima da lei. Ninguém, no caso, é exclusão de todos e qualquer um.

O bolsonarismo esperneou, pelo chefe e seus vendedores de opinião. E bradaram: “é inadmissível e contra a liberdade de expressão”. Isto é, a liberdade do agressor e a inação do agredido. Essa é a “liberdade de opinião” que eles defendem. Com direito de mentir sobre tudo e sobre todos impunemente.

Advogaram em defesa do Telegram. E o que fez o Telegram? Aceitou a defesa “gratuita” e fez coro contra a Justiça? Necas de pitibiribas. O Telegram pôs o rabinho entre as pernas e rejeitou a defesa.

Desculpou-se pelo não cumprimento da decisão judicial, alegando falha de comunicação, pediu novo prazo para cumpri-la e reconheceu o acerto da decisão do Ministro Moraes. O Telegram cagou pra Bolsonaro e para os vendedores de opinião.

O que foi decidido? Que o Telegram obriga-se a manter uma representação legal e oficial no Brasil, para responder por qualquer ato que descumpra a lei brasileira. Ficando a plataforma obrigada a resguardar a sociedade contra divulgação notoriamente mentirosa, seja contra pessoas, instituições ou contra a ciência (veja AQUI).

Em resumo, foi decidido e informado que o Brasil não é casa de Noca, onde tudo se dá, tudo se vende e tudo se troca. Só isso. 

Nada de censura.

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segunda-feira - 14/03/2022 - 19:44h
Opinião

A imbecilidade não tem lado

Por François Silvestre

imbecilidadeO imbecil político de direita, extremado e neofascista, não me surpreende nem me irrita. O que me irrita é a imbecilidade de esquerda, principalmente se for de uma esquerda instruída, bem informada e feitora de opinião.

Refiro-me ao portal TV 247. Puta que pariu. Ninguém acredita nas ameaças de Bolsonaro. Vez ou outra ele faz uma ameaça, com insinuações golpistas. Cheio de “mistérios” que não assustam ninguém. Passa o tempo e nada acontece. Tudo papo furado. E Bolsonaro fica puto porque ninguém dá bolas.

Eu disse ninguém? Pois retiro.

O Tv 247 virou o porta voz de Bolsonaro, divulgando essas ameaças de merda. E o fazem com o semblante preocupado, assustando as pessoas. E aproveitam pra provocar os militares. Tudo que Bolsonaro quer. Foi um general que disse? Não. Foi um almirante? Não. Foi um tenente brigadeiro? Não.

Quem fez a ameaça, repetida de tempos em tempos, foi Bolsonaro. Aí o Tv 247 repercute. E vende a ameaça como plausível. E os comentaristas, na mesma toada da imbecilidade, esbanjam agressões aos militares. Sem que nenhum militar de comando tenha dito nada.

Ah…imbecilidade de esquerda de gente pré-soviética, uma espécie de MBL de caducos, só que de esquerda.

Saco!

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quinta-feira - 10/03/2022 - 20:38h
Reflexão

O que é ideologia?

Por François Silvestre

E o que a distingue de Doutrina?

As fronteiras às vezes até se confundem, mas há diferenças fundamentais na essência. Ideologia, na acepção de rigor etimológico, é uma propositura ideal, que nega e confronta a realidade. Insurge-se contra o estabelecido, o mundo real, para negá-lo ou transformá-lo.Ideologia, pensamento, doutrina,

Numa das teses sobre Feuerbach, Marx acentua que “até hoje os pensadores têm pensado o mundo social, estudando e dando respostas, mas chegou a hora de transformá-lo”.

A ideologia, nessa nova acepção, agrega o conteúdo programático. Isto é, um programa de gerência social estruturalmente oposto a tudo que se precedeu. Essa é a fisionomia teórica.

Doutrina tem por alicerces conceitos de natureza moral, no rigor etimológico. Mesmo que, ao passar do tempo, foi agregando também adjetivações de natureza religiosa, cultural e política. O marxismo é uma ideologia. O cristianismo é uma doutrina.

