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domingo - 22/09/2019 - 10:00h

Falta de tempo

Por Inácio Augusto Almeida

Coelho tinha acabado de pedir outra cerveja. Ageu abriu tendo antes o cuidado de enxugar a garrafa tal a quantidade de gelo que se formara.

– Cerveja só presta assim, bem gelada.

-É isso aí, Ageu. É por isso que eu só tomo cerveja no seu bar.

Luís, sentado num banco alto, debruçava-se sobre o balcão e observava a cena.

No fundo do bar, entre um copo de cerveja e outro de pinga, Valdemar buscava se embriagar.

Na televisão notícias sobre empreguismo de parentes e protegidos de políticos com salários absurdos. Todos não concursados.  Notícias de sempre que não mais atraíam a atenção de ninguém.

Na calçada, pessoas iam e vinham, em passos lentos, desapressados, como se tudo estivesse a esperar por elas.

“Há quanto tempo estou para terminar a leitura daquele livro? Quando, pela última vez, fiz uma visita a um hospital ou a um abrigo de crianças?”

-É água que não acaba mais!

– O Nordeste é assim mesmo, Valdemar. Ou seco de estorricar ou com água capaz de afundar o barco de Noé.

– O barco de Noé, Coelho?

– Perto destas enchentes, aquilo que o Noé viu é chuvisco.

A risada foi geral. Até o Ageu, sempre preocupado em saber a despesa de cada um, riu.

Falavam das chuvas que caíam no Recife e estavam provocando enchentes e causando mortes.

Na televisão as imagens de casas desabando e carros sendo arrastados mostravam um quadro desolador que pouco tocou a sensibilidade daqueles que bebericavam numa manhã tão vazia quanto eles.

Coelho ajeitou-se melhor na cadeira e bebeu um pouco mais de cerveja. Sentiu que ela já não estava tão gelada.

“Há quanto tempo não escrevo para os amigos que estão no Maranhão e em Goiás? E a visita que eu tenho que fazer ao Padre Sátiro?

É… Por quê? Por quê?…”

– O que diabos o Coelho tem hoje que está tão calado?

– Vai ver, Ageu, ele “furou-se” no jogo de pôquer, disse Luís.

– Ah, isso eu duvido. Coelho perder no pôquer… Só se for muita zebra.

– Mas não esqueça, Ageu, que prego também tem seu dia de martelo..Por falar em Roberto, onde anda ele?

Foi a Brasília. Ele só vive lá e cá.

Coelho tudo ouviu e nada disse. Apenas mandou Ageu anotar na caderneta as cervejas que tomara e, despedindo-se de todos, seguiu pela Alberto Maranhão no rumo do centro da cidade.

“Tempo, tempo, tempo… Não tenho tempo para as coisas que preciso fazer.Tempo é o que me falta.”

Ouviu como que um grito:

Tempo é uma questão de preferência. Nós sempre temos tempo para coisas que gostamos de ler.

Riu. E balançando a cabeça decidiu terminar a leitura do livro, visitar o Padre Sátiro e escrever as cartas que tinha que escrever.

Faria tudo isto amanhã mesmo.

No outro dia, na hora de sempre, entrou no Bar do Ageu  e pediu uma cerveja.

Em uma outra mesa, Coelho e Valdemar falavam de corrupção e impunidade.

Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Q1Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Muito bem, sr.Inácio. Todo dia, sempre tudo igual… há os que postergam seus planos por causa do celular.

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      Se alguém posterga seus planos por causa de celular, não sou eu.
      SOZINHO enfrentei processo e por falta de recursos para contratar advogados terminei condenado por injúria, calúnia e difamação, mesmo nunca tendo dito uma única mentira.
      Não me permitem um espaço em rádio, MESMO EU COMPRANDO O HORÁRIO, a fim de combater a corrupção. Daí só me restar o celular para envio de mensagens que muitos consideram enfadonhas e cansativas, mas que sabem ser verdadeiras.
      Recentemente a Rádio Difusora de Mossoró, dia 13 de setembro, denunciou a existência de funcionários não concursados na Câmara Municipal de Mossoró, funcionários que sequer concluíram o segundo grau, com salários acima de 20 mil reais. Somente eu através do meus áudios enfadonhos e cansativos é que tenho divulgado esta notícia para os meus contatos em todo o Brasil. Por que os que tanto amam Mossoró não se manifestam? Por que se calam? Por que não denunciam ao MPRN este absurdo?
      O telefone do MPRN para recebimento de denúncias é: 99994.3023
      De qualquer lugar do Brasil é possível lembrar ao MPRN o que a Rádio Difusora denunciou e cobrar providências.
      Lembro-me de Madre Teresa de Calcutá.
      SE QUERES PRATICAR O BEM PREPARA-TE PARA O SOFRIMENTO.

  2. Q1Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Sr. Inácio. Não me referi ao sr. em relação ao celular. Falo da doença que ele provoca em algumas pessoas que não o deixam nem para as refeições. Seus WhatsApps constroem!

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      Obrigado.
      Bom seria se as pessoas ao receberem os meus áudios os repassassem.
      O caso dos funcionários não concursados e com o nível médio não concluído, nomeados sem concurso, com salários de mais de 21 mil reais na Câmara Municipal de Mossoró não pode cair no esquecimento.
      O locutor Carlos Nascimento, autor da denúncia, gravação foi enviada através do WhatsApps ao meus contatos, ainda não citou o nome destes funcionários. Diz ele que tudo está no PORTAL DA TRANSPARÊNCIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ.
      Lamentável que vereadores posando de oposicionistas não se interessem em divulgar os nomes destes felizardos que recebem por mês muito mais do que um secretário municipal, um médico, dentista ou qualquer outro funcionário da prefeitura de Mossoró.
      O telefone do MPRN, OUVIDORIA,é: 99994.3023. Por que não ligar, todos nós, para o MPRN a fim de que tudo isto seja apurado. Ou todos acham certo o que está acontecendo?
      Acredito que ainda esta semana o Carlos Nascimento estará divulgando os nomes destes funcionários.
      No PORTAL DA TRANSPARÊNCIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ só é possível saber o salário de um funcionário conhecendo o nome completo do felizardo.
      O TCM , TCE e outros órgãos de fiscalização deveriam se pronunciar.

      • Inácio Augusto de Almeida diz:

        Faço esta denúncia na condição de jornalista, registro profissional 303-DRT-CE, portanto no exercício da profissão e cumprindo o juramento feito por ocasião da colação de grau na Universidade Federal do Ceará.
        Faço esta ressalva a fim de que se algum processo contra minha pessoa venha ser aberto que isto seja levado em consideração.
        Um jornalista saber de tudo isto e calar, melhor rasgar o registro profissional.
        Não entendo Mossoró não apoiar uma causa como esta.
        Continuo buscando uma emissora de rádio que me arrende um horário, pode ser até de apenas 5 minutos, para diariamente levar ao conhecimento de todos o que de absurdo acontece em Mossoró.

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