• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
sexta-feira - 21/02/2014 - 12:04h
Crônica

Saudade da Mossoró do passado…

Saudade da Mossoró do passado. Lá, bandido mais perigoso era “Luiz da Véia”. Descia o Alto do Louvor para roubar toca-fitas e apanhava da mulher.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, bandidos presos no final de semana tinham cabeça raspada e eram fotografados usando cuecas de “copinho”, em poses patéticas na primeira página do jornal.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, a droga mais perigosa era maconha. O cara ficava “lombrado”, batia carteira de algum descuidado e na sela pedia “paz e amor” ao delegado.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, os escassos homicídios saíam de mesas de bebedeira, “cornagem” ou algum raro acerto de contas entre inimigos.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, “crime hediondo” foi um homem “comer” sexualmente uma galinha (viva) e ser fotografado com a penosa debaixo do braço, como punição exemplar.

Saudade da Mossoró do passado. Lá o policial Netão fazia operação sozinho e trazia preso – um, dois ou mais malandros – sem algemas, dirigindo seu buggy.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, o delegado Clodoaldo dispersava multidão de meninos que jogava bola na rua, rasgando à faca a pelota usada no “delito”.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, o soldado Catôta mandava meninada escolher: “Pra dentro ou pra fora”. Só não aceitava que ficassem em cima do muro, em jogos oficiais de futebol dos times locais.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, crime sexual mais comum era o doido “César do Fusquinha” comendo qualquer Fusca que encontrasse estacionado, com ‘pirrola’ para fora, deitado sobre o capô.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, a quadrilha mais conhecida era a junina ou os cordões do pastoril, reunindo amigos e famílias em festas.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, menor infrator éramos nós, correndo para furtar pão “d´água” quentinho, do cesto de palha coberto com um pano, na garupa da bicicleta do vendedor ambulante.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, mascarado era do bem e nos encantava na TV preto e branco, com o nome de Zorro ou outro herói vespertino.

Saudade da Mossoró do passado. Lá, ‘assalto’ era costume próprio do carnaval, com grupos de foliões “invadindo” alegremente casas de amigos que previamente se preparavam à chegada do cortejo.

Quero de volta minha Mossoró do passado. Acuada, intimidada, vilipendiada, furtada, roubada, violentada e com medo de sentar à calçada.

Quero de volta minha Mossoró com a prosa na pracinha, flerte na Festa de Santa Luzia, do futebol na rua, da janela aberta e da mercearia de “Seu Lopim” com seus doces e ‘confeitos’.

Será que é muito querer minha Mossoró de volta? Será que vamos continuar aceitando que ir e vir seja uma aventura, em vez de simples direito?

Saudade da Mossoró do passado.

Não quero muito. Quero de volta a minha Mossoró do passado.

 

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Helena Leite diz:

    Amigo, essa cronica foi a melhor que vi nessa coluna, esse ano. Parabéns.

  2. Samir Albuquerque diz:

    Belo texto meu amigo, gostei muito. Confesso que essa Mossoró eu não conheci. A minha é bem mais recente, mas, ainda tinha jogo de bola no meio da rua. Ainda se respeitava homem de farda. Alias, se respeitava do pobre analfabeto com vestes sofridas pelo sol e pelo labor, até o “dotô” em seu carro bonito. Passear de bicicleta, se aventurar por “ruas e bairros não desbravados” só traziam consigo o único perigo da pisa que viria se os pais descobrissem.

    Ah, as brigas eram no máximo, socos ao ar, com um ou outro atingindo seus alvos e quase que imediatamente, pondo fim à bira. Como não lembrar que a maioria das intrigas eram esquecidas na semana santa, ou no natal?

    Embora a nossa Mossoró de antigamente não seja a mesma, compartilhamos a saudade. Enfim.

  3. fernando ff diz:

    Não sei pra que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança. A que saudade eu tenho dessa Mossoró do passado.

  4. Stella diz:

    Delícia de lembranças, Carlos. Lançaram-me ao meu querido Acari de tantas figuras folclóricas, da mercearia do seo Joãozinho, dos ‘polis’ e alfinins vendidos nas portas, de casas abertas aos filhos dos conhecidos, com petizes indo e vindo pela cidade sem o menor receio dos pais. Tempos que nos tornam nostálgicos quase intolerantes com a lassidão moral destes tempos medonhos.

  5. Assis Nascimento diz:

    A respeito dessa Mossoró, sempre que possível, conversamos com amigos e familiares.
    Assim como você, muitos de nós compartilhamos do mesmo sentimento.
    Mas com triteza, vejo que poucos se manifestam por uma mudança no quadro vigente.
    Entretanto,continuamos todos os meses de junho, aplaudindo os feitos heróicos do Coronel RODOLFO FERNANDES.
    Está mais do que na hora de pararmos de viver as glórias do passado.
    O tempo urge. Precisamos de um líder de fibra para o comando de nossa cidade.