Enquanto a ideologia pressupõe a negação do estabelecido real, a doutrina funda-se no interesse disciplinar. Disciplina, aqui, não de natureza hierárquica, mas de natureza do aprendizado. Doutrinar é ensinar, na acepção originária.

E o que é o Fascismo? O fascismo é uma pseudo ideologia. O positivismo de Augusto Comte, estuário da nossa formação republicana, é um pré-fascismo. “O amor como princípio, a ordem como base e o progresso como fim”.

Daí saiu a frase bocó da nossa Bandeira.

Tudo isso pra defender um regime centralizador, em torno de um líder sobre-humano e uma sociedade sob controle moral. Toda ditadura, de esquerda ou direita, é fascista. Porque o fascismo é fundamentalmente de natureza comportamental. Alguém pensa pelos outros. E os bocós o seguem.

O pai que é liberal com o filho e opressor com a filha é um fascista. Mesmo que defenda, na praça, ideias louváveis. Entendeu? O policial que agride um transeunte por ser negro é um fascista. Mesmo que também seja negro e nem saiba o que é fascismo. O rico que tem nojo de pobre é um fascista. O fascismo não é ideologia. É moléstia da psicopatia.

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quarta-feira - 09/03/2022 - 08:04h
Opinião

O fascismo não resiste…

MBLPor François Silvestre

... ao confronto da História.

Escrevi há algum tempo esse texto: Já vai tarde. Vi e ouvi com bastante satisfação o desabafo de um “jovem político” líder, ou um dos líderes, de um movimento denominado MBL, Movimento Brasil Livre, demonstrando “cansaço” com a “luta” do movimento.

Dizendo, inclusive, que o melhor seria encerrar as atividades da referida agremiação. Esse movimento criado por jovens, na idade, nasceu enrugado, velho, reacionário e retrógrado. Pode acrescentar adjetivos de esclerose. Isso mesmo, esclerosado política e ideologicamente.

Coisa dos tempos de Plínio Salgado.

Bolsonaristas de carteirinha, foram escanteados pelo poder bolsonarista e quedam-se agora arrependidos. Apostaram na candidatura de Sérgio Moro. Não decolou, estão amotinados no porão das decepções. E de quem é a culpa? Eles respondem: “Do povo, que não reconhece nosso valor nem a nossa luta para o país que queremos construir”.

Já vai tarde. Nem deveria ter nascido.

Isso foi, se não me engano, em Dezembro de 2021.

Pois pois, como diria um bêbado numa tasca muito rasca de Lisboa, a máscara dessa turba burguesa de classe média alta, cuja altura é só de grana e o resto de baixeza moral, veio ao lume. À luz dos fatos.

E a História, única ciência de origem cultural, pois feita pelo homem, traz à claridade quem é digno ou indigno no trajeto da humanidade. Isto é, de revelar-se humano. E será humano de três formas: Humano comum, que vive e cria os seus, com as virtudes e defeitos da condição humana . Humano excepcional, que produz descobertas, luta pelos outros, santo talvez; herói, quem sabe; herói e santo do quem sabe e do talvez. Humano dispensável, que “não aumenta a humanidade quando nasce nem a diminui quando morre”, na lição de Machado de Assis. 

Esses são os jovens enrugados, envelhecidos de ruindade, empobrecidos de solidariedade.

Escassos de empatia.

Esse é o MBL, Movimento Brasil Livre, picaretas da política. Falsários da moral. Adjetivos de humanidade.

 Já vai tarde.

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domingo - 06/03/2022 - 09:52h

O moralismo…

Por François Silvestre

e a hipocrisia que o sustenta.

Pouquíssimos substantivos conseguem ser preservados na essência do seu significado após o acréscimo do sufixo “ismo”. Pouquíssimos.bordado-falso-moralismo-edicao-limitada-bordado

O moralismo é uma deformação do substantivo feminino “moral”. Não confundir com o adjetivo. Nem sempre a alteração é depreciativa ou desgastante. Neste caso específico é uma deformação. O portador da condição, o moralista, é um deformado moral.

