Por Ney Lopes
A pesquisa do Datafolha é o retrato 3×4 do atual quadro eleitoral brasileiro. Confirma-se que não há provável vencedor ou vencido, por antecipação.
Há dúvidas sobre certos movimentos e reações do eleitor brasileiro, ainda não totalmente fotografados nas pesquisas.
O país assiste a disputa do segundo turno entre Lula e Bolsonaro, que é o terceiro mais apertado, desde 1989.
A balança eleitoral mantem-se imprevisível.
O “gargalo” de Lula é o crescimento de Bolsonaro em SP, RJ, MG e o Sudeste em geral, o maior colégio eleitoral do país.
Com a “zebra solta” ambos candidatos tentam evitar a abstenção.
Em 2018, 3% do eleitorado que votou no primeiro turno não foi votar no segundo.
Se isso acontecer em 2022, significaria que mais 4 milhões e meio de pessoas deixariam de votar.
A incógnita é saber de quem seriam esses eleitores.
Como mero palpite, admito que dois fatores centrais influirão decisivamente na decisão final do eleitor.
De um lado, o temor da tendência autoritária de Bolsonaro que, caso saia fortalecido pelas urnas, poderá tentar implantar uma “democracia” ao seu modo no país, no estilo de Erdogan, na Turquia.
Bolsonaro também se considera irmão do político de ultradireita na Hungria, Viktor Orban que combate o sistema judiciário húngaro e entidades de direitos humanos.
De outro lado, o temor de que se repitam os fatos públicos e notórios de corrupção nos governos petistas, com devoluções de somas astronômicas de dinheiro público.
Todos esses temores são agravados, em razão do lulismo e do bolsonarismo terem seguidores, que embora não sendo maioria, formam verdadeiras seitas, com “bolsões” de fanáticos, intolerantes, descompensados, que não raciocinam, apenas repetem “chavões” e se consideram acima do bem e do mal.
O que se observa é que a polarização leva consigo um aprisionamento ao passado dos dois candidatos e o medo de que por isso o futuro seja comprometido.
Não há preocupações com propostas e visões do futuro do país.
A força de Lula surge no ódio a Bolsonaro.
A força de Bolsonaro do ódio a Lula.
A história das eleições presidenciais brasileiras mostra que as campanhas eram diferentes.
Tradicionalmente, antes da explosão do ambiente polarizado, campanhas presidenciais envolviam o mínimo de proposições sobre o futuro, num jogo onde o eleitor aceita perspectivas de um futuro melhor do que o existente.
Hoje nada disso existe.
Situação muito difícil.
Para onde vamos?
Deus nos proteja!
Ney Lopes é advogado, jornalista e ex-deputado federal