  6. Liria diz:

    Ótimo texto, Carlos. Terminei a leitura arrepiada e com os olhos marejados d’água. Fui desse tempo, dessa maravilhosa Mossoró do passado. Faltou você lembrar do doidinho da estrada de ferro, ali na altura dos armazéns de sal que atendia, com muita raiva, pelo nome de limonada. Ele odiava o apelido e a meninada astuciosa gritava de longe: água, o outro dizia, limão e por último outro peralta gritava:açúcar! E de do alto de sua doidice, Limonava brindava: ” se misturar, eu lasco!”

  7. naide maria rosado de souza diz:

    Compartilho essa saudade. Lembro que de noitinha, nós, meninas, ficávamos prontas para sentar em cadeiras diante das portas. Havia um vento que soprava de forma agradável , contribuindo para que deixássemos o interior bem mais quente das moradas. A conversa sempre boa. Havia casas cujas fachadas eram mais concorridas e as cadeiras se encontravam alegremente com as dos vizinhos.
    Passear à tarde nas pracinhas, bem arrumadas, circulando e observando os olhares dos meninos… muito bom.
    Ir ao cinema, sem perigo. Íamos em grupos animados e voltávamos sãs e salvas.
    Triste a realidade do agora, onde há riscos dentro de casa e, mais ainda, no momento de acessá-las. Olha-se para um lado e para o outro e, mesmo assim, nada impede a chegada furtiva de um bandido.
    O temor e o terror está espalhado em todos os cantos. Aqui no Rio é grande o medo! Mesmo com filhos adultos, quando espero algum deles, permanece a minha incansável figura à janela.
    Gostaria, Carlos Santos, de atender ao seu apelo e trazer de volta a sua Mossoró do passado. Posso, de todo modo, lhe confortar lembrando que ela está viva em sua lembrança e ao recordá-la você passeou por ela…

  8. Jose Ronildo diz:

    Tantas coisas simples que nos fazem falta. É incrível como somos escravos da “modernidade”.

  9. Antonio Augusto de Sousa diz:

    Meu caro Carlos.

    Novamente nós nos encontramos no dia de hoje. Não sei se por estar nublado, estamos com uma tendência afinadíssima a recordar o passado (a ciência explica isso). Senti um misto de prazer e tristeza ao ler sua crônica: prazer por ter também vivido nessa “sua (nossa) Mossoró do passado” e tristeza por saber que este bom e feliz tempo, jamais voltará. Sua crônica como sempre, está perfeita!. Acrescento, apenas alguns tópicos, que talvez faça parte da “minha” Mossoró que, mesmo conteporânea à sua, não tenha feito parte da mesma.
    1) No Pax, aos domingos, nos vesperais, tinha um senhor que vendia picolés com quase todos os palitos premiados (o que dava direito a chupar outro picolé), até hoje, não sei como esse cidadão tinha LUCRO.
    2) No A.C.E.U., antes da TERTÚLIA começar, aos domingos (por volta das dez horas), tomávamos umas duas ou três “meiotas” no bar de “FACADA”, prá ficar “manero” e economizar dinheiro com as geladas no primeiro andar (onde ficava o dancing).
    3) A adrenalina de tentar entrar de graça no futebol nas domingueiras, no campo da L.D.M., na Benjamin Constant, só que, mamãe descobriu (algum colega caguetou, com certeza), e a surra foi grande!!! Se existisse Conselho Tutelar à época, e o conselheiro tivesse vindo se meter, teria APANHADO também!.
    4) Imitar os “artistas” dos filmes que assistíamos, no pátio, ou na traseira da igreja de SÃO VICENTE. As vezes terminava em briga mesmo, cada um querendo ser o ator principal.
    5) Ir para as praças da Lagoa do Mato, da Boa Vista, ou de São José, onde os rapazes circulavam obedecendo os ponteiros do relógio, e as meninas faziam o percurso inverso. Cara funcionava, era NAMORO na certa.
    6) Fazer serenata na casa da namorada. Quando tinha um tocador, era no som do violão, quando não, era no bom e velho gravador. As vezes dava certo. Porém, eu recordo, que pelo menos uma vez NÃO deu. A casa da minha namorada tinha um primeiro andar, e quando nós menos esperávamos veio um balde de mijo lá de cima, que acabou com a serenata. Até hoje, não sei se foi o velho, ou o irmão dela (que era meu amigo), que jogou o balde.

    Um abraço! Depois conversamos mais.

    Augusto.

  10. Carlos Lopes diz:

    Velhos tempos, belos dias…

  11. Vania Azevedo diz:

    Adorei Carlos. Voltei a minha adolescencia.Mas voce esqueceu de um detalhe que acho que não foi do seu tempo:Sorveretia Oasis e a Casa da Hora. Parabens pelo texto.

