Por Marcos Pinto
A fantástica história da etnia tapuia paiacu remonta a tempos imemoriais. O celebrado historiador cearense Guilherme Studart afirma serem oriundos da Colômbia. A pesquisa e as publicações da temática indígena tem sido escassa e resumida no que consiste ao processo investigativo da genealogia dessa gente.
Vez por outra encontramos referenciais dispersos cujos liames levam a apontamentos dispersos com vínculo à ancestralidade indígena, sem o vínculo com apontamentos existentes nos documentos oficias dos Séculos XVI, XVII e XVIII.
Os historiadores e genealogistas potiguares são omissos quando se trata do resgate da genealogia indígena.A invisibilidade na historiografia coloca os índios presos a etnônimos, podendo-se citar alguns tapuias paiacus da Ribeira do Apodi como João do Pêga, Cantofa, Jandí, Itáu, Jenipapuassu, chegando-se ao crime de pseudo-identidade étnica, quando batizaram indígenas com nomes dos seus supostos pais biológicos, outorgando-lhes até elevada patente de Capitão-Mór, como o caso do índio Martinho Pereira Homem, da lagoa do Apodi, aldeado em Portalegre no ano de 1760.
Seus lugares na história são negados pela ausência de referenciais a eles em boa parte das fontes. Em termos da bibliografia de cunho indígena, o nosso modesto Rio Grande do Norte assume considerável destaque, sobressaindo-se os renomados dores Valdeci dos Santos Júnior (Professor da UERN) in ” Os índios tapuias do Rio Grande do Norte”; Fátima Martins Lopes in ” Índios, Colonos e Missionários na Colonização da Capitania do Rio Grande do Norte”; e Helder Alexandre Macedo de Medeiros In “Populações indígenas no Sertão do Rio Grande do Norte.
Esse consagrado Helder Medeiros emblematiza esse asqueroso processo de apagamento da presença indígena adotado por historiadores oficiais e genealogistas potiguares. Nesse contexto a historiografia se resumiu a meros lampejos quanto ao apagamento indígena via genocídio, enquanto agentes históricos.
Varridos do espaço, os indígenas potiguares foram, também, expulsos do tempo. Há uma ligeira referência genealógica indígena feita pelo historiador cearense Kennedy Diógenes, em seu artigo publicado com o título “O Patriarca da família Diógenes”.
Informa que o Coronel Domingos Diógenes Paes Botão Jr. teve um caso com uma índia do Ceará de nome Narcisa Dias, tendo nascido um filho de nome Quirino Oliveira, que veio a casar com a índia tapuia paiacu Albina Veira de Oliveira, com quem teve uma prole de 07 filhos, mas nenhum herdou o sobrenome paterno.
Compete aos genealogista fazerem uma profunda pesquisa em documentos oficiais, possibilitando a montagem de um esboço genealógico da etnia indígena de Narcisa Dias, que com certeza tinha um nome indígena. Após árdua pesquisa feita em vasta bibliografia com enfoque indígena, em que sobressai-se mais uma vez a vultosa obra “Aconteceu na Capitania do Rio Grande” – Olavo de Medeiros Filho, pude chegar a vários indicadores de etnicidade encoberta, oriunda da presença militar opressora do Terço dos Paulistas na então Aldeia do Lago Podi, durante o período 1699/1710.
Há uma trilogia Genocídio/ Colonização/ Concessão de Datas de Sesmarias. Na citada obra, consta a relação dos militares que compunham este Regimento. À página 124 consta o nome de Antonio Nunes.
Pesquisando no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) encontrei o livro de Registro de Assento de Praças da Fortaleza da Barra do Rio Grande do Norte – Ano 1698-1710, e lá estava o assento: “Antonio Nunes, natural da Aldeia do Podi, da Missão do Reverendo Padre Philipe Bourel, filho de Antonio Nunes, Assistente na dita Aldeia, da nação Paiacu, de idade 16 anos, senta Praça nesta Companhia de Soldado desde hoje, 30 de Outubro de 1705 e vence mil e oitocentos e setenta e seis Réis de Soldo por mês, na forma do assento do Conselho da Fazenda, lançado à fls. 9/V; e não vencerá mais coisa alguma. – Manoel Rodrigues Maciel. À margem: fugiu da Fortaleza donde estava de Guarnição a 10 de Abril de 1710. Tinha recebido os mesmos soldos”.
Eis, aí, a certeza da etnia indígena da família Nunes, do Apodi.
Em 1689 Pedro de Albuquerque Câmara, ao mesmo tempo que Valentim Tavares Cabral, Bernardo Vieira de Melo e Agostinho César de Andrade tomaram parte na Marcha que se fez do Olho D’água (Assu-RN) aos rios Paneminha e Panema Grande, até a Lagoa Pody.
No combate do Apodi que durou três dias com três noites estiveram outros soldados com João do Monte (Pág. 409) e Luiz da Silveira Pimentel (Pág. 269). FONTE: “As Guerras nos Palmares – Ernesto Enes. 1º V./Vol. 127 da Coleção Brasiliana. Vingt-Un Rosado in “Gente do Século XVII na Ribeira de Mossoró – Jornal “O Mossoroense” – Edição de 01.12.1946.
Sabe-se, por exemplo, que todos os anos o Reverendo Padre Jesuíta Philipe Bourel, administrador espiritual dos índios Aldeados, enviava minuciosa relação dos índios catequizados para conhecimento do então Capitão-Mór.
Sabe-se, ainda, da existência da relação dos 100 casais de Índios enviados pelo Padre Philipe Bourel, da Missão Jesuíta da Aldeia do lago Pody, no ano de 1705, para povoamento de. Niterói -RJ. (Fonte: História da Companhia de Jesus no Brasil – Tomo V).
Marcos Pinto é advogado e escritor
Excepcional, caríssimo amigo. Por favor, continue!
Quero te parabenizar e dizer que te admiro mais e mais por você ter voltado a escrever, sabemos que estás
passando por uma fase na vida muito dolorosa, mas Deus é perfeito sei que Ele te conforta todos os dias…não deixe de escrever…abraços. Nazaré. Manaus-Am.
Parabéns…excepcional pesquisa, densa …uma verdadeira PONTE de ligação nossa…dos potiguares, indígenas tapuias paiacus nativos e potiguares antropotizados de hoje. Uma PESQUISA HISTÓRICA FUNDAMENTADA, como sempre.
Uma grande contribuição para a história do nosso Apodi e o Rio Grande do Norte.
Show 👋👋👋👋👍👍👍