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domingo - 31/07/2016 - 10:47h

O recesso da História

Por François Silvestre

De tudo ou quase tudo já se falou da História. Seu determinismo, sua imutabilidade, sua inexistência, sua característica de ciência cultural, sua morte, seu renascimento.

Prestou-se ela a todos os embates. Às perquirições da filosofia clássica, aos argumentos de deístas e ateus, às indagações culturais e às lutas ideológicas.

Houve até um pensador moderno que decretou “o fim da História”. O que ele quis dizer, pelo menos se supõe, é que ela não se prestava mais à explicação ou justificação de transformações sociais. O que levaria ao fim também das revoluções. Com o fim da História, desconfigura-se toda e qualquer possibilidade revolucionária.

Sem revolução não há ruptura e sem ruptura não haveria História. Boa parte dessa assertiva ampara-se no fracasso quase rotineiro das revoluções sociais e políticas. As revoluções de natureza científica ficam fora dessa limitação, pois sempre tiveram continuidade ou superação.

Nenhuma revolução social ou política teve continuidade nos preceitos originais da sua motivação. Age de início para aniquilar os derrotados e depois se volta autofagicamente contra as próprias crias.

É de bom alvitre estabelecer que não se deva confundir revolução com golpe de estado ou quartelada. Por mais sanguinária que seja nenhuma pantomima dessas pode ser alçada à condição de movimento revolucionário.

Falemos de Revoluções. A Revolução Francesa descambou em Napoleão e pariu uma monarquia pior do que a substituída. A Revolução Russa teve o condão de assassinar a única chance de alternativa ao capitalismo e matar o ideário ideológico que a justificara teoricamente.

A Revolução Chinesa promoveu um genocídio fratricida e desaguou no capitalismo de Estado, com trabalho servil e ditadura de castas.

Bastam esses modelos para configurar o destino das revoluções sociais e políticas. Triste destino. Porém, necessário. Posto que o havido antes precisasse mesmo ser desmontado. Em todos esses exemplos e noutros não referidos.

A Revolução Cubana exauriu-se numa ditadura personalista e empobrecedora do seu povo. Mas não se pode negar que ela destruiu um regime pior do que o seu resultado. Cuba era apenas um balneário da putaria e jogatina americana, sob o comando de um sargento sanguinário.

O Brasil não oferece exemplos porque nunca fez uma revolução. Nunca. Pequenos arremedos e tentativas. Sempre esmagados no nascedouro.

O tempo de hoje acabrunha a História. Em nome de Maomé se faz o terror e em nome de Cristo se edifica a mentira. E o sermão mudou: Mal aventurados os que matam e mentem, pois é deles o reino da terra.

No Teatro Brasil a Esquerda sepulta a esperança e a Direita exuma o desencanto. A História, acabrunhada, pede licença e entra em recesso.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. naide maria rosado de souza diz:

    Vamos lá François Silvestre, veja se entendi o texto e me corrija sem a menor cerimônia. O texto está adstrito à finalização da História pelo fracasso frequente das revoluções sociais e políticas ou seus resultados danosos, excetuando-se apenas as científicas ? Ou, num sentido mais amplo, finaliza-se a História também quanto à explicação das causas e consequências dos fatos históricos. Por exemplo, estudo com meu neto Artur, de oito anos. Ele gosta muito de responder às perguntas de seus deveres de casa sem ler o texto que vem acoplado. Fica bem mais rápido. Já tomei as providências para que ele não faça mais isso até porquê posso errar. Ora, estou diante de um “Achamento do Brasil”…os termos mudaram. Outro dia, havia uma certa pressa e ele queria que eu respondesse “na lata” por quê a família real veio para o Brasil. Lá fui eu para o que resta em mim de causas e consequências na História do Brasil. Respondi que havia na Europa dois países que disputavam a liderança: França e Inglaterra. A França era liderada por um imperador chamado Napoleão Bonaparte. Napoleão imaginou como poderia derrotar a Inglaterra e resolveu executar um plano: determinou que todas as nações europeias fechassem seus portos, ou seja, não comercializassem mais com a Inglaterra. Era uma forma de esmagar a Inglaterra. Portugal não pôde fazer isso. Mantinha seu principal comércio com a Inglaterra e tinha dívidas com esse país. Então, Artur, a família real fugiu para o Brasil diante de uma invasão francesa a Portugal. A causa da família real vir para cá foi o medo da invasão francesa. E a consequência foi a família real vir e ainda trazer a sua corte com milhares de pessoas. Fugiram, Artur, fugiram. Confesso, François, que receei falar em fuga. Não sabia como esse procedimento estava sendo analisado na atualidade. Então, Artur, na maior cara de pau, depois de pedir para que eu explicasse o mal que o fechamento dos portos faria à Inglaterra, querendo entender a estratégia napoleônica, solta essa pérola: “Vó, entendi tudo. Dá para você resumir?” Enquanto ele tomava banho resolvi ler o texto. Felizmente, na minha explicação, não houvera erros. Todavia, o assunto era tratado de forma, digamos, mais romântica. Veja, François, como sou prolixa…porquê o que quero saber mesmo é que, se no seu entendimento, o recesso da História atinge também as causas e consequências dos Fatos Históricos.

  2. naide maria rosado de souza diz:

    Jornalista Carlos Santos. Não estou fazendo nenhum elogio a você, mas como estamos falando de História, preciso comentar como é vasto o seu português. Dias atrás num texto seu li o termo escambo e pensei: como esse menino utiliza essa palavra tão antiga? Carlos, escambo era o nome dado ao comércio feito entre os portugueses e os índios. Os portugueses trocavam quinquilharias de alumínio por comida fornecida pelos índios.

  3. François Silvestre diz:

    Desista, Naide. Ou melhor, renda-se. Quem está certo é Artur. O banho dele é mais importante do que o texto e até do que a História. Os oito anos de Artur me leva aos de Cassimiro de Abreu: “Oh! que saudades que tenho”…

  4. naide maria rosado de souza diz:

    François Silvestre… tem razão. Houve há pouquíssimo tempo um ministro que só permaneceu dois dias. Era do MP e não poderia acumular aquela função. Então, deram-lhe a alcunha de Fulano, O Breve. De repente, lembrei que conhecera nos meus estudos um Pepino, o Breve. Caí na besteira de dizer que existira um Pepino,O Breve. Provoquei uma gargalhada generalizada. Alguém disse que eu estava brincando…imaginem…Pepino… François, fiquei indignada pois jamais criaria essa figura. Corri para o Google e lá estava Pepino,o Breve do Império Carolíngeo. Ele recebera esse apelido não por reinar pouco tempo, mas por ser pequeno, baixo, curto. Voltei para a sala cheia de pose. Pepino, O Breve existira,ganhara, mas e daí?
    Na verdade, esse episódio só serviu para que eu conjecturasse que se fosse do império Carolíngeo, seria Naide, a longa ou a comprida.

  5. François Silvestre diz:

    Filha de Serra Grande, a Vasta Serra!

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