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Oi, Vânia. Não estamos tão distantes assim na cronologia, sabes. Mas a crônica procurou centrar o foco no aspecto da insegurança de hoje e no que tínhamos no passado, sem abrir o leque para outros aspectos daquela vida pacata. Mas a crônica além de imperfeita, é inacabada. Serve para que os nossos webleitores entrem em cena, com suas reminiscências. Abração.

  12. gilneran diz:

    Velhos tempos que os anos não trazem mais, infelizmente. Que saudades desses tempos em que erámos felizes e não sabíamos.
    Um abraço.

  13. JOSEMAR LUIZ diz:

    diante desta sua cronita, me traz a lembrança tambem da mossoro do passado
    quando na semana santa juntava-se os amigos da familia para roubar galinha no proprio quintal e comer cozida depois da queima do juda; Hoje roubam o juda, Galinha e Asaltam! quando não mata os donos do galinheiro.- que saudade daqueles tempo.

  14. Valtinho diz:

    Liria, não podemos esquecer de uma velhinha cujo apelido era “ALuizio morreu” essa era fogo, xingava a mãe de todo mundo.( Saudade da Mossoró do passado)

  15. Teodósio diz:

    Carlos parabéns pelo texto. Agradeço a Deus por ter vivido e usufruído dessa Mossoró que você com genialidade descreveu em sua crônica. Eu ainda vivi outros fatos bem anteriores ao que você relatou, por isso posso fazer coro com você e todos aqueles que tiveram o privilégio de viver nessa Mossoró do passado que hoje infelizmente não volta atrás.

  16. Milton Cesar diz:

    Na Mossoró do passado a prisão mais comum era por “embriaguez e desordem”.

  17. ALDENOR FERNANDES DE SOUSA diz:

    Só estou pedindo minha Mossoró do Passado. Não é que sejamos saudosistas, é que vivemos em uma época em que direitos humanos era cuidar dos menos favorecidos e instruí-los para viver em igualdade social, e não protetor de bandidos.
    Queremos nossa Mossoró do Passado.

  18. Adriano Pinto diz:

    Parabéns, você consegui extrair e tornar público, o sentimento de grande parcela dos mossoroensses apaixonados por essa terra. Parabéns meu caro!!!

  19. fernando ff diz:

    Quem não se lembra de AI Dodora, Fogão de seu Né. Não é aqui não é lã em Cacau. Quero vê vc fazer isso liso.Essa era a minha Mossoró.

  20. Juscelino Medeiros diz:

    Parabéns Carlos pela crônica. Foi a melhor que lhe nos últimos tempos, que nos lembra dos ruídos das roladeiras que pegava água nas madrugas, das festas da SNOBE, ACEU, e ACDP, isto me deixou o coração partido em dois, e com os olhas cheios de lagrimas! ha que o tempo nos desse de volta a minha Mossoró.

  21. Sandra Maria Fagundes Duarte diz:

    Emocionante a nossa Mossoró do passado que, íamos para a festa e voltava-nos com os sapatos nas mãos, que ladrão só existia na semana santa, que não havia fugitivos, que a maior festa era a de Santa luzia, que o carnaval era algo prazeroso, que o professor era respeitado e amado pelos seus alunos, que os idosos para nós era um parente, que o respeito imperava, que o sexo era algo inocente, que os filhos pensava mais em não decepcionar os pais. Não tinha pedofilia, não tinha estupro, o máximo que podia acontecer era alguém mostrar sua documentação, como era chamado. Ah como eu também queria minha Mossoró de volta.

  22. suelda diz:

    Esta crônica é por Demais no minimo tocante. Quando será mesmo que iremos ter a nossa Mossoró do passado, onde não viviamos assustados com medo de sair e não mais voltarmos para casa.Onde está a nossa Mossoró do Passado, onde brincav´mos pelas ruas de queimado sem nos preocuparmos de ter ou não confiança em nossos amigos, porque eram verdadeiros.Eu também quero a minha Mossoró do Passado.Será que tanto Progresso nos levou e não quer mais nos devolver?Até quando vamos ter que pagar um preço alto pelo progresso da nossa cidade, com pequenos infratores virando a nossa cidade de cabeça para baixo, quando na nossa época eram apenas, tão somente crianças, que brincavam, que sorriam que partilhavam nossas brincadeiras.Hoje na nossa Mossoró existe apenas mais bandidos. Parabéns pela crônica e também quero como você a minha Mossoró do Passado. Será que estamos pedindo Demais?Claro que não.

  23. César Nunes da silva diz:

    Parabéns por me levar a mosso roupa que me criei nos paredes, vc me fez menino outra vez, obrigado Carlos santos

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