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domingo - 26/07/2015 - 09:41h

As meninas de Santa Leopoldina

Por Elio Gaspari

Há algumas semanas, havia um pedágio na entrada da cidade de Santa Leopoldina (800 habitantes), na região serrana do Espírito Santo. Jovens pediam dinheiro aos motoristas para ajudar a pagar a viagem das trigêmeas Fábia, Fabiele e Fabíola Loterio ao Rio.

Filhas de pequenos agricultores da zona rural próxima a Vitória, elas iriam a uma cerimônia no Theatro Municipal para receber as medalhas de ouro e prata que conquistaram na 10ª Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas. Fábia e Fabiele empataram no primeiro lugar, e Fabíola ficou em segundo entre os concorrentes capixabas.

Matematicamente, coisas desse tipo talvez aconteçam uma vez a cada milênio, mas as meninas de Santa Leopoldina ofenderam várias outras vezes a lei das probabilidades. O pai, Paulo, cursara até o 2º ano do ensino fundamental; a mãe, Lauriza, foi até o 4º. Vivem do que plantam, numa casa sem conexão com a internet. A roça de 18 hectares de hortaliças, legumes e eucaliptos da família fica num município de 12 mil habitantes, cujo PIB per capita está abaixo de R$ 1 mil mensais.

Numa época em que tudo parece dar errado, apareceram as meninas de 15 anos de Santa Leopoldina. Elas são um exemplo do vigor do andar de baixo de Pindorama e da eficácia de políticas públicas na área de Educação.

Assim como o juiz Sérgio Moro decifra a origem das petrorroubalheiras do andar de cima, pode-se pesquisar a origem de um sucesso do andar de baixo.

As trigêmeas de Santa Leopoldina tiveram o estímulo dos pais. Antes delas, educou-se Flávia, a irmã mais velha. Estudou na rede pública e formou-se em Enfermagem com a ajuda de uma bolsa de estudos integral (aos 23 anos, ela hoje faz doutorado em Biotecnologia na Universidade Federal do Espírito Santo e trabalha no projeto de um equipamento robótico para pessoas que sofreram AVCs.) Ainda pequenas, as quatro brincavam de estudar. Flávia foi a primeira jovem da região a entrar para uma faculdade.

Há dez anos, o professor Cesar Camacho, diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, o Impa, levou a ideia da olimpíada de escolas públicas ao então ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Lula comprou a ideia, e hoje ela é a maior do mundo, com 18 milhões de participantes. O programa administra não só o exame, como a concessão de bolsas aos medalhistas. Custa R$ 52 milhões por ano. Nunca foi tisnado por um fiapo de irregularidade, mas raramente recebe o devido reconhecimento.

As trigêmeas começaram a competir quando cursavam o 6º ano do ensino fundamental. Em 2012, Fabíola conseguiu uma medalha de bronze e uma vaga no Programa de Iniciação Científica, com direito a uma ajuda de R$ 1.200 anuais e reuniões periódicas em Vitória.

No ano seguinte, Fabiele ganhou a bolsa do PIC, e Fábia conseguiu a sua indo assistir às aulas com as irmãs. Viajavam no velho caminhão do pai.

Todas três ingressaram no Instituto Federal do Espírito Santo, onde cursam o ensino profissionalizante em Agropecuária e vivem no campus da instituição, em Santa Teresa. Passam a maior parte do tempo na biblioteca e há pouco procuraram professores, interessadas em conhecer o currículo do ano que vem. Para receber suas medalhas, as irmãs entraram pela primeira vez num avião.

As trigêmeas de Santa Leopoldina são um produto da força de vontade de cada uma, do estímulo dos pais, do sistema público de ensino, de políticas bem-sucedidas e de uma professora que estimula seus alunos, Andréia Biasutti.

Elio Gaspari é jornalista e escritor

* Texto originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. naide maria rosado de souza diz:

    Beleza de Artigo. Quem se agarra nos livros, vence…independentemente de a escola ser pública ou privada.
    Não pode é ser pública e sem merenda. Aí o aluno não resiste.