O moralista se exibe como dotado de pureza absoluta. Não transige com os defeitos naturais da condição humana. Mesmo que, por estudos psicanalíticos, já esteja comprovado que o moralista carrega no escondido do seu íntimo os mesmos ou piores “defeitos” que ele aponta nos alvos da sua ira.

Uma nuvem o segue e o tortura. O moralista é furioso e sofredor.

Serve o exemplo do deputado Artur do Val, do Movimento Brasil Livre (MBL), que não é fato isolado. É a representação individual de uma condição coletiva. Esse rapaz era honesto absoluto, dotado de pureza absoluta, intransigente nos costumes e na “moral” política. Até que sua nuvenzinha, cinzenta e escondida, despencou de ladeira abaixo.

O perigo não está no sufixo, mas na hipocrisia de fanáticos e intolerantes. Aliás, fanatismo e moralismo são casados e moram juntos.

François Silvestre é escritor

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sexta-feira - 04/03/2022 - 16:32h
Crônica

A dura escritura

Por François Silvestre

(para Guida Zerôncio, Eva Barros e Sueleide Suassuna)

Não se trata da prática notarial nem dos traslados cartoriais. Muito menos da prática burocrática, seja das justificativas ou dos requerimentos. Não. Isso aí não é escritura, na dureza do escrever, ou na arte de tentar substituir o ruído sonoro dos fonemas.escrever, escrita, leitura, texto, cultura, literatura, livro

Trato aqui da escritura doída a que se referiu Clarice Lispector. “Antes de mais nada, pinto pintura. E antes de mais nada te escrevo dura escritura”.

Em Clarice a dureza da escrita não era dificuldade na criação. Era a impossibilidade de espantar a dor íntima que fluía intensa no texto tenso.

De sua terra, na distante Ucrânia, dizia ela nunca ter posto os pés, nem para sair, posto que o fizera ainda no colo. E se fez recifense de pátria adotiva. Ao passar por Natal registrou: “Essa cidadezinha sem caráter”. De Brasília: “Uma prisão a céu aberto”.

Num veraneio de Muriú, Guida Zerôncio preparava a pós-graduação com base na obra de Clarice. Lacan e a ucraniana roubaram a cena naqueles dias. Até Omar Guerreiro, desligado da literatura, mas muito inteligente, fazia citações de “A Hora da Estrela” e “Perto do Coração Selvagem”.

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”. Se há um arquétipo que ateste a conceituação de Lacan sobre a fotografia do inconsciente que o texto produz, esse modelo é Clarice. E na poesia, Zila Mamede.

Em Graciliano Ramos a dureza tinha duas dimensões restritivas. A restrição humana do Sertão e a necessidade de enxugar a linguagem. Na sua obra mais popular, ele depenou até o título. Retirou a grandeza substantiva de “O Mundo Coberto de Penas” para a escassez adjetiva de “Vidas Secas”.

Guimarães Rosa plagiou de garimpo o som vocálico das andanças, na voz dos modelos eleitos por seus ouvidos de nhambu. “Pela fraqueza do meu medo e pela força do meu ódio, acho que fui o primeiro que cri”.

Ao seguir essas veredas, o moçambicano Mia Couto confirmou Lacan: “O tiro certeiro sempre carrega algo de quem dispara”.

O autor fotografa o texto, mas é o texto quem o revela. Quando a escrita for apenas palavras postas, sem o condão da “dura escritura”, o texto será um daguerreótipo com a lente tapada. A revelação revelar-se-á uma mancha escura. Uma coisa é escrever. Outra é redigir.

“Na várzea grande do Capibaribe, durante o mês de Agosto, reúnem-se em Congresso todos os ventos do mundo”. Joaquim Cardozo, mestre do cálculo matemático e da poesia aritmética. Dizia ter vindo para uma estação de águas nos olhos da paixão.

Mário Quintana, que a Academia de Letras rejeitou, foi bem maior do que a imortalidade das pompas infantis, cujas rimas das crianças foram as primeiras inspirações do poeta. “Procurando os seus guardados no fundo de uns baús inexistentes”.

É isso. Uma coisa é escrever, outra é redigir.

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Categoria(s): Crônica
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