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domingo - 06/09/2020 - 06:50h

No que acreditamos? Em quem pomos a nossa confiança?

Por Marcos Araújo

“Em Deus ponho a minha confiança, não terei medo: Que me pode fazer a carne?
Salmos 56:1-4

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), neste primeiro quartel do Século XXI a depressão é a doença  que tem o maior número de enfermos no mundo. O quantitativo de doentes excede até mesmo ao de infectados do coronavirus. Os estudiosos têm um diagnóstico auxiliar para justificar essa espécie de pandemia mental: a descrença absoluta em tudo, fruto desse “mundo líquido”, para citar o sociólogo Zygmunt Bauman.Este não é só o século das doenças mentais, é o Século das dúvidas e da perda de referencias. Estamos duvidando de tudo e de todos. E ninguém mais nos representa, e quase não temos mais a quem admirar. A construção da identidade social de um povo está sempre fundamentada na referência de um modelo humano, um comportamento, um líder que possa servir de exemplo.

No meio do caos, sempre esperamos uma voz altíssona, um grito ressoante para restaurar a ordem ou determinar um caminho a seguir.  Pelo visto, uma das desgraças aparentes da pandemia é a falta de um líder, no Brasil e no mundo.

Abraham Lincoln, por exemplo, mudou a mentalidade americana com a aprovação da 13ª Emenda à Constituição, pondo fim à escravidão, em dezembro de 1865. Nelson Mandela, Gandhi, e Martin Luther King, mesmo com um discurso amistoso, fizeram uma revolução. Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Charles de Gaulle, ainda que em ambiente de guerra, construíram a paz para o futuro. Poderia até citar nomes de um passado recente, como Margareth Thatcher, Jimmy Carter e Bill Clinton.

No momento dessa pandemia, falta um líder que promova uma ação coordenada mobilizando governantes de diversos países diante de um desafio que assume dimensão global. O Presidente do país mais rico do mundo, Donald Trump, na contramão histórica, fez foi querer comprar e “sequestrar” respiradores com destino às outras nações, num individualismo agressivo difusor de que respirators for Americans only (respiradores apenas para os americanos).

São escassos ou inexistentes os líderes até no campo religioso… Os exemplos estão vindo às avessas, como fizeram Padre Robson e Flor de Liz aqui no Brasil.  Muitos idosos incautos contribuíam financeiramente para o luxo e a luxúria do Padre.

Os que estão deixando de crer em Deus por causa desses dois desconhecem uma advertência que já havia sido feita pelo Papa Bento XVI: “Ao nos lembrar a finitude e fraqueza humanas, a religião nos conclama a não por nossa esperança final nesse mundo transitório”.

Não se pode culpar Deus pelo desvio dos homens. E nem mesmo por esse vírus. É justamente o inverso. Nesses tempos de insegurança vital e de convulsão econômica e social, devemos agradecer a Deus por cada dia vivido. Uma visão de fé não só é possível, mas é uma verdadeira necessidade para poder manter a calma. O desafio de nosso tempo é vencer o medo, a intolerância, a individualidade, o afastamento e a indiferença social, que tem levado a sociedade ao abismo espiritual e às doenças mentais.

O MEDO E A DÚVIDA são sentimentos inatos ao homem. Os próprios apóstolos de Cristo tiveram situações assim. A bíblia narra várias histórias nesse mote. Lembrando uma delas, Jesus de certa feita acalma a tempestade após a súplica dos apóstolos medrosos (cf. Mc 4, 35-41). Nesse episódio, Jesus pergunta para seus apóstolos: “por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. A fé implica numa atitude de confiança profunda, numa esperança desmedida.

Se teve Padre Robson e Flordelis para tisnar o mês de Agosto (como dizem, o mês do desgosto) e demonstrar a exploração da fé, é de ser lembrado que no mês de agosto a igreja católica comemora as vocações a partir do testemunho de dois grandes Santos da sua tradição: Santa Mônica e Santo Agostinho, respectivamente, mãe e filho.

A fé que transforma pode ser contada a partir de Santa Monica, que rezou por mais de 30 anos pela conversão de Agostinho, um homem de vida errônea. Durante essa peleja de três décadas, dizia ela continuamente ao filho:

“Uma única coisa me faz desejar viver ainda um pouco, é ver-te cristão antes de morrer!”. O desejo, como conhecido, foi concretizado, falecendo Santa Mônica dias depois.

Agostinho de Hipona, o filho convertido, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo. Suas obras-primas De Civitate Dei (“A Cidade de Deus”) e “Confissões”, são muito estudadas desde o século IV. Deixou cunhada uma das mais arrebatadoras orações de todos os tempos:

– “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro e eu fora te procurava. Precipitava-me eu disforme, sobre as coisas formosas que fizeste. Estavas comigo, contigo eu não estava.” Confissões, X, 27, 30).

Confiar nos outros nem sempre é natural ou fácil. Porém, a desconfiança sem causa é uma doença. Confiar, trair e perdoar são ações próprias do ser vivente. A antítese a esses verbos é a insensibilidade, adjetivo inato ao morto-vivo, aquele que jaz sem espírito e sem vida.

Em tempos tão difíceis, onde morrem todas as utopias, onde todos os nossos sonhos estão interrompidos, é preciso ter esperança e fé. Como musicou Nelson Cavaquinho, “o sol há de brilhar mais uma vez, a luz há de chegar aos corações, do mal será queimada a semente, o amor será eterno novamente.” Tudo passa. Isso também passará! Aos que resistirem aos efeitos maléficos desse tempo com o “quengo” ainda no lugar, pode exclamar e bradar em voz alta repetindo São Paulo: “eu sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 1,12).

Marcos Araújo é professor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Aurineide Pereira de Oliveira diz:

    Muito bom o texto! Sensato!

  2. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Marcos Araújo em mais um Artigo glorioso. Salve, Marcos!

  3. Rocha Neto diz:

    Grato amigo pela peça acima exposta, grandes verdades e lições para quem ainda pretende repensar o modus operandi dos dias à serem vividos. Parabéns pela aula magna.

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