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      Sra. Naide Maria Rosado de Souza.
      E PRINCIPALMENTE sem distribuição do MATERIAL ESCOLAR. Como pode estudar uma criança que chega à escola pedindo um lápis ou um caderno.
      ISTO ACONTECE DIARIAMENTE NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE MOSSORÓ.
      Há anos denuncio diariamente isto e a coisa só faz piorar. Agora estão VENDENDO dentro das escolas municipais blusas que arremedam o fardamento escolar a R$ 15,00. E recomendam com bastante empenho que as crianças usem a blusa. Pensa a senhora que o absurdo termina aí? Já anunciam que a blusa passará a custar R$ 20,00 a partir de agosto e que em 2016 o preço subirá para R$ 25,00.
      Dispensável dizer que não entregaram calça, tênis ou qualquer peça do UNIFORME ESCOLAR.
      À vezes penso que escrevo em JAVANÊS.
      QUE MEDALHA, MESMO QUE DE LATA, MOSSORÓ GANHOU NESTA OLIMPÍADA?
      //////
      BREVE, MUITO EM BREVE, OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS.
      O PROCESSO DA OPERAÇÃO VULCANO FOI CONCLUÍDO E AGUARDA JULGAMENTO.
      AGOSTO PROMETE.

  2. ROSANA diz:

    São por jovens como estas, que estão se esforçando, lutando contra as dificuldades da vida, sem escolher o caminho que prejudica os outros, que eu detesto puta lixo. Porque eu não misturo o joio com o trigo, não acho que o bem e o mal representam a mesma coisa, não sou hipócrita. Cada um deve ter o tratamento que merece, o honesto e o desonesto são diferentes, e merecem tratamentos diferentes, mas infelizmente, muitas vezes os valores se invertem, e é o bandido que leva a melhor. No Brasil que essas jovens não têm dinheiro nem para uma viagem tão importante, para receber um prêmio exemplar para o pobre Brasil da corrupção, é o mesmo Brasil da hipocrisia que faz filme pornô para prostituta lixo ficar milionária ” Suputinha”. Existem vários tipos de pessoas no mundo, mas os hipócritas são os piores, pois eles não deixam os maus serem vistos como maus, e nem os bons serem vistos como bons, eles não praticam a verdade.

  3. Iris Maia diz:

    Que maravilha de reportagem. Falo sempre para os jovens com quem converso o caminho do sucesso é o estudo, a ferramenta fundamental é a leitura, seguido pela determinação, perseverança, humildade e gratidão. Sem essa de ficar com desculpa, culpando o prefeito, o governador, o presidente, o papa ou até Deus pelos seus insucessos. Aproveite seu tempo com a leitura que com certeza vencerá. Este artigo deveria ser distribuido aos alunos de todas as escolas e níveis, públicas e privadas, porque o que mais se ver hoje são jovens dia e noite em redes sociais, escrevendo errado, sem saber ler e perdendo tempo com exposição da sua vida e conversando bobagem. Parabéns para estas garotas do interior do ES pelo exemplo. Parabéns Elio Gaspari pelo texto. Parabéns Carlos Santos por divulgá-lo. Amei.

  4. Inácio Augusto de Almeida diz:

    Interessante é o prefeito de Santa Leopoldina não ter ganho a medalha que ontem entregaram na Suiça aos 100 melhores prefeitos do Brasil. Será que o prefeito de Santa Leopoldina achou melhor invester na educação o dinheiro que exigem para colocar alguém na relação dos 100 melhores prefeitos. Isto sem contar as dezenas de milhares de reais que certamente teria que gastar com a viagem e tudo o mais.
    Para vocês terem uma ideia desta escolha, veja outros, além do prefeito de Mossoró, agraciados com esta medalha: Prefeito de Paranaíta. Prefeito de Baião. Prefeito de Tabira. E outros…
    O de Tabira disse que não ia queimar dinheiro para receber uma medalha. Este que demonstrou bom senso chama-se Sebastião Dias. O prefeito de Baião, sequer sei onde fica esta METRÓPOLE, chama-se SACI e não sei informar se viajou a Suiça. O de Paranaíta nem o nome eu sei.
    Estes são alguns dos prefeitos que estão, juntamente com o de Mossoró, entre os 100 melhores do Brasil.
    Dá para se levar a sério uma premiação desta?
    A entrega das medalhas deve ter acontecido no dia 25. Vasculhei na internet uma só notícia sobre acontecimento de tão grande envergadura. Nada encontrei. Nem uma mísera linha.
    O QUE MAIS FALTA ACONTECER EM MOSSORÓ?
    ////
    BREVE, MUITO EM BREVE, OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS.
    UNIFORME E MATERIAL ESCOLAR NÃO FORAM ENTREGUES EM MOSSORÓ.

  5. Inácio Augusto de Almeida diz:

    Amazônia Tocantina: Prefeito de Baião (PA) está entre os 100 melhores prefeitos do País. Rosiel Costa (PR), de Mocajuba (PA) também já ganhou o mesmo prêmio.
    O prefeito afastado judicialmente do comando da prefeitura de Mocajuba (PA) Rosiel Costa (PR), também já recebeu esse prêmio em 2012.
    No final do mesmo ano, o prefeito tornou-se alvo de grande investigação do Ministério Público do Pará que o acusa de formar uma grande quadrilha para roubar os cofres da cidade. Outros prefeitos do Pará já foram premiados, alguns deles com graves problemas.
    No site da UBD é difícil identificar a metodologia de avaliação e pouco se sabe sobre as operações da empresa. Objetivamente, não há clareza da forma como chegam ao resultado de tais análises. E é de bom tom em toda pesquisa, que se divulgue a forma, as pessoas ouvidas etc…Em seu sítio na internet é possível ver apenas um mapa com um link para os Estados e seus municípios premiados, ou classificados.
    Fonte: AMAZÔNIA TOCANTINA
    Pelo visto esta medalha não dá muita sorte aos que a recebem.
    Eu fosse prefeito, não tivesse entregue UNIFORME E MATERIAL ESCOLAR, deixasse faltar medicamentos nas unidades de saúde, gastasse 500 mil reais na reforma de uma pracinha na porta de um cemitério, juro que não passaria nem perto desta medalha.
    /////
    BREVE, MUITO EM BREVE, OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS.
    ESCREVO AQUI HÁ QUASE UM MÊS QUE AGOSTO PROMETE.
    JORNAL DE MOSSORÓ COMEÇA AGORA A DIZER QUE AGOSTO PROMETE.

    Bem…[…]

    Trata-se de prêmio sempre gera muita polêmica, especialmente, porque ele se baseia em “critérios de qualidade total na prestação de serviços públicos”. Em tempos de redes sociais, as contestações e contra-argumentações aos prêmio logo disseminaram na internet.

  6. Inácio Augusto de Almeida diz:

    Por que a Secretaria de Comunicação não publicou mais nada a respeito do prefeito de Mossoró estar entre os 100 melhores do Brasil?
    Será que pensaram que os mossorenses iam engolir uma muganga como esta?
    Resta saber quanto custou aos cofres públicos esta “PREMIAÇÃO”.
    Se Mossoró tivesse vereador de oposição isto seria devidamente esclarecido.
    Já passa do tempo destas instituições que inventam estas premiações serem alvo de uma investigação. Afinal, dinheiro público é gasto nesta presepada.
    Como explicar que um prefeito com quase 80% de rejeição seja escolhido um dos melhores prefeitos do Brasil?
    Incrível é um prefeito de uma cidade como Mossoró, diversas universidades, aceitar esta premiação…
    /////
    BREVE, MUITO EM BREVE, OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS.
    UNIFORME E MATERIAL ESCOLAR NÃO FORAM ENTREGUES EM MOSSORÓ.
    FALTA MERENDA ESCOLAR EM ESCOLAS DE MOSSORÓ.

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